Categorias
Pensamentos Com Vida Própria

Expectativas

Expectativas. Um manequim diante de um espelho representa essencialmente esse texto. Um alter ego projetado, idealizado e perseguido como objetivo existencial em um universo construído através de um padrão inalcançável.

Mas as respostas não estão fora, na projeção ou na jornada em busca desse efêmero. O exercer de uma existência externa fala muito mais sobre o ser e o estar do que qualquer alter ego.

Nos últimos 30 anos (ou até mais), a maior parte da autoajuda “nos ensinou” que conhecer a si e buscar dentro de nós é a chave para um eu evoluído (odeio essa proposição, passa a conotação e cultura de competição).

Quem é vegano, religioso, medita todos os dias ou faz yoga [insira outras práticas aqui] e se considera mais evoluído do que o próximo, não entendeu nada.

É a mesma coisa para humildade.

Quem se considera humilde, deixou de sê-lo.

Prefiro a busca pelo eu “diferente”.

Outro ponto: como conteúdo de autoajuda e suposta evolução, trata-se basicamente das expectativas de outros que aceitamos para nós como nossas achando que o que deu certo para alguém tem que dar certo para a gente também… e alguns autores dizem justamente que a chave para a felicidade é lidar com as expectativas de maneira adequada.

Uma percepção associada a autorresponsabilidade e a meritocracia, na maioria das vezes acompanhada de lemas como “se alguém já fez, você também pode fazer”, que traz outra questão: a comparação.

Confesso que falar que tudo que um ser humano consegue, eu também consigo, é uma ideia libertadora, apesar de nada realista.

Afirmar isso categoricamente e absolutamente é ignorar o mundo em que vivemos. É ingenuidade, é subjugar injustiças sociais, geo/políticas, culturais, posicionamento social, financeiro e tantas outras coisas.

Não é algo ruim. Só é. Mas é motivador em si.

Passa a ser negativo quando, junto com as expectativas, ignoramos nossas próprias fraquezas e fortalezas. Quando passamos a desejar ser iguais à manada sem considerar todo o resto. Quando projetamos uma idealização de existência inatingível e passamos a alimentar um monstro dentro de nós mesmos.

Proponho uma abordagem diferente.

Nossas limitações são insumo para um potencial danado.

Não que eu tenha idade para ser um atleta olímpico, astronauta ou cientista de foguetes, mas a ausência dessas possibilidades abre uma série de outras.

Somos animais sociais. Pertencer é forte em nós, porque nos ajuda a sobreviver no grande esquema das coisas. Portanto, pode ser necessário olhar para dentro e lidar também com as expectativas dos outros que internalizamos… mas não vejo como podemos dissociar os dois.

Aliás, mesmo em uma sociedade de cooperação, as hierarquias existem… e elas não existiriam sem julgamento e comparação, mesmo que nos remetamos aos primórdios da nossa existência como mamíferos, quando a força e a sobrevivência imediata eram critérios.

Diria até que o pertencimento é influenciado pela percepção de uma hierarquia validada socialmente e, se existe interesse numa movimentação horizontal ou vertical, existem julgamentos, expectativas e comparação fluindo para todos os lados.

Pode parecer que são ideias opostas, mas talvez o ideal esteja entre elas.

Como certa vez disse Bernardo de Chartres (atribuído a Isaac Newton):

“Se eu vi mais longe do que os outros,
é por estar sobre os ombros de gigantes.”

Ao combinar o que aprendemos de diferentes fontes, temos a oportunidade de criar novas ideias. Acho que é basicamente impossível começar do zero. Se levarmos em conta que nossas identidades são um conjunto de crenças, olhar para dentro já é uma busca baseada no passado.

Então, é possível desvincular tudo que nos foi dito para sermos? Isso não destruiria parte das nossas identidades de alguma forma? isso não destruiria nossa singularidade?

Existe uma equação de composição do self, do eu e da identidade em jogo para cada ser humano. Como bem coloca Yuval Harari, a nossa imaginação e a nossa capacidade para criar conceitos abstratos é nosso maior recurso.

Sendo assim, partindo do princípio de que o que criamos hoje só é possível diante de toda a criação anterior e há uma boa dose de expectativas na mesa, seja para empoderar ou limitar, resultados foram obtidos e influenciados a partir daí.

Lembro particularmente de algumas conversas com os meus pais, calçadas em expectativas.

Posso julgar o resultado alcançado, mas invariavelmente, não importando reconhecer se foi limitante ou incentivador, modificaram-me. Fazem parte da mecânica que me tornaram único, mesmo sabendo que expectativas rondando a moral e a ética são compartilhadas.

Aqui, entramos em um conceito mais complexo.

Temos sistemas sociais que transformaram o bem-estar em objetivos. Aquilo que pode ser alcançado através da obtenção do tangível, algo mensurável e que pode ser transacionado, vendido, comprado. Tenho dois vídeos que falam sobre isso, aqui e aqui.

Os objetivos foram massificados. Os ideais pasteurizados, as fôrmas da felicidade, do sucesso e do bem-estar onde todos nós nos moldamos para caber em favor de entender quem somos.

Mas o conceito de “todos” fomenta também expectativas igualmente pasteurizadas, incompatíveis com o que representamos: unicidade, individualidade, diferenças.

A força inexorável de quem está no topo da hierarquia propõe uma padronização de comportamentos que não explora a riqueza da unicidade, mas a força da massa para si.

Há um conjunto de expectativas de comportamentos que forçam o indivíduo e suas maiores atribuições ao conforme. O conforme é um reservatório potencial de energia e poder.

Vivemos em tempos de polarização absoluta, o que reduz tudo a dois lados, aumentando ainda mais esse reservatório de poder e perdendo autonomia sem percebermos.

Não somos assim… estamos sendo levados a uma realidade que não traduz a natureza humana.

E ela é poderosa juntamente por causa das diferenças… e não pela capacidade de sermos manipulados a seguir fórmulas de ideais de felicidade, sucesso e bem-estar, seja com expectativas ou não.

Eu acredito com todo o meu ser que a força advinda da manipulação das massas é bem inferior ao resultado da interação do diverso. A diversidade como fonte de criatividade, inovação e evolução é um reservatório de energia e poder muito maior.

A história está repleta de exemplos dessa natureza, quando pessoas exerceram a sua diversidade de forma cooperativa, permitindo essa interação e troca sem precedentes. Foram os episódios da nossa história onde houve maior evolução tecnológica, social e intelectual.

Mas para que isso ocorra, é necessário outro elemento fundamental: aceitação das mesmas diferenças, respeitadas as leis, a moral e a ética.

Quando a compreensão faz parte da equação, não temos limites.

Como humanidade, quando não só compreendermos isso, mas conseguirmos usar essa fonte gigantesca de energia, chegaremos a uma época de quase infinita prosperidade.

Essa é uma expectativa legal (talvez utópica) de ser ter.


Leitura adicional:

Por RMCholewa

Romulo começou a trabalhar como estagiário na área de informática aos 16 anos.

Teve a oportunidade de trabalhar com cada aspecto de tecnologia da informação, desde a implantação até a área comercial, passando pela pré-venda, consultoria, comunicação, segurança da informação e gestão de equipes espalhadas pelo território nacional.

Perdeu o emprego aos 25 e aprendeu muito com a vida a partir daí. Na verdade, aprendeu tanto que mudou de vida; entendeu da melhor forma o que é humildade e passou quinze anos reconstruindo seu lado profissional.

Lutou contra a depressão por vários anos e aprendeu ainda mais com isso.

Hoje, trabalha como diretor de negócios. Em paralelo, como Practitioner PNL e Coach, dedica-se a ler, escrever e estudar sobre desenvolvimento humano e afins.

Tem, como missão de vida, ajudar os outros de forma inteligente. Vencer a depressão ensinou, dentre tantas coisas, que a maior realização que o ser humano pode alcançar é ver o próximo crescer. É ver, acima de tudo, o próximo brilhar, superar-se e vencer.

Dê uma olhada no meu profile do Linkedin (Check my Linkedin profile):

https://www.linkedin.com/in/rmcholewa/

Deixe uma respostaCancelar resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.