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As Redes Sociais e a Polarização

As redes sociais ampliam o que as pessoas são.

Então, seria natural ver a polarização e o ódio; mas seria igualmente natural ver a bondade, o carinho, o altruísmo e tudo aquilo entre os extremos.

Percebo que enquanto a polarização circula em temas como política, preconceito / discriminação e religião, a “bondade” circula em mensagens motivacionais e de bom dia.

A questão é que a polarização é ativa e procura atingir identidades… e a bondade parece ser passiva.

Eu poderia entrar no debate sobre como as questões polarizadas são representadas pelas crenças das pessoas e como elas estão associadas ao que cada um percebe como “bom”, certo ou errado.

Ou seja, quem defende ou ataca lados está certamente envolvido na crença de que age para o bem-estar ou bem maior.

Mas não entrarei na discussão do conteúdo.

Minha observação é simples: em qualquer caso, se argumentação adjetiva pessoas, ações e foca na identidade de indivíduos direta ou indiretamente, entra-se no confronto egóico que traz resultados nada construtivos.

Quando o debate entra nessa fase, somos levados a punir e a vingar.

Ou seja, se esse é o rumo da conversa, cabe a si próprio reavaliar o argumento em si.

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Preconceito no Mercado de Trabalho

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Acho que todos sabem a origem da palavra preconceito.

O conceito por trás dela é simples: uma opinião previamente concebida. Uma opinião forjada com pouco insumo. Um conceito vazio, incapaz de sustentar quaisquer conclusões que sejam, alinhavado em cima de generalizações injustas.

Não obstante, determina o curso de ação de um indivíduo um grupo.

De acordo com a psicologia, tudo começa com uma generalização básica, com a associação das características com algum grupo previamente concebido, ou estereótipo.

“Os preconceitos têm mais raízes do que os princípios.”
Maquiavel

Usamos grupos frequentemente para classificar as pessoas. É quando pensamos ou verbalizamos coisas como “todo homem gosta de futebol“, “toda loira é burra” ou “todo tatuado ou usuário de piercing é marginal“. Como se não bastasse, os estereótipos são transmitidos socialmente, na família, entre amigos e grupos de convivência.

O ser humano está constantemente avaliando e julgando o próximo, medindo capacidades, comportamentos, pensamentos, opiniões e uma enorme quantidade de outros pontos, na intenção de identificar se o próximo é ou não uma ameaça. No passado remoto, isso serviu bem para identificar o macho, a fêmea alfa ou a “tribo“.

Estereótipos (Fonte: https://brazilianbullshit.wordpress.com/2012/05/02/visao-cultura-diferentes-midias-rio-de-janeiro/)

Hoje em dia, a situação é bem mais complexa: fatores socioeconômicos e culturais abundantes e a diversidade fazem com que qualquer análise e posterior generalização esteja estatisticamente fadada ao engano. O esvaziamento e empobrecimento das relações interpessoais vem para dificultar ainda mais a questão. Demora-se para conhecer alguém de verdade e a sociedade hoje em dia ainda economiza e refrata contato interpessoal.

O preconceito em si nada mais é do que uma reação emocional (normalmente ódio ou aversão) a um estereótipo. Quando essa reação vira uma ação no mundo real, temos a discriminação.

É muito importante entendermos o motor por trás de algo tão destrutivo. A nossa história está repleta de exemplos de preconceito e discriminação dos mais diversos… variando de cor, raça, fé, crença, aparência, deficiências, orientação sexual, companhia, grupo/classe social, trabalho, origem, nacionalidade e até time de futebol e eles podem variar da perda de uma oportunidade de trabalho até a morte, passando por inúmeros cenários de agressão verbal e física, que já destruíram até nações e povos.

“Se minha Teoria da Relatividade estiver correta, a Alemanha dirá que sou alemão e a França me declarará um cidadão do mundo. Mas, se não estiver, a França dirá que sou alemão e os alemães dirão que sou judeu.”
Albert Einstein

Também é essencial entender que o preconceito diz mais a respeito do autor do que da vítima. Ele denota uma limitação, uma crença pela ausência intelectual e uma fragilidade existencial / transferência que pode ser pontual e relacionada ao tema do preconceito ou não. O fato do estereótipo ser baseado numa crença e da emoção provocada ser irracional adiciona perigo à questão, pois inviabiliza qualquer argumentação ou racionalização.

Ainda no campo da crença, abordei o tema de forma direta e indireta em dois artigos recentes que versam sobre a nossa ideia de realidade e de certo e errado. De forma complementar, sugiro a leitura. De forma análoga, ainda no texto sobre realidade tênue, exploro a questão da formação dos estereótipos, sobre a ótica da PNL. Eles podem ajudar a entender o que vai na cabeça das pessoas que são preconceituosas.

“O preconceito é filho da ignorância.”
William Hazlitt

Muito precisei dizer para compreendermos de onde vem o comportamento preconceituoso (discriminação) para prosseguirmos para o âmbito profissional e isso tem uma razão de ser: combater o preconceito e a discriminação, na minha opinião, são ações que devem ser focadas nos agentes do preconceito, que é onde a crença inicial dá início ao estereótipo, fonte de tudo. É necessário abordar essa questão com mais profundidade, o que farei ao final.

Agora, focando na questão profissional, intenção original desse texto, permitam-me expor uma realidade de sofrimento e rejeição totalmente infundada.

Inicio em torno do tema das empresas contratarem deficientes. Não se iludam, há uma obrigação legal, mais potenciais benefícios fiscais e midiáticos consideráveis, por trás de tanta benevolência e o que ocorre é um exemplo perfeito da origem da definição do próprio termo “preconceito” e como ele se forma, exposto na primeira parte.

Permita-me ser franco, Leitor. O que já vi ocorrer é curioso, algo que começa de forma patética mas tem final feliz: as empresas contratam pessoas deficientes para cumprir a lei e isso inicia uma cultura de ajuda e caridade. Ela demora a se formar, normalmente um par de anos ou um pouco mais. As pessoas começam a perceber que deficientes são uma força de trabalho tão eficiente como qualquer outra, vencidas as barreiras de acessibilidade. No lado social, o convívio faz com que os demais profissionais desconstruam o preconceito que tinham.

“Toda geração está inculcada em tradições de preconceito que são encorajadas como normais, naturais e saudáveis”.
Bryant McGill

Em outras palavras, uma convivência forçada funciona e comprova, para a organização e seus indivíduos, que os seus estereótipos são totalmente infundados, mal orientados e carecem de base. Isso provoca uma mudança no âmbito emocional, fazendo com que o preconceito desapareça com o tempo e a discriminação cesse. A palavra passa a ser… Aceitação (própria e do próximo!).

Fiz questão de expor a situação profissional dos deficientes para trazer uma perspectiva: eles podem e são alvo de preconceito. Entretanto, existe um sem número de motivações e crenças por trás de outros sem número de preconceitos existentes e, meu querido Leitor… não há leis ou benefícios para os demais.

O que há, meu caro, é a manifestação do pior tipo de discriminação que existe: a velada.

Ela começa no ato de contratar. Ela começa na sala de entrevista, quando o candidato entra e a pessoa responsável pelo processo de seleção percebe um brinco em um homem, uma tatuagem no braço, um corte de cabelo diferente, uma característica ou outra qualquer que, para o entrevistador, signifique uma ou outra orientação sexual e que, imediatamente, é usada por ele para “enquadrar” o candidato em um de seus estereótipos padrão. Formada a caracterização, o preconceito se manifesta na rejeição com base, frequentemente, nas qualificações do candidato. O comportamento parece comprovar que “aparência é tudo”.

Quando mencionei que, neste caso, o preconceito é velado, é porque a única oportunidade que se tem de identifica-lo é na recusa do candidato, não importa quais as suas qualificações. Por mais que seja de fato qualificado, dias depois, recebe (quando recebe) a informação de que sua aplicação não é compatível com as necessidades da empresa. Algumas vezes, sequer é uma orientação da instituição seguir assim, mas um comportamento isolado do recrutador.

Vencido o processo de contratação pelo candidato, que só acontece quando a corporação possui uma política clara de diversidade e aceitação, dependendo da maturidade da cultura da “tribo”, o profissional será analisado, medido e enquadrado nos estereótipos dos demais colegas.

“As pessoas decidem como você é antes mesmo de conhecê-lo.”
Celeste Ng

Aqui, há uma clara divisão de comportamentos: as pessoas que já mudaram e enriqueceram seus preconceitos transformando-os em conceitos, diante de experiências próprias ou da política da empresa, aceitarão o novo profissional. As que não são tão evoluídas, dependendo do respaldo que a organização dá, tratarão de forma distante e impessoal ou iniciarão processos de assédio moral quase imperceptíveis.

Ele pode acontecer de diversas formas e escrevi sobre o tema recentemente. A ocorrência mais comum são as piadas de mau gosto, as fofocas e as colocações nada pertinentes que ocorrem entre mesas e corredores. Eu já presenciei isso e, particularmente, tenho zero tolerância com o fato. Na verdade, tenho zero tolerância com quaisquer situações de rebaixamento e humilhação de alguém ou grupo, desde uma piada que pareça inofensiva a algo mais direto. Explorarei o tema adiante.

Repare como organizações assim são um estereótipo de si mesmas. Perceba a forma de pensar, se comportar e enfrentar o mercado, a concorrência e se é capaz de inovar e se adequar às mudanças.

Observe que pessoas que fogem ao estereótipo do “comum” normalmente pensam diferente e tem pontos de vista interessantíssimos sobre o mundo que as cerca. A diversidade é algo altamente importante para o processo de inovação e evolução. Pensar diferente, conviver com ideias distintas e trazer pontos de vista novos é algo fundamental para qualquer organização que pense em crescer e se adequar rapidamente às mudanças do mercado, cada vez maiores e mais rápidas. Fazer isso usando estereótipos antigos e padrões vazios não ajuda.

“Enfrentar preconceitos é o preço que se paga por ser diferente.”
Luiz Gasparetto

Outra vantagem é a transformação da cultura da tribo. Pessoas que convivem com a diversidade são mais abertas, menos intransigentes, tem conceitos positivos e claros sobre bondade e caridade, aceitação de novas ideias e do próximo e estão ativamente visitando em suas vidas projetos de desenvolvimento pessoal e humano. Em tempo, ainda existe a questão da imagem. Uma empresa que sabidamente aceita o diverso e batalha contra o preconceito é vista pelo mercado como mais justa e competitiva.

Entretanto, a batalha é injusta para a vítima e possui elementos desafiadores. A irracionalidade das crenças por trás dos estereótipos e, por sua vez, do preconceito em si, é uma questão importante. Não dá pra racionalizar a questão com o preconceituoso. Outro ponto é que a mudança deve ocorrer na cabeça onde reside a crença e o estereótipo.

Ao contrário do que muitos acreditam, sim, existem ações efetivas e que funcionam, mas que precisam ser desempenhadas pelas instituições e não pela vítima.

A primeira delas assemelha-se à orientação que dei contra o assédio moral: é necessário que a empresa tenha uma política clara a respeito do tema. Isso ajuda a criar uma cultura sadia e de aceitação, mesmo que demore. A segunda é a orientação e clareza, baseada na política, do processo de seleção.

“O preconceito é um produto da ignorância que se esconde atrás das barreiras da tradição.”
Jasper Fforde

Contudo, dependendo de uma série de fatores, como a região de atuação, tamanho da empresa, natureza do negócio e outras questões socioeconômicas e demográficas, a organização pode ser ainda mais contaminada pelos esterótipos existentes. No interior, as pessoas são estatisticamente mais conservadoras e isso pode levar a uma rejeição do novo ou da diversidade. Preconceitos sabidos contra nordestinos, cariocas, baianos, paraibanos, comunidades carentes e classe social, dentre outros, também entram na equação.

Nestes casos, sou a favor de um posicionamento agressivo governamental e das instituições. Começando pela orientação do público em geral, com campanhas direcionadas ao mercado de trabalho, sinto a falta da participação das instituições de formação, setoriais e sindicatos, agindo diretamente junto aos setores de RH.

É muito importante que o estado se posicione contra a prática do preconceito de forma clara, bem como as instituições de ensino e formação profissional. Evidências apoiando o tema existem. É necessário que essas evidências sejam usadas para quebrar os estereótipos existentes. O efeito colateral será o encerramento da prática da discriminação.

“As pessoas quase que invariavelmente chegam às suas crenças não na base da prova, mas na base do que acham atraente.”
Blaise Pascal

Como mencionei anteriormente, no âmbito individual, a luta é injusta. Eu acredito que cada indivíduo na sociedade que é contra o preconceito pode, sim, agir, agora. Basta ter uma política própria de tolerância zero com o preconceito. Vão me chamar de chato e quadrado, mas ao longo da minha vida, comprovei inúmeras vezes que a omissão apenas perpetua o preconceito.

Quando digo isso, não me refiro a bater em alguém que está sendo preconceituoso, mas agir de forma mais sutil, inclusive. Não aceite comentários preconceituosos. O preconceito se esconde nos mais diversos lugares, como numa piada de português, baiano, argentino, nordestino, paraibano ou paulista.

Ele se esconde em quaisquer brincadeiras de mau gosto com alguém que possua alguma deficiência ou orientação sexual. Numa piada de negro, gay, lésbica, amarelo, gordo ou magro. Faço, aqui, um alerta: você pode cair na armadilha de rir de uma piada dessas e nem perceber. Tornar o ato consciente é o primeiro passo na direção correta. Manifestar-se o segundo.

Existe o argumento de que “aparência é tudo” e, daí, que o funcionário é uma extensão da empresa e da sua imagem e é necessário entender que o argumento tem mérito, mas é usado de forma muito restrita. A maioria dos profissionais de RH sugere ter “bom senso”, o que acho temerário, pois é um convite para a interpretação e mapa de mundo de cada um.

“Não são nossas diferenças que nos dividem. É a nossa inabilidade de reconhecer, aceitar e celebrar as diferenças”
Audre Lorde

Eu também sei que a remediação natural, em nome do mesmo bom senso, tem a ver com o indivíduo esconder quem é e isso é muito triste, pois significa que a sociedade quer que você deixe de ser quem é e esconda justamente o que pode ser, potencialmente, a sua melhor parte e a sua melhor contribuição.

Preconceito contra Aparência (Fonte: http://jornalibia.com.br/destaque/tatuagem-e-uma-ameaca-na-busca-por-emprego/)

Significa esconder uma irreverência, uma tatuagem, um corte ou cor de cabelo, um jeito de falar e andar, de uma forma geral, um comportamento que é a expressão clara do seu eu. É atingir a pessoa no nível da identidade e, muitas vezes, no de conexões. É focar, já no processo de seleção, na imagem e rejeitar o aspecto da contribuição. Entretanto, se considerarmos o que pode ser feito de imediato pelo indivíduo, é uma saída plausível, apesar de amarga.

Eu francamente espero que atitudes assim não sejam necessárias em um mundo próximo. Eu acredito em um mundo melhor e trabalho ativamente para isso. Eu acredito que estamos entrando em uma era de desenvolvimento intelectual, espiritual e humano e a forma direta de combater estereótipos e o preconceito é a informação e a conscientização para que o “pré” desapareça.

Vejo, todos os dias, as pessoas procurando ser melhores, buscando crescer como seres. Realmente desejo que esse crescimento traga consigo um mundo de maior aceitação, porque espaço há para todos com bondade no coração e um desejo de evoluir. Tenho fé na diversidade e mudança como forma de renascer.

“Nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos.”
Henry Thoreau