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Pensamentos Com Vida Própria

A História do Sabonete e da Abundância

Quando eu era bem pequeno, via minha vó juntando sabonetes. Entendo eu, um exercício de abundância.

Sim, restos de sabonetes e fazendo um sabonete maior.

Fui educado assim, cresci assim e, para mim, super natural colar o resto do sabonete no fim com o novo, assim como colocar um pouco de água no fim do detergente para tirar o resto.

Confesse… você faz isso? Conhece quem faz?

Nunca imaginei que eu seria julgado por isso, mas fui.

Cerca de 10 anos atrás, deparei-me com um ensinamento de suposta abundância, que disse para mim que juntar sabonete velho com novo era mentalidade de escassez.

Pareceu fazer sentido, mas foi contra outro ensinamento familiar.

Coisa enraizada dentro da gente, apesar da suposta mentalidade de abundância render livro e filme.

O que é escassez e o que é abundância? Pergunto-me até hoje, porque durante anos vivi com esse conflito dentro de mim, sem analisar a questão.

Como questionador que sou, procurei investigar e analisar o tema recentemente.

A busca não foi sem fundamentos ou baseada meramente em um conflito de experiências passadas a mim por familiares, frente a um paradoxo momentâneo.

Não.

Eu passei a minha parcela de desafios onde fez muito sentido para mim juntar sabonetes.

Quando a gente já passou fome e necessidades, contou centavos e sobreviveu, a concepção de mundo muda e a abundância de um conjunto de pessoas pode ser percebida como exagero ou desperdício, mesmo que estejamos falando sobre um pedaço de sabonete.

Lei da atração?

O que é a lei da atração quando se está no fundo do poço?

A lei da atração é linda para quem está de barriga cheia.

A lei da atração cagou na cabeça de quem está em um sinal pedindo uma moeda para subsistir.

Eu nunca precisei pedir dinheiro em um sinal para sobreviver, apesar de ter pedido para sobreviver em circunstâncias menos extremas.

Neste contexto, lembro da minha avó que juntava sabonetes.

E quando contextualizo uma pessoa que viveu uma guerra, escassez, falta de comida e de insumos básicos, juntar sabonete e colocar água no detergente é piada.

Abundância para mim é maximizar os recursos que eu tenho no momento.

Abundância para mim é evitar o desperdício, é valorizar o que se tem para viver hoje e conquistar o dia de amanhã.

Abundância é ter uma mentalidade que me permita adaptar-me e sobreviver na máxima falta e aproveitar o conforto.

Mas abundância não é sobre ser ao invés de ter?

Quando você “tem”, facilita.

Aí fala-se qualquer abobrinha, principalmente se abobrinha estiver em alta, for rentável e render clicks, curtidas e engajamento.

A minha avó era sábia pela experiência, muito mais do que aqueles que pregam o exercício de uma falsa identidade de fartura para o mundo ver.

Ela e a sua sabedoria nos deixou 32 anos atrás, muito antes de qualquer rede social, onde a regra parece ser a oposta: ostentar, mostrar o que se tem não tendo.

Não sei você, mas estou cultivando com carinho uma aversão à redes sociais em geral, pelo conteúdo e pelo mecanismo.

Pois que o mundo me veja juntando aquilo que tenho, sabonetes e colocando água no detergente, mesmo que o algoritmo me mande pastar.

Só quem passou pela escassez sabe o real significado da abundância.

Chego ao final dessa reflexão percebendo que talvez não saiba nem o que é uma coisa, nem outra.

Mas continuarei juntando sabonetes e foda-se a lei da atração.

Preservar recursos e usá-los da melhor forma que se sabe é a maior mentalidade de abundância e respeito que existe.