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Falemos Sobre Liderança

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Palavra interessante.

Muda de contexto e muda de significado à todo momento. Ultimamente, sua conotação dança como o vento. Atende às mais variadas necessidades de ser e de exercer.

De poder também. De poder exercer convencimento, seja retórica ou fisicamente e convencer… para obter.

As suas raízes atropológicas e evolutivas são muito bem definidas e com comportamentos óbvios, distantes da dança contemporânea.

O conceito de liderança estava ligado à força física, de ser o “alfa”, à capacidade de defender um grupo em troca de acesso preferencial à comida e ao acasalamento. Bom sistema, como diz Simon Sinek: prospera a carga genérica dos mais fortes.

Essa relação de troca cria secundariamente uma associação do “líder” com “liderados”, gera grupos de relação potencialmente sadia, uma hierarquia e uma noção de seguidores para este líder. Um estado temporário que, originalmente, estava diretamente ligado à capacidade de defender fisicamente o posto de líder, o grupo, reproduzir e, como sabemos, nossa capacidade física e sexual declina com o tempo.

Como Kevin Spacey chegou a dizer, em um episódio de House of Cards, talvez com um senso de ironia premonitório:

“Tudo é sobre sexo, exceto o sexo. Sexo é sobre poder.”

Olhando por uma perspectiva evolutiva eu diria que sexo e estar bem alimentado eram sobre poder e… poder era sobre sexo e estar bem alimentado. A parte da subsistência alimentar como vantagem de liderar foi perdendo o sentido com o tempo e o desenvolvimento da consciência.

Obviamente, a infuência do racional e da sapiência na liderança alterou um pouco sua relação com o poder.

Com o surgimento de funções cognitivas superiores, a concepção de liderança e do poder atrelado migrou para outras circunstâncias. incluindo tudo aquilo relacionado ao racional e ao intelectual, tornando o poder físico menos evidente, menos potente e favorecendo o “poder” psicológico e cognitivo.

O ser humano tem a possibilidade há muitas eras de dar manutenção nesse poder de inúmeras formas. Para citar algumas, temos a empatia, a comunicação persuasiva, o debate verbal (intelectual ou não), temos a coerção, a intimidação verbal e psicológica, temos o assédio, a manipulação, a experiência ou maturidade e tantas outras maneiras, sadias ou não.

Como a concepção de liderança hoje em dia está muito atrelada à obtenção de resultados ou o alcançar de objetivos, a figura do líder sofreu uma infeliz fusão com outras identidades, como a de gestão, coordenação, com cargos e comando.

Então, eis que surge um efeito colateral: a manutenção da suposta liderança pelo poder, com a chancela institucional da busca por resultados e atingimento de metas.

A invariável associação do poder, da liderança, da gestão e do comando criou a busca da liderança através do poder, para chegar aos potenciais resultados.

Será que a sociedade moderna substituiu a alimentação e o sexo (preservação da espécie) – resultados do passado – pelo resultado contemporâneo traduzido no ter ou em alguma moeda da atualidade?

Certamente.

A confusão é tão grande que o ter (que simboliza a posse de qualquer coisa, material ou não) confunde-se com poder. Ao confundir poder com liderar, acha-se que o caminho para o ter é o poder ou liderar (vice-versa).

Ao ter, consegue-se poder, liderança, sexo e subsistência. O ter facilmente substitui o ser. O poder e a liderança associados a uma identidade e não a um estado momentâneo e passageiro em benefício do todo, da comunidade ou do grupo (como era no tempo das cavernas e até um bom tempo depois).

Ter perpetua o poder. Ter perpetua a liderança, que passa a ser imposta e manipulada para que o próprio ciclo se reinicie, afinal, quem detém o poder deseja mantê-lo.

Não me espanto que o poder das hierarquias (potenciais exercícios sociais de níveis de liderança) esteja associado ao sexo nas organizações ou grupos, ainda na atualidade.

Tudo isso não é acaso.

Há uma intenção por trás dessa movimentação. Eu explico em outro post mas, em resumo, algo que transforma você em um ativo transacionável. Isso mesmo: você é usado e vendido como recurso. O próprio “líder” moderno também!

Agora, vamos reconceituar o que vem a ser liderança, considerando as funções cognitivas superiores que nos qualificam como seres humanos.

Voltando ao argumento de líder e liderados, a comunidade surge através da troca empática e da colaboração. Nos primódios, essa relação preservava o grupo frente às ameaças, permitindo a sobrevivência. A contribuição do indivíduo para o grupo preserva o grupo (e o indivíduo) frente aos desafios maiores do que o próprio indivíduo.

A palavra que define isso muito bem?

Cooperação.

Percebam a distinção.

Diante da confusão intencional atual do conceito de liderança, que é usado para transformar pessoas em ativos transacionáveis, o foco do líder passou a ser o poder para extrair dos liderados (seguidores) os resultados esperados.

Mas ser líder não é sobre resultados. Nem sobre a quantidade de seguidores.

“Líderes não criam seguidores. Eles criam mais líderes.”
Tom Peters

Portanto, não confundamos liderança com gestão, comando e hierarquia.

Um líder pode comandar. Um líder pode estar no topo de uma cadeia hierárquica. Ele pode gerir… essas funções ou posições podem ser coincidentemente a responsabilidade da mesma pessoa para um mesmo sistema… mas são coisas distintas.

Líderes não são eleitos ou escolhidos pelo currículo. Líderes surgem do meio do grupo.

Um líder se torna um líder quando decide ajudar as pessoas, quando decide apoiar, fomentar e cultivar culturas sadias. Na verdade, ele deveria ser medido por isso. Você pode ser um líder para os seus pares em um time ou em casa.

O líder deveria estar ao nosso lado.

Mas o que acontece?

O gestor está na pessoa do líder, ele comumente ocupa um alto cargo hierárquico e ele é medido por resultado. Alías, melhor dizendo: ele ascende na hierarquia por causa dos resultados.

Entendem agora o motivo da confusão?

“Nos tornamos líderes no dia em que decidimos ajudar as pessoas a crescer, não os números.”
Simon Sinek

E os números? Todas as empresas e organizações devem necessariamente virar instituições filantrópicas?

É óbvio que não.

Mas isso também não tem a ver com ser líder. Pelo menos não diretamente.

Quando ser líder vira entregar resultados, os resultados desaparecem em médio e longo prazo pois a confiança se esvai. Quando ser líder vira exercer o poder para ter mais, ter para exercer o ego ou perpetuar o ciclo ter-poder-comandar-liderar, a cultura desaparece. Os relacionamentos entre líder e liderado não se aprofundam e o líder substitui o liderado, sempre com foco na cenoura. Sem empatia ou relacionamentos, o grupo se esfacela. A cultura é destruída e valores não conseguem ser mantidos.

Ser líder é sobre o grupo ou tribo, como Seth Godin e Dave logan gostam de colocar.

Ser líder é sobre fazer cada um ser o seu próprio líder e, eventualmente, tornar-se líder.

Ser líder é sobre se importar com as pessoas, sobre empatia, sobre fazer o indivíduo ao seu lado desenvolver-se.

De fato, ser líder é focar nas pessoas em primeiríssimo lugar para que elas cresçam. É estar ao lado de cada um.

Um líder de verdade ajuda e entende os liderados.

Ser líder tem muito mais a ver com altruísmo do que com cifras, ego ou exercício de poder.

Ser líder é inspirar.

A consequência disso? Aí sim, é o resultado!

 

2 comentários

  1. Engraçado que estive em uma discussão essa semana sobre esse assunto e esse foi meu ponto de vista! Porém sem referências… adorei! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻 Gostaria que me passasse as referência das citações… fiquei muito interessada!

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