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Entre a Realidade Objetiva e Ser Humano

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Passei alguns anos da minha vida estudando PNL (Programação NeuroLinguística).

Nas primeiras aulas, eu entendi o que era mapa.

Depois, entendi o que vem a ser território.

Então, comecei uma busca pela elusiva realidade objetiva que, ainda quando escrevia um livro que inclui o tema, senti ser uma irônica ilusão.

O “território” é tão real quanto a nossa capacidade de perceber (Seth, Anil, 2017) através dos sentidos.

Por mais que todos nós saibamos o que é uma cadeira, temos inúmeras interpretações de tipos e modelos de cadeira.

Até aí, é fácil: cadeira é cadeira, não importando as subjetividades.

Por enquanto.

Então, resolvi ir mais fundo.

Ao usar o conceito de realidade objetiva como base, que tal analisarmos o que está acima?

A Imaginação.

A criatividade.

A expressão.

As artes.

A espiritualidade.

O exercício da unicidade contida em cada corpo que encerra parte do ser humano.

Alma, espírito. Identidade.

Todos em cima da frágil realidade objetiva.

A habilidade singular de transformar caos em ordem que nos é inata.

Chame como quiser, a manifestação da criatividade e da imaginação é um desafio singular e extraordinário em múltiplas dimensões.

Seja em conjunto (sociedade) ou não.

Uma cadeira tem encosto? Já vi sem.

E pernas? 4?

Já vi com 3.

Sem um lugar sólido para se sentar? Também.

Redondas, quadradas, ovais, altas, baixas, frágeis, multicoloridas, decorativas, úteis… e inúteis também.

Sabe por que existem cadeiras assim?

Porque seres humanos desafiaram o conceito mediano social e convencional do que vem a ser uma cadeira e criaram uma nova, nunca antes imaginada.

Uma cadeira só é uma cadeira até o momento em que duas ou mais pessoas concordam.

Meu argumento: a realidade objetiva é um acordo social.

Se eu pedir para vocês me darem exemplos da cor azul, quantas opções surgirão?

Se eu pedir para vocês me darem exemplos de felicidade, quantos surgirão?

Exemplos de comida?

De relacionamentos?

De roupas?

Do formato da terra? (Você acha que é uma esfera?)

Da velocidade do som?

Da velocidade da luz?

(Sabia que relâmpagos e trovões são a mesma coisa, percebidos por nós em velocidades diferentes e por sentidos distintos?)

Caro, barato, maior, menor, frio, quente, agradável, cintilante, opaco, eficiente, rápido, devagar, racional, emocional…

Para qualquer coisa, encontrará tantas definições quanto disposto estará de procurar.

Ou formular hipóteses, teorizar e… medir.

Apesar de uma cadeira poder ser medida, ela é um conceito abastrato. Podemos aproximá-la da realidade objetiva usando a medição, o teste e a reprodução dos resultados.

Existe um nome que damos a esse processo há centenas de anos:

Ciência.

Mas a própria percepção, resultado da ciência, está limitada à precisão dos instrumentos que usamos para medir o que experimentamos e, em última análise, dos instrumentos biológicos e naturais que temos disponíveis em nossos corpos: sentidos – olhos, ouvidos, nariz, língua, pele…

Sem mencionar que temos a tendência de aceitar o resultado derivado da precisão que nos faz confortáveis.

Neil deGrasse Tyson atrai especial atenção ao tema, quando menciona que, na década de 90, existia apenas um exoplaneta detectado. Hoje, são milhares.

“Existe uma diferença fundamental entre precisão e acuracidade.
São, de fato, conceitos distintos.”

Neil deGrasse Tyson

Enquanto a precisão está limitada à nossa capacidade de medir e perceber, acuracidade é a realidade que construímos a partir dessa precisão.

Portanto, podemos até sugerir que o que é objetivo (realidade científica definida pela acuracidade) é tão subjetivo quanto quão precisos conseguimos ser… e que sempre haverá uma incerteza em qualquer medida.

Sim, existem coisas desconhecidas ainda por causa da nossa incapacidade de medir (ainda).

Com o conhecimento é a mesma coisa.

A evolução da nossa precisão como humanidade aumentou a acuracidade transformando a nossa realidade de um exoplaneta para milhares em três décadas.

Os planetas surgiram do nada?

Claro que não! Sempre estiveram lá. Nossa capacidade de “sentir” o mundo é que mudou.

Por mais objetiva que seja a realidade, ela muda junto com a nossa evolução.

Entretanto, por um momento esqueçamos os últimos parágrafos e assumamos que o que podemos medir é a realidade objetiva e fundamental.

Acima dela, existe o ser humano.

As interpretações, as nuances, emoções, sentimentos, experiências e tudo aquilo que influencia a nossa percepção de mundo.

Vejam que belo: é aí onde mora a nossa humanidade. É aí onde moram as nossas diferenças.

É aí onde moram as nossas maiores qualidades, nossos piores defeitos (e tudo entre ambos).

Sempre levar as coisas para uma suposta realidade objetiva nos iguala a autômatos, a algoritmos, processos repetitivos e previsíveis.

Pode ser necessário, mas é exatamente o oposto disso que nos torna humanos.

Somos imprevisíveis com a habilidade de lidar com o imprevisível, justamente por todo o conteúdo que temos, além da capacidade de chegar a um acordo sobre o que vem a ser realidade objetiva.

De fato, cada ser humano pode ser percebido como um corpo. Como Carl Sagan um dia falou, um amontoado de reações químicas ou pó de estrelas. Isso pode ser considerado como realidade objetiva, mas nos iguala a um gato, mosquito ou planta.

Tem mais coisa aí. Muito mais coisa acontecendo dentro e entre a gente.

Já ouvi o argumento de que os animais sentem emoções.

Temos emoções combinadas com a racionalidade, o que transpõe a questão para um nível totalmente distinto e essa diferença, apesar de parecer complexa, é facilmente contida em uma palavra:

Imaginação.

“Criatividade é uma das coisas essenciais sobre ser humano.
Você não precisa se desculpar por isso.”
Margaret Atwood

Por mais emocionais que sejam quaisquer formas de vida conhecidas, nenhuma tem o poder de imaginar e criar conceitos abastratos.

Repito: nenhumazinha.

E ainda afirmo que todos os conceitos abastratos dos quais somos capazes, a partir da nossa imaginação, são construídos por uma mistura de racional com emoções. Ambos são indissociáveis…

E resultam em criação, talvez o exemplo mais lindo do ser humano trazendo ordem ao caos.

Isso vale para…

Uma cadeira,

Para relacionamentos,

Para felicidade…

E tudo mais.

 


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A Representação Do Que Nos Cerca e A Realidade Tênue

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Quando você sente o cobertor macio da sua cama ao deitar-se, tem a representação dele transferida para sua mente pela sua pele em um conjunto de impulsos nervosos.

Quando você escuta aquela música preferida que arrepia a coluna,  seu ouvido está transformando o som em impulsos elétricos transmitidos também ao cérebro, que os interpreta e os armazena. O mesmo processo se dá ao abrir os olhos pela manhã e ver o teto do seu quarto ou o sol nascendo.

Isso acontece com qualquer estímulo ao seu corpo: um órgão de sentidos transforma a informação recebida em impulsos que são transmitidos para o cérebro que, por sua vez, cria representações daquele conjunto de impulsos elétricos e as armazena.

Ou seja, a realidade que nos cerca na verdade é uma representação criada pela mente.

Agora, imagine que nem todos os estímulos que chegam até nós alcançam o cérebro e são interpretados e armazenados.

De um sem número de estímulos potenciais que nos cercam, nosso corpo consegue interpretar uma fração deles e, ainda assim, lidar apenas com menos de uma dezena, simultaneamente.

Provar isso é mais do que fácil: se você está prestando atenção ao ler esse texto, provavelmente não está ouvindo a torneira que pinga, o carro que passa na rua e que buzina, uma música distante, o barulho do ar-condicionado ou até alguém chamando você. De uma forma análoga, vá ao shopping (lugar repleto de estímulos) e converse com alguém. Você provavelmente não ouvirá a música que toca ao fundo ou não verá o palhaço que passa à sua frente.

Para não ter uma representação incompleta da realidade, armazenar memórias coerentes e permitir que consigamos prestar atenção e focar em algo, a sua mente usa vários recursos para preencher as lacunas e, em especial três. Na PNL, chamamos isso de filtros GOD (Generalização, Omissão e Distorção).

Generalização

Com a generalização, comparamos novas experiências com antigas e tendemos a armazená-las como situações idênticas. Um exemplo simples é a criança que consegue abrir a porta pela primeira vez e tentará abrir todas as demais portas do mesmo jeito ou a que foi mordida por um cão e, a partir dessa experiência, fica com medo de cães. Uma boa forma de detectar situações de generalização é reconhecer expressões como “sempre”, “toda vez”, “nunca” e afins. Elas são um ótimo indicador de que a pessoa que as usa generalizou para armazenar aquela memória.

Omissão

Trata-se do exemplo que dei anteriormente. Ao prestar atenção ou focar em algo, deixamos de ouvir sons, ver ou sentir coisas ao nosso redor.

Distorção

Usamos a distorção quando alteramos a percepção da realidade por algo diferente, muitas vezes, algo familiar. É quando achamos que um ponto marrom na parede é uma barata, quando vemos uma corda e achamos que é uma cobra, quando interpretamos equivocadamente alturas, distâncias, temperaturas ou quando de uma forma geral, confundimos sons e sabores.

Recomendo fortemente os TEDs do Dr. Donald Hoffman e do Dr. Anil Seth (este último ainda mais direto sobre como alucinamos e chamados de realidade!) sobre o tema de como a realidade é uma representação da mente (possui legendas em português).

“A realidade é meramente uma ilusão, apesar de ser uma bem persistente.”
Albert Einstein

Ainda na PNL, usamos o termo “alucinação” para definir a  visão particular de realidade e o termo “calibração” para a diferença entre realidade objetiva e a nossa “visão” do que é realidade, considerando toda a nossa subjetividade.

Diante das informações acima, perceba como isso afeta a comunicação e as relações interpessoais. Como estamos lidando diariamente, múltiplas vezes, com as alucinações (calibradas ou não) das pessoas que nos cercam. Veja como o nosso universo das coisas que são certas ou erradas muda completamente e como fica bem mais fácil compreender e aceitar o próximo.

“Mapa não é território.”
Primeiro pressuposto da PNL

Para promover a auto calibração é muito mais simples do que parece e não requer nada misterioso ou complexo: partindo do princípio de que generalizamos, distorcemos e omitimos como processo natural de reconhecimento da realidade e aprendizado, devemos parar de assumir as coisas, questionar mais e melhor e investigar para obter o quadro completo e próximo da realidade objetiva. Na PNL, chamamos isso de metamodelar ou metamodelo de linguagem.

Para finalizar, uma dica que ajuda bastante é ater-se a descrições baseadas no sensorial. Sim, isso mesmo! Perguntas como…

  • O que você viu? Descreva exatamente… (alto, baixo, claro, escuro, largo, fino, preto, branco, amarelo, etc.)
  • O que você ouviu? Descreva exatamente… (alto, baixo, estridente, com ou sem ritmo, melódico, etc.)
  • O que você sentiu? Descreva exatamente… (quente, frio, apertado, frouxo, doce, azedo, etc.)

… São bem úteis. Quanto mais a descrição se afastar de características sensoriais, maior a probabilidade de estar sendo influenciada pelos filtros GOD.

“A loucura de uma pessoa é a realidade de outra.”
Tim Burton