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Lições

Para muitos, as lições abaixo farão sentido.

Para outros, parecerão apenas bom senso e, para alguma parcela, causarão incômodo, desconforto e talvez discordância e rejeição.

São coisas que aprendi ao longo da vida e muitas destas lições solidificaram-se nos anos recentes e, principalmente, de 2020 para cá.

Deixarei a lista aqui, mesmo assim. Será que tem coragem de ler até o fim?

Lá no final tenho uma surpresa para você, mas só vai funcionar se ler o texto antes:

Achar que o Universo nos deve alguma coisa é um dos exercícios e comportamentos mais egóicos que existem. Não somos o centro do Universo… somos menores do que grãos de areia no grande esquema das coisas;

Aprenda a separar aquilo que controla do que não controla. Aplique energia naquilo que controla;

Não existe poupança de dor e sofrimento, muito menos são moedas de investimento. Sofrer hoje não garante o futuro, do contrário o mundo seria um exemplo de igualdade e justiça. Em outras palavras, não existe mecanismo que recompense dor e sofrimento e tenho minhas dúvidas quanto ao esforço. Sim, muita coisa na vida depende de esforço, mas achar que TUDO depende de esforço torna você o peão perfeito no xadrez da vida;

Inteligência emocional não é sobre o controle das emoções. Ninguém controla as emoções. Elas são reações neurofisiológicas do nosso corpo que nos aproximam do bem-estar e nos afastam daquilo que potencialmente nos prejudica ou ameaça a nossa existência. Podemos, no máximo, aprender a reagir melhor quando elas ocorrem;

Não gerenciamos o tempo. Ele tem lastro absoluto. Gerenciamos prioridades e eventualmente, escolhas. E sim, tem muita gente na face da terra que precisa usar de 20 a 40% do seu tempo (talvez mais) em tarefas desumanas e voltadas à sobrevivência. Pense nisso;

Procrastinação é um sintoma, nunca uma causa. No momento atual de coaches afirmando que basta agir para resolver a questão, sugiro ver o vídeo e ler novamente: procrastinação é um sintoma, nunca uma causa;

Ter opções e poder escolher dentre elas não é liberdade se as opções forem previamente escolhidas para nós por alguém. Somos seres com o poder da imaginação, consciência e criatividade. Somos capazes de conceitos abstratos e de comunicá-los. Crie opções e oportunidades e não se limite as opções apresentadas;

A identidade, o eu é transitório. Quem achamos que somos e que o outro é nada mais é do que uma construção nossa que atualizamos sempre que podemos, baseado no comportamento;

E, por causa disso, criamos expectativas demais, que levam a decepções demais. Isso não é conteúdo do outro;

O que nos leva à seguinte consideração: quando sofremos uma decepção com alguém, é muito mais conteúdo nosso do que do alguém. A decepção acontece porque a identidade exercida pelo outro não condiz com as expectativas de identidade que temos para o outro. No fundo, decepcionamo-nos com nós mesmos, não com o outro. E já que falamos sobre isso, pense no conteúdo nosso que projetamos na identidade do próximo através das expectativas. Se não é capaz de enxergar ainda, tente novamente;

O “foda-se” mental, não no sentido da agressividade, xingamento ou adjetivação de alguém, mas no sentido do desapego, é terapêutico;

Por sinal, se uma conversa cai na adjetivação negativa das partes, a comunicação caminha para a direção da agressão, para o  desentendimento e não terá utilidade para ninguém. Conversas inteligentes, produtivas e altamente criativas focam nas ideias e argumentos e nunca na identidade ou autoridade;

Nada é automaticamente verdade por causa da suposta autoridade de quem diz. O ser humano faz o possível para economizar energia (pensar gasta energia), tem preguiça de pensar e mais do que gostaríamos, ignora as ideias e argumentos em si em favor dessa autoridade. Isso tem nome: viés da autoridade e é usado extensivamente nas redes sociais;

Algo que “faz sentido” não é um indicativo inequívoco de verdade. Pelo contrário, é um afago ao ego, manutenção da zona de conforto e também tem nome: viés da confirmação. Esse é especialmente perigoso;

Como seres humanos capazes de criar conceitos abstratos, conseguimos idealizar as mais belas concepções e os mais vis desejos. Entre um e outro resta a individualidade (no sentido de sermos únicos) da existência humana. É exatamente por isso que a comparação é destrutiva e potencialmente leva a obliteração de praticamente todos aqueles opostos a nós, “concorrentes“… já a cooperação é fundamental para a nossa evolução;

Todas as redes sociais, sem exceção, são uma projeção idealizada de identidade, uma imagem de um alter ego de perfeição e desejo, uma produção maquiada, filtrada e produzida;

Identidades virtuais ou alter egos nas redes sociais onde a suposta felicidade, sucesso, goodvibes, positividade, bem-estar e realização são constantes, são o perfeito exercício de uma fuga e não representam a existência humana. Não compare a sua despensa com o palco de ninguém;

Por outro lado, nem tanto, nem tão pouco. Equilíbrio é a chave. Se a positividade pode ser tóxica ao realizar uma busca insana por ela, 100% do tempo, o conteúdo que consumimos também pode ser tóxico. O nosso estado emocional é influenciado a todo o momento (as propagandas são especialistas nisso). Nem sempre conseguimos reagir da forma como planejamos, mas muitas vezes consumimos aquilo que não levará aos resultados que desejamos e não nos damos conta. Dá uma olhada nesse texto aqui;

Como disse Kierkegaard, “A raiz da infelicidade humana está na comparação”;

E essa comparação acontece de inúmeras formas, até em nosso nome. Se alguém chegar e disser que deveria estar feliz (tem a obrigação de sentir-se feliz ou não tem o direito de estar triste) porque você “tem tudo” ou tem gente na merda ou pior do que você, cuidado: isso pode ser inveja, mas certamente é julgamento, comparação e falta de empatia por parte desse alguém (nenhuma pessoa tem a capacidade nem o direito de julgar a dor de ninguém – dica: se não há compreensão, que haja silêncio). Somos mais de 7,5 bilhões de pessoas únicas, com seus próprios desafios e questões. Cuide do seu corre, agradeça pelo que tem (pois são as ferramentas e recursos que pode usar, principalmente as internas) e se tem gente na merda, ajude (o que trará bem-estar), mas não use como critério de comparação;

Você tem o direito de ficar puto, com raiva, triste, revoltado e de luto. Faz parte de ser humano. Aceite. Não caia na armadilha de reprimir emoções e sentimentos negativos, achando que a positividade (tóxica) resolverá todos os seus problemas. Não resolverá, da mesma forma que reclamar também não. Entretanto, se sente-se triste e sem energias por longos períodos de tempo (mais do que duas semanas), consulte um especialista;

Quem cuida de saúde mental primariamente são os psicólogos e psiquiatras. Este deve ser o tratamento principal e prioritário. Caso não tenha condições financeiras, procure os departamentos de psicologia e psiquiatria das universidades e faculdades em sua região. Todo e qualquer suposto tratamento fora dessa área de conhecimento pode ajudar (e muitos ajudam, de fato), mas são alternativos, coadjuvantes e secundários. Veja este vídeo;

Não há felicidade perene nem desespero ou tristeza eterna. Tudo passa. A vida é constituída de ciclos e contrastes, mesmo motivo pelo qual a representação de perfeição das redes sociais é uma falácia que leva à depressão para quem produz conteúdo e para quem consome;

Se por qualquer motivo, crença ou comportamento você pensa em alguém ou um grupo como superior, inferior, melhor, pior, mais ou menos evoluído, houve comparação. Não somos melhores ou piores, somos diferentes;

Se por causa de uma religião você deseja o mal a alguém, vai contra a própria concepção etimológica do termo, que vem de “religare“. Pesquise no Google, ouça a música “Manifesto” (Vintage Culture, Anmari, Wolfire), lendo a letra;

A cooperação da diversidade, de existências e pensamentos leva a resultados extraordinários;

Somos mais em grupo do que a soma das individualidades;

Aceitar não é igual a concordar;

É possível aprender sem necessariamente agir, mas não existe aprendizado sem mudança;

Se você não se permite questionar o que acha que sabe, pouco aprenderá;

Humildade, caridade, doação e altruísmo anunciados não são nenhuma dessas coisas. É fomento ao ego;

Vulnerabilidade não é vergonha, mas a sociedade fará você acreditar que é, porque isso atende a uma agenda de manipulação e comparação. Muitas pessoas procuram sentir-se “melhores” do que alguém agindo para “rebaixar” o próximo. Vulnerabilidade pode ser uma enorme fonte de aprendizado e força. Aliás, se não reconhece as próprias vulnerabilidades por causa da vergonha imposta por fatores externos, a jornada de autoconhecimento pode sequer ter começado;

Olhar para o passado e ter um pouco de vergonha do que fez ou pensou um dia é um excelente sinal de que hoje está melhor do que ontem. Houve evolução;

Arrepender-se é avaliar quem foi, reconhecer as merdas que fez e trabalhar para reparar. Quem não se arrepende de nada não aprendeu nada também… e a prova disso é mais simples do que imagina: não há ser humano perfeito. Se acha que não fez merda um dia com alguém, não é um ser humano (ou há uma tendência sociopata aqui);

Ninguém sabe totalmente o que está fazendo. Ninguém. Por mais autoridade, sapiência ou eloquência que a pessoa demonstre, todos estamos perdidos em algum nível, ampliando horizontes, exercitando o encontro com algo ou alguém, passíveis de falhas, erros e acertos. De fato, estamos todos fazendo o melhor que podemos, com os recursos que temos disponíveis e… é exatamente esse o motor da nossa evolução;

Propósito não precisa ser externo, muito menos entregue a nós. Isso é apenas confortável: isenta-nos da responsabilidade de olhar para dentro e descobrir quem somos. Se você procura respostas em algo ou alguém, talvez esteja evitando conhecer quem é ou tenha medo do que descobrirá. Perceba como talvez pule de galho em galho, procurando uma pílula mágica que resolva instantaneamente todas as questões, uma resposta no externo para explicar a forma como sente e age e, toda vez que não concorda ou “não faz sentido”, pula para outro galho. Não há pílula mágica. A busca mais importante é para dentro, não para fora. Busque o que habita em si, reconhecendo os vales e montanhas, os lugares claros e escuros, os monstros e os anjos. Todos são… você;

É possível encontrar sucesso, felicidade e realização dentro da gente, nas pequenas coisas e na jornada em si, não apenas no alcançar de objetivos;

Aliás, objetivos são importantes no contexto da vida, mas a jornada ensina mais do que o alcançar deles. O aprendizado da jornada permite o sucesso.

Chega de lições. Agora, encontramos o presente… e ele é uma reflexão:

Concordou ou discordou de mim em algum momento e, por causa disso, agora quer me seguir nas redes sociais ou pensou involuntariamente “que idiota”, “ridículo”, “que maluco” ou outro adjetivo? Sugiro ler este texto sobre punição e recompensa.

Sugiro ler este outro também, onde falo sobre a Pirâmide da Discordância de Graham.

Chegamos ao fim, na parte onde desconstruo tudo que foi dito aí em cima. É isso mesmo…

Quando falei em uma das lições que todos estamos de certa forma perdidos, fazendo o melhor que podemos, incluo-me no grupo.

Não há regras para a vida e as lições acima são individuais. Se você chegou até aqui achando que essas lições irremediavelmente se aplicam a você e que eu tenho as respostas, bem… você pode até sentir-se inspirado, mas a jornada é sua e as minhas palavras são apenas minhas. Também estou no trabalho de me encontrar.

Entretanto, isso não nos impede de darmos as mãos e seguirmos juntos. Podemos, inclusive, trocar ideias em busca de novas respostas. Nossas verdades podem ser diferentes, mas a interação dessa diversidade, com respeito, permite o desenvolvimento mútuo.

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Sobre Adjetivos, Estereótipos, Comparação e Diversidade

Depois de expor tanto ao longo dos últimos anos sobre estereótipos, preconceito, diversidade, criatividade e comparação versus cooperação em vários conteúdos, percebi que não tenho nenhum específico e unificado sobre o tema.

Chegou a hora de reuní-los.

Como Tudo (Potencialmente) Começou

Tudo começa pelo conceito do ser humano como ser social e da sua necessidade de pertencimento.

Isso não é novo, evoluiu conosco provando ser um mecanismo de sobrevivência eficaz.

Talvez o resumo mais eficiente do assunto seja afirmar que somos como grupo mais do que a soma das partes.

Imagine existir em um mundo onde praticamente tudo pode lhe matar. O indivíduo, diante deste contexto, pode pouco. Mas descobrimos em algum momento do passado que, ao ajudarmos uns aos outros, nossas chances aumentam muito.

Tenho especial apreço por um argumento atribuído à antropóloga Margaret Mead.

Sobre o início da civilização e da cultura, a sua resposta surpreendeu muita gente:

“Qual o sinal mais antigo da civilização? Um pote de barro? Ferro? A agricultura?”

Não.

“Para ela, a evidência mais antiga de uma verdadeira civilização é um fêmur curado [um osso enorme da perna, fundamental e de difícil reparo]. Ela explica que uma cura como essa nunca foi encontrada nas reminiscências de culturas competitivas ou sociedades selvagens. Pelo contrário, nestas, pistas de violência são comuns. (…) Mas um fêmur curado mostra que alguém deve ter cuidado da pessoa ferida – caçou em seu lugar, trouxe comida e serviu ela através do seu sacrifício pessoal. Sociedades selvagens não se sujeitavam a essa “pena”.”

Mas para ser soma, o grupo precisa ser formado.

É ainda um mistério parcial o entendimento dessa mecânica por completo. Algumas evidências apontam para a influência do local ou região (proximidade regional relacionada à recursos), características físicas e adequação protocultural nos primórdios da existência dos nossos ancestrais.

Como cheguei a escrever anteriormente, tínhamos uma situação nesses primórdios onde a reunião pode ter sido influenciada pelo local e o acesso a recursos (água, alimento, abrigo), mas isso também acabou por influenciar a identidade das pessoas pertencentes ao grupo (para dois exemplos extremos, imagine as diferenças entre uma pequena sociedade de esquimós no ártico e uma de beduínos vivendo no deserto).

Natural, em um contexto desses, que grupos distintos tenham se confrontado eventualmente em busca de recursos.

A partir do momento em que isso ocorre, faz-se necessário distinguir membros de cada grupo, o que provavelmente também ocorreu através de elementos como a localização, aspectos físicos e culturais, traduzidos em comportamento, vestimentas, linguagem e tantos outros meios.

Estamos falando de uma época onde a força física e violência imperavam por pura necessidade. A capacidade de exercer domínio, assim como defender-se, atacar e caçar eram fundamentais à sobrevivência não só do indivíduo como do coletivo.

Dentro do próprio grupo, surgem as primeiras hierarquias, provavelmente definidas também pela capacidade física.

Um bom sistema de sobrevivência onde os mais fortes têm acesso primário à comida e à reprodução, enquanto os não tão fortes realizam outras tarefas em troca de proteção, alimentação e sobrevivência.

Temos então um ecossistema onde há a luta pelo poder e há o surgimento de hierarquias. Em um contexto como esse, é inevitável que tenham aparecido as primeiras situações de comparação não só entre indivíduos dentro do grupo, mas com outros grupos.

Contribui-se com o trabalho ou com a força e chega-se ao topo da hierarquia através do exercício da violência e da obliteração dos adversários.

Portanto, em uma existência pautada pelo concreto e tangível, pela sobrevivência e pela força, pertencer a um grupo que provenha mais chances de manter-se vivo é um diferencial importante tanto quanto fazer com que as chances do grupo sejam maiores.

Como sistema eficaz de sobrevivência que se destacou através da evolução do ser humano como vantagem, não é de se espantar que cerca de um milhão de anos depois, tenhamos ele como uma parte profunda de todos nós e isso tenha levado à formação das nossas civilizações.

Imaginação, Criatividade e o Intangível

Mais recentemente, surgiu a habilidade de criar conceitos complexos e abstratos usando a nossa imaginação, algo provavelmente responsável pelo surgimento de grupos cada vez maiores de seres humanos.

A partir daí, mais do que nunca, conceitos abstratos passaram a ser parte essencial nessa distinção: a adição de elementos intangíveis como ideias e concepções calçadas em crenças, para os quais atribuímos valores, capazes de separar indivíduos e grupos através de um conjunto de regras de comportamento compostas em segmentos que se transformaram em cultura. Perceba, inclusive, que existem diversos exemplos de sociedades onde o topo da hierarquia deixou de ser pautado pela força física, mas pela experiência.

Hoje, vemos facilmente uma versão disso emulada nas redes sociais: temos grupos de pessoas que defendem ideologias, políticos, expressões religiosas e espirituais, dicas de bem-estar, desenvolvimento pessoal e tantas outras tribos, não ausente de conflito por crenças contraditórias ou até opostas, totalmente associadas à identidade de quem pertence por percepção própria ou reconhecimento da tribo.

Em síntese, pertencer e comparar não é forte em nós por aleatoriedade. Foi por uma questão de sobrevivência inicialmente. Mas com a adição dos conceitos abstratos que levaram ao surgimento da cultura e da linguagem, junto com a comparação natural em favor da sobrevivência, outro elemento surge também: as primeiras relações de poder associadas ao conceito de identidade.

Byung-Chul Han descreve essa mecânica de forma exemplar em “O Que é Poder“, ao versar sobre Canneti (Canneti, Massa e Poder, 1960):

“O assassinato do outro [e da sua identidade ou parte da simbologia de sua existência] termina com a relação de poder. Entre seres humanos que se matam uns aos outros, o poder não tem lugar. Há apenas uma diferença de força física. O poder autêntico ocorre, na verdade, quando um deles, seja por medo da morte possível ou antecipando a superioridade física do oponente, se submete a este [neste caso, a identidade que arbitra agir é preservada e a relação de poder também]. Não a batalha que leva à morte daquele, mas a sua ausência [escolha de não agir face à ameaça] é o que constitui o poder em sentido autêntico.”
(itens em negrito são observações minhas).

Portanto, para preservar as relações de poder, a identidade através da existência é fundamental, bem como a comparação entre identidades. Ainda, como diz Byung-Chul Han no parágrafo anterior:

“O poder, contudo, é uma relação. Sem alter e ego não há poder.”

Não que a citação acima não seja conveniente. Ela é estratégica.

A Base do Preconceito

Quanto mais conceitos abstratos associamos ao longo dos séculos à identidade, mais possibilidades temos para o universo potencial do ego, ao ponto de, hoje, termos concepções totalmente intangíveis, como o conceito de posse associado não ao valor intrínseco, mas a uma marca ou dinheiro por exemplo (já pensou sobre como o dinheiro é uma história totalmente intangível na qual todos acreditam?), e o possuir como fator de fomento egóico.

Não podemos esquecer da autoridade (campo vastíssimo, incluindo a autoridade intelectual, religiosa ou espiritual, política, militar, social, governamental, institucional, familiar, moral, autoritária, hierárquica, tradicional ou cultural, carismática, legal e tantas outras).

A autoridade, por sinal, é um excepcional exemplo da questão associada à identidade. Um indivíduo pode se perceber uma autoridade em algum campo, mas é o reconhecimento deste mesmo indivíduo pela sociedade e outros grupos que valida a autoridade e reforça a identidade como tal (e o ego, por consequência). Quanto maior a autoridade, maior a concepção de que “sou melhor do que você ou do que um grupo” e o poder potencial.

Definitivamente, não estamos presos a estes conceitos apenas. Existem inúmeras características que supostamente definem as tribos atuais e as estipuladas regras de pertencimento, muitas vezes veladas.

Mais recentemente, temos o ápice (até o momento) da transferência egóica, a criação do alter quase perfeito. A identidade projetada nos avatares virtuais, em mídias eletrônicas como as redes sociais. Uma projeção muitas vezes calculada, uma idealização construída com a intenção fundamental de parecer “melhor” para sentir-se melhor.

A busca aqui é construir um alter constituído de uma identidade com as características mais próximas do desejo e da perfeição, com o máximo de autoridade possível, situação tão séria que há inúmeros exemplos onde há a intenção de que o alter substitua o ego. O eu externo passa a valer mais do que a existência humana. Alguns filósofos tratam da questão atualmente como uma potencial transição e fica a pergunta: não seria essa transferência um novo cenário da nossa existência? O desejo crescente e sem limites de se tornar a identidade idealizada… tornando-a realidade.

Chegamos então ao curioso caso da coisificação de todos esses aspectos intangíveis, assim como da própria identidade. Ela foi coisificada, transformada em algo transacionável (influência?) um produto à venda na prateleira social. Até o conceito de beleza foi coisificado.

Um passo antes, o que há?

Comparação, fundamentada em todos os aspectos acima.

Temos a comparação como a raiz para a busca pelo sucesso, felicidade e realização. Se há metas e objetivos, há a comparação. Ao invés de olharmos dentro de nós mesmos à procura de tais elementos, os três passaram a ser codependentes do sucesso, da felicidade e da realização dos outros. Metas a serem cumpridas, objetivos a serem alcançados.

Mais, através da comparação é possível, inclusive, a movimentação hierárquica e o exercício de instâncias de poder e dominação.

Ou influência, se preferir, para usar mais uma vez uma palavra na moda que até virou profissão.

Portanto, soma-se à percepção de pertencimento os conceitos de outrora às concepções intangíveis (transformadas em transacionáveis) atuais. Tudo aquilo que pode (e é) associado à identidade, é também usado para classificar e separar as pessoas em caixinhas estereotípicas.

Aliás, importante notar que fazemos um esforço sem igual de encaixar qualquer coisa “diferente” em uma caixinha. Existe até a própria caixinha do “diferente“. “Diferente” é percebido como não pertencente ao “meu” grupo e uma potencial ameaça.

Com elas, após a classificação estereotípica, atribuímos aos indivíduos pertencentes todas as características que nós mesmos temos para cada estereótipo, ignorando completamente a unicidade natural de cada ser humano e sem quaisquer interesses de saber mais. Um dos principais efeitos colaterais desse movimento é a adjetivação de pessoas e grupos.

Tememos o que não conhecemos. Tememos o diferente.

Surge então o preconceito como exercício de poder e superioridade. Compara-se, classifica-se, associa-se a um estereótipo, adjetiva-se negativamente e exerce-se o poder através do preconceito, como busca doente de um suposto bem-estar através do ser “mais ou “melhor” do que alguém ou um grupo, muitas vezes atuando ferozmente na desqualificação das demais identidades objeto de comparação.

Diante da estereotipação, surgem emoções básicas como nojo e desprezo. Enquanto o desprezo tem uma conotação intelectual de superioridade, o nojo tem uma base de sobrevivência (por exemplo, manter-se longe de algo que pode potencialmente envenená-lo).

E não é que o sentimento de envenenamento intelectual faz muito sentido?

No caso do preconceito, o nojo passa a ser intelectual também, baseado na representação da identidade formada para o alvo do estereótipo. Em ambos os casos, houve um aprendizado através dos grupos e sistemas aos quais se pertence (família, trabalho, comunidade são exemplos) onde o estereótipo é formado. Sim, trata-se de algo tão perigoso e difícil de combater por causa das suas origens e das emoções que desperta.

Essa comparação, que incentiva uma competição desenfreada em busca da felicidade, sucesso e realização, cria situações totalmente destrutivas e de insatisfação constante. Uma sociedade insatisfeita e coisificada, que deposita a felicidade, o sucesso e a realização em elementos externos, é uma sociedade de um consumo doentio e do cansaço, que busca na descarga de dopamina constante, a felicidade (aquisição, drogas lícitas ou ilícitas, competitividade, exercício de poder e superioridade), em busca de mais um suspiro de sobrevida, apesar da exaustão.

Entretanto, como disse em um texto anterior:

Não somos mais nem menos. Somos diferentes.

E nossa, não há poder maior para a humanidade do que a interação dessa diversidade.

Nossa realidade hoje é outra, pautada por conceitos cada vez mais complexos e que exigem um alto poder cognitivo e imaginativo.

Ao promover uma irremediável associação em grupos de pessoas com características supostamente semelhantes, o que traz o conforto do pertencimento, de poucas mudanças e o poderoso viés da confirmação, a realidade atual e o nosso futuro dependem da criatividade, da inovação e de pensar o novo rapidamente.

Eles dependem da nossa habilidade em focar nas ideias e não na identidade das pessoas ou estereótipos.

Perceba as forças contrárias em jogo aqui.

Um mecanismo inato e milenar de sobrevivência, apto a uma realidade dos nossos antepassados com pouca capacidade inventiva, versus o momento atual de altíssima necessidade e habilidade cognitiva e que exige a aceitação de diferenças em busca do novo. É como um quebra-cabeças: cada um de nós uma peça diferente e essencial à formação da imagem do final. Neste caso, não há fim. Há jornada e evolução.

Temos a ilusão advinda dos exercícios de poder do passado, através do embate dos grupos de indivíduos com características semelhantes, de que a maneira mais eficaz de obter resultados é o conflito.

Mas é exatamente o contrário: o extraordinário acontece quando as diferenças e individualidades são aceitas, permitindo a interação da diversidade de pensamentos, emoções e ideias, algo que incentiva a cooperação e não a comparação e competição.

E sim, o choque ocorre a toda hora, a todo momento.

Como podemos então migrar para uma abordagem mais sadia?

A Pirâmide ou Hierarquia da Discordância de Graham

Agora que exploramos vários conceitos fundamentais, apresento-lhes outro do qual sou fã, faz parte do meu livro e já mencionei por aqui. Tenho um vídeo que também aborda o tema.

Criada pelo investidor Paul Graham em 2008 meio que na brincadeira, ela fala sobre como argumentar na Internet. Entretanto, o conceito é muito mais poderoso e exprime muito bem quando há a aceitação ou não de ideias ou quando o processo de comparação está em exercício e, principalmente, se ele está no nível da identidade.

Pirâmide ou Hierarquia da Discordância de Graham

Devemos fazer um esforço e mirar sempre numa argumentação de melhor qualidade (no topo da pirâmide). Perceba que lá, não tocamos na identidade ou na liberdade existencial de cada um. O foco é o argumento, a ideia, a proposição.

À medida em que se caminha para a base da pirâmide, mais percebe-se a identidade do interlocutor, chegando ao ponto da comparação ser tão extrema que há a necessidade de desqualificá-lo ou eliminá-lo. Vejamos cada etapa a seguir.

Direto Ao Ponto

Focado na ideia ou conceito. É o melhor e mais rico nível de argumentação, onde há respeito mútuo e o foco é o ponto central da ideia, conceito ou argumento que foi colocado. Tem o poder de derrubar totalmente a proposição inicial. Visa completamente o conteúdo central e em nenhum momento questiona os autores, sempre fazendo referência aos pontos de discordância e fornecendo as evidências necessárias.

Focado em Erros e Trechos

Ainda focado na ideia, mínima percepção da identidade do interlocutor. Neste nível há contribuição real para os participantes e, se a contra argumentação for feita de forma eficaz, ela deve derrubar parte da proposta inicial. No entanto, como não consegue perceber (ou não aborda) o ponto central da ideia, não refuta o raciocínio original como um todo. É útil e pode ser explorada para que chegue no nível acima, basta ampliar o conhecimento acerca do argumento de partida e do seu contexto. Existe o respeito mútuo e o foco está nos argumentos.

Contra Argumentação

Existe a visão da ideia ou conceito, mas o objetivo já passa a ser contrapor a identidade do interlocutor. Oferece uma posição contrária ao argumento original ou partes, mas não foca em nenhum deles, apenas oferecendo uma justificativa pelo qual é contra. Continua existindo respeito entre as partes. Pode ter alguma utilidade, mas dificilmente se conseguirá elevar a argumentação para o nível acima, talvez por falta de compreensão do que foi dito.

Sou do Contra

Mínima visão do conceito. O foco passou a ser a identidade do outro. É quando existe uma postura contrária à questão e não se fornece nenhuma justificativa. Mesmo que não ataque o autor original, não há utilidade alguma nesse tipo de argumentação para ninguém envolvido e ele está normalmente baseado em crenças ocultas.

Focado no Tom

Não há mais nenhuma percepção da ideia ou conceito e o objeto da argumentação é a metalinguagem: a suposta incapacidade do interlocutor de expressar-se.

Ad Hominem

Foco na identidade do interlocutor e o objetivo passou a ser desqualificá-lo. Esqueça o argumento e até o assunto em questão. Aqui, ele sequer será abordado. O foco está na desqualificação do autor, atacando a sua identidade e competência.

Xingamentos

Não há mais interesse em desqualificar o interlocutor. O objetivo passou a ser obliterá-lo. No nível mais baixo de todos, o que reina é a agressividade,  a violência, a ofensa e o desrespeito, mútuo ou não. São os xingamentos, as grosserias e talvez até as agressões físicas. Adjetivos são a regra e a comparação, junto com julgamento e conflito exercem o maior poder.

A pirâmide de Graham pode ser usada como ferramenta excepcionalmente útil por cada um de nós para detectar se estamos nos relacionando com outras pessoas através da cooperação e no nível das ideias ou se estamos indo em direção à identidade e à comparação.

Há Esperança?

Há, certamente.

E a tradução dessa esperança em realidade passa pelo entendimento e pela aceitação de que não somos melhores ou piores do que ninguém. Somos diferentes.

E isso é fantástico!

Como gosto de dizer (algo que pratico no dia a dia, mas não ausente de desafio), se somos expostos a uma ideia, conceito ou concepção e adjetivamos negativamente a pessoa que nos expôs (mesmo que mentalmente), há uma evidência de que estamos caminhando para a base da pirâmide. Neste caso, há uma fuga da aceitação das diferenças e um movimento em direção ao conflito.

O que proponho é que a mudança necessária comece dentro de cada um nós. Não podemos arbitrar sobre o que o próximo pensa ou sente. Podemos, sim, fazer a nossa parte para ter um futuro de grande evolução e paz. O que nos diferencia do nosso passado é justamente aquilo que exige uma mudança de pensamento se quisermos sobreviver como humanidade com menos conflitos.

“A raiz da infelicidade humana está na comparação”
Søren Kierkegaard


Leitura adicional:

 


Não consegui achar a origem da imagem usada nesse texto. Caso infrinja direitos autorais reservados, favor entrar em contato para remoção. Obrigado.

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Pensamentos Com Vida Própria Sociedade

A Fronteira da Identidade

Você acorda.

Olha para os lados e percebe uma comunidade de umas… 40 pessoas.

Você só conseguiu dormir porque elas existem.

Alguém vigiou enquanto dormia. Alguém caçou. Alguém cuidou das suas feridas.

A sua identidade está irremediavelmente conectada àquelas pessoas. Ao lugar.

A comunidade cresce, estabelece-se.

Aqueles vales e savanas transformam-se em cultura.

Algumas tradições surgem.

Histórias transformam-se em músicas, cânticos à beira de uma fogueira, pessoas dançando… você olha em volta mais uma vez e percebe que pertence.

As fronteiras da sua realidade determinadas por quão longe consegue andar e voltar ao grupo.

As características do grupo influenciam o local escolhido e o local influencia como o grupo eventualmente se comporta.

Aquele é o seu lugar. Não consegue imaginar-se em outro momento ou situação. Você é, por estar.

O poder da terra. O crescimento do grupo em estabelecimentos cada vez maiores, casas, vilas, feudos, reinos, nações.

Bandeiras e fronteiras.

Culturas.

Se entendermos a religião como uma forma de expressão cultural, todas as guerras do mundo foram travadas para defender esses três. E foram muitas.

Defender a identidade, as crenças e os recursos.

Um resumo dos últimos 40 mil anos em pouco mais de 150 palavras.

Existência ligada ao corpo e às suas necessidades.

Agora, pulemos para o momento atual.

Cadê a fronteira?

Cadê o lastro cultural histórico da identidade?

Perdeu-se?

Pode ser.

Mas não deixamos de ter identidade. Ela apenas passou a ser estruturada de outra forma.

Nos últimos 20 anos, houve uma transferência dessa identidade para um conceito virtual, para uma curadoria de sons, imagens, vídeos, textos, comentários e outros sinais de representatividade de crenças e avatares online criados à referência de um ideal de existência.

No passado, a ligação da identidade ao ambiente físico era muito mais forte e a fortaleza dessa conexão trazia uma consequência interessante: tangibilidade.

Era o que era. Passível de ser percebido fisicamente. Sentido, visto, ouvido, tocado.

Hoje, o que tocamos é a tela do celular.

Substância substituída por exposição, ser visto, uma mecânica pornográfica que molda a identidade e as nossas relações, completamente mediadas por inúmeras camadas e interesses entre representações de pessoas.

Além da identidade ser uma perseguição de ideal filtrada, transformada, intencionada e interpretada, há um conjunto de entidades entre eus e vocês, transformando o que vem e vai.

A fronteira agora é o alcance, promovido pelo engajamento e likes (curte, compartilhe, comenta!). Comportamentos totalmente moldados por algoritmos.

A percepção de identidade transformou-se em um gás, preenchendo e tomando conta de tudo que há dentro da fronteira, desde que permitido pelos algoritmos.

Aparecer, ser notado e atenção viraram sinônimos de existência e não apenas estar exposto.

Com a expansão dos avatares, os egos seguem, numa louca e desenfreada comercialização do eu coisificado e encenado.

Como uma encenação, uma performance, a existência é transportada para fora e para longe do corpo físico, para uma embalagem conveniente, etiquetada, classificada, precificada e estereotipada na prateleira da nova sociedade que se forma, exposta e à venda.

Emoções também passaram a fazer parte dessa representação e, de fato, emoções e sentimentos tidos como negativos são execrados em favor daquilo reconhecido como positivo, pois aumenta o preço da existência performática.

Até a pergunta “como você se sente?” perdeu o sentido, pois a resposta está ligada à encenação e à economia estabelecida.

A suposta e constante felicidade alheia, a positividade, a motivação e a superação perenes, como ideais de transformação, vendem.

O ideal inalcançável de comportamento (que é uma performance e referência de perfeição desejada), vende ainda mais.

E como inalcançável, criou-se a mercadoria ideal na economia perfeita.

Demanda inesgotável para algo inatingível.

No fim do dia, perdemos cada vez mais contato com quem somos em favor de quem mostram que devemos ser, para sermos ainda mais aos olhos dos outros em busca de nós mesmos. Uma armadilha.

Estamos existindo em uma identidade engenhada que não é a nossa, mas criada para satisfazer as expectativas da relação econômica.

  • Em um cenário assim, como podemos sequer saber quem somos?
    • Olhamos para fora e… quando olhamos para dentro, é no desejo de encontrar os ideais externos;
  • Como exercemos a unicidade que nos define, em um mundo pornográfico que impõe uma transparência opressora e desumanizadora?
    • Há uma pasteurização do conteúdo, muita informação que é apenas mais do mesmo, repetição e busca por fórmulas de suposto sucesso;
  • Se ativamente e intencionalmente transpomos uma identidade ideal para o consumo e fazemos parte dessa mecânica, ainda assim é possível preservar um eu ligado à essência? Em outras palavras, ao encenar e consumir, não corremos o risco de nos distanciarmos tanto dessa essência ao ponto de matá-la de fome?
    • Se há uma curadoria intencional à procura de engajamento ou exposição, há o distanciamento da essência e a aproximação dos interesses das entidades por trás das plataformas.

Tenho uma ideia que não sai da mente: se a identidade projetada é ideal e encenada (por menos que seja), a transmutação da essência para um reflexo atendendo às expectativas alheias através da performance não pode ser reconhecida como essência em si.

Isso é enganação de si com uma pauta egóica (o ego, sendo usado como arma contra nós mesmos), por mais que o marketing e os argumentos vendam “essência” e individualidade (no sentido existencial) na prateleira social.

E, se considerarmos por um momento uma situação ideal e perfeita (ironia) da transposição da essência para o virtual, ainda há a mediação que, em nenhum caso, defende os nossos interesses.

Nenhum caso. Em nenhum momento.

Hoje, tenho mais perguntas do que respostas.

 


Imagem: Getty Images

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Ruído

Anos atrás, li um livro que mudou minha percepção de realidade, de consciente e de inconsciente.

Alguns dias atrás, li um artigo na mesma direção.

Sem entrar nas considerações matemático-físico-filosóficas da minha limitada percepção do que foi dito, faço uma tentativa potencialmente frustrada de abordar o tema.

É isso mesmo? Começarei um texto argumentativo afirmando ser uma tentativa e, ainda por cima, frustrada?

Por que não?

Já mudei de opinião em 5 minutos de conversa e reservo-me o direito de mudar ao longo da escrita (certamente acontecerá, verá).

Aliás, esse é um dos grandes motivos pelo qual escrevo, compreensão e mudar de ideia, uma das coisas que mais prazer me traz (apesar das evidências em contrário, frase totalmente carregada de ironia e autocrítica).

Dito isso, confundo-me com a tentativa de buscar significado e sentido nas redes sociais praticada em massa atualmente.

Talvez o emprego da palavra “atualmente” seja bastante característico, afinal, falo de algo bem recente e que vem mudando o comportamento da sociedade profundamente.

Ou será o contrário? Será que as redes sociais são apenas o exercício de uma sociedade doente? Quem adoece quem?

Para todo lugar que olho, existe uma busca insistente pela verdade e entendo que ela sempre existiu (a busca, não a verdade).

E ela (a verdade, não a busca) é encontrada na fé (o conceito que usarei em todo o texto não é apenas religioso e sim mais abrangente): naquilo que faz sentido e afaga o ego.

Quantas pessoas conhece que de fato abraçam supostas verdades mesmo que elas sejam contra suas crenças? É difícil encontrar esse comportamento. Se alguém se abraça a um argumento, a probabilidade dele ser uma “verdade” para quem abraça é gigante, muitas vezes ignorando evidências.

Sim, os exemplos são inúmeros e as próprias redes sociais trazem isso de forma não só clara como, frequentemente, obliterante e magnânima (não ouse discordar meu caro).

Existe uma confusão entre fazer sentido, verdade e conforto cognitivo.

Não há necessariamente relação entre os dois primeiros. Nós acreditamos que haja em favor do terceiro, do conforto cognitivo, reforço de crenças e da identidade.

Em primeiro lugar, assumimos como verdade o que faz sentido.

O que há, no fundo e na sequência, é uma associação completa e irremediável entre sentido e propósito.

Sou a única pessoa a questionar essa percepção egóica de realidade? Dificilmente, apesar de não encontrar evidências do contrário. Se é seu caso, favor pronunciar-se. Gostaria de debater o tema.

Ninguém está interessado em questionar, em questionar-se e o argumento “faz sentido” é, basicamente, a chancela de ouro em cima do ego.

Ah, acha que não?

Pense comigo: o que é um argumento como “faz sentido” além da percepção de que a própria crença está “certa”? O que é, além do próprio tapinha nas costas, reafirmando que a sua identidade permanece inabalada e as crenças intactas?

Questionar passou a ser uma maldição reservada aos antipáticos, tidos antissociais e inconvenientes (enquadro-me desconfortavelmente). Há uma percepção insidiosa de que quem questiona destrói a empatia, para não mencionar as amizades e relacionamentos.

“Faz sentido”, “eu acredito”, “eu sou” e o alinhamento dos 3 ratifica o conceito de propósito individual, confirmando o suposto direito de ser e existir em um contexto totalmente pessoal, independente e ausente de visão sistêmica.

Mas “fazer sentido” não é sinônimo de “verdade”; “acreditar” não é sinônimo de “ter certeza” e “ser” não é sinônimo de “identidade”. Se partimos de premissas aparentemente equivocadas, por que continuamos a insistir? Conforto apenas?

Aqui, coloco um conceito sensacional que ouvi de um sacerdote, anos atrás: quem tem certeza não precisa de fé. Fé é o querer acreditar, é uma atividade, uma busca, um exercício.

Nossa, isso abre um mundo de possibilidades.

Achei a colocação de uma sabedoria sem igual, principalmente vinda de um líder religioso (apesar da própria posição dele ser no sentido de ter certeza, ironicamente). Fé permite evolução.

Se não há espaço para a desconstrução de uma crença e questionamentos, não há espaço para evolução e aprendizado.

Questionar é invalidado, não permitido e interpretado como antagonista à um propósito criado justamente pela concepção do determinismo.

“Está escrito”.

Se está escrito, não questione, tenha certezas.

Aliás, transforme aquilo que faz sentido em crenças, fé e depois em certezas porque, do contrário, a fé não sobrevive. Pensando bem, diante da associação de fé com certeza, sem determinismo a fé perde o sentido (outra ironia). Se não faz sentido para você, é praticamente impossível ter fé.

Então, associamos o nosso comportamento ao fornecimento da fé como alicerce para a existência e questionar vira a perfeita exemplificação do indesejado.

Acho que encontrei um paradoxo.

Talvez o “receio” (palavra bonita usada por mim para substituir “medo”) seja enfrentar o próprio castelo de cartas auto-argumentativo e eventualmente olhar para um estranho no espelho.

Ser é transitório e é bem provável que, eventualmente, em alguma fase da vida, isso ocorra.

Por bem da palavra, que isso ocorra! Sem espaço para essa transformação, não há espaço para evolução, aprendizado e crescimento.

Ser é um processo. Ser é um conjunto de “estar” ao longo do tempo.

Não adianta colocar um às de ouro no topo do castelo de cartas através do sentido que faz, se não há espaço para o sopro que você mesmo quer dar na frágil base, mas não o faz em nome das certezas que constroem a identidade.

Se por algum momento que seja considera que o ser humano tem a capacidade de se adaptar, tem a capacidade de mudar. Uma coisa não existe sem a outra.

Olho para as redes sociais hoje e vejo milhares de castelos de cartas. Aliás, fotos deles.

Talvez precisemos de uma ventania, um grande sopro de existência de fato e não de movimentos egoicamente calculados e perfeitos, vazios e oferecendo um suposto valor igualmente egóico (entenda vendo este vídeo).

E não precisa ir longe para achar o vento do sopro: temos milhares de anos de conhecimento e literatura à nossa frente… temos “vento” de sobra. A questão é o desconforto evitado ao máximo. Ficamos cada vez mais rasos, evitando confrontar a si (curioso como há coragem de sobra nas redes sociais para o embate com os outros).

Talvez precisemos embaralhar as cartas e começar novamente com algo que não faça sentido, mas que permita uma existência associada ao direito não dar explicações e sentido.

Vivemos diante de um mar de argumentos plausíveis e que soam como verdade para tantos… mas a quantidade é tão grande que não passa de ruído.

Pensando bem, ruído não pela quantidade, mas pela nossa incapacidade de questionar aquilo que nos conforta, praticamente eliminando a possibilidade de criarmos.

Sinto-me com a mesma opinião do sétimo parágrafo, mas cheio de perguntas (cuido delas com carinho: sinto-me vivo).

Será apenas mais ruído em minha mente? Será apenas mais uma condição existencial tentando fazer sentido de si própria?

Sei menos que você.

Só sei que continuo no esforço de não tentar explicar aquilo que não compreendo com certezas ou fé apenas e sinto-me bastante ignorante com isso.

Por sinal, especialmente ignorante. Uma ignorância que, começo a perceber, traz o mesmo conforto da própria fé.

Há algo mais egóico? Há maior egocentrismo do que acreditar que a própria percepção de mundo e realidade é uma verdade absoluta, diante de tanta diversidade?

Corrijo-me: no momento, ironicamente, faz sentido, enquanto questiono meu próprio orgulho em ser questionador. Lá vem o ego coloquial meus caros, esse insistente inquilino.

Talvez (adoro essa palavra) eu tenha encontrado alguma informação afinal, em meio à tanto ruído e autocrítica.

Respeito o conceito de propósito determinístico que tantos têm. Está escrito, é confortável, faz-nos sentir especiais, escolhidos (algo que por si só é irônico, diante de uma argumentação igualitária presente em tantas doutrinas, que trazem estereótipos distintos e comparação para os que creem ou não).

No início da escrita deste texto, lembrei-me de inúmeras pessoas que conheço que perseguem propósitos externos e a qualidade de vida que isso traz, boa parte pela isenção e transferência de responsabilidade.

Por outro lado, enquanto escrevo, lembro também de exemplos onde propósitos assim provém a justificativa para alguns indivíduos agirem contra os demais.

Prefiro uma abordagem alternativa: em um universo caótico, não somos especiais, muito menos o centro dele. Aqui, propósito também existe, mas é construído e não atribuído.

O que tem feito na busca por ele? Vem construindo ou esperando que uma voz apareça, diga-lhe o que fazer E faça sentido pra você?

Consegue ouvir alguma coisa útil diante de tanto ruído?

Qual a sua parcela na manutenção do ruído que hoje existe?

O Universo não está nem aí para a nossa existência. Tem gente que vai ler isso e achar uma blasfêmia. Tem gente que achará um absurdo… mas tem pessoas que encontrarão muita força nessa afirmação.

Onde acha que temos mais liberdade e autonomia? Em um contexto determinístico, onde tudo está escrito e somos peças em um tabuleiro ou em um universo caótico, onde cabe a cada um de nós construir o seu próprio propósito, transformando o ruído e o caos que o cerca em significado?

Agora, um exercício de lógica super simples: o conceito de destino, determinismo e “tudo está escrito” é incompatível com “livre arbítrio”.

São mutualmente excludentes. Não dá para ter as duas coisas.

Ou você acredita em destino ou em livre arbítrio. Se acredita nas duas coisas, ou não pensou ainda sobre o tema, ou é uma contradição viva ou está tão confortável em preservar o próprio status quo através de certezas que… tá tudo bem.

Não adianta “acreditar” naquilo que faz sentido pra você, escolhendo as questões que trazem conforto e julgar o próximo pela crença ou inexistência dela, se não dermos ao próximo o direito de arbitrar. Acho que acabo de colocar que fé e livre arbítrio também não podem existir sob a mesma concepção, pelo menos não se o conceito de fé for opressor.

E antes que surja o argumento de que estou atacando alguma religião, lembre-se: estou usando o conceito de fé abrangente.

Finalizarei com uma afirmação: se você parou pra pensar sobre quaisquer argumentos colocados aí em cima, então é sinal de que o nível de ruído finalmente ficou baixo o suficiente para escutar-se.

Caraca Romulo, nada do que falou faz sentido!

Pode ser…

Mas não prometi sentido. De fato, não prometi nada, talvez apenas passado a ideia de provocar. Este sou apenas eu, lidando com os próprios anseios, questionamentos e argumentos mentais.

Um exercício.

De fé?

Quem sabe. Espero que não opressora.


 

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Inteligência Emocional… Ao Contrário?

Desde 2017 que escrevo direta ou indiretamente sobre inteligência emocional e até virou um capítulo de livro.

Trata-se de um tema na moda há quase 30 anos que foi explorado à exaustão, colocado por muitos como solução para todos os problemas da humanidade, até a fome (contém ironia).

Outros especialistas na área trazem a inteligência emocional clássica como uma grande falácia.

Nem tanto, nem tão pouco.

O conceito foi esticado e resumido de formas inimagináveis ao longo dos anos.

Penso imediatamente e (quase) involuntariamente no trabalho de Myers-Briggs, que tomou por base Carl Jung.

Ele certamente ficaria surpreso com as conotações extraídas do seu trabalho, para dizer o mínimo. Hoje, estes testes são usados mundialmente em diversos cenários, mas também para rotular pessoas e em processos de seleção, algo inaceitável.

Voltando, analogamente, parece haver um consenso (principalmente em conteúdo de autoajuda) de que inteligência emocional é:

  1. Reconhecer as emoções;
  2. “Controlar” as emoções;
  3. Usá-las adequadamente, para si e socialmente (o que já leva a outro conceito criado ao longo do tempo: inteligência social).

Aqui, chamo especial atenção à palavra “controlar“. Uma rápida pesquisa no seu mecanismo de busca preferido e perceberá como o “gerenciamento das emoções” e a “autorregulação” surgem com frequência e, tristemente, acabam sendo interpretados como “controle”.

Mas antes de abordar esse tema em específico, falemos um pouco da meta-origem do conceito (comento a origem propriamente dita no post original).

Por trás do surgimento da ideia de inteligência emocional, há um processo de reconhecimento das diferenças individuais, diversidade (exemplificado pela multiplicação das inteligências, notadamente sobre as mãos de Howard Gardner) e, principalmente, uma busca por medir o sucesso.

O próprio surgimento da concepção de QI (Quociente de Inteligência) no início do século passado tinha a intenção de prever o sucesso (dentre outras), apesar de florescer em meio a profundos vieses comportamentais.

Isso mesmo, o QI tinha uma pitada de segregação e beneficiava uma parcela populacional, promovendo estereótipos e até o preconceito.

Nada bonito, diga-se de passagem – apesar de ser uma outra época com um contexto completamente diferente do atual. É mais fácil reconhecer tais características, hoje, mais de cem anos depois.

Contudo, se por um lado o QI é algo pragmático, supostamente fácil de medir e beneficia o raciocínio lógico e matemático, por outro, a inteligência emocional não só é difícil de medir como está sujeita à múltiplas interpretações. São habilidades importantes, mas dificilmente preveem o sucesso em todas as ocasiões.

O argumento original de Daniel Goleman (responsável pela popularização do conceito e não por sua criação) é de que a inteligência emocional é um indicador muito mais preciso e fácil de sucesso, ao contrário do QI.

Só que, aí, entramos em um loop: o QI é “mais fácil” de avaliar e o QE (Quociente Emocional), o oposto.

Tá. Eu sei que existem inúmeras tentativas de medir, testes e abordagens diferentes. Mas pense comigo: testes de QI são matemáticos, lógicos e mais precisos por definição (apesar de medirem conhecimento em alguma extensão – o que, perdoem-me, invalida o teste). Testes de QE são situacionais e sofrem profunda influência cultural.

Ao longo dos anos, surgiram várias potenciais metodologias propondo calcular o segundo, enquanto a metodologia para o primeiro sofreu inúmeras revisões (até para apagar um pouco dos vieses iniciais).

Uma pergunta válida: testes assim medem algo que pode ser efetivamente útil? Depende inteiramente do contexto e o contexto tem sido jogado fora.

Em ambos os casos, temos uma visão individualista de sucesso e a ausência completa de uma percepção sistêmica, apesar da inteligência emocional estar frequentemente associada à inteligência social. Mesmo assim, ela analisa o indivíduo, como se uma pessoa, sozinha, fosse capaz de ser qualificada como tendo ou  não a “qualidade” desejada e suficiente e que só depende dela. A bandeira do “protagonismo” segurada ao alto.

Chegamos à um ponto deste texto onde temos três conceitos a explorar: o controle, como prever o sucesso (incluo aqui a questão sobre o individualismo) e porque inteligência emocional “ao contrário”, concedendo-me a liberdade de, quem sabe, mudar de opinião sobre o tema.

Controle

As emoções são reações neurofisiológicas do corpo a estímulos. Primitivamente, emoções agradáveis nos aproximam daquilo que traz bem-estar e emoções negativas nos afastam do que pode potencialmente causar problemas ou ser uma ameaça. É assim com o medo, a raiva, a tristeza, a felicidade, o nojo e o desprezo… exceto com a surpresa, que precede outras emoções. (Ekman, 1971).

Para o ser humano, controle, dentre outras coisas, é praticamente um sinônimo de neutralizar ameaças. Colocando de outra forma, o desconhecido causa desconforto justamente pela falta de controle e é interpretado na maioria das vezes como uma ameaça.

Aquilo que é controlado, é conhecido (mas não necessariamente o contrário).

Frequentemente assumimos que uma situação ou estímulo já vivenciado anteriormente trará a mesma emoção. A experiência prévia é conhecida e isso pode dar a falsa sensação de controle emocional por saber o que eventualmente sentirá. Como não controlamos o desconhecido, achamos que controlamos as emoções diante de situações conhecidas, mas na verdade, estamos apenas recuperando uma memória relacionada à emoção presenciada (e talvez as ações decorrentes).

Agora, exploremos alguns conceitos essenciais.

Conhecimento e controle são conscientes.

A emoção surge de um mecanismo cerebral muito mais antigo e primitivo do que a nossa consciência e, muitas vezes, surge incontrolável de meio até um segundo e meio antes sequer de tomarmos consciência do que aconteceu (Nørretranders, 1998).

Começa a perceber aonde eu quero chegar?

Não controlamos as emoções. Podemos, no máximo, tentar gerar condicionamentos para reagirmos de forma intencionada e planejada. Veja a imagem abaixo:

Parece complexo? Não, é simples até.

  1. O estímulo acontece;
  2. A emoção surge em um nível inconsciente;
  3. Parte do nosso cérebro avalia se é necessária uma reação instintiva de autoproteção (lutar? Fugir? Paralisar para economizar energia?)
    Essa fase pode levar de meio segundo à um segundo e meio, mais ou menos;
  4. Nosso consciente começa a perceber o que está acontecendo. A emoção que tomou conta da gente começa a se dissipar e a ser interpretada
    Com a passagem dos segundos, ganhamos mais forças para interagir com as nossas reações, ao ponto das sensações atingirem um nível suficientemente baixo para permitir ponderarmos a situação. O tempo que leva para chegar nesse estágio varia com o estímulo e de pessoa para pessoa.

Ao longo do tempo, a emoção vai amadurecendo, assim como a nossa percepção da situação. Darei dois exemplos extremos.

  1. Extremo 1 – Alguém está em uma rua escura, tarde da noite e sente-se já ameaçado. Uma pessoa se aproxima e nosso alguém foge, instintivamente. Algum tempo depois, não sabe se de fato seria assaltado, mas a “decisão” de fugir tomou conta dele e foi incontrolável. Quando isso acontece, o que segue é a sensação: “nossa, simplesmente agi e não me dei conta”;
  2. Extremo 2 – Nosso alguém agora está em uma situação distinta e diante de uma perda. Pode ser a perda de um emprego, de um ente querido, de um relacionamento ou tantas outras. No momento inicial, ele é tomado pela tristeza e eventualmente pela raiva e medo. Os dias passam, as semanas também e o “luto” dessa perda transforma-se lentamente em saudades, memórias agradáveis e em aprendizado, um processo que pode durar meses.

Qual controle foi efetivamente exercido? Conseguimos escolher, deixar de sentir medo, tristeza e raiva em situações assim? No primeiro exemplo, reagimos antes até de arbitrar. No segundo, houve uma transformação (e como gosto de chamar), um amadurecimento emocional. Falei um pouco sobre isso neste outro post.

É importante registrar que há um debate acerca do tema.

Enquanto acredito não ser possível controlar diretamente e especificamente as emoções, podemos treinar, condicionar reações diante de determinadas situações.

Algumas profissões como a medicina, forças-tarefa de resposta à incidentes e as forças armadas são apenas alguns dos vários exemplos (definitivamente não limitado à esses). Entretanto, não há nada que possa ser feito no intuito de controlar as emoções em si, principalmente em situações novas e desconhecidas.

Aqui, faço uma reconsideração: se eu pudesse escolher aquilo que é mais importante no tocante à inteligência emocional, eu escolheria o aumento do repertório emocional ao invés da metodologia clássica. Talvez os dois em conjunto.

A “Necessidade” de Prever o Sucesso

Vivemos em uma sociedade que venera o sucesso e a percepção dele.

De fato, ao longo das décadas e séculos criamos diversos mecanismos para medi-lo, recompensá-lo e punir os fracassos.

Nesse contexto, o QI teve uma aplicação histórica, inclusive nas guerras mundiais. O conceito de inteligência emocional é promovido desde a década de 90 como fator preponderante em prever sucesso. A ideia é até comercializada assim (e como!).

Existe uma necessidade social e a argumentação em torno da inteligência emocional tenta fornecer a solução, posicionando-se como a saída universal para um problema que não deveria existir.

Se analisarmos a autoajuda dos últimos 20 anos, talvez o que mais tenha sido escrito em milhares de livros e guias são as fórmulas para o sucesso direta ou indiretamente e a inteligência emocional é citada frequentemente nesse contexto.

Não há fórmula para o sucesso. Não há modelo; há um conjunto de indivíduos fazendo o melhor que podem com os seus recursos únicos.

Usando uma percepção mais abrangente, dificilmente a inteligência emocional é o único argumento sobre o sucesso.

Vivemos uma atualidade cheia de métodos, processos e testes dos mais diversos que tentam estereotipar quem tem mais chances ou não. Reforço o termo “estereotipar”, porque é exatamente isso que acontece.

Temos definições de pessoas racionais, emocionais, introvertidas, extrovertidas, julgadoras, sensitivas, intuitivas, bagunçadas, criativas, executoras, sonhadoras… todas concepções realçadas por metodologias de testagem que supostamente apontam quais características têm mais “sucesso” em determinadas funções.

Mas a questão é bem mais complexa.

O resultado dessas metodologias é a classificação dos seres humanos em caixinhas (como escrevi aqui), ignorando a nossa maior característica: a capacidade de mudar, da adaptabilidade e do próprio cérebro de se reconectar.

Reunir indivíduos em conjuntos de pessoas com potenciais características supostamente semelhantes (importante registrar – altamente subjetivas) e arbitrar eliminar ou escolhê-los baseado nessas características não é tão diferente da mentalidade da eugenia do século passado.

E tudo em nome da ciência (não entrarei nem no mérito de outros artifícios que usamos diariamente, pseudocientíficos e bastante populares acerca de uma estereotipação semelhante).

É negar a oportunidade de evolução e mudança (que sabemos que existe) a qualquer um.

Afinal, na sociedade contemporânea e individualista, o que não faltam são exemplos de pessoas que proclamam suas próprias evoluções (irônico e contraditório), ao mesmo tempo em que fazem uso de métricas arbitrárias porque o sentido por si atribuído afaga o ego.

Falar de evolução sem admitir a mudança, através de uma classificação comportamental arbitrária é uma contradição. Aceita que dói menos.

Será que estou advogando contra o uso dessas ferramentas?

Não. Pelo menos não, totalmente.

Advogo contra o uso irrestrito e indiscriminado de aplicá-las para classificar seres humanos. São processos (falo dos que pelo menos tentam ser científicos) que podem ser eventualmente usados por profissionais qualificados para, por exemplo, reunir um grupo de pessoas com características favoráveis.

Mas nunca e eu repito, nunca em processos de seleção, eliminação e escolha ou que podem levar à segregação sob nenhuma forma, algo feito comumente.

Sucesso não é apenas uma questão de escolher as pessoas remotamente adequadas para uma tarefa específica.

Sucesso é muito mais uma questão de dar as condições para que as pessoas cooperem, aprendam e evoluam.

Sucesso é permitir que a diversidade interaja, fomentando a criatividade.

Inteligência Emocional ao Contrário?

Quando mencionei no parágrafo anterior a cooperação, lembro-me de algo que repito à exaustão em meus textos: nós somos em conjunto muito mais do que a soma das individualidades, um quebra-cabeças de peças completamente diferentes que, reunidas, formam uma imagem belíssima.

Somos seres sociais antes de tudo e é por causa disso que estamos vivos como espécie, hoje.

Não é porque alguém descobriu como manipular o fogo e usou isso para aquecer-se: é sobre o compartilhamento da habilidade para a sobrevivência do grupo e talvez a própria definição de civilização passe por isso.

Existe um sábio argumento (pelo menos na minha opinião) sobre o surgimento da civilização, contrário à concepções amplamente estabelecidas como a caça e a pesca, o surgimento de instrumentos, agricultura e de artefatos religiosos.

Há dúvidas sobre a origem do pensamento, atribuído à antropóloga Margaret Mead durante uma aula, mas que tem solidez.

Sobre o início da civilização e da cultura, a sua resposta surpreendeu muita gente:

“Qual o sinal mais antigo da civilização? Um pote de barro? Ferro? A agricultura?”

Não.

Para ela, a evidência mais antiga de uma verdadeira civilização é um fêmur curado [um osso enorme da perna, fundamental e de difícil reparo]. Ela explica que uma cura como essa nunca foi encontrada nas reminiscências de culturas competitivas ou sociedades selvagens. Pelo contrário, nestas, pistas de violência são comuns. (…) Mas um fêmur curado mostra que alguém deve ter cuidado da pessoa ferida – caçou em seu lugar, trouxe comida e serviu ela através do seu sacrifício pessoal. Sociedades selvagens não se sujeitavam a essa “pena”.
[Fearfully and Wonderfully Made (Grand Rapids, Mi.: Zondervan, 1980); Pain: The Gift Nobody Wants (Brand, 1993)]
Adicionalmente, https://stacyhackner.wordpress.com/2020/04/21/that-margaret-mead-quote/ e
https://www.patriciarobertsmiller.com/2020/11/30/margaret-meads-definition-of-civilization/

Pensando bem, qual maior ou melhor definição de sucesso do que o conceito por trás dessa afirmação ou ideia?

Confesso, essa percepção me deixa não só confortável, mas traz um senso de pertencimento e bem-estar.

Sim, eu frisei a palavra “competitivas” no texto atribuído a Mead intencionalmente. Parece que favorecemos essa questão sistematicamente na sociedade atual em detrimento da cooperação. Pódios potencialmente gerando violência, algo que vemos todos os dias nas redes sociais, ao contrário da histórica e comprovada comunhão.

E, talvez agora, você comece a perceber o argumento “inteligência emocional… ao contrário“.

O equívoco não está em achar que inteligência emocional não importa ao aplica-se a tudo: está em achar que é uma responsabilidade individual.

Em nossa busca incessante por medir as pessoas, classificá-las, recompensá-las e puni-las, criamos teorias e métodos supostamente precisos para a tarefa, meio que desprezando completamente a subjetividade e o fato de sermos seres únicos, mas que funcionamos melhor em conjunto justamente por isso.

Existem diversos efeitos colaterais dessa cultura e cito dois importantes: a segregação e o preconceito e a individualização de algo intrinsecamente social e sistêmico.

Falei sobre a segregação e as caixinhas estereotípicas neste post e sobre a individualização neste outro.

Com a inteligência emocional aconteceu algo assim.

Uma breve pesquisa em qualquer site de busca revelará milhares de conteúdos falando sobre o que é inteligência emocional, como cultivá-la e porque ela é importante. Mas o conceito é individualizado, na esfera da responsabilidade e da autonomia completa e absoluta, linha da concepção de protagonismo pregado pela autoajuda contemporânea.

Até mesmo quando abordamos o conceito adjacente de inteligência social, ele está preservado em torno de uma potencial capacidade individual de um ser social, uma contradição conceitual na minha opinião.

E isso atende a uma agenda.

O processo de autoconhecimento é uma jornada para dentro de si. Isso é compreensível (e vende).

Mas uma jornada de autoconhecimento não resolve todos os problemas do mundo e está repleta de percalços e dores.

Tem muita coisa que depende da gente como indivíduos e ser protagonista da própria vida tem um lado extremamente positivo. Autorresponsabilidade.

Contudo, é importante reconhecer as fronteiras desse processo, entendendo que também existem diversas coisas que não dependem unicamente da pessoa.

Contextos familiares e educacionais, profissionais, de sistemas aos quais pertencemos, questões estruturais como fome, doenças, pobreza extrema, governamentais e mundiais que vão muito além do indivíduo são apenas alguns exemplos.

Inteligência emocional não é diferente.

Identificar as próprias emoções, reconhecê-las, encontrar causas raiz, reconhecer as emoções dos outros e usar tudo isso adequadamente reagindo da melhor forma possível contextualmente parece ser uma estratégia de sucesso. Mas se focarmos apenas no indivíduo, a estratégia tem um grande potencial de falhar.

Muita gente tem uma dificuldade enorme de reconhecer as próprias emoções.

Quem dirá reconhecer e aceitar as emoções dos outros.

E quando mencionei no título “inteligência emocional ao contrário” foi neste sentido.

Como seres sociais totalmente interligados, talvez o aspecto mais importante de todos seja permitir a interação das nossas emoções com as dos outros.

Lembrando o que disse alguns parágrafos acima, é impossível para um ser humano não sentir emoções e podemos até condicionar reações favoráveis a intenções de comportamento previamente planejadas, mas sem considerar que todo ser humano da face da terra tem emoções, dizer ao próximo “eu enxergo você” ou “eu percebo você” em um nível emocional não gera apenas empatia.

Coloca-nos no mesmo patamar de existência, fazendo o possível e o melhor dentro das possibilidades de cada um, sem esquecer as emoções.

Precisamos remover essa conversa do debate da validade dos testes emocionais e estereotípicos. Precisamos renunciar ao protagonismo cego, puro e simples e entender que a emoção do outro, por mais que seja conteúdo do próximo, é algo que nos interliga, enlaça-nos em uma existência social que é muito mais natural diante de dezenas de milhares de anos de evolução do que apenas querer controlar o que sentimos.

Eu darei um exemplo prático agora.

Imagine que você leu todo o conteúdo disponível sobre o assunto e chegou à conclusão de seguir à risca as orientações.

Conta até 10, respira fundo… identifica as emoções despertadas, faz o possível para controlar as suas reações momentâneas e intempestivas buscando o melhor resultado esperado.

Essa frase parte do princípio de que temos que moldar o que quer que seja, atuando para chegar a um objetivo.

E isso é um absurdo.

Em um ambiente com pessoas que aceitam-se mutualmente emocionalmente, não há a necessidade de moldar comportamentos além do bom senso.

Há a compreensão.

Diga-me, usar as orientações clássicas ligadas ao tema, que incluem reprimir emoções, traz segurança para você?

Ou o que realmente traz segurança é saber que expor as emoções não será o motivo de julgamento por parte do próximo?

Que tal começar por não julgar as reações alheias?

Não devemos ferir a liberdade dos outros. Mas podemos aceitar que, se todo e qualquer ser humano tem emoções, que elas são incontroláveis (apesar das tentativas) e talvez o que falte aqui é compreensão e aceitação.

É aceitar que, assim como nós, aquele ser diante de você tem seus desafios, seus problemas, sua experiência única e suas formas de exercer tudo isso com ações influenciadas completamente por algo praticamente incontrolável.

Demonstrar emoção é tido como um critério de julgamento para a vulnerabilidade e a vergonha.

O problema está aí.

Falamos tanto do assunto como regulação, controle e manipulação, esquecendo que qualquer um de nós está sujeito às mesmas condições, fisiológicas até.

Reservamo-nos o direito de explodir emocionalmente, mas condenamos todos os outros à vergonha se o fizerem.

Então… apenas então, talvez a compreensão de começar a falar sobre inteligência emocional não seja sobre a gente. Não seja sobre mim ou você separadamente. Seja sobre aquele indivíduo que está a nossa frente, funcionando em conjunto conosco.

Onde se sente seguro?

Em um ambiente onde precisa usar a cartilha da identificação, reconhecimento, controle e atuação, ou em um ambiente onde pode mostrar o que sente, sendo você mesmo sem subterfúgios?

Tem vergonha de chorar em público?

Eu tive, por muito tempo. Talvez ainda tenha.

Tem vergonha de sentir-se triste na atual ditadura da felicidade, permeada por gratidão, positividade, #gratiluz e termos do gênero, conduzindo-nos a construir uma imagem social de perfeição impossível de manter em longo prazo?

Pense um pouco: tem coisa mais absurda do que isso? Negar nossa natureza humana em favor de uma imagem plasticamente perfeita de uma existência mentirosa, construindo um alvo ideal inatingível?

Isso não traz bem-estar. Traz depressão em escala.

Nada disso é remotamente compatível com a inteligência emocional.

Isso é reprimir algo que faz parte de cada ser humano e, nossa, como existe literatura sobre o assunto há séculos!

Somos portadores de momentos de altos e baixos, de tristezas, felicidades, paciência e raiva. Somos agraciados com pensamentos contendo os mais puros sonhos e os mais execráveis desejos. E não há nada de errado com isso, respeitadas as leis, a ética e as patologias (afinal, o limite da compreensão e da aceitação é uma média social salutar que existe, nos protege e há 7 bilhões e meio de razões para, pelo menos, considerar esse fator).

Enquanto não nos sentimos seguros para exercer uma parte de nós que está presente em cada humano que sequer aparece por medo de ser, não há inteligência emocional de nenhuma parte envolvida.

Talvez o assunto seja mais sobre essa compreensão do que versar sobre o que podemos fazer como indivíduos supostamente autônomos, protagonistas e totalmente responsáveis, porque não somos nenhum dos três, completamente.

Talvez inteligência emocional seja sobre o exemplo do fêmur quebrado de Mead e a sua cura, sobre o surgimento da civilização. Talvez seja sobre altruísmo.

Chego à conclusão de que qualquer tentativa de manutenção da inteligência emocional clássica, considerando apenas as nossas reações mais adequadas ao momento é apenas manipulação e atuação. Goleman chega a mencionar a questão através dos camaleões emocionais, mas na década de 90 ele não tinha ideia do que se tornaria a sociedade com o advento das redes sociais.

Não podemos gerenciar as reações dos outros. Podemos apenas deixar o próximo à vontade em expressar as suas emoções, criando um ambiente de confiança e segurança.

E esse perece ser um bom começo.

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A Grande Confusão sobre Liderança

Já vi e ouvi inúmeras definições pra liderança.

Já ouvi que liderança é o resultado que você obtém da equipe.

Já ouvi também que liderar é persuadir e convencer, que líder é aquele que está à frente de um grupo, que tem autoridade ou que liderar é sobre servir.

Diante da leitura de inúmeros livros sobre o tema, a palavra “liderança” parece ter propriedades mitológicas e termina com um significado diferente para cada um de nós, sem mencionar que existe uma diferença gigante entre o conceito presente em livros famosos e a prática diária.

Então.

Há anos os indivíduos são medidos por valores tangíveis, seja na vida pessoal ou profissional.

Nas corporações, temos inúmeros indicadores de desempenho e métricas que são usadas para avaliar se as pessoas estão no caminho certo, se os objetivos serão alcançados dentro do prazo, permitir detectar falhas, corrigi-las e não há nada de errado com isso.

Por outro lado, no âmbito pessoal, com o surgimento das redes sociais, temos cada vez mais a ligação de coisas materiais e quantificáveis à identidade das pessoas. Temos a associação de sucesso àquilo que é possível mostrar para os outros, àquilo que é possível contar.

Isso aparece sob as mais diversas formas, como bens, provas sociais, número de seguidores ou amigos, curtidas, cursos e formações, diplomas, certificados e dinheiro.

E, como tudo aquilo que pode ser quantificado e contado, pode ser também ordenado e classificado. Seria tudo muito simples, se funcionasse.

Surgem então os pódios e as premiações, a busca pelo desempenho através da comparação e o conceito prático de que líderes são os que estão no topo da cadeia alimentar.

Eu quero estressar o argumento do conceito prático, porque apesar de termos literatura de décadas falando o contrário, esse é o comportamento hoje.

As pessoas que são consideradas de maior valor passaram a ser as de maior performance e também… aquelas que são recompensadas.

E aqui, o estado atual da sociedade mescla a questão profissional com a pessoal, associando tudo aquilo que pode ser medido à identidade, levando a um comportamento egóico e centralizador.

E se é assim que medimos e recompensamos o sucesso, cada vez mais se foca na performance à todo custo. As relações sociais e a cooperação saem prejudicadas em favor dos números.

Com critérios bem definidos e medidos de um suposto sucesso, é claro que os indivíduos buscarão a mesma métrica para benefício próprio, procurando aprender cada vez mais o que é conhecido como hard skills, ou habilidades e competências fáceis de identificar, medir e associar ao mesmo sucesso.

Perceba a equação que está em jogo aqui:

  • O sucesso passa a ser algo bem definido;
  • O sucesso pode e deve ser medido;
  • Indivíduos são recompensados e promovidos por esse sucesso;
  • A forma de chegar lá é através das competências que podem ser ensinadas, aprendidas e também medidas.

O efeito colateral disso é que os indivíduos que avançam na vida são aqueles que entenderam como essa equação funciona e tiram o melhor proveito dela.

Então, uma confusão gigantesca se instala.

Há a associação da ideia de que um líder de valor é aquele que tem sucesso… é aquela pessoa que subiu na escada da vida usando esses critérios.

Colocamos em posições de liderança indivíduos que tem ótima performance, mas não consideramos o que realmente importa para um líder.

Pior, cobramos esses líderes usando a mesma equação de sucesso e terminamos com o conceito de que o objetivo de uma liderança é dar resultado, cobrar a equipe e medir desempenho, passando a mensagem de que para crescer e se transformar em um líder deve-se usar os mesmos critérios.

Só que liderança não é um cargo ou uma função.

Liderança não é atribuída… Liderança é conquistada.

E você acha que é só isso?

Instituímos uma cultura de punição e recompensa, a famosa dupla “cenoura e chicote’.

Se no seu trabalho hoje você ganha um bônus ao atingir suas metas, então a sua empresa acredita que essa é uma boa forma de motivá-lo.

Há décadas, achamos que a melhor forma de motivar uma equipe é através da recompensa, do medo ou aversão à perda, mas não existem evidências científicas que suportem isso para atividades complexas.

Pra falar a verdade, existem evidências apontando para o oposto.

Recompensar o desempenho, quando a atividade é simples, repetitiva e não exige muito da cognição, traz resultados positivos.

Mas quando a atividade é um pouquinho complexa e exige uma análise mais profunda, a ideia da cenoura e do chicote simplesmente não dá resultado… Pelo contrário, atrapalha!

E o que isso tem a ver com liderança?

Bem…

Falamos brevemente sobre hard skills… E você já deve ter ouvido falar em soft skills também.

Eu não gosto dos conceitos de hard skills e soft skills porque eles geram uma separação que não existe quando, na verdade, estão conectados… Mas para fins de entendimento, eles servem.

Enquanto as hard skills são mais técnicas, tangíveis, objetivas e podem ser ensinadas, quantificadas e medidas, as soft skills são intangíveis e estão diretamente relacionadas com quem somos como pessoa, como nos relacionamos e agimos.

De um lado, temos coisas como aprender uma língua, fazer um curso superior, usar um computador ou programa, aprender uma linguagem de programação ou tantos outros exemplos que estão relacionados ao potencial exercício de um ofício.

É o aprendizado utilitário bem definido e avaliado.

De outro, temos a confiança, a empatia, a capacidade de se comunicar e até a inteligência emocional.

Hoje, o sucesso é medido através do exercício de hard skills. Somos quantificados e recompensados através delas.

Mas para a liderança, o que mais importa não são as hard skills.

São as soft skills.

E a explicação é simples: eles promovem a conexão entre os seres humanos, literalmente criando uma corrente do bem.

Só que ninguém recompensa por soft skills porque são difíceis de medir.

Lembra da nossa equação do sucesso? É através dela que somos julgados e consequentemente recompensados ou punidos. É esperado que essa mecânica termine como um fator de motivação, mas o que realmente traz motivação é o exercício das soft skills e por isso são tão importantes para a liderança.

Em outras palavras, não só medimos errado, como recompensamos errado.

E o resultado disso é encontrar uma epidemia de líderes egoístas que pensam apenas na autopromoção e uma cultura de crescimento profissional calçada na comparação, onde é mais do que comum pisar na cabeça dos outros para crescer ao invés de ajudar.

Você já percebeu o estado atual das postagens numa rede profissional como o LinkedIn? A grande maioria é pura autopromoção.

É a realidade de que a comunidade serve ao suposto líder… Mas deveria ser o contrário! O líder existe para servir à comunidade.

Não adianta de nada ler O Monge e o Executivo, entender o conceito de líder servidor e a prática ser outra, recompensando quem consegue mais cenouras e foge mais rápido do chicote.

O interessante é que esse conceito tem mais de 50 anos, achamos ele fantástico, mas incentivamos as coisas erradas.

Quando entendemos isso, percebemos que a conquista de objetivos e metas deve ser o efeito colateral do emprego de soft skills, de boas práticas de liderança e ainda ganhamos o bem-estar e saúde mental de bônus.

Agora, perceba a importância de quando eu disse que liderança é conquistada.

Uma pessoa é reconhecida como líder… E não auto intitulada. Ela é eleita.

Consegue perceber o conflito que vivemos hoje?

Liderança passa longe do egocentrismo… Se o papel de um líder é servir, tornar os outros capazes, habilitar e usar soft skills que estão totalmente ligadas à nossa capacidade de nos relacionarmos, justamente por isso um líder é eleito líder… porque as pessoas confiam e sabem que podem contar com ele.

E aqui, entra o conceito mais bonito de todos.

Não há métrica para confiança, empatia e comunicação. Não há métrica para inteligência emocional, honestidade e compaixão. São todos conceitos subjetivos que estão na cabeça e no coração da ponta que recebe.

Então, quando um líder é reconhecido e eleito, as respostas estão nos corações de cada pessoa que se relaciona com ele.

Não há esforço que um grupo ou organização faça para transformar alguém em líder se ele não for reconhecido como tal pelos demais membros do grupo.

Um indivíduo pode ocupar um cargo de chefia, de gestão e hierarquicamente alto. Mas ninguém pode ser colocado como líder forçadamente.

Se você acha que é um líder pelas qualificações mensuráveis que tem, é bem provável que não seja… Pelo menos não por esses critérios.

Novamente, mais uma coisa linda a respeito desse assunto: se um líder é reconhecido e eleito, ele pode ser qualquer pessoa em qualquer posição dentro de um grupo.

Qualquer um pode ser um líder, se esboçar as características adequadas e não existe associação mandatória entre liderança e posição hierárquica.

Mas os grupos, as empresas e organizações querem que você acredite que o seu chefe ou gerente é obrigatoriamente um líder.

Com isso, na realidade, estão apenas comprovando que não entendem absolutamente nada sobre o tema ou gestão de pessoas.

O que me deixa surpreso é que todos nós temos esse potencial, mas não exercemos… E pra ser um líder, ao contrário dos cargos de gestão, não precisa de um diploma, mestrado ou MBA.

Basta começar se importando com quem está ao seu lado.


Conteúdo Adicional

Artigos:

Punição e Recompensa
https://rmcholewa.com/2019/07/08/punicao-e-recompensa/

Das Métricas e Metas às Pessoas
https://rmcholewa.com/2017/09/13/das-metricas-e-metas-as-pessoas/

Vídeos:

Dan Pink e a surpreendente ciência da motivação
https://www.youtube.com/watch?v=rrkrvAUbU9Y

There’s NO Such Thing as “Soft Skills” | Simon Sinek
https://www.youtube.com/watch?v=o9uzJ0LgvT0

The Most Important Trait of a Leader | Simon Sinek
https://www.youtube.com/watch?v=eKQSLgtNcVo

Referências:

Ordonez, Lisa D.; Schweitzer, Maurice E.; Galinsky, Adam D.; Bazerman, Max H.: “Goals Gone Wild: The Systematic Side Effects of Over-Prescribing Goal Setting”. Harvard Business School NOM Unit Working Paper n. 09-083 [Online] // janeiro de 2009. Acesso em 08 de abril de 2021. DOI: 10.2139/ssrn.1332071

Sendjaya, Sen; Sarros, James C.: “Servant Leadership: Its Origin, Development, and Application in Organizations”. Journal of Leadership & Organizational Studies. 9 (2): 57–64. // setembro de 2002. doi:10.1177/107179190200900205

Suvorov, Anton: “Addiction to Rewards” [Online] // junho de 2013. Acesso em 09 de abril de 2021. DOI: 10.2139/ssrn.2308624

Livros:

O Monge e o Executivo, James C. Hunter: https://amzn.to/39XRVqm
Motivação 3.0, Daniel Pink: https://amzn.to/3uFHuQ8
Sociedade do Cansaço Byung-Chul Han https://amzn.to/38xRGSo
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Pensamentos Com Vida Própria Sociedade

Destruindo Identidades

Você compartilha frases de efeito ou aquilo que faz sentido, no impulso?

Então.

Permitam-me lançar mão de mais uma provocação aqui pra vocês. Como sempre, não tem certo ou errado… É pra fazer pensar.

Nem tudo o que faz sentido é o mais adequado.

Repetir o que um monte de gente fala, é facil, principalmente quando concordamos e reforçamos nossas próprias crenças. Esse conceito é a base do sucesso das fakenews e também o motivo pelo qual refutá-las causa as maiores brigas na internet.

O efeito manada (Asch, 1951), tão estudado na psicologia e que está associado à conceitos como zona de conforto e viés de confirmação tem grande participação aqui.

Ter opinião própria não é necessariamente escolher dentre as opções com as quais simpatiza.

O ideal é ir a fundo, pensar por si próprio, questionar, criar novas opções e estar aberto a novas evidências.

E aqui, a ironia: depois de achar que teve uma suposta ideia original, perceber que alguém potencialmente já chegou antes de você.

Isso é um processo… e é massa, porque provoca a interação com o diferente, promove a diversidade e nos traz benefício através do exercício da criação, ampliando os nossos horizontes.

Pensar dá trabalho e é incômodo.

Pensar mesmo é desafiar nossas próprias crenças e existe uma associação muito profunda e comum entre crenças, identidade e ego. Sem espaço para desafios assim, pouco evoluímos.

Desafiar as crenças dos outros e muito fácil e prazeroso até… Na maioria das vezes, temos dois ou mais egos brigando para vencer um argumento e, quando vencemos, o nosso ego chega brilha de felicidade.

Mas desafiar as próprias crenças é bem mais complexo.

Curtir aquilo que você vê nas redes sociais e concorda, dá uma massageada no ego e traz um senso de pertencimento, comunidade e identificação.

O desafio é encontrar algo com o qual não concorda e ter a coragem de considerar. Parar por um momento e refletir para descobrir se daí surge algo novo.

Estudos apontam (referências ao final) que passamos pelo menos 3 horas por dia nas mídias sociais e esse número aumenta a cada ano.

Pera… Mas o que isso tem a ver com ego, crenças e pensar?

TUDO.

Vamos fazer uma pausa para entender melhor o que isso significa.

Nossa presença na Internet é mediada em boa parte pelas redes sociais.

Nelas, criamos identidades, avatares que representam aquilo em que acreditamos.

É muito comum esses avatares serem representações de quem achamos que somos ou desejamos ser, um ideal de imagem e comportamento que perseguimos.

E, diante desse conteúdo, nossa faculdade crítica é naturalmente reduzida.

Quando afirmo que a nossa presença na Internet é mediada pelas redes sociais, significa que tudo aquilo que produzimos NÃO chega à quem nos interessa.

Chega a quem interessa à rede social. E o contrário também acontece. O conteúdo que chega para você é escolhido pelos interesses das redes sociais.

Além disso, toda rede social é construída em torno de uma mecânica de engajamento.

Quem gosta de algo, curte, compartilha e segue. Quem não gosta, comenta e engaja. Já percebeu aonde quero chegar?

Todos aqueles que interagem com o nosso conteúdo e concordam com a gente ampliam a nossa identidade que foi criada PARA as redes sociais. Reforçam aquele avatar que criamos e que é a nossa própria representação do ideal.

Boa parte daqueles que discordam também interagem com o nosso conteúdo… Mas consideramos qualquer discordância um ataque à identidade criada.

Somos tão preconceituosos que qualquer conteúdo nas redes sociais já é precedido de uma concordância ou discordância, baseada na identidade de quem o produz, antes até de lermos ou entendermos o que a pessoa disse.

Em qualquer um dos casos, as redes sociais saem ganhando, porque o engajamento foi gerado.

O efeito colateral disso é que temos ou o reforço do ego ou um ataque à identidade e pouquíssimo espaço para um debate no nível das ideias.

De fato, debater ideias a partir de discordâncias nas redes sociais é praticamente impossível e o resultado, na grande maioria das vezes, são os ataques pessoais.

Agora que eu expliquei a mecânica das redes sociais pra você, voltemos ao tema do início.

Por que compartilhamos conteúdo com o qual nos identificamos?
Por que entramos em brigas na Internet?

O motivo é o mesmo.

Reforço na identidade e no ego, senso de comunidade e pertencimento. Procuramos aprovação mesmo quando discordarmos.

Pense comigo: é tão difícil assim perceber essa busca por aprovação, tanto quando concordamos quanto quando discordamos?

Ao compartilhar algo na Internet, buscamos por aprovação.

Ao discordar de alguém, atacamos a identidade do outro lado e também procuramos identificar quem concorda conosco e discorda do autor original.

Em ambos os casos, temos uma situação de ‘NÓS” e “ELES” e ocorre uma polarização em grupos.

Ou seja, termina sendo tudo sobre identidade, ego e pertencimento.

Antes de compartilhar qualquer coisa… Esqueça por um momento quem falou ou postou. Leia com atenção a mensagem e analise se há coerência nela.

Melhor, busque por evidências que apoiem ou não o que foi dito.

Se você não concordar com algo, faça a mesma coisa. Pergunte-se: discordo dessa mensagem por causa da pessoa que falou ou há alguma evidência contra ou a favor do conteúdo?

E agora estamos falando de evidências, não de opiniões.

Em ambos os casos, será que eu sou capaz de fazer um comentário que envolva APENAS o argumento usado? Será que eu consigo interagir com o conteúdo sem necessariamente formar uma opinião influenciado pela identidade de quem disse?

Será que eu tenho a coragem e sou capaz de validar meu próprio argumento através de evidências e correr o risco de ter que mudar de opinião?

Eu faço uma proposta a você: ao repostar algo que achou interessante ou interagir e comentar com algo que não concorde… Pense: quais crenças minhas estão atuando para concordar ou não com aquilo?

Em seguida, pergunte-se: existem evidências que suportem minhas crenças ou elas são alimentadas apenas pela minha opinião?

Se você quer chegar ao fundo de qualquer assunto, lembre-se: não se refuta evidências com opinião.

Se não quer chegar e apenas deseja reforçar seu ego… Então, tá tudo bem. Mas entenda que é isso o que está acontecendo. De repente, é essa a intenção mesmo.


Referências:

Mais Ou Menos 150
https://rmcholewa.com/2018/03/10/mais-ou-menos-150/

A Realidade dos Avatares
https://rmcholewa.com/2020/10/23/a-realidade-dos-avatares/

Crenças, Verdade e Identidade
https://rmcholewa.com/2021/02/05/crencas-verdade-e-identidade/

As Cômodas Caixinhas Estereotípicas
https://rmcholewa.com/2021/02/14/as-comodas-caixinhas-estereotipicas/

Identidade, Crenças e Equilíbrio Emocional
https://rmcholewa.com/2020/07/18/identidade-crencas-e-equilibrio-emocional/

How Much Time Do People Spend on Social Media?
https://review42.com/resources/how-much-time-do-people-spend-on-social-media/

Americans Flock to Social Media as They Start to Feel the Impacts of COVID-19 More Closely
https://www.ipsos.com/en-us/knowledge/new-services/Americans-Flock-to-Social-Media

Asch, Solomon: “Effects of Group Pressure on the Modification and Distortion of Judgements” [Artigo] // Groups, Leadership and Men / ed. Guetzkow Harold Steere. – [s.l.]: Carnegie Press, 1951. – pp. 177-190;

Hou, Youbo [et al.]: “Social media addiction: Its impact, mediation, and intervention” [Online] //Researchgate. – Fevereiro de 2019. – Acesso em 03 de abril de 2021. – DOI: 10.5817/CP2019-1-4

Hill, Russel; Dunbar, Robin: “Social Network Size in Humans” [Online] // PubMed. – Março de 2003. – 22 de 06 de 2018. – https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26189988;

McCarthy-Jones, Simon: “Social Networking Sites May be Controlling Your Mind – Here’s How to Take Charge” [Online] // The Conversation. – 05 de 12 de 2017. – 02 de 09 de 2018. – https://theconversation.com/social-networking-sites-may-be-controlling-your-mind-heres-how-to-take-charge-88516 ;

Wilson Brent, Gale: “Constructivist Learning Environments: Case Studies in Instructional Design” [Livro]. – [s.l.] : Educational Technology Publications, 1998. – Segunda edição;

Snyder, Mark: “Public Appearances, Private Realities: The Psychology of Self-monitoring” [Livro]. – Nova Iorque : W. H. Freeman and Company, 1987;

Livros:
O Ego É Seu Inimigo, Ryan Holiday: https://amzn.to/3eb4BcJ
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Créditos de imagem: Shutterstock em https://revistaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2017/05/shutterstock_548868466.jpg

A GRANDE CONFUSÃO SOBRE LIDERANÇA

[O vídeo original está disponível em lider.oguiatardio.com]

O conceito de liderança servidora tem mais de 50 anos e é aceito como um modelo eficaz, amplamente difundido até em best-sellers conhecidíssimos como O Monge e o Executivo, fazendo parte inseparável das pautas de gestão e administração.

Entretanto, medimos e recompensamos comportamentos que vão na direção contrária ao ideal, criando um ecossistema prático tóxico e bem distante da teoria.

Conteúdo Adicional

Artigos:

Punição e Recompensa
https://rmcholewa.com/2019/07/08/punicao-e-recompensa/

Das Métricas e Metas às Pessoas
https://rmcholewa.com/2017/09/13/das-metricas-e-metas-as-pessoas/

Vídeos:

Dan Pink e a surpreendente ciência da motivação
https://www.youtube.com/watch?v=rrkrvAUbU9Y

There’s NO Such Thing as “Soft Skills” | Simon Sinek
https://www.youtube.com/watch?v=o9uzJ0LgvT0

The Most Important Trait of a Leader | Simon Sinek
https://www.youtube.com/watch?v=eKQSLgtNcVo

Referências:

Ordonez, Lisa D.; Schweitzer, Maurice E.; Galinsky, Adam D.; Bazerman, Max H.: “Goals Gone Wild: The Systematic Side Effects of Over-Prescribing Goal Setting”. Harvard Business School NOM Unit Working Paper n. 09-083 [Online] // janeiro de 2009. Acesso em 08 de abril de 2021. DOI: 10.2139/ssrn.1332071

Sendjaya, Sen; Sarros, James C.: “Servant Leadership: Its Origin, Development, and Application in Organizations”. Journal of Leadership & Organizational Studies. 9 (2): 57–64. // setembro de 2002. doi:10.1177/107179190200900205

Suvorov, Anton: “Addiction to Rewards” [Online] // junho de 2013. Acesso em 09 de abril de 2021. DOI: 10.2139/ssrn.2308624

Livros:

O Monge e o Executivo, James C. Hunter: https://amzn.to/39XRVqm
Motivação 3.0, Daniel Pink: https://amzn.to/3uFHuQ8
Sociedade do Cansaço Byung-Chul Han https://amzn.to/38xRGSo
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Romulo é um autodidata. Começou a lidar com tecnologia aos 16 anos e, ao longo da carreira, teve a oportunidade de conhecer profundamente cada aspecto da área e, curiosamente, da natureza humana. Diante de uma crise mundial no setor, conheceu o desemprego aos 25 anos.

Durante três anos, frequentou a melhor escola: não é à toa que dizem que a necessidade é a maior de todas elas. Aprendeu muito com a vida a partir daí, até mudar de vida: entendeu que o melhor caminho para a felicidade existencial é a prática da ressignificação, a humildade e que o fracasso é um mecanismo natural do ser humano para evoluir.

Enfrentar a depressão diversas vezes e lutar por saúde mental mostrou que o nosso maior adversário… somos nós mesmos. Vencê-la ensinou, dentre tantas coisas, que a maior realização que o ser humano pode alcançar é ver o próximo crescer. É ver, acima de tudo, o próximo brilhar, superar-se e não há melhor tratamento do que doar-se.

Hoje, como Master Practitioner em programação neurolinguística (PNL), atua na área de tecnologia da informação, vendas e tem como hobby ler, escrever e estudar sobre autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e humano, motivação, mindset, coaching, liderança e alta performance.

Informações de Produção
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REDES SOCIAIS: AUSÊNCIA DE SENSO CRÍTICO E REFORÇO DO EGO?

[O vídeo original está disponível em sensocritico.oguiatardio.com]

Já se deu conta de que quando você reposta algo na Internet ou entra em uma #discussão, está apenas reforçando o ego e cultivando um senso de #pertencimento bem longe do #pensamento crítico?

Ao repostar o que achou interessante ou interagir e comentar com algo que não concorde… Pense: quais #crenças minhas estão atuando para concordar ou não com aquilo?

Em seguida, pergunte-se: existem #evidências que suportem minhas crenças ou elas são alimentadas apenas pela #opinião totalmente enraizada na minha identidade?

Será que eu tenho a #coragem e sou capaz de validar meu próprio argumento através de evidências, correndo o risco de mudar de opinião?

Se você quer chegar ao fundo de qualquer assunto, lembre-se: não se refuta evidências com opinião.

Se não quer chegar e apenas deseja reforçar seu ego… Então, tá tudo bem. Mas entenda que é isso o que está acontecendo. Talvez seja essa a intenção mesmo.

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Referências:

Mais Ou Menos 150
https://rmcholewa.com/2018/03/10/mais-ou-menos-150/

A Realidade dos Avatares
https://rmcholewa.com/2020/10/23/a-realidade-dos-avatares/

Crenças, Verdade e Identidade
https://rmcholewa.com/2021/02/05/crencas-verdade-e-identidade/

As Cômodas Caixinhas Estereotípicas
https://rmcholewa.com/2021/02/14/as-comodas-caixinhas-estereotipicas/

Identidade, Crenças e Equilíbrio Emocional
https://rmcholewa.com/2020/07/18/identidade-crencas-e-equilibrio-emocional/

How Much Time Do People Spend on Social Media?
https://review42.com/resources/how-much-time-do-people-spend-on-social-media/

Americans Flock to Social Media as They Start to Feel the Impacts of COVID-19 More Closely
https://www.ipsos.com/en-us/knowledge/new-services/Americans-Flock-to-Social-Media

Asch, Solomon: “Effects of Group Pressure on the Modification and Distortion of Judgements” [Artigo] // Groups, Leadership and Men / ed. Guetzkow Harold Steere. – [s.l.]: Carnegie Press, 1951. – pp. 177-190;

Hou, Youbo et al.: “Social media addiction: Its impact, mediation, and intervention” [Online] //Researchgate. – Fevereiro de 2019. – Acesso em 03 de abril de 2021. – DOI: 10.5817/CP2019-1-4

Hill, Russel; Dunbar, Robin: “Social Network Size in Humans” [Online] // PubMed. – Março de 2003. – 22 de 06 de 2018. – https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26189988;

McCarthy-Jones, Simon: “Social Networking Sites May be Controlling Your Mind – Here’s How to Take Charge” [Online] // The Conversation. – 05 de 12 de 2017. – 02 de 09 de 2018. – https://theconversation.com/social-networking-sites-may-be-controlling-your-mind-heres-how-to-take-charge-88516 ;

Wilson Brent, Gale: “Constructivist Learning Environments: Case Studies in Instructional Design” [Livro]. – [s.l.] : Educational Technology Publications, 1998. – Segunda edição;

Snyder, Mark: “Public Appearances, Private Realities: The Psychology of Self-monitoring” [Livro]. – Nova Iorque : W. H. Freeman and Company, 1987;

Livros:
O Ego É Seu Inimigo, Ryan Holiday: https://amzn.to/3eb4BcJ
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Romulo é um autodidata. Começou a lidar com tecnologia aos 16 anos e, ao longo da carreira, teve a oportunidade de conhecer profundamente cada aspecto da área e, curiosamente, da natureza humana. Diante de uma crise mundial no setor, conheceu o desemprego aos 25 anos.

Durante três anos, frequentou a melhor escola: não é à toa que dizem que a necessidade é a maior de todas elas. Aprendeu muito com a vida a partir daí, até mudar de vida: entendeu que o melhor caminho para a felicidade existencial é a prática da ressignificação, a humildade e que o fracasso é um mecanismo natural do ser humano para evoluir.

Enfrentar a depressão diversas vezes e lutar por saúde mental mostrou que o nosso maior adversário… somos nós mesmos. Vencê-la ensinou, dentre tantas coisas, que a maior realização que o ser humano pode alcançar é ver o próximo crescer. É ver, acima de tudo, o próximo brilhar, superar-se e não há melhor tratamento do que doar-se.

Hoje, como Master Practitioner em programação neurolinguística (PNL), atua na área de tecnologia da informação, vendas e tem como hobby ler, escrever e estudar sobre autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e humano, motivação, mindset, coaching, liderança e alta performance.

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Crenças, Verdade e Identidade

Quem procura verdades absolutas talvez procure por estabilidade.

Serenidade, tranquilidade, paz.

Ou a segurança de reafirmar o próprio ego, apoiado em crenças irredutíveis.

Tudo do que menos temos.

Não é porque vivemos tempos especialmente difíceis.

Não é porque o mundo está pior do que era.

É porque a mudança é a única coisa que faz parte da vida de qualquer ser vivo.

Aliás, faz parte de qualquer coisa que você já tenha imaginado, esteja imaginando e possa um dia sequer imaginar.

Perceba que pensamento forte.

Tudo muda.

E é exatamente por isso que verdades absolutas não existem.

Se você baseia a sua existência em verdades absolutas, ou arrumará muita confusão ou quebrará a cara (o que, de certa forma, não deixa de ser confusão).

É preciso ir longe para compreender isso, mas é fácil.

Sim, é fácil.

História.

Não importa se você não acredita em parte dela.

Basta entender como as coisas mudam.

Quanto mais para o passado, mais mudanças.

Agora, voltemos ao ego.

O meu, o seu, o nosso, construído sobre as crenças que apoiam as verdades absolutas, para muitos.

É, existe uma relação direta entre essas mesmas verdades e o nosso ego, a nossa própria identidade.

Elas são construídas sobre as mesmas crenças.

E faz todo sentido não querer mexer nelas.

Mexer em crenças profundas pode transformar quem somos.

Pense em como isso pode ser um paraíso ou um inferno, dependendo da pessoa.

Pode ser o caminho para o crescimento, mas pode ser também a destruição da identidade.

Então uma pergunta válida passa a ser: o que o ser humano é capaz de fazer para proteger a própria identidade em destruição?

Quão longe alguém pode ir para defender com unhas e dentes aquelas crenças que servem de alicerce para quem achar ser?

Quantas percepções de autoridade são construídas em cima dessas crenças e, pior, quantos argumentos vencidos pelo poder resultante da atribuição da mesma autoridade?

Quantas pessoas recusam-se a mudar por acreditar que qualquer argumento discordante é um ataque pessoal?

Em uma época de teorias da conspiração e fakenews, só o fato de entender esse fluxo é o suficiente para compreender o próximo e relacionar-se melhor.

Mas a resistência será enorme. Em um mundo de redes sociais que exacerbam o ego, cada vez mais classificamos a nós mesmos e aos outros em caixinhas.

Esse texto continua.

 

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Sucesso e a Epidemia de Escassez

Este texto foi publicado em vídeo no canal do Youtube. Para assistir, clique aqui.

Se você entrar em uma livraria hoje encontrará muitos livros sobre sucesso, especialmente dizendo o que é e como chegar lá.

É muito confortável cair na tentação de seguir um roteiro que já foi supostamente testado sobre como chegar ao sucesso.

Mas é bem mais desafiador olhar para dentro de si e descobrir o que é sucesso para nós mesmos e entender que cada um de nós tem a sua própria jornada.

Como se não bastasse, a sociedade, o trabalho, nossos amigos e familiares têm suas próprias definições padronizadas e existe uma associação bem direta entre cumprir metas, objetivos e como alcançar o sucesso.

Imagine: trocar o conhecido, aquilo que dá uma definição clara e mostra um caminho, versus enfrentar o desconforto do desconhecido de não saber.

Aliás, existem inúmeras definições de como “não falhar” e esconder os erros são a receita para a felicidade.

Na prática, é assim que a sociedade funciona, seja em casa ou no trabalho e esse conceito de jornada para o sucesso não poderia estar mais longe da realidade.

Para cada sucesso, existem inúmeros fracassos… E escondemos os fracassos: temos vergonha deles.

Perceba o movimento aqui.

A associação do conceito de sucesso à expectativas externas, a metas e objetivos externos.

E isso gera uma verdadeira epidemia de vazio e escassez.

O conceito prático de sucesso atual gera uma onda de tristeza e depressão porque o sucesso é externo. Vem de fora.

Cada vez que prestamos atenção a um discurso que tenta nos ensinar o que é sucesso e como alcançá-lo, estimulamos essa epidemia de escassez, olhamos para fora, esquecendo o que vai dentro da gente, lugar onde o real sucesso mora. Isso nos afasta cada vez mais da felicidade e da realização.

Eu fiz uma enquete nas redes sociais sobre o quê as pessoas entendem por sucesso, em uma frase.

As respostas variaram muito, desde a sintonia entre valores, propósito, ajudar as pessoas, até o dinheiro, passando por coisas como ser bem sucedido.

Agora, veja que curioso: apenas QUATRO pessoas disseram que o sucesso vem de dentro da gente e usaram uma metalinguagem compatível.

Ou seja, mesmo considerando questões internas como valores e propósito, apenas quatro respostas NÃO relacionaram esses fatores como dependentes direta ou indiretamente de fatores externos.

Não importa a definição de sucesso que tenha. O que realmente importa é se essa definição vem de dentro para fora ou se é algo de fora para dentro, porque é exatamente daqui que surge a epidemia de escassez, quando seguimos receitas e ideais externos apenas.

Para entender melhor essa questão, veja esse vídeo (clicando aqui) sobre felicidade material, contextual e existencial.

Não existe uma única definição de sucesso dada na enquete que não esteja adequada… porque ela deve ser individual e tá tudo bem.

O ponto é que quando abrimos mão de um conceito de sucesso próprio e abraçamos as expectativas do externo, promovemos potencialmente o desalinhamento com quem somos.

Passamos a buscar um estado idealizado pelos outros, pela sociedade e iniciamos uma corrida para querer sempre mais sucesso, sem nem saber direito o que ele significa para nós, com o terrível efeito colateral de estar sujeito a sermos manipulados pelas necessidades dos outros em favor das nossas próprias necessidades.

Aqui, abro um parêntese.

Em 2001, enfrentei dificuldades consideráveis diante do desemprego.

Uma crise de depressão que durou 3 anos e uma sensação de incompetência gigantesca.

Talvez uma das coisas que mais contribuiram para esse estado foi não poder acolher as pessoas que dependiam de mim.

E quando falo sobre isso, penso logo no sucesso e no seu antagônico clássico: o fracasso ou percepção de fracasso.

Sentia-me um inútil e, apesar de conseguir sair daquela primeira crise, apenas há pouco tempo comecei a perceber o sucesso de forma diferente.

Na verdade, comecei a percebê-los, porque só enxergava as falhas.

Considerava-me um fracasso por não atender às expectativas que eu achava que estavam depositadas em mim.

Hoje, eu olho para o passado e reconheço, como um tremendo sucesso, ter superado a depressão várias vezes.

Curioso que, ao longo dos últimos 20 anos, passei por outras crises, recebi alta e meu conceito de sucesso permaneceu o mesmo.

Sempre com foco nos fracassos ou nos conceitos de sucesso que percebia da sociedade, principalmente aqueles focados no material.

Durante tanto tempo não percebia como sucesso a superação, a reconstrução da minha carreira profissional, o alinhamento entre as minhas ações e os meus valores, o livro que publiquei, esse canal no youtube, o blog, tantos prêmios que recebi ao longo da carreira e tantos reconhecimentos, justamente por fazer aquilo que eu acho que está sintonizado com os meus valores.

Durante tanto tempo eu percebi a felicidade como obtenção do sucesso e o sucesso apenas como atingir metas, ganhar dinheiro para ter coisas, comer bem, tomar um vinho, me divertir com os amigos e eventualmente ser aplaudido.

Agora, sabe porque decidi fazer esse vídeo?

Semana passada fui caminhar cedo na praia… E vi uma praia totalmente seca… consegui andar na areia até os arrecifes sem molhar os pés.

De lá, vi o mar, vi as pedras… Vi peixes… Varas de pescar… Senti o vento forte, o cheiro de mar, o som das ondas… Dei meia volta, olhei para os prédios e pensei:

Isso é sucesso.

Foi uma das sensações de sucesso mais fortes dos últimos anos.

Então, faço um convite: que tal pensar um pouco mais sobre o que é felicidade, realização e sucesso pra você, mas com o desafio adicional de pensar nos três SEM ser algo externo, sem condicionar ao que esperam de você… Sendo algo partindo de dentro do seu peito, de dentro de você sem depender de nada ou de ninguém.

Eu tenho a certeza de que ficará surpreso e verá que você experimenta muito mais sucessos do que imagina.

Talvez a gestão das expectativas, as próprias e as dos outros, seja o fator mais importante para a felicidade, a realização e o sucesso.

Muita gente acha que o sucesso é feito uma poupança onde a gente deposita dor e sofrimento para colher juros mais pra frente.

Culturalmente somos levados a crer que não há sucesso sem dor e sofrimento e não consigo pensar em coisa mais distante do bem-estar.

O sucesso pode ser encontrado em pequenas coisas do dia a dia.

Aliás, se você conseguir encontrar sucesso nas pequenas coisas do dia a dia, a felicidade e a realização certamente lhe farão companhia.

Sucesso é uma descoberta de autoconhecimento, totalmente relativa, individual e muda assim como a vida.

Não confunda metas e objetivos com sucesso. É muito comum que o lado profissional queira que a confusão ocorra simplesmente porque isso é favorável aos interesses alheios.

É assim que nós somos transformados em números.

Você deve estar se perguntando… Então perseguir metas e objetivos não é sucesso?

Eu não vou dizer o que é sucesso e acredito que ninguém pode fazer isso. Você tem que descobrir o que é sucesso pra você e se isso é compatível com quem é.

Preste bastante atenção: depende de como reconhece o objetivo a ser alcançado.

Se for imposto e não idealizado em conjunto, sem estar sintonizado com quem somos, uma descoberta que deve acontecer antes, você pode estar indo numa direção que não trará nem felicidade nem sucesso.

E é por isso que é tão conveniente achar que sucesso depende de dor e sofrimento. Quando buscamos metas e objetivos desalinhados e fora de sintonia com nós mesmos, passamos a achar que o sacrifício de hoje é a felicidade de amanhã.

Se você pensar bem, perceberá que faz muito sentido.

Veja por exemplo este gráfico que trago no meu livro, explicado em detalhes. Perceba que ele não fala sobre o que é sucesso, apenas ajuda a classificá-lo:

Quanto mais a percepção de sucesso estiver atrelada ao material, mais ele estará relacionado ao ego coloquial e mais rápido ele desaparece, como um vício, uma droga…

Quanto mais essa percepção estiver associada ao todo e ao altruísmo, mais duradoura será sensação de sucesso, maior será a contribuição, a cooperação e as sensações de felicidade e realização.

Uma mesma situação na vida da gente pode ser percebida em qualquer lugar do gráfico, ou seja, como sucesso material, contextual ou existencial.

Darei um exemplo prático.

Em 2017, atuava como consultor na área de vendas para uma multinacional de tecnologia. Participei de um projeto para o governo de um estado aqui no Brasil, onde foi possivel economizar milhões em aquisições.

Por esse projeto e como parte do meu trabalho, eu fui remunerado e recebi uma comissão.

Eu poderia ter olhado para esse projeto apenas pelo aspecto financeiro, o que seria qualificado como sucesso material.

Mas o meu trabalho foi reconhecido e eu ganhei um prêmio por causa dele. A sensação de reconhecimento é fantástica.

Mas ao longo do tempo, enquanto o projeto era executado, eu percebi também o quanto a economia trazida beneficiou a população de uma forma geral.

A economia viabilizada pôde ser empregada em outros projetos de cunho social e isso está diretamente sintonizado com o propósito de ajudar as pessoas.

Veja como uma mesma situação, um mesmo evento gerador, pode ser percebido de diversas formas.

Se for percebido apenas como sucesso material, a sensação duraria pouco tempo.

Se usando a ótica do reconhecimento, talvez um pouco mais… Faria apenas bem ao meu ego.

Mas 3 anos após a venda do projeto, ainda sinto o bem estar de ter contribuído para algo maior.

Quero finalizar deixando as perguntas:

Quantas vezes perseguiu metas e objetivos e analisou se eles estão de acordo com quem é, com os seus valores e com o quê acredita?

Quantas vezes trabalhou para que o sucesso de fato seja uma contribuição para algo maior?

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Identidade, Crenças e Equilíbrio Emocional

O assunto abaixo é abordado no livro “O Guia Tardio”, já disponível.


Em junho, fui convidado para uma live sobre comunicação.

O vídeo não ficou salvo, mas fiz outro sobre o mesmo tema que pode ser visto clicando aqui.

Lá, levantei uma questão importantíssima acerca dos requisitos para uma excelente comunicação interpessoal: um paralelo entre identidades, crenças e argumentação, assunto para o qual dediquei um capítulo inteiro do meu livro.

A inteligência emocional (que também mereceu um capítulo específico no livro, assim como o ego) é um tema que anda bem na moda há mais de 20 anos.

Nas últimas semanas, pensei bastante a respeito da íntima relação dela com a comunicação, crenças e à argumentação em si.

Eu proponho uma reflexão sobre o tema que transcende o papo motivacional e da autoajuda.

Em primeiro lugar, é importante falarmos um pouco sobre a pirâmide da discordância de Graham. Não entrarei em detalhes – sugiro que veja primeiro o vídeo sobre o assunto.

Percebam que no topo da pirâmide temos o foco nas ideias. Na base dela, o foco na identidade, no ego coloquial.

Enquanto no topo o foco é o argumento central da comunicação, na base o foco está na desqualificação do comunicador e até a agressão.

Em segundo lugar, trago o desafio de manter-se no topo da pirâmide.

Uma opinião é normalmente resultado de quem somos, do conjunto de crenças que carregamos e potencialmente ligado às identidades que temos. Surge daí o conflito entre indivíduos e a tendência de levar o debate naturalmente para as camadas mais baixas da pirâmide.

Quando ouvimos um argumento contrário, nossos viéses cognitivos carregam a comunicação ao nível do desafio à própria identidade, afinal, a nossa opinião é fundamentada em nossas crenças que são, por sua vez, os tijolos que constróem as nossas identidades.

Quando as crenças estão alinhadas entre indivíduos, as opiniões seguem e as emoções resultantes são naturalmente positivas, como a realização, a felicidade, a autoafirmação e a comunhão.

Mas quando as opiniões são divergentes, surge o conflito, assim como as reações emocionais limitantes e negativas, como a raiva, a tristeza e o medo. Se forem fortes o suficiente, podem ativar o nosso instinto de sobrevivência e provocar a entrada em um estado de luta ou fuga.

Contudo, sem o conflito não há evolução.

Em terceiro, exploremos um pouco o conceito de inteligência emocional: a habilidade de reconhecer as próprias emoções, a capacidade de regular as emoções apropriadamente, a de auxiliar os outros nessa tarefa e a habilidade de usar as emoções adequadamente no dia a dia para resolver problemas, conflitos e até ajudar em questões como o pensamento criativo, motivação e empoderamento.

Para ajudar no entendimento do conceito de inteligência emocional e a relação com os demais temas trazidos até aqui, observe este gráfico:

 

Diante do estímulo da comunicação (verbal ou não-verbal) à esquerda, em até dois segundos, temos as reações mais ligadas ao emocional. Com o passar dos segundos, mais temos o resgate do estímulo para o consciente e a capacidade de interpretá-lo racionalmente.

Essa questão é tão importante que analistas comportamentais de linguagem corporal buscam exatamente por essas reações para julgar se somos congruentes (meta-comunicação e conteúdo compatíveis).

Em quarto, abordemos a questão do ego coloquial, da adaptabilidade e da empatia.

Há um monte de interpretações sobre o que significa “ego” e normalmente o debate surge sem fazer referência a qual definição ele está associado, gerando uma confusão danada.

Portanto, antes de prosseguirmos, vamos combinar qual usaremos:

  1. Etimologicamente, ego vem do latim e significa simplesmente eu;
  2. Já a alusão filosófica aponta de uma forma geral para o eu que somos ou a nossa personalidade. Particularmente credito a esse eu a nossa autoestima que, na minha opinião, é o efeito colateral do autoconhecimento, salvo as psicopatologias.
    Ela também pode representar a separação que existe entre nós, dada a unicidade característica da nossa individualidade. O eu que nos define únicos e que nos separa como consequência;
  3. Sigmund Freud, ao idealizar a teoria do modelo psíquico, instituiu três elementos que ajudam a regular o nosso comportamento. De forma altamente simplista, temos o “id”, que representa nossos impulsos; temos o “ego”, que representa nossa racionalidade e o “superego”, que representa nossa moral;
  4. E ainda existe o conceito de ego que é coloquial, popular, ligado ao culto a si próprio, associado a termos como egolatria e egocentrismo. Este é o conceito que trataremos aqui.

No primeiro e no segundo casos é totalmente compreensível e aceito que o ego exista sob tais conotações. Ele apenas representa quem é, a sua personalidade exclusiva e a sua individualidade, características que fazem de você um ser único (fantástico que assim seja!).

Conhecer a si mesmo permite a construção da própria autoestima que, antes de mais nada, representa o respeito e o amor que temos por nós mesmos e, em segunda instância, a ideia calibrada de nossas capacidades e habilidades, o que gera confiança e crenças possibilitadoras. Quando essa “calibração” não existe, o ego do quarto tipo, indesejado e coloquial, surge.

No terceiro caso não é uma questão de bom ou ruim – trata-se de uma definição, de um conceito usado na psicanálise.

No entanto, no quarto e último significado temos justamente o nosso alvo. Falho em achar algo positivo acerca dele e não consigo imaginar algo possibilitador que possa ser proveniente de se instigar esse ego em específico.

Há quem afirme que um pouco de ego é necessário para que se tenha autoconfiança, motivação, energia e garra para seguir em frente, argumento que só faz sentido se for referente ao primeiro e ao segundo conceitos. Eu particularmente acredito que, ao invés de fomentar o ego, a humildade seja uma espiral positiva mais adequada.

Ser questionado (o que na cabeça do egocêntrico significa que estamos colocando à prova o que ele sabe) passa a ser um desrespeito capital.

A autoestima vira ego quando não nos conhecemos e quando nossa percepção do eu não está calibrada (ou está depositada numa representação externa de ser, como no ter, por exemplo).

Em outras palavras, o egocêntrico dificilmente consegue adaptar-se, muito menos ser empático.

Agora, finalizando os conceitos, permitam-me falar um pouco sobre a psicologia envolvendo a conotação de mindset.

Como o ego distorce a realidade, um dos seus efeitos é provocar no egocêntrico a justificativa de que está apenas sendo “realista” quanto às suas capacidades, deliberações e ganhos.

Pessoas egocêntricas vivem em mundos particulares. O egocêntrico acredita ter o “dom”, a habilidade nata para determinadas tarefas, alguém que verdadeiramente acredita ser o melhor e, fatalmente, há muito tempo longe da posição de aprendiz, eliminando qualquer convívio, mesmo que remoto, com algum traço de humildade.

Ter o aprendizado como meta e, aí sim, um hábito super saudável, questionar o status quo e aceitar a mudança (mesmo que isso inclua atritos, dor e eventualmente sofrimento), são grandes evidências da presença na zona de evolução existencial, comportamento que aponta na direção do mindset de crescimento (Dweck, 2017). Você pode também encontrar referências para esse comportamento como mindset produtivo (Stark, 2004).

Não desejar aprender, manter o status quo, achar que sabe tudo, não aceitar a mudança e usar frases como “eu sou assim mesmo e nunca mudarei” são fortes indicativos de estagnação existencial. Típico comportamento do mindset fixo (Dweck, 2017) ou mindset defensivo (Stark, 2004).

O ponto aqui é a resistência à mudança e a característica natural que a acompanha de não aceitar bem a opinião de alguém. Uma consequência direta de achar que se sabe de tudo é ficar totalmente fechado ao aprender e isso tem uma profunda ligação com o ego.

  • Mindset fixo = zona de estagnação = vítima = ego
    Mentalidade = “eu sei de tudo”. “Sou assim mesmo e não vou mudar”
    Passivo, “o mundo me serve”, “eu basto”
    Se eu chego ao sucesso é porque eu sou bom naturalmente. Tenho o “dom”, nasci assim
    Se eu não chego ao sucesso, é culpa do externo, culpa dos outros ou das circunstâncias (e nunca minha), afinal, eu tenho o “dom”
    Sou incompreendido e injustiçado
  • Mindset de crescimento = zona de evolução = protagonista = humildade
    Mentalidade = “eu não sei, mas posso aprender”. “Mudanças são bem-vindas”
    Ativo, “eu vou atrás do que preciso”, “sou um eterno aprendiz”, “peço ajuda”
    Se eu chego ao sucesso é porque me empenhei, porque fiz acontecer e porque aprendi o que foi necessário
    Se eu não chego ao sucesso, devo analisar o que ocorreu e aprender, colher feedbacks, reagrupar, mudar a estratégia, me esforçar mais, pedir ajuda
    Eu posso

Se você chegou até aqui, brindá-lo-ei com uma conclusão rápida e simples.

Você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com inteligência e equilíbro emocional?

Perceba como há uma relação íntima entre todos eles.

Pessoas egóicas agarram-se as suas crenças e, cosequentemente, as suas opiniões. O desafio de focar em ideias, adaptar-se, aprender e aceitar o conjunto que encerra o próximo (emoções, sentimentos e ações) é praticamente impossível de realizar.

Ou seja, egocêntricos são praticamente incapazes de atuar nos 3 níveis mais altos da pirâmide da discordância de Graham.

Colocando de outra forma, inteligência e equilíbrio emocional estão totalmente ligados à aceitação e entendimento do próximo (empatia) e são incompatíveis com cultos à identidade, pois quaisquer discordâncias estarão associadas irremediavelmente à identidade do egocêntrico.

O egóico percebe invariavelmente a opinião do outro como uma desqualificação de quem é.

Então, é plausível afirmar que, para ter inteligência emocional, é necessário adaptar-se, ater-se as ideias, deixar o ego de lado e permitir novos conceitos ao ponto de colocar as suas próprias crenças em jogo, mesmo que isso direta ou indiretamente vá contra uma das nossas identidades. Se a troca intelectual despertou questionamentos em você, está no caminho certo.

“Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante o teu direito de dizê-la.”
Evelyn Beatrice

 


Leitura recomendada:

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O texto acima contém trechos do livro “O Guia Tardio“.

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O Conflito Ego Versus Propósito

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Grandes egos e propósito são mutualmente excludentes.

Não há como ter os dois.

Não há como ser uma pessoa egoica, egoísta e ter um propósito.

Ela pode até ter objetivos em mente e chamar de propósito… mas uma pessoa com um grande ego não consegue servir sem ganhar nada em troca, nem voltar-se a um bem maior.

Quanto maior o ego, mais se afasta do propósito… ao ponto dele ficar tão distante que não mais será percebido. Nesse momento, ele será substituído por algo totalmente compatível com o ego: recursos materiais e conquistas tangíveis. Objetivos imediatistas. Jogo finito.

Suposta realização material, felicidade material e sucesso material, numa tentativa eterna de apaziguar as dores do seu verdadeiro eu, provocadas por vergonhas e vulnerabilidades que você oculta.

Um esforço incapaz… nunca se terá sucesso. Algo que só faz crescer o próprio ego e que nunca terá fim.

Já ouviu falar em empatia? Ela é onde tudo começa, aonde a jornada afastando-se do ego, em direção a um ou mais propósitos, tem origem.

Não estou falando de simpatia. Estou falando de empatia.

É fundamental perceber que a simpatia significa que você até pode ter sentimentos sobre a situação e as pessoas, mas não haverá o seu envolvimento e não há a compreensão do que o outro está sentindo totalmente.

Já a empatia está intimamente ligada a entender os sentimentos do outro sem julgar, a se envolver com a situação e a potencialmente se esforçar para ajudar. A construção da empatia causa uma tendência comportamental de ajuda ao próximo (Eisenberg & Miller, 1987) e essa herança comportamental, na minha opinião, é a cola da sociedade.

  • Simpatia = amenidades, palavras agradáveis e apaziguadoras
  • Empatia = colocar-se no lugar do outro. Envolver-se emocionalmente, compreender a perspectiva da outra parte potencialmente contribuindo, sem julgamentos.

Bebês de até dois anos não têm bem definidos a sua identidade e, até mais ou menos essa idade, eles reagem ao impacto emocional causado a outros bebês (Goleman, 2012). Ou seja, um bebê se identifica com o sentimento demonstrado por outro bebê como se fosse dele próprio.

Melhor, é comprovado que já nascemos com uma bússola moral (Hamlin & Wynn, 2011) e isso tem íntima ligação com a empatia.

Não é de se assustar que a ausência de empatia esteja ligada a distúrbios como sociopatias e psicopatias.

Além disso, a empatia pode levar a um comportamento agressivo (e faz todo sentido). Estou falando da reação de retaliação ou proteção ao notar que alguém por quem temos empatia está sofrendo de alguma forma. Podemos esboçar um comportamento desses  ao nos identificamos com uma vítima de alguma agressão ou sofrimento.

Essa reação está ligada, mais uma vez, ao nosso senso de justiça e moral. É plausível afirmar que a moral e a ética têm um pé na empatia (Hoffman M. , 2001), o que nos leva ao ponto seguinte:

A linha que liga a empatia ao nosso propósito, passando por nossos valores.

Essa linha tem nome: altruísmo.

Talvez a colocação que melhor resuma a empatia seja afirmar que ela surge quando a emoção, o sentimento, a dor ou o sofrimento do outro é compreendido por nós, provocando o surgimento da necessidade de ajudar, nos fazendo agir em nome do próximo.

Isso não está enraizado dentro de nós porque é bonitinho.

É um sistema eficaz de sobrevivência.

Apesar disso, tem sempre alguém que vai dizer “que se dane ajudar os outros”. “Que se dane o altruísmo!”

Nosso corpo tem um mecanismo capaz de nos ligar uns aos outros simplesmente porque isso fez e faz sentido. Ao sermos seres sociais e nos ajudarmos mutualmente conseguimos uma vantagem frente às ameaças. Quanto mais usamos isso, mais nos treinamos a ter compaixão e sermos ainda mais altruístas (Weng, et al., 2013). Rapport e empatia não existem por acaso.

Ao nos ajudarmos mutualmente, nos importarmos uns com os outros e ao sermos seres sociais, conseguimos vencer os mais terríveis desafios ao longo dos milhões de anos.

Do mesmo jeito que o altruísmo surge da empatia, ele passa por nossos valores e chega ao nosso propósito influenciando-os de forma irreversível, como o magnetismo influencia o ponteiro de uma bússola.

Posso correr algum risco em afirmar isso, mas valores e propósito são como que a expressão de uma ordem cerebral mais alta do… altruísmo e da empatia.

Enquanto ambos fazem parte de algo mais irracional que evoluiu conosco (e se mostrou útil e eficaz até hoje, fazendo parte da nossa preservação e manutenção como espécie), com o desenvolvimento de funções cerebrais mais altas (consciência, raciocínio, pensamento e etc.) terminaram representados em valores e propósitos.

Valores positivos são aqueles compatíveis com a moral, a ética e, por consequência, um bom propósito tem a ver com servir aos outros e à sociedade. Quando tudo está alinhado, a mágica ocorre: ficamos ecológicos(*).

Quando a suposta missão está voltada para o eu e para o material, ela se torna egocentrismo e enchemos a nossa existência de incongruências.

Talvez agora deseje reler a primeira frase que compartilhei com você aqui e perceber que…

Ego = voltado para si
Propósito = voltado para o bem maior

Se o que você faz é construir carros elétricos, criar ou vender software, bicicletas ou casas, consertar encanamentos, apagar incêndios, limpar o chão, bater pregos, dar palestras ou cozinhar, como você percebe isso faz toda a diferença.

Pergunte-se: como posso considerar o que eu faço sob uma perspectiva que me permita ver como uma contribuição para um bem maior? Ao realizar essa consideração, consegue reparar no bem, na felicidade e satisfação que traz aos outros ao agir?

Você é palhaço no circo ou contribui diretamente para a felicidade das pessoas? Prescreve remédios ou salva vidas? Passa dietas / treinos ou é responsável pela qualidade de vida e longevidade de tantos? Defende leis ou contribui para uma sociedade mais justa? É funcionário público pela estabilidade ou desempenha um papel fundamental para o bem-estar da população? Faz cálculos estruturais ou auxilia na construção de nossa civilização sustentável? Escreve programas ou contribui para o funcionamento da sociedade moderna? Escreve livros ou ajuda as pessoas de forma inteligente, promovendo o autoconhecimento?

Em todos os casos acima… perceba como essas noções não combinam com o ego coloquial.

Surpreso como podemos encarar o que fazemos como algo para um bem maior?

Já ouvi tantas vezes perguntas em torno de “como lidar com o ego”, “descobrir propósito” e afins.

Dedico um capítulo inteiro do meu livro para falar de ego e outro de propósito.

Mas tem uma coisa simples (porém um desafio gigante) que pode ser feito de imediato e que leva à jornada do ego ao propósito.

Trabalhe a empatia. Seja empático. Importe-se. Envolva-se. Não julgue.

Resgate esse recurso que nasceu com você e que foi escondido por anos e anos de proteções e repressões da vergonha e da vulnerabilidade.

O resto virá.

QUer saber mais?

Dá uma olhada nesse vídeo.

Leituras recomendadas:


(*)Ecologia é um termo usado na PNL que representa o pertencimento do ser humano em um contexto de troca com a natureza e em harmonia com ambiente que o cerca. Indo além, obtemos a ecologia interna quando estamos alinhados: valores, propósito(s), pensamentos, emoções, sentimentos e ações compatíveis com quem somos.


Esse texto faz parte do livro “O Guia Tardio“.

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Pensamentos Com Vida Própria Pessoal Vida em Geral

Oi Ego, Prazer!

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Quando eu tinha meus vinte e poucos anos, o sentimento de achar que sabia de alguma coisa me visitava com frequência.

Mas a minha reação a ele era curiosa.

Eu achava que sabia mais do que a maioria.

Perceba o que esse pensamento representa.

Eu não achava que sabia demais. Não achava que sabia de tudo. Ah, eu não tinha essa “pretensão”!

“Existem dois tipos de egoístas. Aqueles que admitem e aqueles que não.”

Laurence Peter

O que eu fazia era muito pior.

Eu comparava.

Eu achava que era melhor do que a maioria. Que estava acima de algumas pessoas ou grupos. Não me achava o melhor, só o melhor dentro daqueles que me incomodavam.

E ainda me considerava “humilde” por pensar assim.

Ego, ego, ego.

Este “certo” (o meu) contra aquele “errado”. Esta realidade (a minha) contra aquele engano. A minha percepção factual (obviamente) contra aquelas opiniões.

Essa, basicamente, é a relação direta que existe entre ego e aprendizado.

De fato, quanto maior o ego, maior a resistência ao aprendizado. Portanto, por maior que seja o conhecimento de alguém em um dado momento, a única constante que temos no universo é a mudança… e se tudo muda, o que se sabe perde o valor se não sofrer manutenção.

Sim, o conhecimento evolui também. Tudo se transforma e se não evoluímos juntos, se não nos transformamos, atrofiamos.

Eu me dei conta de que não sei de nada há mais de quinze anos. Mas isso trazia um sentimento desagradável. O ego tentando sobreviver, fazendo de tudo para manter a sua (por que não dizer, “a minha”) existência!

Apenas recentemente eu consegui compreender algo fundamental. A oportunidade por trás do não saber.

Hoje, eu percebo essa situação como um pintor diante de uma tela limpa… um artesão diante de um motor e alguns quilos de barro.

Ele olha para as suas mãos e para as tintas… para o canvas, para o barro, pensa e sente que tem a liberdade de construir.

Tem a liberdade moldada por sua capacidade de sonhar.

Talvez um pouco de pretensão em achar ser um artista, mas todos temos esse potencial dentro de nós.

Aprender e desenvolver-se é mais ou menos a mesma coisa.

Sentir no fundo do peito que nada sei, hoje me traz uma percepção… uma sensação totalmente diferente.

E isso é maravilhoso! É gostoso… é perceber um universo de possibilidades… tantas estradas para trilhar, tantos caminhos para percorrer, tantas coisas para pensar, ser, fazer… tanta gente para conhecer, conversar, aprender!

Aprender… Às vezes, dá um friozinho na barriga. Eu já olhei para o caminho que fiz e cheguei a pensar… “nossa, perdi muito tempo com isso ou aquilo”…

Mas quem eu sou hoje não é perda de tempo.

Da unha encravada que eu tive há trinta anos até o livro que li essa semana trouxeram pedaços da minha existência.

Os eventos desde o meu nascimento até a última conversa que tive numa mesa de bar me trouxeram um enriquecimento gigantesco.

Às vezes, uma frase ouvida destrava todo um caminho de evolução… como uma represa que se abre, formando novamente um rio caudaloso extenso, trazendo vida por onde passa.

É exatamente assim que me sinto precisamente neste momento.

Com a sensação de que o presente é repleto de oportunidades e a matriz de um futuro extraordinário!


Leitura recomendada:

O Ego É Seu Inimigo, Ryan Holiday
Um Novo Mundo, Eckhart Tolle