Leia agora “O Guia Tardio”! (clicando aqui)
Assista ao canal no Youtube (clicando aqui)
Morreu aos quarenta e quatro anos.
Boa pessoa, reclusa, poucos ou nenhum amigo de verdade.
Culpa dele próprio, pensava.
Não cultivou nem preservou.
Muito exigente, julgador, poucos se aproximaram ao longo da vida e, os poucos, mantiveram distância.
Também pensou ser alguém de atrativos escassos. Talvez um pouco de síndrome do impostor, quem sabe.
Temos uma tendência de nos relacionarmos com quem compartilhamos e… ele não compartilhava similaridades com ninguém, aparentemente… não da sua perspectiva egocêntrica.
Não foi dado a realizações grandiosas.
Estudou formalmente até certa idade, iniciou o trabalho cedo… formou sua primeira família que deu certo… por oito anos.
Viu-se desempregado e reconstruiu-se do zero. duas vezes.
Formou outra família que também deu certo por nove anos.
Quando o dinheiro deixou de ser problema, arrumou-os e o dinheiro voltou a ser problema.
Talvez seja por isso que tenha morrido.
Talvez seja pela sede de viver que morra a cada dia.
Morre e renasce.
Assim como você.
Assim como todos nós, que nos reinventamos, que evoluímos, que involuímos, tornando-nos novos a cada momento e matando quem fomos… renascendo a cada ínfimo segundo.
Ele morre há 44 anos. Todos os dias, todas as horas, minutos e segundos…
A cada minúsculo momento, não é mais quem era ou deixou de ser.
A bem da verdade (efêmera) sequer podemos afirmar que foi. Aliás, o que é ter sido, se não uma coleção de estares e momentos presentes?
No momento da concepção da identidade, já era. Não é mais. É outra coisa. Será diferente, fundamentado em quem foi.
Ao morrer, perpetua-se o ciclo da renovação.
Ao ser e renascer, cria-se.
O que deixou de existir se transmuta em uma nova existência. Para cada morte, uma nova pessoa.
Para cada passo dado, uma nova realidade.
E aí, como em um passe de mágica, a compreensão ocorre:
A morte de quem fomos a cada momento e o renascimento de novas identidades e pertencimentos simboliza um ciclo presente em todo o Universo.
Apenas fazemos parte disso ecologicamente.
E se você acha que estamos falando da morte física, do corpo, por favor, leia novamente. Sinta como você tem uma história semelhante dentro de si.
“É preciso ter um caos dentro de si
para dar à luz uma estrela cintilante.”
Friedrich Nietzsche
Assim Falou Zaratustra
Uma frase simples, pequena e que encerra tanta sabedoria, em contexto ou fora dele.
Apropriado falar de caos, nascimento e morte.
De ciclos.
O caos é a sopa primordial que move o Universo…
Estrelas emanam energia e explodem… Criando o tempo todo… expandindo o universo e o Universo…
Tanta coisa tende ao caos e nós, seres humanos, temos o dom de lidar com ele.
Temos o caos dentro da gente e é esse mesmo caos que nos permite morrer e renascer a cada inspiração e respiração.
É esse mesmo caos que nos dá o dom de criar… de uma simples ideia a gerar vida.
Olhe a sua volta e perceba como essa dinâmica está presente em absolutamente tudo… comunhão absoluta.
Sinta como, no fundo… não há morte: há renascimento por toda parte, transformação.
Pode parecer estranho citar Nietzsche em uma época simbolizada pela renovação cristã.
Eu particularmente acho que faz todo o sentido: perspectivas e pontos de vista díspares conjugados com a compreensão e a aceitação são um exemplo prático de seres humanos lidando com o caos de uma forma tão linda…
Nada garante que o próximo ano será diferente do atual… que o dia 26 será melhor ou pior ou mesmo o dia 1o de janeiro.
Só há a garantia de que o futuro é caótico, contido em ciclos de nascimento, morte e que nós temos o poder de colocar em ressonância o caos interno com o caos externo, trazendo ordem ao caminho e desenhando, com nosso exercer do ser, a realidade por vir.
Eu chamo isso de dádiva da criação.
Permita-se morrer a cada dia para dar lugar ao futuro que deseja. Renasça e lembre-se:
Só vivemos as decepções dos caminhos que experimentamos.
Isso pode dar a falsa impressão de que as estradas renunciadas eram mais atraentes, afinal, você não viveu nenhuma das potenciais tristezas ou decepções que lhe aguardavam nas inúmeras alternativas.
Tudo que viveu lhe trouxe até aqui e isso é razão para ser grato!
#OGuiaTardio
Outros textos de final de ano: