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Pensamentos Com Vida Própria

Se a Existência É um Exercício de Ações, O que Vem Antes?

Ao olhar, escolha a beleza;
Ao sentir, escolha a compreensão;
Ao tocar, escolha o carinho;
Ao agir, escolha a responsabilidade.

O olhar é uma idealização.
Por mais que reconheça o ambiente à volta, quando o consciente sequer se dá conta do que aconteceu, houve julgamento, inclusive da beleza. Houve interpretação. Há o consciente. Isso te conforta ou te reprime?

O sentir é uma revelação.
Das reações mais rápidas que temos, precedendo até a consciência, as emoções podem ser colocadas como interpretações neurofisiológicas do corpo… aproximando-nos daquilo que nos agrada e nos afastando daquilo que nos ameaça. A questão é que raramente sabemos quando é uma coisa ou outra, simplesmente porque falta compreensão. Algo é sempre exposto, raramente compreendido e quase nunca aceito. Nada de controle. Aliás, há um sem número de interpretações que nos são entregues. Cadê as SUAS?

O tocar é uma troca.
Se é troca com qualquer outro ser, que seja uma acomodação e não um afastamento. Que seja acolhimento ao invés de repreensão. Que seja comunhão e não negociação.

O agir é uma consequência.
O agir é um exercício de um instantâneo de quem somos, de uma identidade congelada momentaneamente no espaço versus tempo. Mas a identidade é um acúmulo de aprendizados, de experiências, de formas de olhar, sentir e tocar, SEMPRE um olhar para o passado. Portanto, por mais que a bagagem leve a um desfiladeiro ou ao outro, que o movimento seja entendido de forma sistêmica, exercido considerando a existência do próximo.

Eu escrevi uma versão das proposições do início desse texto exatamente 3 anos atrás.

Fiz uma pequena correção.

Vamos à segunda parte, 3 anos depois:

Achava que o sentir era passível de controle.

Enganei-me categoricamente.

Aprendi que ele ensina.

Aprendi outra coisa também: que o “escolher” não determina a nossa existência.

Leia novamente, é isso mesmo.

Quem dera ser tão simples. Quem dera os rumos do Universo dependerem daquilo colocado à nossa frente e da nossa egóica escolha.

O Universo depende muito mais daquilo que criamos, dos rumos não idealizados e que passam a ser, como criação. Criamos o que nos cerca incluindo o Universo e sequer entendemos isso.

O Universo não quer isso de nós. Ele nada quer apesar do conforto da ideia; ele desenvolve-se a partir da interação daquilo que é passível de existir.

O Universo, como a maioria das pessoas idealiza, é um conceito completamente egocêntrico: um exercício de si próprio para confortar a si mesmo. é uma projeção.

O novo, a adaptação, o inconveniente, a habilidade única dos seres humanos de moldar o caos são as nossas “Dádivas”.

Mas e o propósito, o destino e tantas outas crenças que carrego comigo de que há um caminho que traz um conforto tão agradável?

É meu caro… é exatamente esse o ponto.

A cada passo dado com os pés, as mãos criam o tijolo e a nossa existência o põe à nossa frente… talvez irremediavelmente aonde o pé quer repousar, mas isso nos arbitra.

Que atire o tijolo em alguém à frente, que faça uma morada, que mastigue-o, guarde-o ou venda-o.

Não ansiaste por liberdade?

Então, quando depara-te com ela, questiona-te ser responsabilidade demais?

Ah, o conforto do futuro revelado. O conforto da existência determinada.

Cuidado com a idealização entregue a ti e… eventuais consequências do que deseja a partir daí.

Aliás, pensando bem… abraça-te.

E, ao fazê-lo, senta-te comigo para este banquete de consequências.

Mas até isso será diferente.

Não uma analogia de opostos ou relatos, de plantar e colher, uma relação previsível de erva daninha e morte ou de fruto e colheita. Isso é tão ingênuo.

Não.

Senta-te comigo no banquete do imprevisível, no banquete da ausência de ingenuidade, do vitimismo ou da falácia meritocrática.

Senta-te e saboreia.

Isso te conforta ou te condena?

Quero o sabor; não o conforto ou a condenação do meu próprio julgamento.

E você?


Imagem retirada da fonte a seguir: https://www.depotbassam.com/2012/04/wall-mounted-double-pendulum-for.html
Motivação: movimento caótico de pêndulos duplos.

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Comportamento Pensamentos Com Vida Própria

Ressaca

Já bateu a ressaca? Ela eventualmente chegará.

Moral, financeira ou bastante real na figura do exagero alcoólico ou através de outras drogas lícitas ou ilícitas.

O “sextou” de toda a semana, que vira o Réveillon.

Apesar da virada do ano ser o simbolismo da renovação, tecnicamente o dia 01 de janeiro é idêntico ao dia 31 de dezembro.

Em termos de natureza, pode ser. Mas para nós, seres humanos desejantes por mudança externa, fruto de um castelo de cartas de expectativas, não é… e pouco fazemos para mudar a nós mesmos.

No momento, temos uma situação peculiar: o dia 1 de janeiro cai em um sábado… teremos o domingo de intervalo e a segunda do batente, da realidade à porta. Aliás, escancarando a porta.

Temos uma delimitação bastante clara entre o que foi e o que será em nossas mentes. Por enquanto, apenas em nossas mentes.

As redes sociais inundadas de fotos de bem-estar, fartura e felicidade, pessoas afirmando que só aceitarão goodvibes e energias positivas para o ano que começa.

O universo não precisa agradar a você.

Aliás, cada um de nós é menor do que um grão de areia, um breve suspiro no grande esquema das coisas.

Esperar que tamanha grandiosidade afague o nosso ego individualista é o maior exercício egóico que consigo imaginar.

Mas a ressaca passa também. Tudo passa.

E na segunda, tudo volta a ser como era antes e não volta apenas porque a existência é injusta.

Volta também porque atribuímos ao externo a nossa felicidade, sucesso e realização.

Atribuímos até ao externo nossa concepção de propósito. Terceirizamos os quatro, além das emoções e responsabilidades!

Queremos que o mundo mude para nós, mas poucos querem mudar para o mundo.

Então, após a ressaca passar, imagine o que pode fazer para o todo. Para o próximo.

Imagine o que pode sair de dentro de você para que você mesmo chegue aonde quer chegar.

Você pode ler até aqui e achar este texto pessimista ou negativo… pelo contrário.

Ele é a realização plena de que cada um de nós tem mais autonomia e responsabilidade do que desejamos.

Como disse Freud certa vez:

“A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, porque liberdade envolve responsabilidade e a maioria das pessoas tem medo da responsabilidade.”
Sigmund Freud

Então, ao encher a boca para dizer que só quer energias positivas em 2022, pense no que pode fazer a respeito. Aliás, aceite que a vida é um caminho de contrastes, de altos e baixos… que vão e vem em ciclos.

Para muitos, o primeiro minuto do ano seguinte é o início do carnaval, um ciclo que dura cerca de 2 meses e apenas após o qual o ano se inicia.

Cada dia, cada hora e cada minuto é um tempo a menos. Não espere março para viver a vida, porque ela já está sendo vivida a cada segundo, queira ou não.

E não, não é uma visão puramente utilitarista que proponho. É a realização de onde surgem em nós os elementos e recursos para que mudemos a vida no sentido daquilo que planejamos.

Sugiro que leve o tempo que quiser… mas quando o seu ano começar, não espere que haja uma reverência ao seu desejo de bem-estar, sucesso e felicidade, um conjunto de expectativas a partir dos outros.

Busque e seja a referência com ações, na medida do possível. Vamos olhar para dentro e perceber o que habita em nós.

Agora, ao invés de imaginar o ano apenas como um bebê nascendo ou 365 oportunidades, perceba o que nasce dentro de você.

O que 2022 tem pra mim? Não sei. Sei que estou olhando para dentro em busca do que eu tenho para ele.

Estes 365 dias são telas nem sempre em branco, mas eu tenho um pincel e tinta nas minhas mãos e dá pra pintar muita coisa.

Desejo a você muito mais do que felicidade, sucesso e realização.

Desejo a capacidade de adaptar-se não importa o que aconteça.

Desejo o reconhecimento da linha que separa o que controla do que não controla, da autonomia que possui ou pode buscar e a apropriação da responsabilidade advinda deste exercício de percepção.

Ao invés de pedir ao Universo que seja bonzinho com a gente, pedindo tudo do bom e do melhor e esperar que nossos desejos de bem-estar sejam atendidos, que tal agirmos ativamente neste sentido?

Pegue o seu pincel e comece agora.

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Coaching Comportamento Comunicação Sociedade

Desculpas como Azeite Social

Temos uma prática socialmente aceita de usar desculpas longe do seu significado: como um apaziguador, como argumento para desarmar ânimos exaltados ou alterar a dinâmica de poder de uma conversa, assumindo uma postura passivo-agressiva.

Isso é muito comum.

“Desculpa se…”
“Desculpa, mas…”

NÃO SÃO desculpas… são a transferência da culpa para o interlocutor ou algo externo.

São uma expressão de que a pessoa tem dúvidas de se realmente fez algo pelo qual desculpar-se e dizem muito sobre o estado atual de quem fala que, naquele momento, não deseja ser totalmente transparente.

Se este é o caso, não peça desculpas.

Converse.

Aliás, pense sobre o que está sentido e porquê não se sente à vontade de ter uma conversa franca.

Desculpas sinceras são sobre tomar a responsabilidade pelos seus atos para si e não fazem sentido com uma condição ou dependência de algo externo.

“Desculpe-me por…”

Sem condições. Ponto.

Pensem comigo: se depende de algo externo, qual sentido há em desculpar-se por outra pessoa?

Se a culpa e a responsabilidade por algo existem, você só pode agir sobre aquilo que é seu.

Além disso, desculpas sem ações para corrigir o rumo, reparar o dano ou no sentido de não repetir a situação original não têm utilidade alguma.

Outra prática comum é pedir desculpas por uma questão de baixa autoestima.

Sim, isso acontece, principalmente se você está em uma conversa onde se sente inferior em relação aos seus interlocutores, pontuando praticamente todas as frases com um pedido de desculpas.

Neste caso, o que fazer a respeito?

Sugiro ver esse vídeo:

sindromeimpostor.oguiatardio.com

#Comunicação #Autorresponsabilidade #Metalinguagem


Crédito da imagem: unsplash.com, Luis Villasmil
@luisvillxsmil

 

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Resenhas de Livros Sociedade

A Sociedade do Cansaço

Década de 80, pré-adolescência.

Não entendia ainda muito do mundo que me cercava, mas percebia que, todos os dias ao acordar, meus pais já tinham desaparecido.

À noite, situação semelhante. Até os meus 11 anos, sempre dormi antes deles.

Aos 15, comecei a encontrar meu pai todos os dias no trabalho e a entender como funcionava a hierarquia profissional.

Para mim, uma oportunidade gigantesca.

Lembro que comecei a me interessar pelo mundo da tecnologia na tentativa e erro… e ele, aprendendo também, pedia-me frequente o manual das coisas. A percepção de causa e efeito, da realidade ordenada.

Era um mundo de obediência, de submissão, execução, horário para chegar e para sair.

Trabalhar significava estar presente e seguir as regras.

Minha mãe deixou de trabalhar mais ou menos nessa época por questões de saúde, mas ele seguiu firme e forte até a aposentadoria, 15 anos depois.

Conviver com ele durante a aposentadoria melhorou muito o nosso relacionamento e trouxe a oportunidade de compreender melhor o mundo em que ele desenvolveu a carreira.

E aqui, começa uma dicotomia curiosa.

Eu peguei a transição da filosofia de trabalho do meu pai para outra. A transição da presença das 8 às 18 como métrica de produção para a suposta entrega de resultados.

Expediente deixou de fazer sentido.

A obediência cedeu ao desempenho.

Para alguns, uma evolução. Um sinal de liberdade, ser dono do próprio nariz e independência.

Entramos na era da autonomia, da motivação intrínseca e da [auto]responsabilidade.

Sim, poderia usar aqui o termo “autorresponsabilidade”, mas acredito que responsabilidade atribuída não é responsabilidade; é culpa.

Em outras palavras, responsabilidade deveria sempre ser autorresponsabilidade. Se não for protagonizada, perde o sentido.

Sim, falei isso pra provocar mesmo.

Quarenta anos atrás, o senso de responsabilidade estava intimamente relacionado ao senso de dever, de cumprir com as obrigações, com obediência. Hoje, a responsabilidade está relacionada a si, a identidade.

Pode parecer em princípio que estou falando de um caminho correto e outro errado. Mas não é isso.

São questões distintas, com efeitos colaterais e implicações diferentes, adequadas às suas respectivas culturas e realizações sociais.

Por um lado, enquanto temos o sujeito de obediência preparado para os rigores da vida, ocupado e submisso, com identidade imutável e explorado externamente, por outro, temos o sujeito de desempenho, suficiente e autônomo, com identidade flexível e explorado por si próprio: o mundo o excita e provoca a busca por superação que não tem fim.

De um lado, temos o “ser melhor” associado ao cumprimento do obrigatoriamente estabelecido (externo); do outro, associado a si, a estar diferente de ontem e, por algum conjunto de métricas vis, a comparação de mim comigo mesmo em busca de um ideal de evolução ditado pelo externo.

Vê-se liberdade, tem-se prisão auto imposta; o algoz de si mesmo.

Neste último caso, a quem reivindicar uma mudança, se existe uma associação de evolução própria (ser melhor) com um objetivo máximo a ser alcançado, mas que atende a necessidade do status quo?

De fato, temos o atendimento às necessidades do status quo nas duas culturas.

Temos a ausência de liberdade, embora por motivos distintos, nas duas também.

A diferença é que, atualmente, temos a sensação, a impressão e a clara percepção de liberdade.

Somos levados a acreditar, através da crença do protagonismo, estar totalmente responsáveis por tudo que nos acontece e por todos os resultados que obtemos ou podemos potencialmente obter.

Mas isso simplesmente não é verdade.

Há muita coisa que nos foge ao controle (o que nem é tão importante assim, para fins de entendimento e argumentação). É, contudo, importante perceber o controle que o status quo exerce sobre a nossa existência e não nos damos conta.

É justamente por isso que achamos que temos liberdade.

Volto a uma questão que tenho levantado aqui no blog e em vídeo:

Você acha que ter liberdade é ter escolhas?
Se as suas opções são escolhidas por uma outra parte ou interesses alheios previamente, ainda acharia ser liberdade o ato de escolher?

Se você já leu o sensacional “Sociedade do Cansaço”, de Byung-Chul Han, está familiarizado com alguns dos termos que usei.

Longe de mim recriar a roda. Minha intenção aqui é convencê-lo a ter uma experiência com esse conteúdo, fazer uma crítica de um dos livros mais provocativos e transformacionais que li nos últimos anos e permitir que tire as suas próprias conclusões. Saiba de antemão que não é uma leitura simples e indolor.

“O burnout (…) é a consequência patológica da auto exploração.”
Byung-Chul Han

Das últimas conversas que consegui ter com meu pai sobre questões profissionais, causou-me estranheza perceber que ele não entendia como alguém exerce a profissão sem estar presente das 8 às 18.

Para ele, o conceito foge completamente ao entendimento e agora eu sei o motivo: aprendi que as barras da prisão de outrora apenas ficaram transparentes.

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A Diferença Entre Travar e Entrar em Pânico

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Sutil.

Enganosa.

Confusa.

Furtiva, mas importante.

Você estudou, aprendeu, treinou e mudou…. sabe o que fazer, como fazer e quando fazer.

Mas diante da situação que se apresenta, trava.

Os recursos estão lá, mas você não os acessa.

E, por causa disso, pode entrar em pânico.

Agora, imagine outra situação… totalmente nova, para o qual não treinou e não conhece.

O pânico se instala.

Em ambos os casos, não há ação, mas por motivos distintos.

No primeiro caso, o medo deu lugar ao pânico e ele pode surgir por vários motivos.

Dentre eles, síndrome do impostor, baixa autoestima ou a identificação, por seus sentidos e mapa, de estar diante de uma situação ameaçadora demais.

No segundo caso, o pânico surge mais rapidamente, diante de não ter a mínima ideia do que fazer.

Faço questão de apontar as similaridades das duas situações e as breves diferenças porque o que fazer na sequência depende deste entendimento.

Em ambos os casos, quanto mais a emoção dominar, mais tendencioso será o rapto do nosso comportamento por instintos básicos de sobrevivência que sempre extrapolam em duas ações possíveis:

Lutar ou fugir.

Então, a primeira coisa a fazer é descobrir se estamos falando de uma situação conhecida ou não.

Para tanto, é necessário retomar um pouco do controle, tanto quanto possível.

Respire profundamente.

Identifique a emoção despertada. Atribua uma palavra a ela.

Conte até dez, devagar.

Agora, faça-se uma pergunta simples: conheço esta situação?

Treinei para ela?

Preparei-me?

Tenho informações suficientes?

Se sim, você tem os recursos para seguir em frente. O resultado pode ser positivo ou negativo, não importa. É feedback. É insumo e aprendizado em qualquer desfecho.

Caso contrário, peça ajuda… e também aprenda.

“Aquilo que não nos mata, nos torna mais fortes.”
Friedrich Nietzsche

Peraí Romulo… E se fudeu de verdade – não sei o que fazer e não tenho a quem pedir ajuda?

Ainda assim temos opções.

Se há tempo, pense. Estude, prepare-se e crie opções novas. O contrário do medo não é a coragem. É o conhecimento. Temos medo do desconhecido e ao conhecer, a coragem aumenta.

Falei sobre isso quando abordei a procrastinação como sintoma de algo maior e a nossa capacidade de amadurecer emoções.

Perceba que, do início da argumentação até a última frase é possível eliminar praticamente todas as situações do mundo cotidiano onde usualmente travamos ou entramos em pânico.

Se não há tempo, então é exatamente a razão para o qual o instinto de lutar ou fugir existe. Abrace-o.

Lembre-se de duas coisas importantes:

  1. O ser humano tem mais medo de perder do que de não ganhar e isso influencia totalmente as nossas decisões no dia a dia;
  2. Emoção e razão são indissociáveis. O segredo é reconhecer as emoções e entender que elas fazem parte do processo.

Parece simples?

É simples.

É muito mais desafiador aceitar que assim seja.

Achar complexidade onde não existe transfere culpa e invoca a zona de estagnação existencial (ou zona de conforto, se preferir)… coloca na complexidade das coisas a motivo pelo qual achamos que não somos capazes.

 


Informações adicionais:

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Oportunidades, Sorte e Azar (*)

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Você já percebeu que a capacidade de identificar oportunidades na vida é diferente de pessoa para pessoa?

Você pode qualificar as oportunidades na sua vida inicialmente como coisas potencialmente aleatórias e que precisam ser reconhecidas por você… afinal, algo que não consegue ver, ouvir, sentir ou refletir sobre… não é muita coisa, muito menos oportunidade. Para quem não tem o preparo, maturidade ou não está pronto, as oportunidades não existem (elas passam embaixo dos nossos narizes e não percebemos).

Na verdade, mesmo que alguém chegue para você e aponte “olha, tem uma oportunidade ali, na sua frente!”, não adiantará muito.

Preparo significa aprendizado e ele não existe para quem está na zona de estagnação (também conhecida como zona de conforto) ou quem se faz de vítima. Ou seja, ou você é protagonista e responsável para “ter sorte” ou verá a sua vida apenas como consecutivos “azares”.

Aí, durante a caminhada, você pode chegar à conclusão de que, ao ter preparo suficiente, também pode criar oportunidades… e isso tem influência direta sobre o que considerarmos ser sorte ou azar. É isso mesmo! Ao nos preparamos, amadurecemos!

Veja como a sorte e o azar tem conotações diferentes dependendo do ponto de vista e como a referência é sempre a própria experiência, o próprio mapa: se olharmos de nós para nós mesmos, sorte significa um acontecimento positivo para o qual não nos preparamos ou para aquilo que não julgamos ser merecedores.

Já o azar significa não conseguir algo para o qual treinamos, nos preparamos, julgamos ser merecedores ou um infortúnio (acontecimento negativo para o qual não nos preparamos). Olhando de fora, achamos que alguém teve sorte quando consegue algo que nos é difícil e azar quando alguém não conquista aquilo que achamos ser justo.

Perceba também quanto há de expectativas e julgamento numa qualificação de algo como sorte ou azar também. Observe que até os eventos inesperados em nossas vidas podem ser vistos assim!

Quanto mais você se “prepara”, conhecendo-se e conhecendo o mundo a sua volta, maior será a sua capacidade de reconhecer as chances que aparecem, como quem coloca a cabeça para fora dos arbustos e finalmente vê a floresta…

Mas quanto maior o conhecimento e o autoconhecimento, maior será a fronteira entre o que conhece e o que não conhece.

Complicou?

Vamos descomplicar.

Imagine que o seu conhecimento ontem era uma bola de ping-pong.

Se você amarrar um cordão em volta da parte onde ela é mais gordinha, o comprimento do cordão será cerca de doze centímetros (essa é a sua circunferência).

Pense nesse cordão como a fronteira entre o que você conhece (bola de ping-pong) e o que você não conhece (todo o resto além do cordão).

Mas aí você estudou, permitiu-se trocar intelectualmente, preparou-se e, no momento atual, seu conhecimento é maior do que ontem. Ele não é mais uma bola de ping-pong… transformou-se numa bola de basquete.

Amarre um cordão em volta da bola de basquete… verá que ele cresceu para um pouco mais de setenta centímetros!

Ah Romulo, agora eu entendi! Eu assisti a uma apresentação de um palestrante motivacional famoso que diz que cada um tem o que merece, ou seja, se eu estudar, capacitar-me e fizer por onde, colherei frutos!

É, isso às vezes acontece.

Às vezes não.

É a vida!

Do mesmo que jeito que não há forma de prever o futuro, você pode usar o que está nas suas mãos para construí-lo, quando as chances de sucesso aumentarão vertiginosamente. Não fazer nada?

Essa é a garantia de que a sorte não sorrirá para você.

“O encontro da preparação com a oportunidade gera o rebento chamado sorte.”
Tony Robbins


(*) Esse texto é parte do livro “O Guia Tardio

#OGuiaTardio

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Como Eu Faço Para Ser Entendido?

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Esse texto é uma continuação do dia 30/11, sobre a responsabilidade do entendimento da comunicação(*).

Existem múltiplas estratégias por trás de uma boa comunicação e algumas delas podem parecer conflitantes (e de fato, são). A ideia central que apoia uma boa comunicação começa não pelo abrir de bocas, mas pelo escutar. É através dele que se define a melhor abordagem, respeitando a opinião do próximo.

“Eu lembro a mim mesmo toda manhã: nada do que eu disser hoje me ensinará nada. Então, se eu for aprender, eu preciso fazer isso escutando.”
Larry King

A Comunicação Vai Além da Palavra

A palavra em si representa uma pequena parcela da troca da comunicação. O todo  envolve tom de voz, velocidade, ênfase, gestos, posição do corpo, movimentação do corpo, micro expressões faciais e até movimentação e direção dos olhos.

Enquanto estamos conscientemente prestando atenção no que é dito, nosso cérebro capta os demais sinais que compõem a comunicação de forma inconsciente. É por isso que, algumas vezes, seu interlocutor lhe fala algo e você fica com a pulga atrás da orelha: você provavelmente ouviu uma afirmação, mas a sua mente captou outros sinais, incoerentes. Se deseja se aprofundar no tema, recomendo começar pelo livro “A Arte de Ler Mentes”, de Henrik Fexeus.

Levando isso em consideração, é bom mencionar que existem técnicas cientificamente comprovadas para ler expressões e detectar qual a emoção por trás de uma frase, palavra ou comportamento. Neste quesito, recomendo o livro “O Corpo Fala” (clássico do tema) e  “Telling Lies”, de Paul Ekman, psicólogo considerado a maior autoridade mundial em micro expressões faciais (já assistiu a série Lie To Me? Foi baseada nele e em seu trabalho).

Ele provou que existem algumas emoções de base (raiva, felicidade, surpresa, nojo, tristeza e medo), que tem suas representações fiéis em qualquer lugar do mundo ou em qualquer comunidade onde um ser humano exista. Ele desenvolveu o Facial Action Coding System (FACS) que decodifica os micro movimentos musculares faciais.

Partindo do princípio que o nosso objetivo é uma melhor comunicação e não necessariamente detectar mentiras, é fundamental entender que, ao adotar uma inverdade ou não expressar-se de forma fiel e compatível com sua opinião e sentimentos, sim, o corpo dará pistas. Ou seja, se a sua intenção é comunicar-se eficientemente, seja verdadeiro e fiel para com você mesmo.

“Eu não estou chateado com o fato de você mentir para mim, eu estou chateado porque de agora em diante eu não posso mais acreditar em você.”
Mark Twain

De nada adianta seguir as dicas abaixo para expressar algo que está em desacordo com seu eu: fatalmente, você será traído por uma micro expressão facial ou comportamento incongruente. Não há algo mais destruidor de rapport e empatia do que uma incompatibilidade entre a palavra e comportamento (a não ser que o seu interlocutor esteja embriagado e não perceba…). Em outras palavras, se você for fiel ao que pensa e acha, não precisará se preocupar com a coerência entre o que fala e como se porta.

Para entender como tudo isso é poderoso, recomendo dar uma olhada no canal Metaforando, do excepcional Vitor Santos, no Youtube.

O Que Fazer?

Tenho certeza de que muitos olharão para os itens abaixo e acharão simples. E é! É muito mais uma questão de bom senso, congruência e equilíbrio do que qualquer fórmula mágica.

Vejamos:

Escute

“Não escute com a intenção de responder, mas com a intenção de entender.”

Como dito inicialmente, escutar não só é um sinal de respeito pelo próximo como gera rapport e empatia.

Além disso, permite que você tenha elementos sobre o outro suficientes (e tempo) para elaborar uma estratégia eficaz baseada na comunicação não verbal.

Se você está procurando uma pausa na fala do seu interlocutor para poder falar, você não está escutando como deveria.

Tenha Paciência

Uma das grandes características das pessoas extrovertidas é interromper o seu interlocutor e quebrar as linhas de raciocínio alheias, o que prejudica o escutar. “Ler” o seu interlocutor e entender a postura e posicionamento dele pode lhe dar pistas enormes sobre os argumentos necessários ao convencimento. Sem paciência para falar o que deve ser falado, no ritmo certo e sem espaço para a escuta, a probabilidade da comunicação falhar será alta.

Mantenha Contato Com os Olhos

Muitos de vocês já devem ter ouvido a expressão “fulano fala com os olhos” ou “os olhos são o espelho da alma”. A importância de manter contato com os olhos transcende a comunicação em si e está intimamente ligada à ser transparente e passar a ideia de uma pessoa confiável.

“Quando a conta de confiança é alta, a comunicação é fácil, instantânea e eficaz.”
Stephen Covey

Esqueça o Telefone Celular

Permitam-me evitar falar detalhadamente sobre esse ponto. Ele é óbvio demais: escutar e ser escutado requer atenção e não existe maior empecilho do que o seu aparelho de telefone celular. Me perdoe, mas se você acha que isso é uma besteira, prepare-se para não entender e não ser entendido. Ficar olhando a tela do celular e para o relógio também quebra o rapport e é um sinal claro de desatenção.

Seja Claro

Ser claro na comunicação é essencial. Fale de forma clara, evitando contradições, termos antagônicos e evitando também falar rápido ao ponto das palavras caírem da boca (sem acompanhar o raciocínio). Lembre-se, você fala para o outro, não para você. A comunicação tem que ser clara para o seu interlocutor e na velocidade e clareza que ele consegue compreender. De fato, tente acompanhar o ritmo da pessoa com quem está se comunicando – isso ajuda muito a construir rapport.

Seja Objetivo

Enrolar ou colocar o gato no telhado pode ser necessário, dependendo do tipo da comunicação a ser feita. Não é uma boa estratégia comunicar um óbito de alguém próximo de forma direta. É necessário preparar o terreno. Mas isso não impede que a comunicação seja objetiva. Ser objetivo evita margens de interpretação.

KISS

Keep It Simple, Stupid – mantenha simples, estúpido! Ou mantenha-se estupidamente simples. Explicar algo de forma simples é a melhor receita para ser entendido apropriadamente (mas talvez seja o maior desafio de todos). Sabemos que existem coisas complexas que exigem uma base maior de conhecimento para o perfeito entendimento… Mas já dizia Albert Einstein no século passado, se você sabe do que está falando, será capaz de explicar o que sabe para uma criança.

Use Metáforas

Usar metáforas pode ajudar muito no entendimento de diversos temas. De fato, é um recurso muito útil e poderoso para encurtar distâncias culturais e de ausência de conteúdo. Entretanto, é necessário ter a certeza de que a metáfora é válida na outra cultura ou que o seu interlocutor tem a base de conhecimento necessária para o entendimento. Se não tem, você terá que incluir na comunicação os elementos de base necessários, terminando por trazer complexidade onde não se deseja. Outro ponto importante é que você precisará julgar se abrir mão de ser simples e objetivo usando uma metáfora terá um resultado melhor.

Do ponto de vista da PNL, usar metáforas pode distanciar o que foi entendido da realidade objetiva, pois a nossa mente tende a preencher as lacunas que a metáfora provê, apesar de ser uma ferramenta poderosíssima. Ou seja, tem ligação direta com a estratégia de comunicação que você pretende usar.

Dadas as advertências, não há ferramenta mais poderosa para a comunicação e existe uma maneira fantástica de usá-las: explique o problema, desafio, proposição, condição ou afirmação que deseja que seus interlocutores entendam de forma clara, direta e objetiva. Conte as metáforas necessárias para que o entendimento ocorra e, ao final, conclua com uma amarração direta, objetiva e factual buscando a conclusão dada.

Confirme e Peça para Repetir

Confirmar o entendimento sobre o que foi dito e pedir para que repitam o que foi entendido é, sem dúvida, a técnica mais eficaz de todas. Com ela, você checa o entendimento no mapa / visão do interlocutor e tem a chance de corrigir quaisquer questões que surjam.

Importante reforçar que as sugestões acima podem não ser compatíveis entre si. Um exemplo claro disso se dá ao usar metáforas, que certamente esconderão a simplicidade e a objetividade. O ponto é ter bom senso, entender a postura do seu interlocutor e usar a estratégia mais adequada.

“A arte da comunicação é a linguagem da liderança.”
James Humes

E Se Eu Ficar com A Famosa Pulga Atrás da Orelha?

“Entendimento é mais profundo do que conhecimento. Existem várias pessoas que conhecem você, mas pouquíssimas realmente entendem você.”

Neste caso, posso apenas falar por experiência própria e vai da sensibilidade de cada um. Quando isso acontece, geralmente significa que o seu cérebro detectou alguma incompatibilidade entre o que foi dito e o comportamento do seu interlocutor. O meu gut feeling, aquela sensação de algo errado no estômago, na maioria das vezes, acerta. Com sutileza e elegância, você pode explorar um pouco mais o tema que gira em torno daquilo que despertou em você a desconfiança. Você pode metamodelar a linguagem à procura de pistas que comprovem um deslize.

Perceba que pode ser a intenção do seu interlocutor se proteger e a omissão pode provocar um comportamento incongruente e não necessariamente significar que ele(a) está mentindo. Mais uma vez, tenha bom senso e tente contextualizar o assunto. Talvez tudo se esclareça. Dê o benefício da dúvida e espaço para que seu interlocutor comente. Respeite a sua privacidade.

Por fim, não assuma. Talvez seja o maior equívoco de todos no que diz respeito à comunicação. Assumir é preencher as lacunas da falha de entendimento conscientemente e o resultado pode ser muita confusão.


(*) Pouco menos de duas semanas atrás, postei um texto falando sobre o que é talvez o pressuposto mais importante da PNL (e, certamente, um dos mais controversos).

O texto teve uma repercussão enorme e muita gente entrou em contato comigo nas redes sociais e WhatsApp, sugerindo abordar como se fazer entender. O texto original continha essa parte mas, por causa do tamanho, decidi separar.

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Coaching Comunicação PNL Vida em Geral

Comunicação: Onde, De Fato, Resta a Responsabilidade?

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Talvez um dos pressupostos da PNL mais controversos seja o que diz que…

“A responsabilidade da comunicação é SEMPRE de quem emite a informação.”

Olhar para essa frase em si já gera um mal estar em muitos.

Já vi nas mídias sociais memes, imagens e afirmações diametralmente opostas a esse pressuposto. Algo como…

“Sou responsável pelo que digo, não pelo que você entende.”

Uma rápida pesquisa no Google retornará inúmeros exemplos de imagens… confesso até que, no passado, cheguei a compartilhar algumas delas! As redes sociais estão cheias de memes que trazem essa afirmação e, hoje, agradeço ao universo por achar isso… com todo o respeito, limitante:

Meus queridos, a frase em si é contraditória! Se você é responsável pelo que diz, é claro que você é responsável pelo entendimento (afinal, para quê dizer algo se você não quer se fazer entender?)

Por que será que tanta gente acha que não é responsável pela comunicação?

A própria pergunta acima já nos dá uma clara pista do motivo: responsabilidade (ou sua isenção).

As pessoas tem o hábito de se isentarem da responsabilidade em suas vidas, de colocar o macaquinho no ombro dos outros. Ainda, evitam ser os protagonistas do seu palco e promovem a manutenção da zona de conforto, um comportamento totalmente alinhado ao vitimismo.

O processo de comunicação é transitivo e envolve, pelo menos, duas partes. Não há comunicação com o espelho. Não há comunicação com a TV ou com o travesseiro (alguns practitioners de plantão afirmarão que sim, há comunicação entre as partes de um ser, mas isso é conversa para outro post – tomei o cuidado ao mencionar “partes” na frase acima :))

Em outras palavras, a comunicação é uma ação resultante de uma intenção (a sua). Se você tem a intenção de se comunicar, é óbvio que quer se fazer entender (nos seus termos), por mais que você ache que está apenas “constatando os fatos”, um argumento muito comum [os fatos são sempre a sua versão de realidade, pois passamos não por uma, mais por DUAS situações de interpretação: quando você usa seus canais representacionais (visual, auditivo e cinestésico – que inclui os demais) para interpretar e armazenar a realidade e quando você recupera o que armazenou e traduz em palavras e outras formas de comunicação].

Se partirmos dessa ideia, o que estamos tentando transmitir é a nossa visão de algo (afinal, cada um constrói sua visão de mundo particular) que pode ser ou não próxima da realidade. Ou seja, comunicação é convencimento.

E se o ato da comunicação for intencionalmente falho de forma a provocar confusão?

Meu caro leitor, essa afirmação nada mais é do que a validação do meu argumento e do pressuposto da PNL até então.

Como assim Romulo?

A confusão só nasce justamente porque a responsabilidade da comunicação é comprovadamente de quem emite a informação. Tem o poder quem tem a responsabilidade. A prova disso é o empoderamento de quem emite – ao intencionalmente falhar, a confusão se instala através do poder que possui ao ser responsável.

Colocando de uma forma análoga, comunicar-se de forma ineficiente é uma irresponsabilidade. Ouso afirmar que a maioria dos problemas do mundo são falhas de comunicação ou iniciados por isso. Peter Drucker chegou a afirmar que giram em torno de 60%.

A responsabilidade atrai o poder?

Vencida a fase da argumentação, assim como defendi o empoderamento do protagonista, ao chamar a responsabilidade para si, imagine, como se fosse possível, o poder que ser responsável pelo entendimento da comunicação traz a quem emite a informação, pegando emprestada, de forma bidirecional, a afirmação do grande filósofo Tio Ben: “grandes poderes vem com grandes responsabilidades.”

Mas…

“Grandes responsabilidades geralmente vem com grandes poderes.”

… Principalmente ao entendermos o poder da ação e o poder de poder agir. Fácil concluir então que…

“Comunicar-se de forma eficiente nos atribui grande poder.”

Querido leitor, antes de me perguntar se estou maluco, faça uma análise da história da humanidade e me diga se os grandes comunicadores tiveram ou não grandes poderes:

  • Jesus
  • Gandhi
  • Madre Teresa
  • Mohamed Ali
  • Mandela
  • Martin Luther King
  • Kennedy

A lista é imensa. Certamente, essas pessoas sabiam se comunicar e se fazer entender.

Como isso afeta a nossa vida?

A essa altura, não preciso dizer que afeta total e profundamente. Pense comigo nas mais diversas situações da sua vida em que você conseguiu algo porque falou o necessário e as vezes que não conseguiu porque não se expressou como devia.

Quantas vezes, ao final de uma conversa, você ficou com a sensação de que não foi entendido e que, por causa disso, seu interlocutor provavelmente não fez o que você pediu? Quantas vezes, ao não se comunicar de forma eficiente, o rapport foi destruído e a relação com seu interlocutor ficou prejudicada?

Agora, pense nas consequências dessas conversas e como tudo poderia ser diferente se o entendimento fosse diverso. Não é difícil compreender a máxima que afirma que guerras foram deflagradas por falta de entendimento.

Da mesma forma que as pessoas transferem a responsabilidade do entendimento para quem recebe a informação, existem indivíduos que transferem a responsabilidade da ação para quem emite a informação e isso pode acontecer por vários motivos.

Você já deve ter ouvido a frase: “eu fiz isso ou aquilo porque fulano mandou.”

Trata-se de questão ainda mais polêmica, que nos remete ao início do texto, sobre protagonismo e responsabilidade. Se por um lado essa questão apenas corrobora o poder de quem comunica, precisamos entender que a nossa sociedade possuiu e possui sistemas inteiros construídos em cima do descasamento de quem perpetua a ação da sua responsabilidade sob as consequências dos seus atos.

Na minha humilde opinião, estamos diante de uma questão perigosa e que tem consequências bastante graves. Vemos isso no nosso dia a dia com tantos analfabetos funcionais(*), capazes de seguir ordens, mas incompetentes ao julgar ou compreender seus atos. Outro bom exemplo são as forças armadas e outras cadeias de comando inquestionáveis.

Não quero entrar no mérito sobre o que é assim e até concordo que pode haver uma boa justificativa ou necessidade por trás. Mas será que as guerras não existem justamente porque há gente sendo comandada sem usar seu bom senso? Será que elas não existem pela transferência de responsabilidade, pela concentração do poder da ação alheio nas mãos de poucos?

Encontramos situação semelhante em algumas religiões. Ela também é usada como desculpa para essa transferência de responsabilidades e algumas chegam a construir seus argumentos de crença e fé em cima dessa delegação. Se matou muito “sob a vontade de Deus” ou de divindades, de acordo com Steven Pinker, em seu fabuloso livro “Os Anjos Bons de Nossa Natureza”. De acordo com ele, os principais culpados por grandes conflitos e mortes ao longo de nossa história são as religiões e o estado.

O processo civilizador, contudo, de forma recorrente, se posiciona como responsável pela diminuição da violência. Se por um lado o estado é uma das grandes consequências do processo civilizador, um dos seus efeitos colaterais é a criação de cadeias e hierarquias de comando com a alienação do bom senso e a transferência da responsabilidade da ação para poucos.

Como eu disse, o tema é polêmico. Entretanto, resgatando a questão central, pare e pense um pouco: o que há por trás da religião e do estado, ao levar grandes multidões algumas vezes ao conflito, se não o poder da palavra e do convencimento?

O que há em comum e por trás de grandes líderes que comovem empresas e cidadãos com suas palavras, arrastando pessoas, funcionários, plateias e multidões, na direção dos seus pensamentos e do sucesso?

O poder está em suas mãos. Ou melhor, em suas palavras. Lembre-se, o poder da comunicação está em quem emite, assim como a responsabilidade de se fazer entender. Não abra mão nem delegue esse poder. Não caia na tentação de se isentar dessa responsabilidade e colocar nas mãos dos outros o que você quer.

Repita comigo, salve e poste por aí:


 

(*) A questão dos analfabetos funcionais e da responsabilidade da ação em si foi sugerida por Rafaella Lins. Obrigado pela sugestão!