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Comunicação: Onde, De Fato, Resta a Responsabilidade?

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Talvez um dos pressupostos da PNL mais controversos seja o que diz que…

“A responsabilidade da comunicação é SEMPRE de quem emite a informação.”

Olhar para essa frase em si já gera um mal estar em muitos.

Já vi nas mídias sociais memes, imagens e afirmações diametralmente opostas a esse pressuposto. Algo como…

“Sou responsável pelo que digo, não pelo que você entende.”

Uma rápida pesquisa no Google retornará inúmeros exemplos de imagens… confesso até que, no passado, cheguei a compartilhar algumas delas! As redes sociais estão cheias de memes que trazem essa afirmação e, hoje, agradeço ao universo por achar isso… com todo o respeito, limitante:

Meus queridos, a frase em si é contraditória! Se você é responsável pelo que diz, é claro que você é responsável pelo entendimento (afinal, para quê dizer algo se você não quer se fazer entender?)

Por que será que tanta gente acha que não é responsável pela comunicação?

A própria pergunta acima já nos dá uma clara pista do motivo: responsabilidade (ou sua isenção).

As pessoas tem o hábito de se isentarem da responsabilidade em suas vidas, de colocar o macaquinho no ombro dos outros. Ainda, evitam ser os protagonistas do seu palco e promovem a manutenção da zona de conforto, um comportamento totalmente alinhado ao vitimismo.

O processo de comunicação é transitivo e envolve, pelo menos, duas partes. Não há comunicação com o espelho. Não há comunicação com a TV ou com o travesseiro (alguns practitioners de plantão afirmarão que sim, há comunicação entre as partes de um ser, mas isso é conversa para outro post – tomei o cuidado ao mencionar “partes” na frase acima :))

Em outras palavras, a comunicação é uma ação resultante de uma intenção (a sua). Se você tem a intenção de se comunicar, é óbvio que quer se fazer entender (nos seus termos), por mais que você ache que está apenas “constatando os fatos”, um argumento muito comum [os fatos são sempre a sua versão de realidade, pois passamos não por uma, mais por DUAS situações de interpretação: quando você usa seus canais representacionais (visual, auditivo e cinestésico – que inclui os demais) para interpretar e armazenar a realidade e quando você recupera o que armazenou e traduz em palavras e outras formas de comunicação].

Se partirmos dessa ideia, o que estamos tentando transmitir é a nossa visão de algo (afinal, cada um constrói sua visão de mundo particular) que pode ser ou não próxima da realidade. Ou seja, comunicação é convencimento.

E se o ato da comunicação for intencionalmente falho de forma a provocar confusão?

Meu caro leitor, essa afirmação nada mais é do que a validação do meu argumento e do pressuposto da PNL até então.

Como assim Romulo?

A confusão só nasce justamente porque a responsabilidade da comunicação é comprovadamente de quem emite a informação. Tem o poder quem tem a responsabilidade. A prova disso é o empoderamento de quem emite – ao intencionalmente falhar, a confusão se instala através do poder que possui ao ser responsável.

Colocando de uma forma análoga, comunicar-se de forma ineficiente é uma irresponsabilidade. Ouso afirmar que a maioria dos problemas do mundo são falhas de comunicação ou iniciados por isso. Peter Drucker chegou a afirmar que giram em torno de 60%.

A responsabilidade atrai o poder?

Vencida a fase da argumentação, assim como defendi o empoderamento do protagonista, ao chamar a responsabilidade para si, imagine, como se fosse possível, o poder que ser responsável pelo entendimento da comunicação traz a quem emite a informação, pegando emprestada, de forma bidirecional, a afirmação do grande filósofo Tio Ben: “grandes poderes vem com grandes responsabilidades.”

Mas…

“Grandes responsabilidades geralmente vem com grandes poderes.”

… Principalmente ao entendermos o poder da ação e o poder de poder agir. Fácil concluir então que…

“Comunicar-se de forma eficiente nos atribui grande poder.”

Querido leitor, antes de me perguntar se estou maluco, faça uma análise da história da humanidade e me diga se os grandes comunicadores tiveram ou não grandes poderes:

  • Jesus
  • Gandhi
  • Madre Teresa
  • Mohamed Ali
  • Mandela
  • Martin Luther King
  • Kennedy

A lista é imensa. Certamente, essas pessoas sabiam se comunicar e se fazer entender.

Como isso afeta a nossa vida?

A essa altura, não preciso dizer que afeta total e profundamente. Pense comigo nas mais diversas situações da sua vida em que você conseguiu algo porque falou o necessário e as vezes que não conseguiu porque não se expressou como devia.

Quantas vezes, ao final de uma conversa, você ficou com a sensação de que não foi entendido e que, por causa disso, seu interlocutor provavelmente não fez o que você pediu? Quantas vezes, ao não se comunicar de forma eficiente, o rapport foi destruído e a relação com seu interlocutor ficou prejudicada?

Agora, pense nas consequências dessas conversas e como tudo poderia ser diferente se o entendimento fosse diverso. Não é difícil compreender a máxima que afirma que guerras foram deflagradas por falta de entendimento.

Da mesma forma que as pessoas transferem a responsabilidade do entendimento para quem recebe a informação, existem indivíduos que transferem a responsabilidade da ação para quem emite a informação e isso pode acontecer por vários motivos.

Você já deve ter ouvido a frase: “eu fiz isso ou aquilo porque fulano mandou.”

Trata-se de questão ainda mais polêmica, que nos remete ao início do texto, sobre protagonismo e responsabilidade. Se por um lado essa questão apenas corrobora o poder de quem comunica, precisamos entender que a nossa sociedade possuiu e possui sistemas inteiros construídos em cima do descasamento de quem perpetua a ação da sua responsabilidade sob as consequências dos seus atos.

Na minha humilde opinião, estamos diante de uma questão perigosa e que tem consequências bastante graves. Vemos isso no nosso dia a dia com tantos analfabetos funcionais(*), capazes de seguir ordens, mas incompetentes ao julgar ou compreender seus atos. Outro bom exemplo são as forças armadas e outras cadeias de comando inquestionáveis.

Não quero entrar no mérito sobre o que é assim e até concordo que pode haver uma boa justificativa ou necessidade por trás. Mas será que as guerras não existem justamente porque há gente sendo comandada sem usar seu bom senso? Será que elas não existem pela transferência de responsabilidade, pela concentração do poder da ação alheio nas mãos de poucos?

Encontramos situação semelhante em algumas religiões. Ela também é usada como desculpa para essa transferência de responsabilidades e algumas chegam a construir seus argumentos de crença e fé em cima dessa delegação. Se matou muito “sob a vontade de Deus” ou de divindades, de acordo com Steven Pinker, em seu fabuloso livro “Os Anjos Bons de Nossa Natureza”. De acordo com ele, os principais culpados por grandes conflitos e mortes ao longo de nossa história são as religiões e o estado.

O processo civilizador, contudo, de forma recorrente, se posiciona como responsável pela diminuição da violência. Se por um lado o estado é uma das grandes consequências do processo civilizador, um dos seus efeitos colaterais é a criação de cadeias e hierarquias de comando com a alienação do bom senso e a transferência da responsabilidade da ação para poucos.

Como eu disse, o tema é polêmico. Entretanto, resgatando a questão central, pare e pense um pouco: o que há por trás da religião e do estado, ao levar grandes multidões algumas vezes ao conflito, se não o poder da palavra e do convencimento?

O que há em comum e por trás de grandes líderes que comovem empresas e cidadãos com suas palavras, arrastando pessoas, funcionários, plateias e multidões, na direção dos seus pensamentos e do sucesso?

O poder está em suas mãos. Ou melhor, em suas palavras. Lembre-se, o poder da comunicação está em quem emite, assim como a responsabilidade de se fazer entender. Não abra mão nem delegue esse poder. Não caia na tentação de se isentar dessa responsabilidade e colocar nas mãos dos outros o que você quer.

Repita comigo, salve e poste por aí:


 

(*) A questão dos analfabetos funcionais e da responsabilidade da ação em si foi sugerida por Rafaella Lins. Obrigado pela sugestão!