Pensamentos Com Vida Própria

Paradoxos

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O ser humano é um grande paradoxo. Talvez uma coleção deles.

Múltiplos vetores… forças distintas puxando em diversas direções e sentidos…. às vezes anulando-se, às vezes contribuindo ou simplesmente paralisando sob grande pressão.

Gerando tensão, interna e externa.

Tensão que incomoda, tensão que motiva, atrito que provoca mudança. Quebra a inércia, esquenta, tende à colisão.

Por outro lado, temos a ciência dizendo que tudo acaba em entropia… em algo morno, energia que não pode ser reutilizada.

Temos, em um pólo, os atritos paradoxais da existência traduzidos em movimento e em conflitos, por assim dizer.

Do outro, o fim entrópico, o nêmesis numa sopa morna de energia irreaproveitável.

Aparentemente, um motor que leva à movimentação e outro que apresenta um fim inexpugnável para tudo movimentado, para tudo que sofreu a exerção energética, interação, mudança, adequação.

Como pode, um universo surgir de uma explosão atualmente em expansão que tende a uma exaustão monótona?

Eu, como ser humano, diante deste cenário imaginado, quero propor uma superioridade intelectual que subjulga conclusões negativas.

Natureza?

O que vem a ser natural?

Como ser humano, sou tão insignificante como qualquer vida que eventualmente exista, existiu ou existirá.

Não por desejo, não por negação, mas por pura probabilidade.

Nossa presença no universo é uma proporção inimaginável. Falamos de consciência (o que define nossa existência e dissemelhância da fauna conhecida) na casa dos 300 mil anos… e de um universo na casa dos 14 bilhões de anos.

Não dá nem pra desenhar.

A estatística pode ser opressora, principalmente se você perceber um argumento contrário a sua própria existência, fundamentalmente.

Um cão existe? talvez um gato?

Ponha-los de frente a um espelho e descobrirá.

O que vem a ser “existir”? Algum ser existe sem a apropriada consciência de ser?

O “eu” é uma identidade consciente.

Mesmo assim, há algo que nos movimenta imparavelmente.

Alguns chamam de…

Centelha divina.

Religião.

Fé.

Criador.

YHWH

Pai.

Alá.

Universo.

Iluminação.

Plano Superior.

Eu superior ou Eu maior.

Tantas palavras para conceitos distintos e que são muitas vezes confundidos, diante das intersecções.

Aliás, quem sou eu para afirmar isso?

Quantas identidades imponho no plano material, formadas cada uma delas por um sem número de crenças?

O que vem a ser uma crença?

Como dizem os apócrifos, que contém alguns exemplos de comunhão com o todo: Ele está em todo lugar, incluindo em si. Em nós mesmos.

Quantas identidades eu me permito acreditar conter uma porção Divina? Se o “eu” é consciente, então será o Divino que existe em nós um afago egóico?

Deus “homem” é uma concepção humana. É quase um desejo… aliás, nada de “quase”; definitivamente uma aspiração e faz muito sentido.

Às vezes acho que, como seres humanos, nos sobra religião e falta espiritualidade.

Nós, como seres imperfeitos, não conseguimos imaginar o que é perfeito e precisamos entender e aceitar isso. Nossa própria definição de perfeição é imperfeita… algo imperfeito não gera perfeição.

O que entendemos por Divinidade é um conceito limitado à nossa capacidade e cognição humana no presente momento histórico, o que provoca a associação Dele (ou da sua própria interpretação Dele) à identidade do ser humano.

Mas o perfeito é algo inexplicável por definição, para nós, seres humanos imperfeitos… se é que dá pra definir alguma coisa.

Portanto, chamemos do que acharmos mais interessante, com o qual nos identificamos ou sentimos, mas o conceito da Divindidade ou do perfeito nos foge como uma formiga jamais será capaz de entender o que nós representamos para elas…

Exceto pela enorme sombra obliterante: não importa se da ponta do dedão ou da palma do pé… não obstante, uma sombra obliterante determinante do existir (para a formiga).

Somos formigas diante da perfeição?

Será, daí, que surge o conceito de punição e recompensa ou relatos como o velho testamento?

Eu prefiro, por enquanto, acreditar que o inexplicável merece respeito e que ele pode permanecer como inexplicado enquanto não possuirmos cognição para entender.

Há paradoxo maior do que este?

Há maior centelha para a mudança do que buscar o desconhecido na procura por conhecer-se?

Há maior paradoxo, como ser humano, do que afirmar: eu não sei? A negação do ego que cria a identidade e que nos assemelha à Ele?

Eu não sei.

E isso me conforta. Não há incômodo: permite-me comunhão com os demais seres humanos pois todos somos imperfeitos. Isso sei, com certeza.

Quando as proporções universais são registradas na consciência, a humildade da insignificância faz desaparecer os mitos.

E faz questionar pelo desconhecido.

Esse É o dom de ser humano:

Carregar dentro de si parte de um todo, caos, ordem, e ter ferramentas para moldar cada um desses elementos.

Ser tanto, representando fisicamente tão pouco, diante de tanta imensidão.

A partir daí, podemos explicar o inexplicável com crença e fé ou diminuir o ego e continuar a busca. Em todo caso, gerando mais paradoxos e perpetuando a nossa existência.

 

“E o homem, em seu orgulho, criou deus,
a sua imagem e semelhança.”

Friedrich Nietzsche

 


Referências adicionais:

Sapiens e Homo Deus, Yuval Harari
The User Illusion, Tor Nørretranders
O Poder do Agora, Eckhart Tolle
Viver em Paz Para Morrer em Paz, Mario Sergio Cortella

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