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Lições

Para muitos, as lições abaixo farão sentido.

Para outros, parecerão apenas bom senso e, para alguma parcela, causarão incômodo, desconforto e talvez discordância e rejeição.

São coisas que aprendi ao longo da vida e muitas destas lições solidificaram-se nos anos recentes e, principalmente, de 2020 para cá.

Deixarei a lista aqui, mesmo assim. Será que tem coragem de ler até o fim?

Lá no final tenho uma surpresa para você, mas só vai funcionar se ler o texto antes:

Achar que o Universo nos deve alguma coisa é um dos exercícios e comportamentos mais egóicos que existem. Não somos o centro do Universo… somos menores do que grãos de areia no grande esquema das coisas;

Aprenda a separar aquilo que controla do que não controla. Aplique energia naquilo que controla;

Não existe poupança de dor e sofrimento, muito menos são moedas de investimento. Sofrer hoje não garante o futuro, do contrário o mundo seria um exemplo de igualdade e justiça. Em outras palavras, não existe mecanismo que recompense dor e sofrimento e tenho minhas dúvidas quanto ao esforço. Sim, muita coisa na vida depende de esforço, mas achar que TUDO depende de esforço torna você o peão perfeito no xadrez da vida;

Inteligência emocional não é sobre o controle das emoções. Ninguém controla as emoções. Elas são reações neurofisiológicas do nosso corpo que nos aproximam do bem-estar e nos afastam daquilo que potencialmente nos prejudica ou ameaça a nossa existência. Podemos, no máximo, aprender a reagir melhor quando elas ocorrem;

Não gerenciamos o tempo. Ele tem lastro absoluto. Gerenciamos prioridades e eventualmente, escolhas. E sim, tem muita gente na face da terra que precisa usar de 20 a 40% do seu tempo (talvez mais) em tarefas desumanas e voltadas à sobrevivência. Pense nisso;

Procrastinação é um sintoma, nunca uma causa. No momento atual de coaches afirmando que basta agir para resolver a questão, sugiro ver o vídeo e ler novamente: procrastinação é um sintoma, nunca uma causa;

Ter opções e poder escolher dentre elas não é liberdade se as opções forem previamente escolhidas para nós por alguém. Somos seres com o poder da imaginação, consciência e criatividade. Somos capazes de conceitos abstratos e de comunicá-los. Crie opções e oportunidades e não se limite as opções apresentadas;

A identidade, o eu é transitório. Quem achamos que somos e que o outro é nada mais é do que uma construção nossa que atualizamos sempre que podemos, baseado no comportamento;

E, por causa disso, criamos expectativas demais, que levam a decepções demais. Isso não é conteúdo do outro;

O que nos leva à seguinte consideração: quando sofremos uma decepção com alguém, é muito mais conteúdo nosso do que do alguém. A decepção acontece porque a identidade exercida pelo outro não condiz com as expectativas de identidade que temos para o outro. No fundo, decepcionamo-nos com nós mesmos, não com o outro. E já que falamos sobre isso, pense no conteúdo nosso que projetamos na identidade do próximo através das expectativas. Se não é capaz de enxergar ainda, tente novamente;

O “foda-se” mental, não no sentido da agressividade, xingamento ou adjetivação de alguém, mas no sentido do desapego, é terapêutico;

Por sinal, se uma conversa cai na adjetivação negativa das partes, a comunicação caminha para a direção da agressão, para o  desentendimento e não terá utilidade para ninguém. Conversas inteligentes, produtivas e altamente criativas focam nas ideias e argumentos e nunca na identidade ou autoridade;

Nada é automaticamente verdade por causa da suposta autoridade de quem diz. O ser humano faz o possível para economizar energia (pensar gasta energia), tem preguiça de pensar e mais do que gostaríamos, ignora as ideias e argumentos em si em favor dessa autoridade. Isso tem nome: viés da autoridade e é usado extensivamente nas redes sociais;

Algo que “faz sentido” não é um indicativo inequívoco de verdade. Pelo contrário, é um afago ao ego, manutenção da zona de conforto e também tem nome: viés da confirmação. Esse é especialmente perigoso;

Como seres humanos capazes de criar conceitos abstratos, conseguimos idealizar as mais belas concepções e os mais vis desejos. Entre um e outro resta a individualidade (no sentido de sermos únicos) da existência humana. É exatamente por isso que a comparação é destrutiva e potencialmente leva a obliteração de praticamente todos aqueles opostos a nós, “concorrentes“… já a cooperação é fundamental para a nossa evolução;

Todas as redes sociais, sem exceção, são uma projeção idealizada de identidade, uma imagem de um alter ego de perfeição e desejo, uma produção maquiada, filtrada e produzida;

Identidades virtuais ou alter egos nas redes sociais onde a suposta felicidade, sucesso, goodvibes, positividade, bem-estar e realização são constantes, são o perfeito exercício de uma fuga e não representam a existência humana. Não compare a sua despensa com o palco de ninguém;

Por outro lado, nem tanto, nem tão pouco. Equilíbrio é a chave. Se a positividade pode ser tóxica ao realizar uma busca insana por ela, 100% do tempo, o conteúdo que consumimos também pode ser tóxico. O nosso estado emocional é influenciado a todo o momento (as propagandas são especialistas nisso). Nem sempre conseguimos reagir da forma como planejamos, mas muitas vezes consumimos aquilo que não levará aos resultados que desejamos e não nos damos conta. Dá uma olhada nesse texto aqui;

Como disse Kierkegaard, “A raiz da infelicidade humana está na comparação”;

E essa comparação acontece de inúmeras formas, até em nosso nome. Se alguém chegar e disser que deveria estar feliz (tem a obrigação de sentir-se feliz ou não tem o direito de estar triste) porque você “tem tudo” ou tem gente na merda ou pior do que você, cuidado: isso pode ser inveja, mas certamente é julgamento, comparação e falta de empatia por parte desse alguém (nenhuma pessoa tem a capacidade nem o direito de julgar a dor de ninguém – dica: se não há compreensão, que haja silêncio). Somos mais de 7,5 bilhões de pessoas únicas, com seus próprios desafios e questões. Cuide do seu corre, agradeça pelo que tem (pois são as ferramentas e recursos que pode usar, principalmente as internas) e se tem gente na merda, ajude (o que trará bem-estar), mas não use como critério de comparação;

Você tem o direito de ficar puto, com raiva, triste, revoltado e de luto. Faz parte de ser humano. Aceite. Não caia na armadilha de reprimir emoções e sentimentos negativos, achando que a positividade (tóxica) resolverá todos os seus problemas. Não resolverá, da mesma forma que reclamar também não. Entretanto, se sente-se triste e sem energias por longos períodos de tempo (mais do que duas semanas), consulte um especialista;

Quem cuida de saúde mental primariamente são os psicólogos e psiquiatras. Este deve ser o tratamento principal e prioritário. Caso não tenha condições financeiras, procure os departamentos de psicologia e psiquiatria das universidades e faculdades em sua região. Todo e qualquer suposto tratamento fora dessa área de conhecimento pode ajudar (e muitos ajudam, de fato), mas são alternativos, coadjuvantes e secundários. Veja este vídeo;

Não há felicidade perene nem desespero ou tristeza eterna. Tudo passa. A vida é constituída de ciclos e contrastes, mesmo motivo pelo qual a representação de perfeição das redes sociais é uma falácia que leva à depressão para quem produz conteúdo e para quem consome;

Se por qualquer motivo, crença ou comportamento você pensa em alguém ou um grupo como superior, inferior, melhor, pior, mais ou menos evoluído, houve comparação. Não somos melhores ou piores, somos diferentes;

Se por causa de uma religião você deseja o mal a alguém, vai contra a própria concepção etimológica do termo, que vem de “religare“. Pesquise no Google, ouça a música “Manifesto” (Vintage Culture, Anmari, Wolfire), lendo a letra;

A cooperação da diversidade, de existências e pensamentos leva a resultados extraordinários;

Somos mais em grupo do que a soma das individualidades;

Aceitar não é igual a concordar;

É possível aprender sem necessariamente agir, mas não existe aprendizado sem mudança;

Se você não se permite questionar o que acha que sabe, pouco aprenderá;

Humildade, caridade, doação e altruísmo anunciados não são nenhuma dessas coisas. É fomento ao ego;

Vulnerabilidade não é vergonha, mas a sociedade fará você acreditar que é, porque isso atende a uma agenda de manipulação e comparação. Muitas pessoas procuram sentir-se “melhores” do que alguém agindo para “rebaixar” o próximo. Vulnerabilidade pode ser uma enorme fonte de aprendizado e força. Aliás, se não reconhece as próprias vulnerabilidades por causa da vergonha imposta por fatores externos, a jornada de autoconhecimento pode sequer ter começado;

Olhar para o passado e ter um pouco de vergonha do que fez ou pensou um dia é um excelente sinal de que hoje está melhor do que ontem. Houve evolução;

Arrepender-se é avaliar quem foi, reconhecer as merdas que fez e trabalhar para reparar. Quem não se arrepende de nada não aprendeu nada também… e a prova disso é mais simples do que imagina: não há ser humano perfeito. Se acha que não fez merda um dia com alguém, não é um ser humano (ou há uma tendência sociopata aqui);

Ninguém sabe totalmente o que está fazendo. Ninguém. Por mais autoridade, sapiência ou eloquência que a pessoa demonstre, todos estamos perdidos em algum nível, ampliando horizontes, exercitando o encontro com algo ou alguém, passíveis de falhas, erros e acertos. De fato, estamos todos fazendo o melhor que podemos, com os recursos que temos disponíveis e… é exatamente esse o motor da nossa evolução;

Propósito não precisa ser externo, muito menos entregue a nós. Isso é apenas confortável: isenta-nos da responsabilidade de olhar para dentro e descobrir quem somos. Se você procura respostas em algo ou alguém, talvez esteja evitando conhecer quem é ou tenha medo do que descobrirá. Perceba como talvez pule de galho em galho, procurando uma pílula mágica que resolva instantaneamente todas as questões, uma resposta no externo para explicar a forma como sente e age e, toda vez que não concorda ou “não faz sentido”, pula para outro galho. Não há pílula mágica. A busca mais importante é para dentro, não para fora. Busque o que habita em si, reconhecendo os vales e montanhas, os lugares claros e escuros, os monstros e os anjos. Todos são… você;

É possível encontrar sucesso, felicidade e realização dentro da gente, nas pequenas coisas e na jornada em si, não apenas no alcançar de objetivos;

Aliás, objetivos são importantes no contexto da vida, mas a jornada ensina mais do que o alcançar deles. O aprendizado da jornada permite o sucesso.

Chega de lições. Agora, encontramos o presente… e ele é uma reflexão:

Concordou ou discordou de mim em algum momento e, por causa disso, agora quer me seguir nas redes sociais ou pensou involuntariamente “que idiota”, “ridículo”, “que maluco” ou outro adjetivo? Sugiro ler este texto sobre punição e recompensa.

Sugiro ler este outro também, onde falo sobre a Pirâmide da Discordância de Graham.

Chegamos ao fim, na parte onde desconstruo tudo que foi dito aí em cima. É isso mesmo…

Quando falei em uma das lições que todos estamos de certa forma perdidos, fazendo o melhor que podemos, incluo-me no grupo.

Não há regras para a vida e as lições acima são individuais. Se você chegou até aqui achando que essas lições irremediavelmente se aplicam a você e que eu tenho as respostas, bem… você pode até sentir-se inspirado, mas a jornada é sua e as minhas palavras são apenas minhas. Também estou no trabalho de me encontrar.

Entretanto, isso não nos impede de darmos as mãos e seguirmos juntos. Podemos, inclusive, trocar ideias em busca de novas respostas. Nossas verdades podem ser diferentes, mas a interação dessa diversidade, com respeito, permite o desenvolvimento mútuo.

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Sobre Adjetivos, Estereótipos, Comparação e Diversidade

Depois de expor tanto ao longo dos últimos anos sobre estereótipos, preconceito, diversidade, criatividade e comparação versus cooperação em vários conteúdos, percebi que não tenho nenhum específico e unificado sobre o tema.

Chegou a hora de reuní-los.

Como Tudo (Potencialmente) Começou

Tudo começa pelo conceito do ser humano como ser social e da sua necessidade de pertencimento.

Isso não é novo, evoluiu conosco provando ser um mecanismo de sobrevivência eficaz.

Talvez o resumo mais eficiente do assunto seja afirmar que somos como grupo mais do que a soma das partes.

Imagine existir em um mundo onde praticamente tudo pode lhe matar. O indivíduo, diante deste contexto, pode pouco. Mas descobrimos em algum momento do passado que, ao ajudarmos uns aos outros, nossas chances aumentam muito.

Tenho especial apreço por um argumento atribuído à antropóloga Margaret Mead.

Sobre o início da civilização e da cultura, a sua resposta surpreendeu muita gente:

“Qual o sinal mais antigo da civilização? Um pote de barro? Ferro? A agricultura?”

Não.

“Para ela, a evidência mais antiga de uma verdadeira civilização é um fêmur curado [um osso enorme da perna, fundamental e de difícil reparo]. Ela explica que uma cura como essa nunca foi encontrada nas reminiscências de culturas competitivas ou sociedades selvagens. Pelo contrário, nestas, pistas de violência são comuns. (…) Mas um fêmur curado mostra que alguém deve ter cuidado da pessoa ferida – caçou em seu lugar, trouxe comida e serviu ela através do seu sacrifício pessoal. Sociedades selvagens não se sujeitavam a essa “pena”.”

Mas para ser soma, o grupo precisa ser formado.

É ainda um mistério parcial o entendimento dessa mecânica por completo. Algumas evidências apontam para a influência do local ou região (proximidade regional relacionada à recursos), características físicas e adequação protocultural nos primórdios da existência dos nossos ancestrais.

Como cheguei a escrever anteriormente, tínhamos uma situação nesses primórdios onde a reunião pode ter sido influenciada pelo local e o acesso a recursos (água, alimento, abrigo), mas isso também acabou por influenciar a identidade das pessoas pertencentes ao grupo (para dois exemplos extremos, imagine as diferenças entre uma pequena sociedade de esquimós no ártico e uma de beduínos vivendo no deserto).

Natural, em um contexto desses, que grupos distintos tenham se confrontado eventualmente em busca de recursos.

A partir do momento em que isso ocorre, faz-se necessário distinguir membros de cada grupo, o que provavelmente também ocorreu através de elementos como a localização, aspectos físicos e culturais, traduzidos em comportamento, vestimentas, linguagem e tantos outros meios.

Estamos falando de uma época onde a força física e violência imperavam por pura necessidade. A capacidade de exercer domínio, assim como defender-se, atacar e caçar eram fundamentais à sobrevivência não só do indivíduo como do coletivo.

Dentro do próprio grupo, surgem as primeiras hierarquias, provavelmente definidas também pela capacidade física.

Um bom sistema de sobrevivência onde os mais fortes têm acesso primário à comida e à reprodução, enquanto os não tão fortes realizam outras tarefas em troca de proteção, alimentação e sobrevivência.

Temos então um ecossistema onde há a luta pelo poder e há o surgimento de hierarquias. Em um contexto como esse, é inevitável que tenham aparecido as primeiras situações de comparação não só entre indivíduos dentro do grupo, mas com outros grupos.

Contribui-se com o trabalho ou com a força e chega-se ao topo da hierarquia através do exercício da violência e da obliteração dos adversários.

Portanto, em uma existência pautada pelo concreto e tangível, pela sobrevivência e pela força, pertencer a um grupo que provenha mais chances de manter-se vivo é um diferencial importante tanto quanto fazer com que as chances do grupo sejam maiores.

Como sistema eficaz de sobrevivência que se destacou através da evolução do ser humano como vantagem, não é de se espantar que cerca de um milhão de anos depois, tenhamos ele como uma parte profunda de todos nós e isso tenha levado à formação das nossas civilizações.

Imaginação, Criatividade e o Intangível

Mais recentemente, surgiu a habilidade de criar conceitos complexos e abstratos usando a nossa imaginação, algo provavelmente responsável pelo surgimento de grupos cada vez maiores de seres humanos.

A partir daí, mais do que nunca, conceitos abstratos passaram a ser parte essencial nessa distinção: a adição de elementos intangíveis como ideias e concepções calçadas em crenças, para os quais atribuímos valores, capazes de separar indivíduos e grupos através de um conjunto de regras de comportamento compostas em segmentos que se transformaram em cultura. Perceba, inclusive, que existem diversos exemplos de sociedades onde o topo da hierarquia deixou de ser pautado pela força física, mas pela experiência.

Hoje, vemos facilmente uma versão disso emulada nas redes sociais: temos grupos de pessoas que defendem ideologias, políticos, expressões religiosas e espirituais, dicas de bem-estar, desenvolvimento pessoal e tantas outras tribos, não ausente de conflito por crenças contraditórias ou até opostas, totalmente associadas à identidade de quem pertence por percepção própria ou reconhecimento da tribo.

Em síntese, pertencer e comparar não é forte em nós por aleatoriedade. Foi por uma questão de sobrevivência inicialmente. Mas com a adição dos conceitos abstratos que levaram ao surgimento da cultura e da linguagem, junto com a comparação natural em favor da sobrevivência, outro elemento surge também: as primeiras relações de poder associadas ao conceito de identidade.

Byung-Chul Han descreve essa mecânica de forma exemplar em “O Que é Poder“, ao versar sobre Canneti (Canneti, Massa e Poder, 1960):

“O assassinato do outro [e da sua identidade ou parte da simbologia de sua existência] termina com a relação de poder. Entre seres humanos que se matam uns aos outros, o poder não tem lugar. Há apenas uma diferença de força física. O poder autêntico ocorre, na verdade, quando um deles, seja por medo da morte possível ou antecipando a superioridade física do oponente, se submete a este [neste caso, a identidade que arbitra agir é preservada e a relação de poder também]. Não a batalha que leva à morte daquele, mas a sua ausência [escolha de não agir face à ameaça] é o que constitui o poder em sentido autêntico.”
(itens em negrito são observações minhas).

Portanto, para preservar as relações de poder, a identidade através da existência é fundamental, bem como a comparação entre identidades. Ainda, como diz Byung-Chul Han no parágrafo anterior:

“O poder, contudo, é uma relação. Sem alter e ego não há poder.”

Não que a citação acima não seja conveniente. Ela é estratégica.

A Base do Preconceito

Quanto mais conceitos abstratos associamos ao longo dos séculos à identidade, mais possibilidades temos para o universo potencial do ego, ao ponto de, hoje, termos concepções totalmente intangíveis, como o conceito de posse associado não ao valor intrínseco, mas a uma marca ou dinheiro por exemplo (já pensou sobre como o dinheiro é uma história totalmente intangível na qual todos acreditam?), e o possuir como fator de fomento egóico.

Não podemos esquecer da autoridade (campo vastíssimo, incluindo a autoridade intelectual, religiosa ou espiritual, política, militar, social, governamental, institucional, familiar, moral, autoritária, hierárquica, tradicional ou cultural, carismática, legal e tantas outras).

A autoridade, por sinal, é um excepcional exemplo da questão associada à identidade. Um indivíduo pode se perceber uma autoridade em algum campo, mas é o reconhecimento deste mesmo indivíduo pela sociedade e outros grupos que valida a autoridade e reforça a identidade como tal (e o ego, por consequência). Quanto maior a autoridade, maior a concepção de que “sou melhor do que você ou do que um grupo” e o poder potencial.

Definitivamente, não estamos presos a estes conceitos apenas. Existem inúmeras características que supostamente definem as tribos atuais e as estipuladas regras de pertencimento, muitas vezes veladas.

Mais recentemente, temos o ápice (até o momento) da transferência egóica, a criação do alter quase perfeito. A identidade projetada nos avatares virtuais, em mídias eletrônicas como as redes sociais. Uma projeção muitas vezes calculada, uma idealização construída com a intenção fundamental de parecer “melhor” para sentir-se melhor.

A busca aqui é construir um alter constituído de uma identidade com as características mais próximas do desejo e da perfeição, com o máximo de autoridade possível, situação tão séria que há inúmeros exemplos onde há a intenção de que o alter substitua o ego. O eu externo passa a valer mais do que a existência humana. Alguns filósofos tratam da questão atualmente como uma potencial transição e fica a pergunta: não seria essa transferência um novo cenário da nossa existência? O desejo crescente e sem limites de se tornar a identidade idealizada… tornando-a realidade.

Chegamos então ao curioso caso da coisificação de todos esses aspectos intangíveis, assim como da própria identidade. Ela foi coisificada, transformada em algo transacionável (influência?) um produto à venda na prateleira social. Até o conceito de beleza foi coisificado.

Um passo antes, o que há?

Comparação, fundamentada em todos os aspectos acima.

Temos a comparação como a raiz para a busca pelo sucesso, felicidade e realização. Se há metas e objetivos, há a comparação. Ao invés de olharmos dentro de nós mesmos à procura de tais elementos, os três passaram a ser codependentes do sucesso, da felicidade e da realização dos outros. Metas a serem cumpridas, objetivos a serem alcançados.

Mais, através da comparação é possível, inclusive, a movimentação hierárquica e o exercício de instâncias de poder e dominação.

Ou influência, se preferir, para usar mais uma vez uma palavra na moda que até virou profissão.

Portanto, soma-se à percepção de pertencimento os conceitos de outrora às concepções intangíveis (transformadas em transacionáveis) atuais. Tudo aquilo que pode (e é) associado à identidade, é também usado para classificar e separar as pessoas em caixinhas estereotípicas.

Aliás, importante notar que fazemos um esforço sem igual de encaixar qualquer coisa “diferente” em uma caixinha. Existe até a própria caixinha do “diferente“. “Diferente” é percebido como não pertencente ao “meu” grupo e uma potencial ameaça.

Com elas, após a classificação estereotípica, atribuímos aos indivíduos pertencentes todas as características que nós mesmos temos para cada estereótipo, ignorando completamente a unicidade natural de cada ser humano e sem quaisquer interesses de saber mais. Um dos principais efeitos colaterais desse movimento é a adjetivação de pessoas e grupos.

Tememos o que não conhecemos. Tememos o diferente.

Surge então o preconceito como exercício de poder e superioridade. Compara-se, classifica-se, associa-se a um estereótipo, adjetiva-se negativamente e exerce-se o poder através do preconceito, como busca doente de um suposto bem-estar através do ser “mais ou “melhor” do que alguém ou um grupo, muitas vezes atuando ferozmente na desqualificação das demais identidades objeto de comparação.

Diante da estereotipação, surgem emoções básicas como nojo e desprezo. Enquanto o desprezo tem uma conotação intelectual de superioridade, o nojo tem uma base de sobrevivência (por exemplo, manter-se longe de algo que pode potencialmente envenená-lo).

E não é que o sentimento de envenenamento intelectual faz muito sentido?

No caso do preconceito, o nojo passa a ser intelectual também, baseado na representação da identidade formada para o alvo do estereótipo. Em ambos os casos, houve um aprendizado através dos grupos e sistemas aos quais se pertence (família, trabalho, comunidade são exemplos) onde o estereótipo é formado. Sim, trata-se de algo tão perigoso e difícil de combater por causa das suas origens e das emoções que desperta.

Essa comparação, que incentiva uma competição desenfreada em busca da felicidade, sucesso e realização, cria situações totalmente destrutivas e de insatisfação constante. Uma sociedade insatisfeita e coisificada, que deposita a felicidade, o sucesso e a realização em elementos externos, é uma sociedade de um consumo doentio e do cansaço, que busca na descarga de dopamina constante, a felicidade (aquisição, drogas lícitas ou ilícitas, competitividade, exercício de poder e superioridade), em busca de mais um suspiro de sobrevida, apesar da exaustão.

Entretanto, como disse em um texto anterior:

Não somos mais nem menos. Somos diferentes.

E nossa, não há poder maior para a humanidade do que a interação dessa diversidade.

Nossa realidade hoje é outra, pautada por conceitos cada vez mais complexos e que exigem um alto poder cognitivo e imaginativo.

Ao promover uma irremediável associação em grupos de pessoas com características supostamente semelhantes, o que traz o conforto do pertencimento, de poucas mudanças e o poderoso viés da confirmação, a realidade atual e o nosso futuro dependem da criatividade, da inovação e de pensar o novo rapidamente.

Eles dependem da nossa habilidade em focar nas ideias e não na identidade das pessoas ou estereótipos.

Perceba as forças contrárias em jogo aqui.

Um mecanismo inato e milenar de sobrevivência, apto a uma realidade dos nossos antepassados com pouca capacidade inventiva, versus o momento atual de altíssima necessidade e habilidade cognitiva e que exige a aceitação de diferenças em busca do novo. É como um quebra-cabeças: cada um de nós uma peça diferente e essencial à formação da imagem do final. Neste caso, não há fim. Há jornada e evolução.

Temos a ilusão advinda dos exercícios de poder do passado, através do embate dos grupos de indivíduos com características semelhantes, de que a maneira mais eficaz de obter resultados é o conflito.

Mas é exatamente o contrário: o extraordinário acontece quando as diferenças e individualidades são aceitas, permitindo a interação da diversidade de pensamentos, emoções e ideias, algo que incentiva a cooperação e não a comparação e competição.

E sim, o choque ocorre a toda hora, a todo momento.

Como podemos então migrar para uma abordagem mais sadia?

A Pirâmide ou Hierarquia da Discordância de Graham

Agora que exploramos vários conceitos fundamentais, apresento-lhes outro do qual sou fã, faz parte do meu livro e já mencionei por aqui. Tenho um vídeo que também aborda o tema.

Criada pelo investidor Paul Graham em 2008 meio que na brincadeira, ela fala sobre como argumentar na Internet. Entretanto, o conceito é muito mais poderoso e exprime muito bem quando há a aceitação ou não de ideias ou quando o processo de comparação está em exercício e, principalmente, se ele está no nível da identidade.

Pirâmide ou Hierarquia da Discordância de Graham

Devemos fazer um esforço e mirar sempre numa argumentação de melhor qualidade (no topo da pirâmide). Perceba que lá, não tocamos na identidade ou na liberdade existencial de cada um. O foco é o argumento, a ideia, a proposição.

À medida em que se caminha para a base da pirâmide, mais percebe-se a identidade do interlocutor, chegando ao ponto da comparação ser tão extrema que há a necessidade de desqualificá-lo ou eliminá-lo. Vejamos cada etapa a seguir.

Direto Ao Ponto

Focado na ideia ou conceito. É o melhor e mais rico nível de argumentação, onde há respeito mútuo e o foco é o ponto central da ideia, conceito ou argumento que foi colocado. Tem o poder de derrubar totalmente a proposição inicial. Visa completamente o conteúdo central e em nenhum momento questiona os autores, sempre fazendo referência aos pontos de discordância e fornecendo as evidências necessárias.

Focado em Erros e Trechos

Ainda focado na ideia, mínima percepção da identidade do interlocutor. Neste nível há contribuição real para os participantes e, se a contra argumentação for feita de forma eficaz, ela deve derrubar parte da proposta inicial. No entanto, como não consegue perceber (ou não aborda) o ponto central da ideia, não refuta o raciocínio original como um todo. É útil e pode ser explorada para que chegue no nível acima, basta ampliar o conhecimento acerca do argumento de partida e do seu contexto. Existe o respeito mútuo e o foco está nos argumentos.

Contra Argumentação

Existe a visão da ideia ou conceito, mas o objetivo já passa a ser contrapor a identidade do interlocutor. Oferece uma posição contrária ao argumento original ou partes, mas não foca em nenhum deles, apenas oferecendo uma justificativa pelo qual é contra. Continua existindo respeito entre as partes. Pode ter alguma utilidade, mas dificilmente se conseguirá elevar a argumentação para o nível acima, talvez por falta de compreensão do que foi dito.

Sou do Contra

Mínima visão do conceito. O foco passou a ser a identidade do outro. É quando existe uma postura contrária à questão e não se fornece nenhuma justificativa. Mesmo que não ataque o autor original, não há utilidade alguma nesse tipo de argumentação para ninguém envolvido e ele está normalmente baseado em crenças ocultas.

Focado no Tom

Não há mais nenhuma percepção da ideia ou conceito e o objeto da argumentação é a metalinguagem: a suposta incapacidade do interlocutor de expressar-se.

Ad Hominem

Foco na identidade do interlocutor e o objetivo passou a ser desqualificá-lo. Esqueça o argumento e até o assunto em questão. Aqui, ele sequer será abordado. O foco está na desqualificação do autor, atacando a sua identidade e competência.

Xingamentos

Não há mais interesse em desqualificar o interlocutor. O objetivo passou a ser obliterá-lo. No nível mais baixo de todos, o que reina é a agressividade,  a violência, a ofensa e o desrespeito, mútuo ou não. São os xingamentos, as grosserias e talvez até as agressões físicas. Adjetivos são a regra e a comparação, junto com julgamento e conflito exercem o maior poder.

A pirâmide de Graham pode ser usada como ferramenta excepcionalmente útil por cada um de nós para detectar se estamos nos relacionando com outras pessoas através da cooperação e no nível das ideias ou se estamos indo em direção à identidade e à comparação.

Há Esperança?

Há, certamente.

E a tradução dessa esperança em realidade passa pelo entendimento e pela aceitação de que não somos melhores ou piores do que ninguém. Somos diferentes.

E isso é fantástico!

Como gosto de dizer (algo que pratico no dia a dia, mas não ausente de desafio), se somos expostos a uma ideia, conceito ou concepção e adjetivamos negativamente a pessoa que nos expôs (mesmo que mentalmente), há uma evidência de que estamos caminhando para a base da pirâmide. Neste caso, há uma fuga da aceitação das diferenças e um movimento em direção ao conflito.

O que proponho é que a mudança necessária comece dentro de cada um nós. Não podemos arbitrar sobre o que o próximo pensa ou sente. Podemos, sim, fazer a nossa parte para ter um futuro de grande evolução e paz. O que nos diferencia do nosso passado é justamente aquilo que exige uma mudança de pensamento se quisermos sobreviver como humanidade com menos conflitos.

“A raiz da infelicidade humana está na comparação”
Søren Kierkegaard


Leitura adicional:

 


Não consegui achar a origem da imagem usada nesse texto. Caso infrinja direitos autorais reservados, favor entrar em contato para remoção. Obrigado.

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Pensamentos Com Vida Própria

Expectativas

Expectativas. Um manequim diante de um espelho representa essencialmente esse texto. Um alter ego projetado, idealizado e perseguido como objetivo existencial em um universo construído através de um padrão inalcançável.

Mas as respostas não estão fora, na projeção ou na jornada em busca desse efêmero. O exercer de uma existência externa fala muito mais sobre o ser e o estar do que qualquer alter ego.

Nos últimos 30 anos (ou até mais), a maior parte da autoajuda “nos ensinou” que conhecer a si e buscar dentro de nós é a chave para um eu evoluído (odeio essa proposição, passa a conotação e cultura de competição).

Quem é vegano, religioso, medita todos os dias ou faz yoga [insira outras práticas aqui] e se considera mais evoluído do que o próximo, não entendeu nada.

É a mesma coisa para humildade.

Quem se considera humilde, deixou de sê-lo.

Prefiro a busca pelo eu “diferente”.

Outro ponto: como conteúdo de autoajuda e suposta evolução, trata-se basicamente das expectativas de outros que aceitamos para nós como nossas achando que o que deu certo para alguém tem que dar certo para a gente também… e alguns autores dizem justamente que a chave para a felicidade é lidar com as expectativas de maneira adequada.

Uma percepção associada a autorresponsabilidade e a meritocracia, na maioria das vezes acompanhada de lemas como “se alguém já fez, você também pode fazer”, que traz outra questão: a comparação.

Confesso que falar que tudo que um ser humano consegue, eu também consigo, é uma ideia libertadora, apesar de nada realista.

Afirmar isso categoricamente e absolutamente é ignorar o mundo em que vivemos. É ingenuidade, é subjugar injustiças sociais, geo/políticas, culturais, posicionamento social, financeiro e tantas outras coisas.

Não é algo ruim. Só é. Mas é motivador em si.

Passa a ser negativo quando, junto com as expectativas, ignoramos nossas próprias fraquezas e fortalezas. Quando passamos a desejar ser iguais à manada sem considerar todo o resto. Quando projetamos uma idealização de existência inatingível e passamos a alimentar um monstro dentro de nós mesmos.

Proponho uma abordagem diferente.

Nossas limitações são insumo para um potencial danado.

Não que eu tenha idade para ser um atleta olímpico, astronauta ou cientista de foguetes, mas a ausência dessas possibilidades abre uma série de outras.

Somos animais sociais. Pertencer é forte em nós, porque nos ajuda a sobreviver no grande esquema das coisas. Portanto, pode ser necessário olhar para dentro e lidar também com as expectativas dos outros que internalizamos… mas não vejo como podemos dissociar os dois.

Aliás, mesmo em uma sociedade de cooperação, as hierarquias existem… e elas não existiriam sem julgamento e comparação, mesmo que nos remetamos aos primórdios da nossa existência como mamíferos, quando a força e a sobrevivência imediata eram critérios.

Diria até que o pertencimento é influenciado pela percepção de uma hierarquia validada socialmente e, se existe interesse numa movimentação horizontal ou vertical, existem julgamentos, expectativas e comparação fluindo para todos os lados.

Pode parecer que são ideias opostas, mas talvez o ideal esteja entre elas.

Como certa vez disse Bernardo de Chartres (atribuído a Isaac Newton):

“Se eu vi mais longe do que os outros,
é por estar sobre os ombros de gigantes.”

Ao combinar o que aprendemos de diferentes fontes, temos a oportunidade de criar novas ideias. Acho que é basicamente impossível começar do zero. Se levarmos em conta que nossas identidades são um conjunto de crenças, olhar para dentro já é uma busca baseada no passado.

Então, é possível desvincular tudo que nos foi dito para sermos? Isso não destruiria parte das nossas identidades de alguma forma? isso não destruiria nossa singularidade?

Existe uma equação de composição do self, do eu e da identidade em jogo para cada ser humano. Como bem coloca Yuval Harari, a nossa imaginação e a nossa capacidade para criar conceitos abstratos é nosso maior recurso.

Sendo assim, partindo do princípio de que o que criamos hoje só é possível diante de toda a criação anterior e há uma boa dose de expectativas na mesa, seja para empoderar ou limitar, resultados foram obtidos e influenciados a partir daí.

Lembro particularmente de algumas conversas com os meus pais, calçadas em expectativas.

Posso julgar o resultado alcançado, mas invariavelmente, não importando reconhecer se foi limitante ou incentivador, modificaram-me. Fazem parte da mecânica que me tornaram único, mesmo sabendo que expectativas rondando a moral e a ética são compartilhadas.

Aqui, entramos em um conceito mais complexo.

Temos sistemas sociais que transformaram o bem-estar em objetivos. Aquilo que pode ser alcançado através da obtenção do tangível, algo mensurável e que pode ser transacionado, vendido, comprado. Tenho dois vídeos que falam sobre isso, aqui e aqui.

Os objetivos foram massificados. Os ideais pasteurizados, as fôrmas da felicidade, do sucesso e do bem-estar onde todos nós nos moldamos para caber em favor de entender quem somos.

Mas o conceito de “todos” fomenta também expectativas igualmente pasteurizadas, incompatíveis com o que representamos: unicidade, individualidade, diferenças.

A força inexorável de quem está no topo da hierarquia propõe uma padronização de comportamentos que não explora a riqueza da unicidade, mas a força da massa para si.

Há um conjunto de expectativas de comportamentos que forçam o indivíduo e suas maiores atribuições ao conforme. O conforme é um reservatório potencial de energia e poder.

Vivemos em tempos de polarização absoluta, o que reduz tudo a dois lados, aumentando ainda mais esse reservatório de poder e perdendo autonomia sem percebermos.

Não somos assim… estamos sendo levados a uma realidade que não traduz a natureza humana.

E ela é poderosa juntamente por causa das diferenças… e não pela capacidade de sermos manipulados a seguir fórmulas de ideais de felicidade, sucesso e bem-estar, seja com expectativas ou não.

Eu acredito com todo o meu ser que a força advinda da manipulação das massas é bem inferior ao resultado da interação do diverso. A diversidade como fonte de criatividade, inovação e evolução é um reservatório de energia e poder muito maior.

A história está repleta de exemplos dessa natureza, quando pessoas exerceram a sua diversidade de forma cooperativa, permitindo essa interação e troca sem precedentes. Foram os episódios da nossa história onde houve maior evolução tecnológica, social e intelectual.

Mas para que isso ocorra, é necessário outro elemento fundamental: aceitação das mesmas diferenças, respeitadas as leis, a moral e a ética.

Quando a compreensão faz parte da equação, não temos limites.

Como humanidade, quando não só compreendermos isso, mas conseguirmos usar essa fonte gigantesca de energia, chegaremos a uma época de quase infinita prosperidade.

Essa é uma expectativa legal (talvez utópica) de ser ter.


Leitura adicional:

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As Cômodas Caixinhas Estereotípicas

Ser alfa, sigma, beta, magenta, extrovertido, introvertido…

Fracasso, inventivo, criativo, passivo, depressivo, proativo, preguiçoso, procrastinador…etc?

[este texto é uma continuação natural da
publicação anterior, onde falo
sobre crenças, verdades e identidades,
que pode ser lido clicando aqui]

Se querem colocar você numa caixinha, é porque alguém está lucrando com isso.

Se tem uma coisa que as redes sociais promovem, são as caixinhas, através de algoritmos que segregam as pessoas em bolhas.

Se tem algo fod@ sobre o ser humano é a diferença. A interação entre essa diversidade produz coisas absurdamente legais.

Não vejo como estereótipos NÃO serem limitantes.

Não importa quais sejam, direcionam o nosso comportamento, limitando seriamente a nossa capacidade de aprender, em favor da conformidade.

Ou limitam quem reconhece ou são usados para limitar um grupo por um terceiro e gerar comparação.

E onde há comparação… há alguém vendendo uma forma de você “se superar”.

Não. Aceite. Rótulos.

É prático e cômodo classificar-se e classificar os outros.

Enquanto não reconhecermos os benefícios da diversidade e do diferente, não evoluímos.

Hoje em dia, temos o caminho oposto: egos superfaturados impondo a mesmice.

É a oportunidade de interagir com o diferente que faz a gente sair do conforto, respeitadas as identidades.

Agora, deixo você com um pensamento a respeito das caixinhas socialmente aceitas.

Quantas vezes fez um teste de Internet para determinar características do seu próprio comportamento?

Ainda, quantas vezes fez um teste de QI, de inteligência emocional, Myers-Briggs ou qualquer outra forma de reduzir a imensa capacidade humana da adaptação, de inovar, criar, imaginar e superar-se e teve o seu comportamento limitado pelos resultados?

Dica: você é muito mais do que qualquer resultado obtido ou conjunto de letras.

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O Futuro do Trabalho Se Parecerá Com o Quê?

Texto criado e publicado originalmente para a Ace Cloud Hosting. Acesse o link abaixo e leia o artigo completo:
https://www.acecloudhosting.com/blog/future-of-work/

O argumento também foi a base para este vídeo (clique aqui).


 

A mudança pede a adaptabilidade e exige a inovação mais do que nunca (e isso requer diversidade, criatividade e empatia)… E é inegável que estamos passando não só por mudanças profundas, mas muito mais rápido.

Existe atualmente uma força que afasta as pessoas do contato físico e que pode ser prejudicial para os relacionamentos de médio e longo prazo, devido à falta de comunicação não verbal e da empatia.

Todo o conceito de “trabalho remoto” desaparecerá em breve das nossas vidas diárias em favor de ser chamado apenas de “trabalho”.

Apesar de trabalhar remotamente na última década em grandes multinacionais, percebi que as empresas mais bem-sucedidas não faziam isso apenas para economizar dinheiro: nelas, existe uma cultura sólida onde a tecnologia é usada para permitir que os indivíduos compartilhem e aceitem também quem são, emocionalmente e entre si.

Os líderes devem criar uma plataforma onde os colaboradores se sintam livres para serem eles próprios além do aspecto profissional e técnico, base da equação e um dos pontos mais importantes para a criatividade e o intercâmbio intelectual.

Canais de comunicação que permitam essa troca são essenciais para relacionamentos de longo prazo.

Mas isso não se aplica apenas aos líderes formais – todos nós somos líderes e protagonistas das nossas próprias vidas.

Gosto bastante do conceito de liderança horizontal: se você tem a capacidade de cooperar com os seus pares no intuito de crescerem juntos.

E isso exige compreensão e aceitação das individualidades. De fato, exige que o líder seja capaz de evitar a repreensão e estimular a cooperação.

Os resultados positivos surgem muito mais do incentivo à cooperação, do estímulo daquilo que é considerado um bom resultado do que do ato de coibir divergências, erros e falhas.

A capacidade de lidar com divergências, ideias e emoções diferentes fomenta a inovação.

Sugiro que você assista esse vídeo sobre comunicação. Lá, falo da pirâmide da discordância de Graham, ferramenta fundamental para permitir que exista uma convergência de ideias diferentes.

Curioso como a sensação de compreensão mútua da diversidade (que pode ser interpretada como divergência em uma primeira impressão) resulta em convergência e em um sólido trabalho de equipe em longo prazo.

As organizações que adotarem esses conceitos serão capazes de fracassar rapidamente, promover a adaptação às demandas futuras e alcançar o sucesso, não apenas aprendendo a lidar com as mudanças que a sociedade está vivendo agora, mas também ficando preparadas pra tudo.