Categorias
Coaching Corporações Gestão Liderança Motivação Pensamentos Com Vida Própria Pessoal Sociedade Vida em Geral

A Média Social

Leia agora “O Guia Tardio”! (clicando aqui)
Assista ao canal no Youtube (clicando aqui)


 

Você foi gerado único e nasceu assim.

Indivíduo.

Individual.

Você também foi programado para conviver em sociedade.

E isso tem um significado. Existe um porquê.

Salvo ser um gêmeo univitelino ou clone geneticamente criado em laboratório, suas impressões digitais são só suas assim como as suas íris… os seus valores e crenças e seu jeito próprio de pensar, sentir e agir. Mais, hoje sabemos que a neuroplasticidade, dentre outras características do seu cérebro mudam fisicamente ao longo do tempo.

Não existe corpo igual ao seu, mesmo no caso de ter irmãos gêmeos. A vida e as experiências que vivemos moldam o nosso corpo, cérebro e mente. À medida em que o tempo passa, as individualidades se acentuam e não adianta invocar a cópia genética natural ou não.

Agora, perceba toda essa individualidade como potenciais variáveis interagindo entre si… criando o novo, evoluindo e servindo de base para o crescimento e desenvolvimento da humanidade.

Somos sementes distintas que promovem o infinito no jardim da diversidade através da interação. Somos uma variável na equação da evolução que pode assumir bilhões de valores a cada instante.

Mas a equação em si não é tão simples.

Apenas as variáveis da sua unicidade não são capazes de alimentar a nossa evolução.

Enquanto essa abundância de características e combinações promove um caminho de incontáveis possibilidades, a nossa habilidade de formar laços tem nos perpetuado como espécie.

Milhões de anos atrás a individualidade, no sentido do isolamento, provavelmente levou alguns ao fim. Foi uma época onde a sobrevivência dependia da cooperação, da ajuda mútua e da formação de tribos… relacionamentos, famílias e outras pedras fundamentais do que conhecemos hoje por sociedade, apesar das diferenças.

Já falei aqui no blog sobre as razões antropológicas e até biológicas de ser assim. Trata-se de um sistema que faz sentido evolucionalmente falando. De fato, evoluímos (e sobrevivemos) porque esse sistema funciona (pelo menos até agora).

Se por um lado a união possibilitou a sobrevivência, o que nos une pode potencialmente gerar conflito.

Um dos catalisadores dessa cola social é a semelhança. Uma das coisas que provoca atrito entre seres é a diferença.

Nós buscamos características compatíveis com as nossas, assim como pensamentos, sentimentos e comportamentos.

Nossa zona de estagnação (como eu particularmente chamo “zona de conforto”) é conviver com quem parece conosco, pois isso gera conforto cognitivo, evita a mudança e mantém tudo como está… tudo em linha com a missão máxima do nosso cérebro de nos proteger e conservar energia.

Temos o dom da individualidade mas devemos aprender a conviver em sociedade para evoluirmos. É esse “cabo de guerra” entre quem somos e a necessidade de interagir com o próximo que gera movimento e mudança, que cria o novo e que permite a aceitação, algo intimamente ligado ao altruísmo e a humildade.

Eu imaginei você agora, nobre leitor. Uma cara de confusão talvez, algumas dúvidas, incertezas… é, vou explicar melhor.

Imagine uma pedra.

Em toda a sua glória, grande, parada, imóvel, em repouso.

Tá, para os geeks de plantão, ela pode estar em movimento inercial no vácuo.

O que acontece com a nossa amiga pedra se nada interagir com ela? Nenhuma energia, objeto, colisão, pessoa, obstáculo, evento?

Nada.

Tudo em nosso universo está em movimento e a tendência é de expansão.

São bilhões de anos de mudanças provocadas por essas interações.

Não dá pra fugir disso, mesmo que você arrume o emprego dos sonhos, faça o possível para manter o status quo, faça pouco movimento, viva na zona de estagnação, fuja de conflitos, pessoas, relacionamentos, não saia de casa…

Não somos pedras. Temos energia dentro de nós. Temos sentimentos, temos vontade, temos motivação, valores, crenças, propósito. Temos necessidades que vão das básicas e físicas, como ir ao banheiro, comer e sexo até as mais intangíveis como aceitação social.

Olha a palavra mágica aí novamente: sociedade.

Eu chego à conclusão de que essas duas forças, a individualidade e a necessidade de convivermos em grupos são o que nos movem.

Mas não como vetores que nos puxam na mesma direção. Não como vetores que somados dão uma força resultante que nos puxa para esquerda, direita, para trás ou para frente.

Não somos “levados” por essas forças.

Somos protagonistas.

Talvez aí as semelhanças com a física se encerrem: essas forças se opõem e não se anulam! Ao invés de sermos objetos passivos sofrendo ação externa, elas partem de nós e atuam provocando… transformação.

Elas são combustível para pensamentos e sentimentos que, diante do nosso livre arbítrio resultam em ações… e isso muda o mundo porque… nós mudamos e provocamos a mudança mutualmente.

Ao entender isso, é possível dar um passo adicional no sentido de compreender algo essencial: como a sociedade (incluindo aquela que inclui você), instituições, governo, justiça, regras de convivência, legislações, empresas e tantas outras estruturas são uma média de quem somos.

Os seus pensamentos, sentimentos e ações podem aparecer imediatamente, em dias, semanas, meses ou anos… Já os padrões e regras sociais levam bastante tempo para se manifestarem.

Quanto é bastante tempo?

Não sei. Sei que leva mais do que alguns dias. Às vezes, séculos. O seu comportamento como membro da sociedade hoje determinará as leis da sociedade do futuro. Quanto tempo no futuro? Boa pergunta.

É a aceitação e o respeito pela individualidade do próximo… pelos valores, pelas crenças e propósito de quem está no mesmo grupo social em que você está que provoca a criação, manutenção ou… alteração da média social, através da comunicação e do compartilhamento, seja intelectual ou emocional.

Tenha a liberdade até de pensar ao contrário: talvez você tenha sido atraído para um grupo específico justamente porque se identifica com as médias expressadas nele: aquelas pessoas ali compartilham de valores, crenças, opiniões e propósito semelhantes aos seus.

E para acomodar as demais diferenças, os diferentes graus de evolução e maturidade, surgem as regras através do respeito.

Moral.

Ética.

Família.

Legislação.

Representatividade.

Líderes.

Governantes.

Instituições.

Empresas.

Religiões.

Tudo aquilo que representa um grupo social é uma reunião de pessoas em torno de regras comuns e respeitadas. Quando os acordos, o respeito e a aceitação falham, o grupo se esfacela.

E essas regras comuns são a média das individualidades das pessoas contidas no grupo, ao longo do tempo, o que o transforma em uma tribo…

Isso mesmo: respeitar o sinal vermelho, chegar no horário, expediente das oito às dezoito, carnaval, fazer o filho torcer para o seu time, natal, aniversários, nudismo em Tambaba, compartilhar fake news nas redes sociais (assim como condenar a prática) e até o calendário romano são exemplos dessas “regras” e da média de grupos sociais de vários tamanhos.

O que tudo isso significa?

Que esse atrito entre individualidade e o convívio social é salutar, se responsável, se respeitoso. Somos seres racionais e podemos perfeitamente lidar com isso: usar essa interação para aprender e evoluir.

Ouvir mais. Ponderar mais. Exercitarmos a adaptabilidade e refletir tudo isso em nossas ações.

Perceba o papel do livre arbítrio: se ele não existisse, não haveria evolução. O nosso caminho seria predeterminado.

É desafiador, não é mesmo?

Reconhecer a responsabilidade, o poder que temos e, ao mesmo tempo, colocar a cara a tapa e ter uma posição, opinião, crença ou valor destruído.

E como fica o ego? Você tem vergonha quando isso acontece?

Bem, essa já é uma outra conversa.