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Destruindo Identidades

Você compartilha frases de efeito ou aquilo que faz sentido, no impulso?

Então.

Permitam-me lançar mão de mais uma provocação aqui pra vocês. Como sempre, não tem certo ou errado… É pra fazer pensar.

Nem tudo o que faz sentido é o mais adequado.

Repetir o que um monte de gente fala, é facil, principalmente quando concordamos e reforçamos nossas próprias crenças. Esse conceito é a base do sucesso das fakenews e também o motivo pelo qual refutá-las causa as maiores brigas na internet.

O efeito manada (Asch, 1951), tão estudado na psicologia e que está associado à conceitos como zona de conforto e viés de confirmação tem grande participação aqui.

Ter opinião própria não é necessariamente escolher dentre as opções com as quais simpatiza.

O ideal é ir a fundo, pensar por si próprio, questionar, criar novas opções e estar aberto a novas evidências.

E aqui, a ironia: depois de achar que teve uma suposta ideia original, perceber que alguém potencialmente já chegou antes de você.

Isso é um processo… e é massa, porque provoca a interação com o diferente, promove a diversidade e nos traz benefício através do exercício da criação, ampliando os nossos horizontes.

Pensar dá trabalho e é incômodo.

Pensar mesmo é desafiar nossas próprias crenças e existe uma associação muito profunda e comum entre crenças, identidade e ego. Sem espaço para desafios assim, pouco evoluímos.

Desafiar as crenças dos outros e muito fácil e prazeroso até… Na maioria das vezes, temos dois ou mais egos brigando para vencer um argumento e, quando vencemos, o nosso ego chega brilha de felicidade.

Mas desafiar as próprias crenças é bem mais complexo.

Curtir aquilo que você vê nas redes sociais e concorda, dá uma massageada no ego e traz um senso de pertencimento, comunidade e identificação.

O desafio é encontrar algo com o qual não concorda e ter a coragem de considerar. Parar por um momento e refletir para descobrir se daí surge algo novo.

Estudos apontam (referências ao final) que passamos pelo menos 3 horas por dia nas mídias sociais e esse número aumenta a cada ano.

Pera… Mas o que isso tem a ver com ego, crenças e pensar?

TUDO.

Vamos fazer uma pausa para entender melhor o que isso significa.

Nossa presença na Internet é mediada em boa parte pelas redes sociais.

Nelas, criamos identidades, avatares que representam aquilo em que acreditamos.

É muito comum esses avatares serem representações de quem achamos que somos ou desejamos ser, um ideal de imagem e comportamento que perseguimos.

E, diante desse conteúdo, nossa faculdade crítica é naturalmente reduzida.

Quando afirmo que a nossa presença na Internet é mediada pelas redes sociais, significa que tudo aquilo que produzimos NÃO chega à quem nos interessa.

Chega a quem interessa à rede social. E o contrário também acontece. O conteúdo que chega para você é escolhido pelos interesses das redes sociais.

Além disso, toda rede social é construída em torno de uma mecânica de engajamento.

Quem gosta de algo, curte, compartilha e segue. Quem não gosta, comenta e engaja. Já percebeu aonde quero chegar?

Todos aqueles que interagem com o nosso conteúdo e concordam com a gente ampliam a nossa identidade que foi criada PARA as redes sociais. Reforçam aquele avatar que criamos e que é a nossa própria representação do ideal.

Boa parte daqueles que discordam também interagem com o nosso conteúdo… Mas consideramos qualquer discordância um ataque à identidade criada.

Somos tão preconceituosos que qualquer conteúdo nas redes sociais já é precedido de uma concordância ou discordância, baseada na identidade de quem o produz, antes até de lermos ou entendermos o que a pessoa disse.

Em qualquer um dos casos, as redes sociais saem ganhando, porque o engajamento foi gerado.

O efeito colateral disso é que temos ou o reforço do ego ou um ataque à identidade e pouquíssimo espaço para um debate no nível das ideias.

De fato, debater ideias a partir de discordâncias nas redes sociais é praticamente impossível e o resultado, na grande maioria das vezes, são os ataques pessoais.

Agora que eu expliquei a mecânica das redes sociais pra você, voltemos ao tema do início.

Por que compartilhamos conteúdo com o qual nos identificamos?
Por que entramos em brigas na Internet?

O motivo é o mesmo.

Reforço na identidade e no ego, senso de comunidade e pertencimento. Procuramos aprovação mesmo quando discordarmos.

Pense comigo: é tão difícil assim perceber essa busca por aprovação, tanto quando concordamos quanto quando discordamos?

Ao compartilhar algo na Internet, buscamos por aprovação.

Ao discordar de alguém, atacamos a identidade do outro lado e também procuramos identificar quem concorda conosco e discorda do autor original.

Em ambos os casos, temos uma situação de ‘NÓS” e “ELES” e ocorre uma polarização em grupos.

Ou seja, termina sendo tudo sobre identidade, ego e pertencimento.

Antes de compartilhar qualquer coisa… Esqueça por um momento quem falou ou postou. Leia com atenção a mensagem e analise se há coerência nela.

Melhor, busque por evidências que apoiem ou não o que foi dito.

Se você não concordar com algo, faça a mesma coisa. Pergunte-se: discordo dessa mensagem por causa da pessoa que falou ou há alguma evidência contra ou a favor do conteúdo?

E agora estamos falando de evidências, não de opiniões.

Em ambos os casos, será que eu sou capaz de fazer um comentário que envolva APENAS o argumento usado? Será que eu consigo interagir com o conteúdo sem necessariamente formar uma opinião influenciado pela identidade de quem disse?

Será que eu tenho a coragem e sou capaz de validar meu próprio argumento através de evidências e correr o risco de ter que mudar de opinião?

Eu faço uma proposta a você: ao repostar algo que achou interessante ou interagir e comentar com algo que não concorde… Pense: quais crenças minhas estão atuando para concordar ou não com aquilo?

Em seguida, pergunte-se: existem evidências que suportem minhas crenças ou elas são alimentadas apenas pela minha opinião?

Se você quer chegar ao fundo de qualquer assunto, lembre-se: não se refuta evidências com opinião.

Se não quer chegar e apenas deseja reforçar seu ego… Então, tá tudo bem. Mas entenda que é isso o que está acontecendo. De repente, é essa a intenção mesmo.


Referências:

Mais Ou Menos 150
https://rmcholewa.com/2018/03/10/mais-ou-menos-150/

A Realidade dos Avatares
https://rmcholewa.com/2020/10/23/a-realidade-dos-avatares/

Crenças, Verdade e Identidade
https://rmcholewa.com/2021/02/05/crencas-verdade-e-identidade/

As Cômodas Caixinhas Estereotípicas
https://rmcholewa.com/2021/02/14/as-comodas-caixinhas-estereotipicas/

Identidade, Crenças e Equilíbrio Emocional
https://rmcholewa.com/2020/07/18/identidade-crencas-e-equilibrio-emocional/

How Much Time Do People Spend on Social Media?
https://review42.com/resources/how-much-time-do-people-spend-on-social-media/

Americans Flock to Social Media as They Start to Feel the Impacts of COVID-19 More Closely
https://www.ipsos.com/en-us/knowledge/new-services/Americans-Flock-to-Social-Media

Asch, Solomon: “Effects of Group Pressure on the Modification and Distortion of Judgements” [Artigo] // Groups, Leadership and Men / ed. Guetzkow Harold Steere. – [s.l.]: Carnegie Press, 1951. – pp. 177-190;

Hou, Youbo [et al.]: “Social media addiction: Its impact, mediation, and intervention” [Online] //Researchgate. – Fevereiro de 2019. – Acesso em 03 de abril de 2021. – DOI: 10.5817/CP2019-1-4

Hill, Russel; Dunbar, Robin: “Social Network Size in Humans” [Online] // PubMed. – Março de 2003. – 22 de 06 de 2018. – https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26189988;

McCarthy-Jones, Simon: “Social Networking Sites May be Controlling Your Mind – Here’s How to Take Charge” [Online] // The Conversation. – 05 de 12 de 2017. – 02 de 09 de 2018. – https://theconversation.com/social-networking-sites-may-be-controlling-your-mind-heres-how-to-take-charge-88516 ;

Wilson Brent, Gale: “Constructivist Learning Environments: Case Studies in Instructional Design” [Livro]. – [s.l.] : Educational Technology Publications, 1998. – Segunda edição;

Snyder, Mark: “Public Appearances, Private Realities: The Psychology of Self-monitoring” [Livro]. – Nova Iorque : W. H. Freeman and Company, 1987;

Livros:
O Ego É Seu Inimigo, Ryan Holiday: https://amzn.to/3eb4BcJ
O Erro de Descartes Antònio Damásio: https://amzn.to/2ZUTwr8
Um Novo Mundo, Eckhart Tolle: https://amzn.to/320RWXy
Fodeu Geral, Mark Manson: https://amzn.to/3ebgZtq
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Créditos de imagem: Shutterstock em https://revistaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2017/05/shutterstock_548868466.jpg

Por RMCholewa

Romulo começou a trabalhar como estagiário na área de informática aos 16 anos.

Teve a oportunidade de trabalhar com cada aspecto de tecnologia da informação, desde a implantação até a área comercial, passando pela pré-venda, consultoria, comunicação, segurança da informação e gestão de equipes espalhadas pelo território nacional.

Perdeu o emprego aos 25 e aprendeu muito com a vida a partir daí. Na verdade, aprendeu tanto que mudou de vida; entendeu da melhor forma o que é humildade e passou quinze anos reconstruindo seu lado profissional.

Lutou contra a depressão por vários anos e aprendeu ainda mais com isso.

Hoje, trabalha como diretor de negócios. Em paralelo, como Practitioner PNL e Coach, dedica-se a ler, escrever e estudar sobre desenvolvimento humano e afins.

Tem, como missão de vida, ajudar os outros de forma inteligente. Vencer a depressão ensinou, dentre tantas coisas, que a maior realização que o ser humano pode alcançar é ver o próximo crescer. É ver, acima de tudo, o próximo brilhar, superar-se e vencer.

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