O feedback é uma ação temida pelo que ela representa para quem dá e recebe, principalmente se a razão dele existir for uma mudança, correção de rumo ou comportamental, o que frequentemente é associado à uma percepção negativa.
Além disso, é muito comum a associação do feedback com ameaças. É comum vermos feedbacks serem usados como armas de opressão ou comparação.
Isso acontece porque ele é associado à falha, erros, julgamentos e, muitas vezes, ao conflito de identidades.
Por outro lado, o feedback pode ser usado para melhorar aquilo que já funciona. O objetivo não é a perfeição, é permitir a melhora constante.
Mas antes de prosseguir, quero colocar algumas coisas que normalmente não são levadas em consideração.
Primeira: feedback é repleto de julgamento.
Impossível ter feedback sem julgamento.
Para muita gente essa afirmação vai doer. Mas é um fato.
Quem promove o feedback julgou quem vai receber, por mais “evoluída” que a pessoa se considere.
Já quem recebe julga tanto a pessoa que emite quanto a validade do que é dito na sequência, diante da sua própria percepção.
Não há como fugir disso, pois somos seres imperfeitos com as nossas próprias questões, cheios de emoções.
A pessoa mais racional que você conhece não consegue separar totalmente emoções de pensamentos e decisões.
Segundo, o processo de feedback passa por um pedido para exercê-lo e uma aceitação em recebê-lo.
Se você pretende fornecer um feedback e não está disposto a compreender o outro em seu contexto profissional, emocional e de vida, não siga em frente.
Ou o feedback dado não será útil ou seguido, ou a questão não está com que recebe: esta no emissor, ou seja, em você.
Feedback sem empatia e compreensão não funciona e NÃO É feedback.
É repreensão, vingança, ou o uso de alguém para atingir uma meta arbitrária pessoal.
Terceiro: Ah pô, eu não gosto de fulano, o trabalho dele é uma porcaria, como vou dar um feedback?
NÃO DÊ, ou ele também não será um feedback: será um exercício da sua frustração.
Entenda suas próprias emoções pela pessoa. Não dá pra focar no processo, na melhoria ou no argumento se você não gosta de alguém e… nesse caso, o problema é seu, não do alguém.
Ah, mas fulano é assim ou assado…
Não importa, a emoção e a reação são suas.
No calor de um debate onde emoções como a raiva e o medo estão afloradas por quaisquer motivos, NENHUM feedback será útil, válido ou terá resultados positivos.
O julgamento será a pauta principal e o resultado um afastamento. Quem dá oprime e quem recebe se defende.
Por mais que o julgamento seja inevitável, pergunte-se: qual o resultado esperado?
Por que partimos do princípio ingênuo de que uma crítica ou dar uma porrada é a forma mais adequada de obter o resultado desejado?
Se o objetivo do feedback é obter uma mudança positiva, estamos falando de argumentação e convencimento.
Para que ele ocorra, é necessário incentivar a abertura e a comunicação.
A instituição do medo como artifício de mudança é muito menos efetiva para o convencimento do que o acolhimento.
O medo e a ameaça provocam uma reação instintiva de sobrevivência e fechamento, mas dificilmente fazem alguém mudar de opinião.
Se a intenção é provocar movimento, medo e ameaça podem funcionar inicialmente, mas não incentivarão a mudança comportamental duradoura e ainda corre-se o risco do medo ou da ameaça ser considerada tão grande que causa a paralização.
Muitas vezes, mais até do que admitimos, reconhecer as boas características de alguém é mais do que razão não só para mudar o comportamento da pessoa como deixar de efeito colateral a motivação e o bem-estar.
Para aqueles que acreditam que apenas o resultado importa, essa e uma importante questão a considerar.
Então, qual a forma de obter o resultado desejado de um feedback?
Não acho que exista UMA forma… somos pessoas diferentes e tudo parte de ter empatia para reconhecer essas diferenças, principalmente as emocionais.
Em geral, gosto da ideia de associar qualidades e recursos à identidade e as mudanças necessárias a características transitórias.
E isso é bem mais fácil de fazer do que você imagina.
Primeiro, perceba as qualidades que a pessoa tem como recursos que ela pode usar.
Pense naquelas qualidades que ela possui para corrigir o que precisa ser corrigido.
A minha sugestão é que essas características sejam associadas à identidade de quem recebe o feedback. A forma mais fácil de fazer isso é afirmar que a pessoa É a qualidade.
Você é proativo, pontual, resiliente, comprometida, paciente, comunicativa, empática… Enfim, a qualidade associada à identidade.
A chave aqui é a afirmação: VOCÊ É.
Segundo, tudo aquilo que necessita de ajuste ou correção pode ser associado a algo passageiro.
Se há a necessidade de mais comprometimento, dedicação, pontualidade… ou qualquer outra característica ou comportamento, deixe claro que a suposta deficiência é algo momentâneo, desde quando percebeu a questão e que o fator que precisa de ajuste é um estado passageiro.
Já a chave aqui é: VOCÊ ESTÁ.
E o segredo aqui é super simples: um estado momentâneo é muito mais fácil de mudar do que uma identidade.
Ao invés de associar o desafio à pessoa, podemos colocar como uma tarefa a ser executada e que pode ser acompanhada.
Mas o nosso feedback ainda pode melhorar e existem algumas estratégias adicionais.
Um caminho interessante é, ao invés de evidenciar apenas aquilo que falta, evidencie aquilo que é necessário para alcançar o resultado.
Ao invés de apenas se afastar do que não é desejado, trace um caminho para aquilo que é.
O bom dessa estratégia é que tiramos os olhos do medo, da ameaça e da paralisia e promovemos um olhar na direção da conquista.
Outro ponto é entender que os objetivos são muitas vezes compartilhados.
E aqui, a gente volta para o início do vídeo… EMPATIA.
Se você está dando um feedback, é porque faz parte do problema ou da solução. Você faz parte do processo e provavelmente dos objetivos.
Então, aproprie-se disso.
Mas aproprie-se COM FORÇA, entenda o seu papel na questão e envolva-se.
Pensa comigo: você COMPARTILHA dos resultados ou não estaria nem aí em dar um feedback, a não ser que já tenha decidido se livrar da pessoa e esteja apenas cumprindo um roteiro.
Se esse é o caso, então sugiro avaliar que conteúdo seu, que está dentro de você, levou a essa decisão e qual a sua participação nesse resultado.
Sugiro também evitar terceirizar responsabilidades e perceber-se como parte fundamental para a obtenção dos objetivos esperados.
E se é assim, por que não idealizar uma saída em conjunto?
Por que não dar uma mão de apoio e ajudar? Por que não entender que tem muito mais participação do que apenas o feedback em si?
Muita gente acha que feedback é isenção de responsabilidade.
Mas é exatamente o contrário. Feedback deve ser recíproco.
Em culturas altamente competitivas e tóxicas, o feedback é um instrumento de comparação e movimentação hierárquica.
Em culturas de apoio e suporte, o feedback tem uma tendência natural de ser construtivo.
Lembre-se:
Feedback é participação, compreensão e cooperação.
Conteúdo adicional:
How To Give and Receive Feedback Effectively
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5709796/
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Fonte da imagem do post: https://norsecorp.com/importance-of-customer-feedback/
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