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Inteligência Emocional… Ao Contrário?

Desde 2017 que escrevo direta ou indiretamente sobre inteligência emocional e até virou um capítulo de livro.

Trata-se de um tema na moda há quase 30 anos que foi explorado à exaustão, colocado por muitos como solução para todos os problemas da humanidade, até a fome (contém ironia).

Outros especialistas na área trazem a inteligência emocional clássica como uma grande falácia.

Nem tanto, nem tão pouco.

O conceito foi esticado e resumido de formas inimagináveis ao longo dos anos.

Penso imediatamente e (quase) involuntariamente no trabalho de Myers-Briggs, que tomou por base Carl Jung.

Ele certamente ficaria surpreso com as conotações extraídas do seu trabalho, para dizer o mínimo. Hoje, estes testes são usados mundialmente em diversos cenários, mas também para rotular pessoas e em processos de seleção, algo inaceitável.

Voltando, analogamente, parece haver um consenso (principalmente em conteúdo de autoajuda) de que inteligência emocional é:

  1. Reconhecer as emoções;
  2. “Controlar” as emoções;
  3. Usá-las adequadamente, para si e socialmente (o que já leva a outro conceito criado ao longo do tempo: inteligência social).

Aqui, chamo especial atenção à palavra “controlar“. Uma rápida pesquisa no seu mecanismo de busca preferido e perceberá como o “gerenciamento das emoções” e a “autorregulação” surgem com frequência e, tristemente, acabam sendo interpretados como “controle”.

Mas antes de abordar esse tema em específico, falemos um pouco da meta-origem do conceito (comento a origem propriamente dita no post original).

Por trás do surgimento da ideia de inteligência emocional, há um processo de reconhecimento das diferenças individuais, diversidade (exemplificado pela multiplicação das inteligências, notadamente sobre as mãos de Howard Gardner) e, principalmente, uma busca por medir o sucesso.

O próprio surgimento da concepção de QI (Quociente de Inteligência) no início do século passado tinha a intenção de prever o sucesso (dentre outras), apesar de florescer em meio a profundos vieses comportamentais.

Isso mesmo, o QI tinha uma pitada de segregação e beneficiava uma parcela populacional, promovendo estereótipos e até o preconceito.

Nada bonito, diga-se de passagem – apesar de ser uma outra época com um contexto completamente diferente do atual. É mais fácil reconhecer tais características, hoje, mais de cem anos depois.

Contudo, se por um lado o QI é algo pragmático, supostamente fácil de medir e beneficia o raciocínio lógico e matemático, por outro, a inteligência emocional não só é difícil de medir como está sujeita à múltiplas interpretações. São habilidades importantes, mas dificilmente preveem o sucesso em todas as ocasiões.

O argumento original de Daniel Goleman (responsável pela popularização do conceito e não por sua criação) é de que a inteligência emocional é um indicador muito mais preciso e fácil de sucesso, ao contrário do QI.

Só que, aí, entramos em um loop: o QI é “mais fácil” de avaliar e o QE (Quociente Emocional), o oposto.

Tá. Eu sei que existem inúmeras tentativas de medir, testes e abordagens diferentes. Mas pense comigo: testes de QI são matemáticos, lógicos e mais precisos por definição (apesar de medirem conhecimento em alguma extensão – o que, perdoem-me, invalida o teste). Testes de QE são situacionais e sofrem profunda influência cultural.

Ao longo dos anos, surgiram várias potenciais metodologias propondo calcular o segundo, enquanto a metodologia para o primeiro sofreu inúmeras revisões (até para apagar um pouco dos vieses iniciais).

Uma pergunta válida: testes assim medem algo que pode ser efetivamente útil? Depende inteiramente do contexto e o contexto tem sido jogado fora.

Em ambos os casos, temos uma visão individualista de sucesso e a ausência completa de uma percepção sistêmica, apesar da inteligência emocional estar frequentemente associada à inteligência social. Mesmo assim, ela analisa o indivíduo, como se uma pessoa, sozinha, fosse capaz de ser qualificada como tendo ou  não a “qualidade” desejada e suficiente e que só depende dela. A bandeira do “protagonismo” segurada ao alto.

Chegamos à um ponto deste texto onde temos três conceitos a explorar: o controle, como prever o sucesso (incluo aqui a questão sobre o individualismo) e porque inteligência emocional “ao contrário”, concedendo-me a liberdade de, quem sabe, mudar de opinião sobre o tema.

Controle

As emoções são reações neurofisiológicas do corpo a estímulos. Primitivamente, emoções agradáveis nos aproximam daquilo que traz bem-estar e emoções negativas nos afastam do que pode potencialmente causar problemas ou ser uma ameaça. É assim com o medo, a raiva, a tristeza, a felicidade, o nojo e o desprezo… exceto com a surpresa, que precede outras emoções. (Ekman, 1971).

Para o ser humano, controle, dentre outras coisas, é praticamente um sinônimo de neutralizar ameaças. Colocando de outra forma, o desconhecido causa desconforto justamente pela falta de controle e é interpretado na maioria das vezes como uma ameaça.

Aquilo que é controlado, é conhecido (mas não necessariamente o contrário).

Frequentemente assumimos que uma situação ou estímulo já vivenciado anteriormente trará a mesma emoção. A experiência prévia é conhecida e isso pode dar a falsa sensação de controle emocional por saber o que eventualmente sentirá. Como não controlamos o desconhecido, achamos que controlamos as emoções diante de situações conhecidas, mas na verdade, estamos apenas recuperando uma memória relacionada à emoção presenciada (e talvez as ações decorrentes).

Agora, exploremos alguns conceitos essenciais.

Conhecimento e controle são conscientes.

A emoção surge de um mecanismo cerebral muito mais antigo e primitivo do que a nossa consciência e, muitas vezes, surge incontrolável de meio até um segundo e meio antes sequer de tomarmos consciência do que aconteceu (Nørretranders, 1998).

Começa a perceber aonde eu quero chegar?

Não controlamos as emoções. Podemos, no máximo, tentar gerar condicionamentos para reagirmos de forma intencionada e planejada. Veja a imagem abaixo:

Parece complexo? Não, é simples até.

  1. O estímulo acontece;
  2. A emoção surge em um nível inconsciente;
  3. Parte do nosso cérebro avalia se é necessária uma reação instintiva de autoproteção (lutar? Fugir? Paralisar para economizar energia?)
    Essa fase pode levar de meio segundo à um segundo e meio, mais ou menos;
  4. Nosso consciente começa a perceber o que está acontecendo. A emoção que tomou conta da gente começa a se dissipar e a ser interpretada
    Com a passagem dos segundos, ganhamos mais forças para interagir com as nossas reações, ao ponto das sensações atingirem um nível suficientemente baixo para permitir ponderarmos a situação. O tempo que leva para chegar nesse estágio varia com o estímulo e de pessoa para pessoa.

Ao longo do tempo, a emoção vai amadurecendo, assim como a nossa percepção da situação. Darei dois exemplos extremos.

  1. Extremo 1 – Alguém está em uma rua escura, tarde da noite e sente-se já ameaçado. Uma pessoa se aproxima e nosso alguém foge, instintivamente. Algum tempo depois, não sabe se de fato seria assaltado, mas a “decisão” de fugir tomou conta dele e foi incontrolável. Quando isso acontece, o que segue é a sensação: “nossa, simplesmente agi e não me dei conta”;
  2. Extremo 2 – Nosso alguém agora está em uma situação distinta e diante de uma perda. Pode ser a perda de um emprego, de um ente querido, de um relacionamento ou tantas outras. No momento inicial, ele é tomado pela tristeza e eventualmente pela raiva e medo. Os dias passam, as semanas também e o “luto” dessa perda transforma-se lentamente em saudades, memórias agradáveis e em aprendizado, um processo que pode durar meses.

Qual controle foi efetivamente exercido? Conseguimos escolher, deixar de sentir medo, tristeza e raiva em situações assim? No primeiro exemplo, reagimos antes até de arbitrar. No segundo, houve uma transformação (e como gosto de chamar), um amadurecimento emocional. Falei um pouco sobre isso neste outro post.

É importante registrar que há um debate acerca do tema.

Enquanto acredito não ser possível controlar diretamente e especificamente as emoções, podemos treinar, condicionar reações diante de determinadas situações.

Algumas profissões como a medicina, forças-tarefa de resposta à incidentes e as forças armadas são apenas alguns dos vários exemplos (definitivamente não limitado à esses). Entretanto, não há nada que possa ser feito no intuito de controlar as emoções em si, principalmente em situações novas e desconhecidas.

Aqui, faço uma reconsideração: se eu pudesse escolher aquilo que é mais importante no tocante à inteligência emocional, eu escolheria o aumento do repertório emocional ao invés da metodologia clássica. Talvez os dois em conjunto.

A “Necessidade” de Prever o Sucesso

Vivemos em uma sociedade que venera o sucesso e a percepção dele.

De fato, ao longo das décadas e séculos criamos diversos mecanismos para medi-lo, recompensá-lo e punir os fracassos.

Nesse contexto, o QI teve uma aplicação histórica, inclusive nas guerras mundiais. O conceito de inteligência emocional é promovido desde a década de 90 como fator preponderante em prever sucesso. A ideia é até comercializada assim (e como!).

Existe uma necessidade social e a argumentação em torno da inteligência emocional tenta fornecer a solução, posicionando-se como a saída universal para um problema que não deveria existir.

Se analisarmos a autoajuda dos últimos 20 anos, talvez o que mais tenha sido escrito em milhares de livros e guias são as fórmulas para o sucesso direta ou indiretamente e a inteligência emocional é citada frequentemente nesse contexto.

Não há fórmula para o sucesso. Não há modelo; há um conjunto de indivíduos fazendo o melhor que podem com os seus recursos únicos.

Usando uma percepção mais abrangente, dificilmente a inteligência emocional é o único argumento sobre o sucesso.

Vivemos uma atualidade cheia de métodos, processos e testes dos mais diversos que tentam estereotipar quem tem mais chances ou não. Reforço o termo “estereotipar”, porque é exatamente isso que acontece.

Temos definições de pessoas racionais, emocionais, introvertidas, extrovertidas, julgadoras, sensitivas, intuitivas, bagunçadas, criativas, executoras, sonhadoras… todas concepções realçadas por metodologias de testagem que supostamente apontam quais características têm mais “sucesso” em determinadas funções.

Mas a questão é bem mais complexa.

O resultado dessas metodologias é a classificação dos seres humanos em caixinhas (como escrevi aqui), ignorando a nossa maior característica: a capacidade de mudar, da adaptabilidade e do próprio cérebro de se reconectar.

Reunir indivíduos em conjuntos de pessoas com potenciais características supostamente semelhantes (importante registrar – altamente subjetivas) e arbitrar eliminar ou escolhê-los baseado nessas características não é tão diferente da mentalidade da eugenia do século passado.

E tudo em nome da ciência (não entrarei nem no mérito de outros artifícios que usamos diariamente, pseudocientíficos e bastante populares acerca de uma estereotipação semelhante).

É negar a oportunidade de evolução e mudança (que sabemos que existe) a qualquer um.

Afinal, na sociedade contemporânea e individualista, o que não faltam são exemplos de pessoas que proclamam suas próprias evoluções (irônico e contraditório), ao mesmo tempo em que fazem uso de métricas arbitrárias porque o sentido por si atribuído afaga o ego.

Falar de evolução sem admitir a mudança, através de uma classificação comportamental arbitrária é uma contradição. Aceita que dói menos.

Será que estou advogando contra o uso dessas ferramentas?

Não. Pelo menos não, totalmente.

Advogo contra o uso irrestrito e indiscriminado de aplicá-las para classificar seres humanos. São processos (falo dos que pelo menos tentam ser científicos) que podem ser eventualmente usados por profissionais qualificados para, por exemplo, reunir um grupo de pessoas com características favoráveis.

Mas nunca e eu repito, nunca em processos de seleção, eliminação e escolha ou que podem levar à segregação sob nenhuma forma, algo feito comumente.

Sucesso não é apenas uma questão de escolher as pessoas remotamente adequadas para uma tarefa específica.

Sucesso é muito mais uma questão de dar as condições para que as pessoas cooperem, aprendam e evoluam.

Sucesso é permitir que a diversidade interaja, fomentando a criatividade.

Inteligência Emocional ao Contrário?

Quando mencionei no parágrafo anterior a cooperação, lembro-me de algo que repito à exaustão em meus textos: nós somos em conjunto muito mais do que a soma das individualidades, um quebra-cabeças de peças completamente diferentes que, reunidas, formam uma imagem belíssima.

Somos seres sociais antes de tudo e é por causa disso que estamos vivos como espécie, hoje.

Não é porque alguém descobriu como manipular o fogo e usou isso para aquecer-se: é sobre o compartilhamento da habilidade para a sobrevivência do grupo e talvez a própria definição de civilização passe por isso.

Existe um sábio argumento (pelo menos na minha opinião) sobre o surgimento da civilização, contrário à concepções amplamente estabelecidas como a caça e a pesca, o surgimento de instrumentos, agricultura e de artefatos religiosos.

Há dúvidas sobre a origem do pensamento, atribuído à antropóloga Margaret Mead durante uma aula, mas que tem solidez.

Sobre o início da civilização e da cultura, a sua resposta surpreendeu muita gente:

“Qual o sinal mais antigo da civilização? Um pote de barro? Ferro? A agricultura?”

Não.

Para ela, a evidência mais antiga de uma verdadeira civilização é um fêmur curado [um osso enorme da perna, fundamental e de difícil reparo]. Ela explica que uma cura como essa nunca foi encontrada nas reminiscências de culturas competitivas ou sociedades selvagens. Pelo contrário, nestas, pistas de violência são comuns. (…) Mas um fêmur curado mostra que alguém deve ter cuidado da pessoa ferida – caçou em seu lugar, trouxe comida e serviu ela através do seu sacrifício pessoal. Sociedades selvagens não se sujeitavam a essa “pena”.
[Fearfully and Wonderfully Made (Grand Rapids, Mi.: Zondervan, 1980); Pain: The Gift Nobody Wants (Brand, 1993)]
Adicionalmente, https://stacyhackner.wordpress.com/2020/04/21/that-margaret-mead-quote/ e
https://www.patriciarobertsmiller.com/2020/11/30/margaret-meads-definition-of-civilization/

Pensando bem, qual maior ou melhor definição de sucesso do que o conceito por trás dessa afirmação ou ideia?

Confesso, essa percepção me deixa não só confortável, mas traz um senso de pertencimento e bem-estar.

Sim, eu frisei a palavra “competitivas” no texto atribuído a Mead intencionalmente. Parece que favorecemos essa questão sistematicamente na sociedade atual em detrimento da cooperação. Pódios potencialmente gerando violência, algo que vemos todos os dias nas redes sociais, ao contrário da histórica e comprovada comunhão.

E, talvez agora, você comece a perceber o argumento “inteligência emocional… ao contrário“.

O equívoco não está em achar que inteligência emocional não importa ao aplica-se a tudo: está em achar que é uma responsabilidade individual.

Em nossa busca incessante por medir as pessoas, classificá-las, recompensá-las e puni-las, criamos teorias e métodos supostamente precisos para a tarefa, meio que desprezando completamente a subjetividade e o fato de sermos seres únicos, mas que funcionamos melhor em conjunto justamente por isso.

Existem diversos efeitos colaterais dessa cultura e cito dois importantes: a segregação e o preconceito e a individualização de algo intrinsecamente social e sistêmico.

Falei sobre a segregação e as caixinhas estereotípicas neste post e sobre a individualização neste outro.

Com a inteligência emocional aconteceu algo assim.

Uma breve pesquisa em qualquer site de busca revelará milhares de conteúdos falando sobre o que é inteligência emocional, como cultivá-la e porque ela é importante. Mas o conceito é individualizado, na esfera da responsabilidade e da autonomia completa e absoluta, linha da concepção de protagonismo pregado pela autoajuda contemporânea.

Até mesmo quando abordamos o conceito adjacente de inteligência social, ele está preservado em torno de uma potencial capacidade individual de um ser social, uma contradição conceitual na minha opinião.

E isso atende a uma agenda.

O processo de autoconhecimento é uma jornada para dentro de si. Isso é compreensível (e vende).

Mas uma jornada de autoconhecimento não resolve todos os problemas do mundo e está repleta de percalços e dores.

Tem muita coisa que depende da gente como indivíduos e ser protagonista da própria vida tem um lado extremamente positivo. Autorresponsabilidade.

Contudo, é importante reconhecer as fronteiras desse processo, entendendo que também existem diversas coisas que não dependem unicamente da pessoa.

Contextos familiares e educacionais, profissionais, de sistemas aos quais pertencemos, questões estruturais como fome, doenças, pobreza extrema, governamentais e mundiais que vão muito além do indivíduo são apenas alguns exemplos.

Inteligência emocional não é diferente.

Identificar as próprias emoções, reconhecê-las, encontrar causas raiz, reconhecer as emoções dos outros e usar tudo isso adequadamente reagindo da melhor forma possível contextualmente parece ser uma estratégia de sucesso. Mas se focarmos apenas no indivíduo, a estratégia tem um grande potencial de falhar.

Muita gente tem uma dificuldade enorme de reconhecer as próprias emoções.

Quem dirá reconhecer e aceitar as emoções dos outros.

E quando mencionei no título “inteligência emocional ao contrário” foi neste sentido.

Como seres sociais totalmente interligados, talvez o aspecto mais importante de todos seja permitir a interação das nossas emoções com as dos outros.

Lembrando o que disse alguns parágrafos acima, é impossível para um ser humano não sentir emoções e podemos até condicionar reações favoráveis a intenções de comportamento previamente planejadas, mas sem considerar que todo ser humano da face da terra tem emoções, dizer ao próximo “eu enxergo você” ou “eu percebo você” em um nível emocional não gera apenas empatia.

Coloca-nos no mesmo patamar de existência, fazendo o possível e o melhor dentro das possibilidades de cada um, sem esquecer as emoções.

Precisamos remover essa conversa do debate da validade dos testes emocionais e estereotípicos. Precisamos renunciar ao protagonismo cego, puro e simples e entender que a emoção do outro, por mais que seja conteúdo do próximo, é algo que nos interliga, enlaça-nos em uma existência social que é muito mais natural diante de dezenas de milhares de anos de evolução do que apenas querer controlar o que sentimos.

Eu darei um exemplo prático agora.

Imagine que você leu todo o conteúdo disponível sobre o assunto e chegou à conclusão de seguir à risca as orientações.

Conta até 10, respira fundo… identifica as emoções despertadas, faz o possível para controlar as suas reações momentâneas e intempestivas buscando o melhor resultado esperado.

Essa frase parte do princípio de que temos que moldar o que quer que seja, atuando para chegar a um objetivo.

E isso é um absurdo.

Em um ambiente com pessoas que aceitam-se mutualmente emocionalmente, não há a necessidade de moldar comportamentos além do bom senso.

Há a compreensão.

Diga-me, usar as orientações clássicas ligadas ao tema, que incluem reprimir emoções, traz segurança para você?

Ou o que realmente traz segurança é saber que expor as emoções não será o motivo de julgamento por parte do próximo?

Que tal começar por não julgar as reações alheias?

Não devemos ferir a liberdade dos outros. Mas podemos aceitar que, se todo e qualquer ser humano tem emoções, que elas são incontroláveis (apesar das tentativas) e talvez o que falte aqui é compreensão e aceitação.

É aceitar que, assim como nós, aquele ser diante de você tem seus desafios, seus problemas, sua experiência única e suas formas de exercer tudo isso com ações influenciadas completamente por algo praticamente incontrolável.

Demonstrar emoção é tido como um critério de julgamento para a vulnerabilidade e a vergonha.

O problema está aí.

Falamos tanto do assunto como regulação, controle e manipulação, esquecendo que qualquer um de nós está sujeito às mesmas condições, fisiológicas até.

Reservamo-nos o direito de explodir emocionalmente, mas condenamos todos os outros à vergonha se o fizerem.

Então… apenas então, talvez a compreensão de começar a falar sobre inteligência emocional não seja sobre a gente. Não seja sobre mim ou você separadamente. Seja sobre aquele indivíduo que está a nossa frente, funcionando em conjunto conosco.

Onde se sente seguro?

Em um ambiente onde precisa usar a cartilha da identificação, reconhecimento, controle e atuação, ou em um ambiente onde pode mostrar o que sente, sendo você mesmo sem subterfúgios?

Tem vergonha de chorar em público?

Eu tive, por muito tempo. Talvez ainda tenha.

Tem vergonha de sentir-se triste na atual ditadura da felicidade, permeada por gratidão, positividade, #gratiluz e termos do gênero, conduzindo-nos a construir uma imagem social de perfeição impossível de manter em longo prazo?

Pense um pouco: tem coisa mais absurda do que isso? Negar nossa natureza humana em favor de uma imagem plasticamente perfeita de uma existência mentirosa, construindo um alvo ideal inatingível?

Isso não traz bem-estar. Traz depressão em escala.

Nada disso é remotamente compatível com a inteligência emocional.

Isso é reprimir algo que faz parte de cada ser humano e, nossa, como existe literatura sobre o assunto há séculos!

Somos portadores de momentos de altos e baixos, de tristezas, felicidades, paciência e raiva. Somos agraciados com pensamentos contendo os mais puros sonhos e os mais execráveis desejos. E não há nada de errado com isso, respeitadas as leis, a ética e as patologias (afinal, o limite da compreensão e da aceitação é uma média social salutar que existe, nos protege e há 7 bilhões e meio de razões para, pelo menos, considerar esse fator).

Enquanto não nos sentimos seguros para exercer uma parte de nós que está presente em cada humano que sequer aparece por medo de ser, não há inteligência emocional de nenhuma parte envolvida.

Talvez o assunto seja mais sobre essa compreensão do que versar sobre o que podemos fazer como indivíduos supostamente autônomos, protagonistas e totalmente responsáveis, porque não somos nenhum dos três, completamente.

Talvez inteligência emocional seja sobre o exemplo do fêmur quebrado de Mead e a sua cura, sobre o surgimento da civilização. Talvez seja sobre altruísmo.

Chego à conclusão de que qualquer tentativa de manutenção da inteligência emocional clássica, considerando apenas as nossas reações mais adequadas ao momento é apenas manipulação e atuação. Goleman chega a mencionar a questão através dos camaleões emocionais, mas na década de 90 ele não tinha ideia do que se tornaria a sociedade com o advento das redes sociais.

Não podemos gerenciar as reações dos outros. Podemos apenas deixar o próximo à vontade em expressar as suas emoções, criando um ambiente de confiança e segurança.

E esse perece ser um bom começo.

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Síndrome do Impostor

Certamente você já deve ter ouvido falar em síndrome do impostor ou, em algum momento da vida, sentiu na pele do que se trata.

Talvez o que não saiba é que, apesar de desagradável, ela pode ser usada a seu favor.

Por onde passa, a síndrome do impostor gera identificação e a noção está comumente relacionada a uma baixa autoestima.

Associado a esse comportamento, temos o medo de sermos supostamente desmascarados como uma fraude… mesmo que as evidências externas reafirmem a competência e os nossos resultados.

Existem algumas perguntas que você pode se fazer para conhecer melhor a questão. Pergunte-se:

  1. Você percebe críticas ou feedback como supostas provas de sua incapacidade ou incompetência?
  2. Você relaciona o seu sucesso à sorte?
  3. Você sofre profundamente diante das menores falhas ou equívocos no que produziu?
  4. Você acredita que é apenas uma questão de tempo para que descubram que você não é capaz?
  5. Você se considera perfeccionista?

E por último, talvez a mais importante:

  • Existem evidências externas do seu sucesso ou competência?

Com essas perguntas, você deve identificar um comportamento de se considerar impostor e uma potencial saída dele.

Convivi com essa sensação durante anos e ainda convivo com ela.

Mas o que eu quero falar para vocês hoje, provavelmente causará uma surpresa.

A síndrome do impostor, por mais desagradável que seja, pode ser usada a seu favor, trazendo resultados positivos.

No livro Think Again de Adam Grant, ele conta a história de Halla Tómasdóttir, que concorreu ao cargo de presidente da Islândia cerca de 6 anos atrás, de como ela superou as dúvidas para sair do último lugar nas pesquisas, chegar em segundo lugar na eleição e de como usou a síndrome do impostor para reavaliar a situação constantemente, superando todas as objeções.

De fato, durante meses ela rejeitou o clamor popular para concorrer à presidência, chegando a achar um absurdo que as pessoas sequer sugerissem a possibilidade.

Deixarei no fim tanto essa quanto as demais referências usadas.

Agora, trago um conceito bem famoso criado por Martin Broadwell na década de sessenta: o dos estágios de aprendizado.

Incompetência Inconsciente

No primeiro cenário, você não sabe o que não sabe. Também chamado de incompetência inconsciente, é aquela situação onde nos deparamos com algo novo, mas sabemos tão pouco a respeito que é impossível avaliar o quanto não sabemos.

Incompetência Consciente

No segundo cenário, temos a incompetência consciente e uma boa ideia do quanto ainda precisamos aprender.

Competência Consciente

No terceiro cenário, chamado de competência consciente, aprendemos o suficiente para sabermos que sabemos… E executamos a tarefa de forma competente, mas ainda não no automático e pensamos durante o processo.

Competência Inconsciente

E, no último estágio, temos a competência inconsciente. Já praticamos tanto aquilo que sabemos que a execução fica automática.

É como dirigir um carro depois de anos de prática: podemos sair de casa e chegar ao trabalho sem pensar uma única vez em pisar no freio ou trocar de marcha.

E o que o conceito de Martin Broadwell tem a ver com a história contada por Adam Grant sobre a corrida presidencial na Islândia?

Pra entender a relação, imagine que as pessoas que estão nos estágios da competência consciente ou inconsciente podem exibir um comportamento conhecido como o efeito Dunning-Kruger ou viés do conhecimento.

Estudos científicos apontam que, quando achamos que sabemos de algo, cometemos o equívoco de achar que sabemos mais do que de fato sabemos.

E quando isso acontece, paramos de aprender.

Aqui, perceba relação com a síndrome do impostor.

Quando ela ocorre, um dos efeitos colaterais positivos é sempre achar que podemos melhorar ou aprender algo.

Se por um lado achar que é um impostor pode provocar a paralização pelo medo, por outro, a síndrome pode ser também um excelente mecanismo para sempre se superar.

Pense na síndrome do impostor e no efeito Dunning-Kruger como opostos. De um lado, a sensação de incompetência e, do outro, a arrogância de achar que sabe de tudo.

Halla, a candidata à presidência da Islândia, relatou sofrer desde os oito anos com a síndrome do impostor… Mas ela também afirma que foi um dos maiores motores para avaliar a situação e impulsioná-la na direção da superação.

A história é curiosa porque, um dos seus maiores concorrentes no início da corrida presidencial e líder nas pesquisas era um candidato que demonstrava egocentrismo e arrogância… E acabou quase em último lugar.

Se a síndrome do impostor causa a impressão em nós de que sempre estamos vivendo a incompetência inconsciente ou consciente, a sensação de estar aí nos faz questionar e estar abertos ao aprendizado.

É contra intuitivo achar que questionar ou repensar uma situação ou opinião leva a decisões e escolhas erradas.

Mas o que os estudos evidenciam é exatamente o contrário: quando nos damos a oportunidade de reavaliar o que achamos, na média, decidimos melhor.

Então, quero deixar três mensagens para vocês.

Se você acha que sofre com a síndrome do impostor, saiba que ela pode ser positiva, desde que não cause paralização e que todos nós somos imperfeitos.

E para que ela não trave você, recorra às evidências externas do que faz. Certamente entrará pessoas que respeitam você, o que faz e o resultado que obtém.

Segundo, como bem coloca Adam Grant, permita-se questionar, pensar novamente e reconsiderar, mesmo que tenha absoluta certeza de algo. O aprendizado depende disso.

E em terceiro, fuja do viés da autoridade. Não acredite em algo por causa da identidade de quem afirma, mas por causa da força das evidências. Se as evidências mudam, talvez esteja na hora de reavaliar e mudar de opinião também.

Com isso, você abrirá as portas para o aprendizado e ressignificará algo que é aparentemente limitante inicialmente, mas que pode ser usado em seu benefício.

Use a oportunidade para ficar aberto ao aprendizado e evoluir cada vez mais.


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Referências:

Livros:


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Olá, Como Você Está?

Sobre simpatia e empatia.

“Oi, tudo bem?”
“Olá, você tá bem?”

As duas perguntas acima vão na direção da simpatia e levantam respostas sociais.

Respondemos no automático: “tudo bem e você?”

Programamos a potencial resposta na pergunta.

Raramente tais proposições provocam um olhar para dentro, uma análise sobre a percepção de si.

Além disso, uma resposta do tipo “tudo bem (…)” é confortável para quem pergunta.

Permite uma conversa evitando potenciais temas desconfortáveis

Mas constroem um afastamento do reconhecimento das emoções, dos altos e baixos que todo ser humano enfrenta.

Laços humanos saudáveis passam pela compreensão mútua.

Manter a conversa no nível da simpatia tem suas vantagens, mas estimular a empatia através da aceitação das emoções alheias estabelece um vínculo duradouro.

Se me permitem uma breve sugestão, substituir o…

“Oi, tudo bem?”

por

“Olá, como você está?”

… Abre a porta para a comunicação empática.

Não é garantido obter uma resposta agradável, mas o respeito pelo momento de cada um é compatível com a existência humana e dá a liberdade à quem responde de fornecer aquilo que achar apropriado compartilhar.


Crédito da foto: https://comunicandopararefletir.blogspot.com/2015/08/voce-quer-um-abraco-amigo-alegres.html

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O Futuro do Trabalho Se Parecerá Com o Quê?

Texto criado e publicado originalmente para a Ace Cloud Hosting. Acesse o link abaixo e leia o artigo completo:
https://www.acecloudhosting.com/blog/future-of-work/

O argumento também foi a base para este vídeo (clique aqui).


 

A mudança pede a adaptabilidade e exige a inovação mais do que nunca (e isso requer diversidade, criatividade e empatia)… E é inegável que estamos passando não só por mudanças profundas, mas muito mais rápido.

Existe atualmente uma força que afasta as pessoas do contato físico e que pode ser prejudicial para os relacionamentos de médio e longo prazo, devido à falta de comunicação não verbal e da empatia.

Todo o conceito de “trabalho remoto” desaparecerá em breve das nossas vidas diárias em favor de ser chamado apenas de “trabalho”.

Apesar de trabalhar remotamente na última década em grandes multinacionais, percebi que as empresas mais bem-sucedidas não faziam isso apenas para economizar dinheiro: nelas, existe uma cultura sólida onde a tecnologia é usada para permitir que os indivíduos compartilhem e aceitem também quem são, emocionalmente e entre si.

Os líderes devem criar uma plataforma onde os colaboradores se sintam livres para serem eles próprios além do aspecto profissional e técnico, base da equação e um dos pontos mais importantes para a criatividade e o intercâmbio intelectual.

Canais de comunicação que permitam essa troca são essenciais para relacionamentos de longo prazo.

Mas isso não se aplica apenas aos líderes formais – todos nós somos líderes e protagonistas das nossas próprias vidas.

Gosto bastante do conceito de liderança horizontal: se você tem a capacidade de cooperar com os seus pares no intuito de crescerem juntos.

E isso exige compreensão e aceitação das individualidades. De fato, exige que o líder seja capaz de evitar a repreensão e estimular a cooperação.

Os resultados positivos surgem muito mais do incentivo à cooperação, do estímulo daquilo que é considerado um bom resultado do que do ato de coibir divergências, erros e falhas.

A capacidade de lidar com divergências, ideias e emoções diferentes fomenta a inovação.

Sugiro que você assista esse vídeo sobre comunicação. Lá, falo da pirâmide da discordância de Graham, ferramenta fundamental para permitir que exista uma convergência de ideias diferentes.

Curioso como a sensação de compreensão mútua da diversidade (que pode ser interpretada como divergência em uma primeira impressão) resulta em convergência e em um sólido trabalho de equipe em longo prazo.

As organizações que adotarem esses conceitos serão capazes de fracassar rapidamente, promover a adaptação às demandas futuras e alcançar o sucesso, não apenas aprendendo a lidar com as mudanças que a sociedade está vivendo agora, mas também ficando preparadas pra tudo.

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Sucesso e a Epidemia de Escassez

Este texto foi publicado em vídeo no canal do Youtube. Para assistir, clique aqui.

Se você entrar em uma livraria hoje encontrará muitos livros sobre sucesso, especialmente dizendo o que é e como chegar lá.

É muito confortável cair na tentação de seguir um roteiro que já foi supostamente testado sobre como chegar ao sucesso.

Mas é bem mais desafiador olhar para dentro de si e descobrir o que é sucesso para nós mesmos e entender que cada um de nós tem a sua própria jornada.

Como se não bastasse, a sociedade, o trabalho, nossos amigos e familiares têm suas próprias definições padronizadas e existe uma associação bem direta entre cumprir metas, objetivos e como alcançar o sucesso.

Imagine: trocar o conhecido, aquilo que dá uma definição clara e mostra um caminho, versus enfrentar o desconforto do desconhecido de não saber.

Aliás, existem inúmeras definições de como “não falhar” e esconder os erros são a receita para a felicidade.

Na prática, é assim que a sociedade funciona, seja em casa ou no trabalho e esse conceito de jornada para o sucesso não poderia estar mais longe da realidade.

Para cada sucesso, existem inúmeros fracassos… E escondemos os fracassos: temos vergonha deles.

Perceba o movimento aqui.

A associação do conceito de sucesso à expectativas externas, a metas e objetivos externos.

E isso gera uma verdadeira epidemia de vazio e escassez.

O conceito prático de sucesso atual gera uma onda de tristeza e depressão porque o sucesso é externo. Vem de fora.

Cada vez que prestamos atenção a um discurso que tenta nos ensinar o que é sucesso e como alcançá-lo, estimulamos essa epidemia de escassez, olhamos para fora, esquecendo o que vai dentro da gente, lugar onde o real sucesso mora. Isso nos afasta cada vez mais da felicidade e da realização.

Eu fiz uma enquete nas redes sociais sobre o quê as pessoas entendem por sucesso, em uma frase.

As respostas variaram muito, desde a sintonia entre valores, propósito, ajudar as pessoas, até o dinheiro, passando por coisas como ser bem sucedido.

Agora, veja que curioso: apenas QUATRO pessoas disseram que o sucesso vem de dentro da gente e usaram uma metalinguagem compatível.

Ou seja, mesmo considerando questões internas como valores e propósito, apenas quatro respostas NÃO relacionaram esses fatores como dependentes direta ou indiretamente de fatores externos.

Não importa a definição de sucesso que tenha. O que realmente importa é se essa definição vem de dentro para fora ou se é algo de fora para dentro, porque é exatamente daqui que surge a epidemia de escassez, quando seguimos receitas e ideais externos apenas.

Para entender melhor essa questão, veja esse vídeo (clicando aqui) sobre felicidade material, contextual e existencial.

Não existe uma única definição de sucesso dada na enquete que não esteja adequada… porque ela deve ser individual e tá tudo bem.

O ponto é que quando abrimos mão de um conceito de sucesso próprio e abraçamos as expectativas do externo, promovemos potencialmente o desalinhamento com quem somos.

Passamos a buscar um estado idealizado pelos outros, pela sociedade e iniciamos uma corrida para querer sempre mais sucesso, sem nem saber direito o que ele significa para nós, com o terrível efeito colateral de estar sujeito a sermos manipulados pelas necessidades dos outros em favor das nossas próprias necessidades.

Aqui, abro um parêntese.

Em 2001, enfrentei dificuldades consideráveis diante do desemprego.

Uma crise de depressão que durou 3 anos e uma sensação de incompetência gigantesca.

Talvez uma das coisas que mais contribuiram para esse estado foi não poder acolher as pessoas que dependiam de mim.

E quando falo sobre isso, penso logo no sucesso e no seu antagônico clássico: o fracasso ou percepção de fracasso.

Sentia-me um inútil e, apesar de conseguir sair daquela primeira crise, apenas há pouco tempo comecei a perceber o sucesso de forma diferente.

Na verdade, comecei a percebê-los, porque só enxergava as falhas.

Considerava-me um fracasso por não atender às expectativas que eu achava que estavam depositadas em mim.

Hoje, eu olho para o passado e reconheço, como um tremendo sucesso, ter superado a depressão várias vezes.

Curioso que, ao longo dos últimos 20 anos, passei por outras crises, recebi alta e meu conceito de sucesso permaneceu o mesmo.

Sempre com foco nos fracassos ou nos conceitos de sucesso que percebia da sociedade, principalmente aqueles focados no material.

Durante tanto tempo não percebia como sucesso a superação, a reconstrução da minha carreira profissional, o alinhamento entre as minhas ações e os meus valores, o livro que publiquei, esse canal no youtube, o blog, tantos prêmios que recebi ao longo da carreira e tantos reconhecimentos, justamente por fazer aquilo que eu acho que está sintonizado com os meus valores.

Durante tanto tempo eu percebi a felicidade como obtenção do sucesso e o sucesso apenas como atingir metas, ganhar dinheiro para ter coisas, comer bem, tomar um vinho, me divertir com os amigos e eventualmente ser aplaudido.

Agora, sabe porque decidi fazer esse vídeo?

Semana passada fui caminhar cedo na praia… E vi uma praia totalmente seca… consegui andar na areia até os arrecifes sem molhar os pés.

De lá, vi o mar, vi as pedras… Vi peixes… Varas de pescar… Senti o vento forte, o cheiro de mar, o som das ondas… Dei meia volta, olhei para os prédios e pensei:

Isso é sucesso.

Foi uma das sensações de sucesso mais fortes dos últimos anos.

Então, faço um convite: que tal pensar um pouco mais sobre o que é felicidade, realização e sucesso pra você, mas com o desafio adicional de pensar nos três SEM ser algo externo, sem condicionar ao que esperam de você… Sendo algo partindo de dentro do seu peito, de dentro de você sem depender de nada ou de ninguém.

Eu tenho a certeza de que ficará surpreso e verá que você experimenta muito mais sucessos do que imagina.

Talvez a gestão das expectativas, as próprias e as dos outros, seja o fator mais importante para a felicidade, a realização e o sucesso.

Muita gente acha que o sucesso é feito uma poupança onde a gente deposita dor e sofrimento para colher juros mais pra frente.

Culturalmente somos levados a crer que não há sucesso sem dor e sofrimento e não consigo pensar em coisa mais distante do bem-estar.

O sucesso pode ser encontrado em pequenas coisas do dia a dia.

Aliás, se você conseguir encontrar sucesso nas pequenas coisas do dia a dia, a felicidade e a realização certamente lhe farão companhia.

Sucesso é uma descoberta de autoconhecimento, totalmente relativa, individual e muda assim como a vida.

Não confunda metas e objetivos com sucesso. É muito comum que o lado profissional queira que a confusão ocorra simplesmente porque isso é favorável aos interesses alheios.

É assim que nós somos transformados em números.

Você deve estar se perguntando… Então perseguir metas e objetivos não é sucesso?

Eu não vou dizer o que é sucesso e acredito que ninguém pode fazer isso. Você tem que descobrir o que é sucesso pra você e se isso é compatível com quem é.

Preste bastante atenção: depende de como reconhece o objetivo a ser alcançado.

Se for imposto e não idealizado em conjunto, sem estar sintonizado com quem somos, uma descoberta que deve acontecer antes, você pode estar indo numa direção que não trará nem felicidade nem sucesso.

E é por isso que é tão conveniente achar que sucesso depende de dor e sofrimento. Quando buscamos metas e objetivos desalinhados e fora de sintonia com nós mesmos, passamos a achar que o sacrifício de hoje é a felicidade de amanhã.

Se você pensar bem, perceberá que faz muito sentido.

Veja por exemplo este gráfico que trago no meu livro, explicado em detalhes. Perceba que ele não fala sobre o que é sucesso, apenas ajuda a classificá-lo:

Quanto mais a percepção de sucesso estiver atrelada ao material, mais ele estará relacionado ao ego coloquial e mais rápido ele desaparece, como um vício, uma droga…

Quanto mais essa percepção estiver associada ao todo e ao altruísmo, mais duradoura será sensação de sucesso, maior será a contribuição, a cooperação e as sensações de felicidade e realização.

Uma mesma situação na vida da gente pode ser percebida em qualquer lugar do gráfico, ou seja, como sucesso material, contextual ou existencial.

Darei um exemplo prático.

Em 2017, atuava como consultor na área de vendas para uma multinacional de tecnologia. Participei de um projeto para o governo de um estado aqui no Brasil, onde foi possivel economizar milhões em aquisições.

Por esse projeto e como parte do meu trabalho, eu fui remunerado e recebi uma comissão.

Eu poderia ter olhado para esse projeto apenas pelo aspecto financeiro, o que seria qualificado como sucesso material.

Mas o meu trabalho foi reconhecido e eu ganhei um prêmio por causa dele. A sensação de reconhecimento é fantástica.

Mas ao longo do tempo, enquanto o projeto era executado, eu percebi também o quanto a economia trazida beneficiou a população de uma forma geral.

A economia viabilizada pôde ser empregada em outros projetos de cunho social e isso está diretamente sintonizado com o propósito de ajudar as pessoas.

Veja como uma mesma situação, um mesmo evento gerador, pode ser percebido de diversas formas.

Se for percebido apenas como sucesso material, a sensação duraria pouco tempo.

Se usando a ótica do reconhecimento, talvez um pouco mais… Faria apenas bem ao meu ego.

Mas 3 anos após a venda do projeto, ainda sinto o bem estar de ter contribuído para algo maior.

Quero finalizar deixando as perguntas:

Quantas vezes perseguiu metas e objetivos e analisou se eles estão de acordo com quem é, com os seus valores e com o quê acredita?

Quantas vezes trabalhou para que o sucesso de fato seja uma contribuição para algo maior?

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Vulnerabilidade, Empatia e o Desafio da Recolocação

Em 2006, fiz uma transição gradual em tecnologia, da área técnica e de pós-venda para a área comercial, passando pela pré-venda.

Um momento de incertezas, dúvidas e medo, como normalmente o desconhecido se apresenta e que certamente já experimentou. Sabe como é.

Foi até uma transição tranquila (ao contrário do que os conselhos indicavam na época) e que contou com a ajuda de diversos mentores.

Confesso, tive bons professores e muita sorte nesse quesito.

A área comercial trouxe sucesso, inúmeras vantagens, uma natural instabilidade e, como tive a oportunidade de aprender ao longo dos anos, diante de inúmeros relatos de colegas e experiência própria, geradora de ansiedade e estresse. Acho a questão tão importante que boa parte do conteúdo que produzo desde 2017, incluindo um livro, giram em torno do tema.

Conquistei certa liberdade no passado e hoje, diante da situação em que vivemos no globo e da inegável retração do mercado, mesmo em busca de recolocação, consigo evitar o desespero do desemprego, apesar do convívio com mais um momento de incertezas, dúvidas e medo (olá desconhecido, seja bem-vindo).

Algum planejamento e a reserva financeira promovem mágicas.

Infelizmente, não é a situação de muitos colegas com quem me relaciono e onde a ajuda mútua é fantástica.

O teor deste texto é um pedido (pensei em usar o termo “apelo”, mas temo soar negativo).

Encontro-me vivendo uma situação curiosa, mas que já vi relatada inúmeras vezes:

A participação em processos seletivos que desaparecem.

Trata-se de uma situação extremamente desafiadora para todos nós e com impacto emocional absurdo.

Para quem está em busca de recolocação, participar de processos onde não há feedback, retorno ou quaisquer informações sobre o que está acontecendo pode ser desesperador.

Temos a situação típica de passar pelo processo, não ser aprovado e não receber a razão pelo qual não foi aprovado.

Temos a aprovação para oportunidades em empresas que viraram da contratação à demissão sumindo, de março para cá.

Temos, por outro lado, a situação onde não há retorno algum, dentre outras variações.

Então, dando um passo atrás na decisão de não usar a palavra “apelo”, retifico-me:

Se tem uma coisa que eu aprendi nos últimos 27 anos é que vivemos uma realidade cada vez mais dinâmica.

“Vulnerability is the birthplace of innovation, creativity and change.”
Brené Brown

Quem hoje entrevista pode ser entrevistado amanhã (inclusive pela mesma pessoa).

Aos envolvidos atualmente em processos seletivos, qualquer que seja o caso, permitam que os profissionais usem a oportunidade para aprender no que melhorar.

Não só deem retorno sobre o status do processo, mas contribuam para a evolução de cada indivíduo que fizer interface com vocês.

Melhor, através da empatia, permitam também que a saúde emocional seja mantida.

Por favor, tenham respeito pelo ser humano que está do outro lado da negociação e que está lidando com anseios consideráveis no momento.

Quando há retorno, troca empática, compreensão e ajuda, todos saem ganhando – construímos um ecossistema duradouro e sadio.

Percebo que há um esforço de excelentes profissionais em promover essa mensagem. Deixo aqui a minha mais profunda admiração e agradecimento por olharem além das relações profissionais.

“There are only two ways to influence human behavior: you can manipulate it or you can inspire it.”
Simon Sinek


Texto postado originalmente no Linkedin.

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Senso de Pertencimento, Comunidade e Contribuição na Pandemia

[Temos um vídeo no Youtube sobre este assunto. Para assistir, clique aqui]

Muito já falei aqui no blog sobre empatia, incluindo questões comumente associadas, como trocas e reciprocidade.

Estamos vivendo um momento de profunda transformação pessoal e social com a pandemia de COVID-19 e, de uma forma geral, em princípio, o canal que permite à sociedade manter-se coesa foi alterado.

Então, resolvi fazer uma breve pesquisa para testar algumas hipóteses sobre o tema e os resultados foram surpreendentes.

Durante o período de 19 a 23 de setembro de 2020, fiz um questionário, enviado pelas redes sociais e grupos de mensagens, sobre o senso de pertencimento social, comunidade, contribuição, apoio e como a pandemia de coronavírus tem afetado a percepção individual dos temas, além do impacto da tecnologia sobre a empatia e inteligência emocional através de recursos incluindo redes socias e aplicativos de mensagem como Facebook, Instagram, WhatsApp e Telegram.

De uma forma geral, não só a percepção de pertencimento e contribuição tem aumentado do início do ano para cá, como o sentimento de não acolhimento e de tristeza foram a minoria das respostas.

Apenas uma das perguntas levou à respostas compatíveis com as minhas suspeitas inciais: de fato, estamos sim usando mais a tecnologia para nos apoiar no dia a dia, como forma de manter os laços de contato e empáticos.

Importante, antes de falar sobre as perguntas e respostas em si, que trata-se da percepção livre que cada um tem sobre o tema, cabendo aqui a interpretação pessoal do enunciado e das perguntas.

Além disso, a pesquisa estabeleceu como premissa que:

  1. De uma forma geral, pertencemos a sistemas que representam algo maior do que nós, onde o senso de comunidade pode potencialmente surgir, para os quais contribuímos e recebemos ajuda;
  2. Que o conceito de empatia a ser considerado é o reconhecimento cognitivo das emoções, pessoais e alheias, o compartilhamento delas entre os membros do grupo e onde sente que as suas emoções são compreendidas;
  3. Que as respostas deveriam ser dadas considerando apenas o período do inicio de 2020 até o momento presente (20 de setembro de 2020).

A primeira pergunta foi sobre o senso de pertencimento em si:

– 43% acredita que houve uma aproximação das comunidades aos quais pertence e que mais empatia ocorreu. Apenas 18% responderam que houve afastamento e menos empatia. 33% sentem que nada mudou.

Na segunda pergunta, foi considerado o senso de acolhimento:

– 38% responderam que a forma de se relacionar mudou. Apenas 16% responderam que houve afastamento e menos acolhimento, resultado compatível com a primeira pergunta. 23% sentem que a relação manteve-se a mesma.

A terceira pergunta foi sobre contribuição. Aqui, outra surpresa:

– A maioria, 62%, entende que a sua própria contribuição para as comunidades aumentou e apenas 17% afirma que ela diminuiu. 21% consideram que estão contribuindo da mesma forma.

Na quarta pergunta, avaliamos a situação oposta à pergunta anterior: a percepção de receber ajuda e apoio:

– 41% das pessoas que responderam sentem-se mais apoiadas e 23% menos apoiadas. Outra surpresa: mesmo com o distanciamento social, houve um aumento na percepção de sentir-se apoiado. 36% sentem-se do mesmo jeito.

Em quinto, abordamos o número de comunidades aos quais cada um considera pertencer:

– Temos 41% das pessoas afirmando que o número comunidades ou grupos aos quais consideram pertencer aumentou. Apenas 21% afirmaram que a quantidade de comunidades diminuiu e 38% percebem que não houve mudança.

Em sexto, talvez o resultado mais esperado, relacionado à tecnologia:

– A grande maioria de 80% afirma que o uso de tecnologia aumentou como recurso para manter-se próximo das comunidades. Apenas 2% responderam que estão usando menos tecnologia. 18% consideram que o uso da tecnologia permaneceu o mesmo.

Na sétima pergunta, temos uma situação composta: avaliamos se uso de redes sociais aumentou ou diminuiu e, ao mesmo tempo, se a mudança ajudou ou atrapalhou no senso de pertencimento:

– De uma forma geral, temos 65% das pessoas (somando as respostas onde houve aumento do uso) afirmando que uso das redes sociais AUMENTOU… Mas destes, 35% avaliam que isso ajudou e 30% que atrapalhou em sentir-se parte da comunidade. 26% entendem que não houve mudanca.

Em oitavo, temos a mesma consideração da pergunta anterior, entretanto, focada em soluções de mensagens, como whatsapp e telegram. Aqui, o resultado muda consideravelmente:

– A  maioria de 62% entende que o uso não só aumentou como tem ajudado a manter o senso de pertencimento. Apenas 20% consideram que o uso de mensagens atrapalhou e 12% responderam que o uso de mensageria permaneceu o mesmo.

Por fim, na nona e última pergunta, também composta, temos talvez a maior surpresa: ao avaliar o senso de acolhimento e pertencimento frente à percepção de felicidade:

– Se somarmos as pessoas que percebem-se MAIS acolhidas, temos a maioria de 54%. 28% consideram-se mais afastadas. Apenas 21% consideram-se menos felizes… E 18%, que não houve mudança.

Podemos potencialmente concluir algumas coisas diante das respostas dadas:

  1. O uso de tecnologia tem sido fundamental durante o período e é parte integrante da manutenção do senso de pertencimento e comunidade, da troca empática e do dia a dia no nosso “novo normal”;
  2. Não só houve um aumento na percepção de contribuição como as pessoas sentem-se mais apoiadas, uma relação direta entre as respostas das perguntas 4 e 5, o que faz sentido;
  3. Ao contrário do que a crença popular trouxe, o impacto da pandemia não provocou uma epidemia de infelicidade, não afetou o senso de pertencimento e comunidade de uma forma geral e talvez as pessoas estejam se adaptando ao novo normal melhor do que o esperado. De fato, as respostas indicam que houve aproximação e não afastamento, de uma forma geral.

Particularmente, acreditava que a percepção de afastamento e as consequências decorrentes seriam predominantes, mas não foi isso que as respostas trouxeram.

Claro que estamos falando de uma pesquisa feita informalmente na Internet e que os relatos são anedóticos. Entretanto, gostaria de ver algo cientifico sendo feito neste sentido. Se algum de vocês souber de pesquisas científicas relacionadas ao tema, por favor, coloquem nos comentários!

E você?

O que achou desses resultados? Era o que imaginava ou diferente das suas expectativas? Falem-me aí embaixo!

Convido-o a assistir o vídeo e a assinar o canal no Youtube.

Se preferir, pode ouvir os resultados através da sua plataforma de podcast preferida, basta procurar por “O Guia Tardio”.

Para acessar uma planilha com os dados originais, clique aqui.

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Liderança, Empatia e Positividade Tóxica

Liderança não se trata de números, cotas, objetivos e gestão per se.

Liderança é sobre pessoas, permitindo-lhes atingir seu total potencial e, como efeito colateral, obter os resultados desejados.

Mas ser sobre pessoas envolve emoções e empatia.

Não simpatia, empatia.

Trabalhar pela simpatia apenas rejeita nossas emoções e sua compreensão. Quando isso acontece, a positividade tóxica prospera.

Ser líder significa entender as emoções das pessoas e também entender os altos e baixos emocionais.

Um líder consciente da inteligência emocional sabe que essas emoções fazem parte do dia, incluindo nossa vida pessoal e profissional.

Na verdade, quando a empatia e a consciência emocional aumentam e abrem espaço para a transparência, as pessoas deixarão de ter a necessidade de criar personas profissionais. Elas se sentirão à vontade para serem elas mesmas e a segregação da vida pessoal / profissional desaparece.

Agora deixo para você uma pergunta:

É isso que realmente queremos como líderes?

Trocar o potencial de um ambiente tóxico cheio de personas por um ecossistema são, onde os resultados são alcançados por meio de uma visão e propósito comuns, em vez dos requisitos de cotas trimestrais apenas?

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Positividade Tóxica?

Quase 3 anos atrás, escrevi um post sobre a positividade e a sua importância.

Foi parar no livro que publiquei em maio de 2020.

Cabe revisitar o tema.

(…)

Semana passada fiz uma enquete no Instagram sobre o termo “positividade tóxica” e recebi dezenas de respostas.

A interação foi tão positiva que decidi fazer um vídeo no canal do Youtube sobre a questão.

Aqui, tenho a oportunidade de dissertar sobre o assunto.

Comecemos com uma consideração filosófica sobre o termo em si: será que podemos usá-lo? Será que “positividade tóxica” faz algum sentido, ou seja, se for “tóxico”, como pode ser “positividade” ou é apenas a forma como se percebe o comportamento do outro?

Em segundo lugar, é necessário falar um pouco sobre rapport de comportamento.

Independente da conotação positiva ou negativa de algo, existe uma tendência de nos comportarmos de forma compatível com os grupos aos quais consideramos pertencer.

Fornecerei dois exemplos típicos.

Você vai a um show e, ao final da apresentação, começam a bater palmas.

Perceba que as palmas começam em ondas… Como um contágio e, se alguém se levantar, é bem provável que outras pessoas se levantem também e até você se sinta compelido a levantar e aplaudir de pé.

Outro exemplo: você está no trabalho, em um grupo de colegas.

Alguém começa a reclamar da empresa e, em poucos segundos, várias pessoas entram na roda e iniciam um ciclo de reclamações.

De uma forma geral, os exemplos podem ser considerados opostos: um positivo e um negativo.

Existem vários estudos que apontam para duas coisas: espelhamos o comportamento dos grupos aos quais pertencemos, dos indivíduos aos quais aspiramos e não só o contágio emocional existe, como influencia nosso modo de agir.

Estar cercado de “positividade” ou “negatividade” terá um efeito sob o nosso próprio comportamento.

É fácil então concluir que, se isso de fato acontece, gerar uma espiral de coisas positivas traz a tendência de se “contaminar” e contaminar os outros com pensamentos, emoções e ações possibilitadoras.

Por outro lado, agir assim tem o potencial de nos distanciar da realidade objetiva.

Ao considerarmos o que é “negativo” em favor do que achamos ser “positivo” (ou o contrário), criamos uma bolha cognitiva em torno de nós que eventualmente prejudicará uma análise factual do que se passa.

Ferrou, então?

Pode ser.

O que acha?

Essas questões podem não ter resposta.

Não no senso comum.

Senso comum são “médias”.

Alías, podem até possuir uma média social associada a elas, mas a sua resposta é a ÚNICA que importa.

Você não é uma média até ela ser tirada.

Ops!

Seja bem vindo. Esse é o caminho.

Crie o seu,

O que é negativo para alguém, podem não ser para outro e não o é para todos. O mesmo argumento pode ser usado com aquilo considerado positivo.

Partindo desse princípio, a potencial toxicidade de uma suposta positividade não só é um campo totalmente subjetivo como resultado de julgamentos.

Em terceiro lugar, voltemos à enquete.

70% das pessoas que responderam atribuíram a positividade tóxica como sendo exercida por um elemento externo – outra pessoa. Ou seja, perceberam a si mesmas como vítimas.

30%, de uma forma direta ou indireta, admitiram fazer parte da equação – associaram o termo à fuga da realidade e a um comportamento prejudicial próprio.

Ambos os casos estão relacionados, apesar de aparentar o contrário.

O momento atual em que vivemos, do início de 2020 para cá (escrevo este texto em agosto de 2020), impôs condições de convívio social e estresse emocional há muito esquecidos.

Estamos diante de um desafio que entrará para a história; uma ameaça real à existência de cada um, um risco invisível que está presente em praticamente todos os lugares, cerceando o ir e o vir, o contato interpessoal, gerando incertezas e questionamentos sérios a respeito da própria sobrevivência, em decorrência de ameaças como o desemprego à morte.

Menciono esse fator porque ele é um perfeito exemplo aplicável à questão do conceito de positividade tóxica.

Aqui, temos a convergência e a relação das respostas da enquete.

Sentir-se com medo, ameaçado, triste, solitário e com sentimentos análogos é natural, faz parte de existir. Não reconhecer esse comportamento em si pode eventualmente gerar um afastamento da realidade. Não reconhecer esse comportamento nos outros pode classificar algumas ações como positividade tóxica.

Além do fato de que o ser humano é um ser de contrastes, somos um caldeirão de emoções.

Portanto, nada mais sadio para a nossa existência do que respeitar o que sentimos, entendendo o que vai dentro da gente e estabelecendo, através desse entendimento, um caminho possibilitador na direção do autoconhecimento.

Entretanto, prepare-se para algum desconforto. Essa jornada levanta questões e põe em dúvida crenças. De fato, se não houver desconforto e questionamentos, não há jornada, muito menos respeito ao que se sente.

Dúvidas são desconfortáveis? Certamente.

Necessárias também, assim como o ato de questionar, algo ativo, consciente, que tem o potencial de trazer mais inquietude e emoções de felicidade, tristeza, raiva e tantas outras reações totalmente naturais.

Talvez você já tenha percebido aonde quero chegar.

Não somos 100% felizes, 100% do tempo, muito menos tristes. Existe muita coisa entre os dois. Portanto, um comportamento 100% do tempo positivo é incongruente com ser humano e pode, sim, ser uma fuga. Talvez daí o termo “positividade tóxica” tenha surgido.

Se por um lado ser positivo permite encarar a vida de forma mais saudável e potencialmente mais feliz, por outro é necessário entender que coisas ruins, negativas e desagradáveis também acontecem, despertando emoções limitantes.

Isso só prova que estamos vivos.

Contudo, é um engano achar que uma coisa exclui a outra.

É um equívoco acreditar que reconhecer os desafios desagradáveis da vida impede alguém de ser positivo, assim como também é um erro crer que ser positivo faz com que se viva no mundo da lua.

Diversos autores abordam esse tema, inclusive contemporaneamente, como Mark Manson (em dois livros que avaliei aqui no blog) e Gabriele Oettingen, apesar de ambos aparentemente não concordarem com a ideia de que não há dicotomia entre ser positivo e fugir da realidade.

Ou seja, não aceite respostas prontas em mídias sociais, em casa ou no trabalho sobre o que é negativo e o que é positivo.

Aliás, se me permite uma sugestão mais abrangente, não aceite respostas prontas sobre nada.

Reserve-se sempre o direito de questionar. Se surgir algum incômodo, entenda a origem dos sentimentos que considera negativos e talvez descubra mais sobre si próprio do que imagina, mantendo um pé na positividade e outro na realidade.

Como disse na descrição do meu canal no Youtube:

Eu não tenho respostas, mas prometo provocar questionamentos apropriados.

 


 

Conteúdo Adicional Recomendado

Livros:

TEDs:

Pesquisas e Publicações:

  • Baumeister, Roy F; Finkenauer, Catrin e Vohs, Hathleen D.: Bad Is Stronger Than Good [Artigo] // Review of General Psychology. – 2001. – 4 : Vol. 5. – pp. 323-370;
  • Dimberg, Ulf; Thunberg, Monika e Grunedal, Sara: Facial Reactions to Emotional Stimuli: Automatically Controlled Emotional Responses [Artigo] // Cognition and Emotion. – 2002. – 4 : Vol. 16. – pp. 449-471;
  • Gross, J.J. & Levenson, R.W. (1997): Hiding feelings: The acute effects of inhibiting negative and positive emotion. Journal of Abnormal Psychology, 107(1), 95-103. doi: 10.1037//0021-843x.106.1.95, PubMed: 9103721;
  • Hasson, Uri; Stephens, Greg e Silbert, Lauren: Speaker–listener Neural Coupling Underlies Successful Communication [Online] // Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA (PNAS) / PubMed. – 26 de 07 de 2010. – 22 de 06 de 2018. – http://www.pnas.org/content/107/32/14425. – PubMed: 20660768;
  • Kraft, Tara e Pressman, Sarah: Grin and Bear It: The Influence of Manipulated Facial Expression on the Stress Response [Artigo] // Psychological Science. – 24 de 09 de 2012. – 11 : Vol. 23. – pp. 1372-1378;
  • Lomas, T.; Waters, L.; Williams, P.; Oades, L.G.; & Kern, M. L. (2020): Third wave positive psychology: Moving towards complexity. The Journal of Positive Psychology. doi: 10.1080/17439760.2020.1805501;
  • Rozin, Paul e Royzman, Edward B.: Negativity Bias, Negativity Dominance and Contagion [Artigo] // Personality and Social Psychology Review. – 2001. – 4 : Vol. 5. – pp. 296-320;
  • Strack, Fritz; Martin, Leonard e Stepper, Sabine: Inhibiting and Facilitating Conditions of the Human Smile: A Nonobtrusive Test of the Facial Feedback Hypothesis [Artigo] // Journal of Personality and Social Psychology. – 1998. – 5 : Vol. 54. – pp. 768-777;
  • Wells, Gary e Petty, Richard: The Effects of Overt Head Movements on Persuasion: Compatibility and Incompatibility of Responses [Artigo] // Basic and Applied Social Psychology. – 1980. – 3 : Vol. 1. – pp. 219-230;
  • Wong, P. T. P. (2011). Positive psychology 2.0: Towards a balanced interactive model of the good life. Canadian Psychology/Psychologie canadienne, 52(2), 69-81. doi: 10.1037/a0022511
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Ditadura de Risos e Aparências

Leia agora “O Guia Tardio”! (clicando aqui)
Assista ao canal no Youtube (clicando aqui)


 

Como aficionado por tecnologia, assíduo participante de fóruns e debates online desde a época das BBS (isso tem bem mais de 20 anos), das pessoas que conheço, fui um dos primeiros a entrar nas redes sociais, ainda quando cada uma delas surgiu.

Em algum momento do passado (por volta de 2005), apaguei boa parte e fui recriando ao longo dos anos (Eu sei exatamente porquê apaguei minhas contas).

Dos debates enviados através do protótipo do que viria a ser o email de hoje, através das BBS até as redes sociais, a comunicação virtual mudou totalmente.

Mensagens demoravam dias para chegar e assemelhavam-se literalmente ao processo de escrever e enviar uma carta, só que eletrônica.

Na época, existia ego, sim. Mas pela ausência de uma série de coisas que se fazem presentes hoje, ele estava associado irremediavelmente aos bons (ou ruins) argumentos apresentados.

Dica: se sua vida online é… digamos, forte, presente e contundente, leia este artigo, procure pela pirâmide da discordância de Graham ou, se me permite, leia o livro que lançarei em breve (O Guia Tardio).

Agora, a comunicação é instantânea e volátil.

Mais, existe uma associação íntima entre a mensagem, o veículo e a identidade.

Mais ainda, existe uma confusão entre identidade, imagem e mensagem. Aparentemente, tudo tornou-se uma coisa só, a personificação da perfeição.

Isso posto (retornaremos ao tema adiante), mudemos de assunto.

Estamos vivendo um momento que é único para todos.

Não que os momentos vividos não sejam únicos, mas a pandemia que se instala nunca foi vivida pela grandiosíssima maioria da população.

Na verdade, não foi vivida por ninguém, afinal, qualquer situação anterior, de magnitude semelhante, foi em um mundo totalmente diferente do atual.

Estou há 40 dias em quarentena.

Achava que gostava de ler.

Até não aguentar mais.

Fiz cursos, MasterClasses, assisti a lives.

Apesar de fazer conferências diariamente, a ansiedade ainda avisa que está presente.

Apesar de ter visto séries, filmes, caminhado dentro de casa, cozinhado, limpado, inventado, virado tudo que é eletrônico de cabeça para baixo e muito mais, estou algumas vezes triste. Algumas vezes ansioso, outras com medo.

E tem dias que acordo feliz.

O que há de errado comigo!!!!?

Vocês conseguem adivinhar?

Absolutamente NADA.

Estamos enfrentando uma situação de calamidade e é totalmente natural do ser humano sentir-se triste, ansioso, talvez desesperado em alguns casos, cauteloso.

É da natureza humana vivenciar emoções diante das adversidades da vida. É natural de existir, ter sentimentos, emoções que afloram, tomam conta e podem nos controlar.

Faz parte.

Então, apesar de não estar tudo bem…

Está tudo bem.

Repita comigo: está tudo bem. Você é um ser humano.

Este é o ponto onde começaremos a conversar sobre aceitação.

Aceitar não significa concordar com um conteúdo desagradável, incompatível com suas metas ou objetivos.

Não significa baixar a cabeça para o que considera incongruente, errado, contra os seus valores ou na contramão do seu propósito.

Aceitar é entender as circunstâncias, a realidade objetiva de forma calibrada para, aí sim, agir da forma mais adequada possível.

Significa não se apegar ao ego, ao material, aos julgamentos e ao preconceito. Você pode estar se perguntando se consegue fazer isso.

O desafio é considerável e muitas vezes precisamos do luto, de passar por um período de negação e de rejeição do que é, pela dor, pela raiva ou pelo medo. Você não está com defeito… é assim mesmo.

Aceitar a realidade, aceitar quem somos e que temos momentos felizes, tristes, ansiosos, com medo e, mais uma vez…

Faz parte.

Então, voltamos para o início, sobre a confusão entre identidade, imagem e mensagem.

O que isso tem a ver com a internet?

Aparentemente nada, mas ao consideramos a saúde mental, tudo.

Confesso que tenho sentido uma certa aversão às redes sociais.

Nelas, vive-se em um mundo de aparências.

Vive-se em um mundo do esteticamente belo, dos sorrisos, da positividade e da abundância.

Nós, como seres humanos, não somos assim.

Não, não somos assim.

Essa é uma estratégia de marketing, de promoção e de prova social.

Quem sou eu para falar o que um digital influencer pode ou não fazer nas redes sociais?

Ninguém… a minha preocupação é com você, a pessoa fora das redes, seja influenciador digital ou não (não seremos todos nós?).

Ser humano igual a mim, que tem suas preocupações, anseios e desafios do dia a dia, que vive em um mundo longe da perfeição.

O ser humano é imperfeito.

Qualquer um.

Onde quer que esteja.

E, confesso, dentro de mim, em um canto profundo do meu ser, eu acredito que relacionar-se com essa suposta realidade da perene sublimação das redes sociais provoca efeitos diversos em nossa mente, seja conscientemente ou inconscientemente.

Eu tenho a plena certeza de que há uma persona de qualquer influenciador digital que tem seus momentos de tristeza. Assim como eu, como você, chora no banho ou ao dormir, diante de uma situação praticamente insustentável de uma dura realidade objetiva opressora, em algum momento do dia.

Pergunto a você… será que em algum canto do seu próprio ser, você não sente eventualmente a mesma coisa?

Já refletiu sobre o termo em si (influenciador digital)? Você se permite influenciar por uma realidade falsa ideal, perfeita e que não existe?

Será que essa ditadura de risos e de uma suposta e aparente felicidade nos afeta?

Eu acho que sim.

Ela nos afasta de nós mesmos e nos aproxima de uma realidade efêmera. Ela configura ideais inalcançáveis de perfeição e… sejamos honestos, se você, assim como eu, busca conhecimento e autoconhecimento, reconhecer felicidade, tristeza, ansiedade, o nosso lado positivo e negro faz parte da compreensão de uma série de interações que vão dentro da gente.

Faz parte de olhar para a imperfeição de dentro, não para a suposta perfeição externa.

Além disso, o processo em si também permite reconhecer esses mesmos processos no próximo. A pessoa diante de você tem as MESMAS questões. Isso gera empatia, gera reconhecimento de emoções.

Depois desse desabafo, permita-me uma sugestão: não importa o que veja nas redes sociais. Olhe para dentro de você. Reconheça-se como ser humano e todo o pacote que vem junto. Em você E nos OUTROS.

Se precisar de ajuda, peça. Sério. Do outro lado, encontrará sinceridade. Se entrar em contato, saiba que provavelmente vou falar coisas que doem (e ouvirei coisas que doerão).

Aceite-se. Abrace essa dor. Entenda-se.

Mas faça isso tomando por base quem é, e não o ideal de perfeição das provas sociais ou do mundo digital, um objetivo inalcançável, intangível e surreal.

 


Atualização em 20200426 1429 -0300GMT: No dia 25 de abril de 2020, o Prof. e Dr. Pedro Calabrez postou um áudio em seu grupo do Telegram, abordando o tema da aparência perfeita das redes sociais. Esse Áudio foi a inspiração para o texto acima.

No mesmo áudio, ele relata que faria na sequência um vídeo sobre o tema. Hoje, dia 26 de abril, ele foi publicado e você pode assisti-lo clicando aqui.


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A Troca

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Como alguém que já enfrentou a depressão, tenho uma questão pessoal com o cumprimento “Olá, tudo bem?”.

Vivemos em um mundo onde, de fato, trata-se de um cumprimento e não de uma pergunta genuína.

Sintoma característico de um mundo que carece de expressões de genuidade e profundidade.

O contexto histórico, e porque não dizer o antropológico, em contraste com a atualidade, me perturbam.

Fomos adestrados socialmente a responder “tudo bem!” quando… nem sempre se está bem.

A própria pergunta é uma sugestão.

“Se você for infeliz em paz você não consegue emprego.”
Leandro Karnal / Luiz Felipe Pondé – Roda Viva

A situação é mais bizarra ainda do que se pensa. Muitas vezes, responder apenas “tudo bem” é o suficiente para o interlocutor olhar de lado e torcer o nariz.

A resposta esperada é um entusiasmado “tudo ótimo!!!!”.

Como Sheryl Sandberg bem coloca (Sandberg, S., Grant, A., 2017), não só uma resposta sincera não é aguardada, como a expectativa é de que sustentemos o ideal da felicidade permanente.

Ah amigo, não sabe ser feliz cem por cento do tempo? Será evitado, hein!

A ditadura da felicidade.

Será eventualmente excluído das redes sociais, dos chats, das agendas e do pífio convívio presencial porque, hoje, o ideal de existência é a pessoa extra power hiper supostamente motivada, feliz o tempo todo, sorriso de orelha a orelha, energética e pra cima, saltitante que não tem problemas aparentes mas vive em um mundo de ruínas… e é incapaz de pedir ajuda em favor das aparências.

Quantas pessoas que você conhece estão no grupo que diz para alguém triste algo como “deixa de ser besta…”, “se anime”, “não seja tão negativo” e coisas do gênero, como se a felicidade fosse um botão?

De que lado você está, do grupo que fala ou do grupo que sente?

Quem recrimina aqueles que assumem estar precisando de ajuda?

Quem quer saber se as coisas não vão como esperado, se há tristeza por trás de um sorriso social ou lidar com as dificuldades alheias?

Quem quer saber, de verdade?

Você?

Essa é uma ótima pergunta.

Dois meses atrás, conversando com um seguidor no Instagram, a troca de cumprimentos se iniciou como previsto.

Entretanto, senti que algo estava fora do lugar.

Perguntei: “como você está?”

A segunda resposta foi: “estou ótimo!”

Repeti a pergunta.

E a resposta foi: “Não entendi”.

Perguntei pela quarta vez: “como você está?”

Recebi um “caralho… assim você ACABA comigo…

Uma resposta bem apropriada também para mim mesmo.

Acho que a conversa foi maravilhosa para ambas as partes.

Pela primeira vez em muito tempo, eu pude falar como realmente me sinto.

Com um estranho.

A sensação de alívio foi gigante.

Troca.

De lá para cá, mudei a forma de perguntar e comecei a reparar nas pessoas que perguntam como estou e que realmente querem saber.

São poucas.

Realmente nos importamos?

Quando alguém passa por um momento difícil, o que fazemos?

Damos uma tapinha nas costas da pessoa ou enviamos uma mensagem dizendo “conta comigo”, “me liga depois” ou “gosto muito de você e estou aqui se precisar”? Muitas palavras sem ações práticas?

Mensagens confortáveis e bonitas nas redes sociais seguidas de… nada? Ausência prática, falta de tangibilidade?

Isso é afastamento.

Falta de prioridade. Isso é querer agradar a todos.

E tá tudo bem, ninguém é obrigado a lhe dar prioridade. Só tenha a consciência de depositar as expectativas no lugar apropriado e… eu jamais direi a você o que é apropriado.

Mas posso dar a minha opinião: quem realmente se importa vai além.

Quem realmente se importa chama para junto ou vai ao encontro. Cria a oportunidade de ajudar. Age e sai do campo de apenas desejar o melhor.

Substituímos a empatia pela aparência, ligada a um alter ego criado para satisfazer às expectativas externas e mútuas. Em um mundo de superficialidades, querer agradar a todos é plausível na mente de quem é superficial.

Troca externa e material. Melhor dizendo, barganha. Negociação.

Você me agrada eu agrado a você.

Como trata-se de um comportamento epidêmico, esperamos isso dos outros, afinal, estamos negociando.

Fico especialmente intrigado porque fielmente ainda acredito ser a empatia a cola social.

Esse descolamento ocorre cada vez mais, diante do descompasso entre as emoções reais do que é esperado socialmente.

Quando reparamos demais nesses contextos externos, esquecemos de olhar para dentro. Esquecemos de respeitar quem somos.

Opa! Belo de um paradoxo.

A empatia como cola social nos une altruisticamente, mas a expectativa navega na direção de contatos aparentes e ausentes de essência.

Mas… por que isso acontece?

Antropologicamente, chegamos aqui por sermos seres sociais.

Queremos ser aceitos.

Queremos pertencer… e o detalhe importante mora aqui:

Idealizamos quem não somos ao criar um identidade que espelha quem desejamos ser – e vivemos nessa perseguição das expectativas dos outros.

Será que a cola está gasta? Será que está falhando e, como humanidade, estamos indo em direção à desunião, ao desmoronamento das instituições humanas em favor de algo ainda indeterminado?

Não sei a resposta.

Yuval Noah Harari em Sapiens (Harari, 2015) fornece algumas evidências históricas contra e a favor deste argumento, continuando o pleito ao olhar para o futuro em Homo Deus (Harari, 2017).

Talvez estejamos nos transformando em algo que não sabemos ou seja muito cedo para saber.

Estamos manipulando a própria fábrica da nossa existência, com profundas implicações.

Ou, quem sabe, como reza a navalha de Occam onde “sendo outras coisas iguais, explicações mais simples geralmente são melhores que as mais complexas”, eu tenha chegado a uma idade onde o presente me parece estranho…

Ou esteja à procura de ser aceito.

De uma coisa eu sei.

Totalmente diferente de deixar de ser positivo, quero ter a liberdade de dizer quando não estou bem, sem ser julgado ou segregado.

Quero a troca empática, natural e não material. A troca que ocorre pelo respeito frente à doação.

Quero muito?

Outra coisa que eu descobri:

Quem realmente se importa.

Permita-me provocá-lo e concluir convidando-o a assistir esse clipe. Preste especial atenção à letra desta música:

Desconstrução.

 

Se você chegou até aqui, tem dúvidas ou não entendeu nada (e ainda assim quer entender), veja os vídeos abaixo.


Conteúdo adicional:

 

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O Conflito Ego Versus Propósito

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Grandes egos e propósito são mutualmente excludentes.

Não há como ter os dois.

Não há como ser uma pessoa egoica, egoísta e ter um propósito.

Ela pode até ter objetivos em mente e chamar de propósito… mas uma pessoa com um grande ego não consegue servir sem ganhar nada em troca, nem voltar-se a um bem maior.

Quanto maior o ego, mais se afasta do propósito… ao ponto dele ficar tão distante que não mais será percebido. Nesse momento, ele será substituído por algo totalmente compatível com o ego: recursos materiais e conquistas tangíveis. Objetivos imediatistas. Jogo finito.

Suposta realização material, felicidade material e sucesso material, numa tentativa eterna de apaziguar as dores do seu verdadeiro eu, provocadas por vergonhas e vulnerabilidades que você oculta.

Um esforço incapaz… nunca se terá sucesso. Algo que só faz crescer o próprio ego e que nunca terá fim.

Já ouviu falar em empatia? Ela é onde tudo começa, aonde a jornada afastando-se do ego, em direção a um ou mais propósitos, tem origem.

Não estou falando de simpatia. Estou falando de empatia.

É fundamental perceber que a simpatia significa que você até pode ter sentimentos sobre a situação e as pessoas, mas não haverá o seu envolvimento e não há a compreensão do que o outro está sentindo totalmente.

Já a empatia está intimamente ligada a entender os sentimentos do outro sem julgar, a se envolver com a situação e a potencialmente se esforçar para ajudar. A construção da empatia causa uma tendência comportamental de ajuda ao próximo (Eisenberg & Miller, 1987) e essa herança comportamental, na minha opinião, é a cola da sociedade.

  • Simpatia = amenidades, palavras agradáveis e apaziguadoras
  • Empatia = colocar-se no lugar do outro. Envolver-se emocionalmente, compreender a perspectiva da outra parte potencialmente contribuindo, sem julgamentos.

Bebês de até dois anos não têm bem definidos a sua identidade e, até mais ou menos essa idade, eles reagem ao impacto emocional causado a outros bebês (Goleman, 2012). Ou seja, um bebê se identifica com o sentimento demonstrado por outro bebê como se fosse dele próprio.

Melhor, é comprovado que já nascemos com uma bússola moral (Hamlin & Wynn, 2011) e isso tem íntima ligação com a empatia.

Não é de se assustar que a ausência de empatia esteja ligada a distúrbios como sociopatias e psicopatias.

Além disso, a empatia pode levar a um comportamento agressivo (e faz todo sentido). Estou falando da reação de retaliação ou proteção ao notar que alguém por quem temos empatia está sofrendo de alguma forma. Podemos esboçar um comportamento desses  ao nos identificamos com uma vítima de alguma agressão ou sofrimento.

Essa reação está ligada, mais uma vez, ao nosso senso de justiça e moral. É plausível afirmar que a moral e a ética têm um pé na empatia (Hoffman M. , 2001), o que nos leva ao ponto seguinte:

A linha que liga a empatia ao nosso propósito, passando por nossos valores.

Essa linha tem nome: altruísmo.

Talvez a colocação que melhor resuma a empatia seja afirmar que ela surge quando a emoção, o sentimento, a dor ou o sofrimento do outro é compreendido por nós, provocando o surgimento da necessidade de ajudar, nos fazendo agir em nome do próximo.

Isso não está enraizado dentro de nós porque é bonitinho.

É um sistema eficaz de sobrevivência.

Apesar disso, tem sempre alguém que vai dizer “que se dane ajudar os outros”. “Que se dane o altruísmo!”

Nosso corpo tem um mecanismo capaz de nos ligar uns aos outros simplesmente porque isso fez e faz sentido. Ao sermos seres sociais e nos ajudarmos mutualmente conseguimos uma vantagem frente às ameaças. Quanto mais usamos isso, mais nos treinamos a ter compaixão e sermos ainda mais altruístas (Weng, et al., 2013). Rapport e empatia não existem por acaso.

Ao nos ajudarmos mutualmente, nos importarmos uns com os outros e ao sermos seres sociais, conseguimos vencer os mais terríveis desafios ao longo dos milhões de anos.

Do mesmo jeito que o altruísmo surge da empatia, ele passa por nossos valores e chega ao nosso propósito influenciando-os de forma irreversível, como o magnetismo influencia o ponteiro de uma bússola.

Posso correr algum risco em afirmar isso, mas valores e propósito são como que a expressão de uma ordem cerebral mais alta do… altruísmo e da empatia.

Enquanto ambos fazem parte de algo mais irracional que evoluiu conosco (e se mostrou útil e eficaz até hoje, fazendo parte da nossa preservação e manutenção como espécie), com o desenvolvimento de funções cerebrais mais altas (consciência, raciocínio, pensamento e etc.) terminaram representados em valores e propósitos.

Valores positivos são aqueles compatíveis com a moral, a ética e, por consequência, um bom propósito tem a ver com servir aos outros e à sociedade. Quando tudo está alinhado, a mágica ocorre: ficamos ecológicos(*).

Quando a suposta missão está voltada para o eu e para o material, ela se torna egocentrismo e enchemos a nossa existência de incongruências.

Talvez agora deseje reler a primeira frase que compartilhei com você aqui e perceber que…

Ego = voltado para si
Propósito = voltado para o bem maior

Se o que você faz é construir carros elétricos, criar ou vender software, bicicletas ou casas, consertar encanamentos, apagar incêndios, limpar o chão, bater pregos, dar palestras ou cozinhar, como você percebe isso faz toda a diferença.

Pergunte-se: como posso considerar o que eu faço sob uma perspectiva que me permita ver como uma contribuição para um bem maior? Ao realizar essa consideração, consegue reparar no bem, na felicidade e satisfação que traz aos outros ao agir?

Você é palhaço no circo ou contribui diretamente para a felicidade das pessoas? Prescreve remédios ou salva vidas? Passa dietas / treinos ou é responsável pela qualidade de vida e longevidade de tantos? Defende leis ou contribui para uma sociedade mais justa? É funcionário público pela estabilidade ou desempenha um papel fundamental para o bem-estar da população? Faz cálculos estruturais ou auxilia na construção de nossa civilização sustentável? Escreve programas ou contribui para o funcionamento da sociedade moderna? Escreve livros ou ajuda as pessoas de forma inteligente, promovendo o autoconhecimento?

Em todos os casos acima… perceba como essas noções não combinam com o ego coloquial.

Surpreso como podemos encarar o que fazemos como algo para um bem maior?

Já ouvi tantas vezes perguntas em torno de “como lidar com o ego”, “descobrir propósito” e afins.

Dedico um capítulo inteiro do meu livro para falar de ego e outro de propósito.

Mas tem uma coisa simples (porém um desafio gigante) que pode ser feito de imediato e que leva à jornada do ego ao propósito.

Trabalhe a empatia. Seja empático. Importe-se. Envolva-se. Não julgue.

Resgate esse recurso que nasceu com você e que foi escondido por anos e anos de proteções e repressões da vergonha e da vulnerabilidade.

O resto virá.

QUer saber mais?

Dá uma olhada nesse vídeo.

Leituras recomendadas:


(*)Ecologia é um termo usado na PNL que representa o pertencimento do ser humano em um contexto de troca com a natureza e em harmonia com ambiente que o cerca. Indo além, obtemos a ecologia interna quando estamos alinhados: valores, propósito(s), pensamentos, emoções, sentimentos e ações compatíveis com quem somos.


Esse texto faz parte do livro “O Guia Tardio“.

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Como Eu Faço Para Ser Entendido?

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Esse texto é uma continuação do dia 30/11, sobre a responsabilidade do entendimento da comunicação(*).

Existem múltiplas estratégias por trás de uma boa comunicação e algumas delas podem parecer conflitantes (e de fato, são). A ideia central que apoia uma boa comunicação começa não pelo abrir de bocas, mas pelo escutar. É através dele que se define a melhor abordagem, respeitando a opinião do próximo.

“Eu lembro a mim mesmo toda manhã: nada do que eu disser hoje me ensinará nada. Então, se eu for aprender, eu preciso fazer isso escutando.”
Larry King

A Comunicação Vai Além da Palavra

A palavra em si representa uma pequena parcela da troca da comunicação. O todo  envolve tom de voz, velocidade, ênfase, gestos, posição do corpo, movimentação do corpo, micro expressões faciais e até movimentação e direção dos olhos.

Enquanto estamos conscientemente prestando atenção no que é dito, nosso cérebro capta os demais sinais que compõem a comunicação de forma inconsciente. É por isso que, algumas vezes, seu interlocutor lhe fala algo e você fica com a pulga atrás da orelha: você provavelmente ouviu uma afirmação, mas a sua mente captou outros sinais, incoerentes. Se deseja se aprofundar no tema, recomendo começar pelo livro “A Arte de Ler Mentes”, de Henrik Fexeus.

Levando isso em consideração, é bom mencionar que existem técnicas cientificamente comprovadas para ler expressões e detectar qual a emoção por trás de uma frase, palavra ou comportamento. Neste quesito, recomendo o livro “O Corpo Fala” (clássico do tema) e  “Telling Lies”, de Paul Ekman, psicólogo considerado a maior autoridade mundial em micro expressões faciais (já assistiu a série Lie To Me? Foi baseada nele e em seu trabalho).

Ele provou que existem algumas emoções de base (raiva, felicidade, surpresa, nojo, tristeza e medo), que tem suas representações fiéis em qualquer lugar do mundo ou em qualquer comunidade onde um ser humano exista. Ele desenvolveu o Facial Action Coding System (FACS) que decodifica os micro movimentos musculares faciais.

Partindo do princípio que o nosso objetivo é uma melhor comunicação e não necessariamente detectar mentiras, é fundamental entender que, ao adotar uma inverdade ou não expressar-se de forma fiel e compatível com sua opinião e sentimentos, sim, o corpo dará pistas. Ou seja, se a sua intenção é comunicar-se eficientemente, seja verdadeiro e fiel para com você mesmo.

“Eu não estou chateado com o fato de você mentir para mim, eu estou chateado porque de agora em diante eu não posso mais acreditar em você.”
Mark Twain

De nada adianta seguir as dicas abaixo para expressar algo que está em desacordo com seu eu: fatalmente, você será traído por uma micro expressão facial ou comportamento incongruente. Não há algo mais destruidor de rapport e empatia do que uma incompatibilidade entre a palavra e comportamento (a não ser que o seu interlocutor esteja embriagado e não perceba…). Em outras palavras, se você for fiel ao que pensa e acha, não precisará se preocupar com a coerência entre o que fala e como se porta.

Para entender como tudo isso é poderoso, recomendo dar uma olhada no canal Metaforando, do excepcional Vitor Santos, no Youtube.

O Que Fazer?

Tenho certeza de que muitos olharão para os itens abaixo e acharão simples. E é! É muito mais uma questão de bom senso, congruência e equilíbrio do que qualquer fórmula mágica.

Vejamos:

Escute

“Não escute com a intenção de responder, mas com a intenção de entender.”

Como dito inicialmente, escutar não só é um sinal de respeito pelo próximo como gera rapport e empatia.

Além disso, permite que você tenha elementos sobre o outro suficientes (e tempo) para elaborar uma estratégia eficaz baseada na comunicação não verbal.

Se você está procurando uma pausa na fala do seu interlocutor para poder falar, você não está escutando como deveria.

Tenha Paciência

Uma das grandes características das pessoas extrovertidas é interromper o seu interlocutor e quebrar as linhas de raciocínio alheias, o que prejudica o escutar. “Ler” o seu interlocutor e entender a postura e posicionamento dele pode lhe dar pistas enormes sobre os argumentos necessários ao convencimento. Sem paciência para falar o que deve ser falado, no ritmo certo e sem espaço para a escuta, a probabilidade da comunicação falhar será alta.

Mantenha Contato Com os Olhos

Muitos de vocês já devem ter ouvido a expressão “fulano fala com os olhos” ou “os olhos são o espelho da alma”. A importância de manter contato com os olhos transcende a comunicação em si e está intimamente ligada à ser transparente e passar a ideia de uma pessoa confiável.

“Quando a conta de confiança é alta, a comunicação é fácil, instantânea e eficaz.”
Stephen Covey

Esqueça o Telefone Celular

Permitam-me evitar falar detalhadamente sobre esse ponto. Ele é óbvio demais: escutar e ser escutado requer atenção e não existe maior empecilho do que o seu aparelho de telefone celular. Me perdoe, mas se você acha que isso é uma besteira, prepare-se para não entender e não ser entendido. Ficar olhando a tela do celular e para o relógio também quebra o rapport e é um sinal claro de desatenção.

Seja Claro

Ser claro na comunicação é essencial. Fale de forma clara, evitando contradições, termos antagônicos e evitando também falar rápido ao ponto das palavras caírem da boca (sem acompanhar o raciocínio). Lembre-se, você fala para o outro, não para você. A comunicação tem que ser clara para o seu interlocutor e na velocidade e clareza que ele consegue compreender. De fato, tente acompanhar o ritmo da pessoa com quem está se comunicando – isso ajuda muito a construir rapport.

Seja Objetivo

Enrolar ou colocar o gato no telhado pode ser necessário, dependendo do tipo da comunicação a ser feita. Não é uma boa estratégia comunicar um óbito de alguém próximo de forma direta. É necessário preparar o terreno. Mas isso não impede que a comunicação seja objetiva. Ser objetivo evita margens de interpretação.

KISS

Keep It Simple, Stupid – mantenha simples, estúpido! Ou mantenha-se estupidamente simples. Explicar algo de forma simples é a melhor receita para ser entendido apropriadamente (mas talvez seja o maior desafio de todos). Sabemos que existem coisas complexas que exigem uma base maior de conhecimento para o perfeito entendimento… Mas já dizia Albert Einstein no século passado, se você sabe do que está falando, será capaz de explicar o que sabe para uma criança.

Use Metáforas

Usar metáforas pode ajudar muito no entendimento de diversos temas. De fato, é um recurso muito útil e poderoso para encurtar distâncias culturais e de ausência de conteúdo. Entretanto, é necessário ter a certeza de que a metáfora é válida na outra cultura ou que o seu interlocutor tem a base de conhecimento necessária para o entendimento. Se não tem, você terá que incluir na comunicação os elementos de base necessários, terminando por trazer complexidade onde não se deseja. Outro ponto importante é que você precisará julgar se abrir mão de ser simples e objetivo usando uma metáfora terá um resultado melhor.

Do ponto de vista da PNL, usar metáforas pode distanciar o que foi entendido da realidade objetiva, pois a nossa mente tende a preencher as lacunas que a metáfora provê, apesar de ser uma ferramenta poderosíssima. Ou seja, tem ligação direta com a estratégia de comunicação que você pretende usar.

Dadas as advertências, não há ferramenta mais poderosa para a comunicação e existe uma maneira fantástica de usá-las: explique o problema, desafio, proposição, condição ou afirmação que deseja que seus interlocutores entendam de forma clara, direta e objetiva. Conte as metáforas necessárias para que o entendimento ocorra e, ao final, conclua com uma amarração direta, objetiva e factual buscando a conclusão dada.

Confirme e Peça para Repetir

Confirmar o entendimento sobre o que foi dito e pedir para que repitam o que foi entendido é, sem dúvida, a técnica mais eficaz de todas. Com ela, você checa o entendimento no mapa / visão do interlocutor e tem a chance de corrigir quaisquer questões que surjam.

Importante reforçar que as sugestões acima podem não ser compatíveis entre si. Um exemplo claro disso se dá ao usar metáforas, que certamente esconderão a simplicidade e a objetividade. O ponto é ter bom senso, entender a postura do seu interlocutor e usar a estratégia mais adequada.

“A arte da comunicação é a linguagem da liderança.”
James Humes

E Se Eu Ficar com A Famosa Pulga Atrás da Orelha?

“Entendimento é mais profundo do que conhecimento. Existem várias pessoas que conhecem você, mas pouquíssimas realmente entendem você.”

Neste caso, posso apenas falar por experiência própria e vai da sensibilidade de cada um. Quando isso acontece, geralmente significa que o seu cérebro detectou alguma incompatibilidade entre o que foi dito e o comportamento do seu interlocutor. O meu gut feeling, aquela sensação de algo errado no estômago, na maioria das vezes, acerta. Com sutileza e elegância, você pode explorar um pouco mais o tema que gira em torno daquilo que despertou em você a desconfiança. Você pode metamodelar a linguagem à procura de pistas que comprovem um deslize.

Perceba que pode ser a intenção do seu interlocutor se proteger e a omissão pode provocar um comportamento incongruente e não necessariamente significar que ele(a) está mentindo. Mais uma vez, tenha bom senso e tente contextualizar o assunto. Talvez tudo se esclareça. Dê o benefício da dúvida e espaço para que seu interlocutor comente. Respeite a sua privacidade.

Por fim, não assuma. Talvez seja o maior equívoco de todos no que diz respeito à comunicação. Assumir é preencher as lacunas da falha de entendimento conscientemente e o resultado pode ser muita confusão.


(*) Pouco menos de duas semanas atrás, postei um texto falando sobre o que é talvez o pressuposto mais importante da PNL (e, certamente, um dos mais controversos).

O texto teve uma repercussão enorme e muita gente entrou em contato comigo nas redes sociais e WhatsApp, sugerindo abordar como se fazer entender. O texto original continha essa parte mas, por causa do tamanho, decidi separar.

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Comunicação: Onde, De Fato, Resta a Responsabilidade?

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Talvez um dos pressupostos da PNL mais controversos seja o que diz que…

“A responsabilidade da comunicação é SEMPRE de quem emite a informação.”

Olhar para essa frase em si já gera um mal estar em muitos.

Já vi nas mídias sociais memes, imagens e afirmações diametralmente opostas a esse pressuposto. Algo como…

“Sou responsável pelo que digo, não pelo que você entende.”

Uma rápida pesquisa no Google retornará inúmeros exemplos de imagens… confesso até que, no passado, cheguei a compartilhar algumas delas! As redes sociais estão cheias de memes que trazem essa afirmação e, hoje, agradeço ao universo por achar isso… com todo o respeito, limitante:

Meus queridos, a frase em si é contraditória! Se você é responsável pelo que diz, é claro que você é responsável pelo entendimento (afinal, para quê dizer algo se você não quer se fazer entender?)

Por que será que tanta gente acha que não é responsável pela comunicação?

A própria pergunta acima já nos dá uma clara pista do motivo: responsabilidade (ou sua isenção).

As pessoas tem o hábito de se isentarem da responsabilidade em suas vidas, de colocar o macaquinho no ombro dos outros. Ainda, evitam ser os protagonistas do seu palco e promovem a manutenção da zona de conforto, um comportamento totalmente alinhado ao vitimismo.

O processo de comunicação é transitivo e envolve, pelo menos, duas partes. Não há comunicação com o espelho. Não há comunicação com a TV ou com o travesseiro (alguns practitioners de plantão afirmarão que sim, há comunicação entre as partes de um ser, mas isso é conversa para outro post – tomei o cuidado ao mencionar “partes” na frase acima :))

Em outras palavras, a comunicação é uma ação resultante de uma intenção (a sua). Se você tem a intenção de se comunicar, é óbvio que quer se fazer entender (nos seus termos), por mais que você ache que está apenas “constatando os fatos”, um argumento muito comum [os fatos são sempre a sua versão de realidade, pois passamos não por uma, mais por DUAS situações de interpretação: quando você usa seus canais representacionais (visual, auditivo e cinestésico – que inclui os demais) para interpretar e armazenar a realidade e quando você recupera o que armazenou e traduz em palavras e outras formas de comunicação].

Se partirmos dessa ideia, o que estamos tentando transmitir é a nossa visão de algo (afinal, cada um constrói sua visão de mundo particular) que pode ser ou não próxima da realidade. Ou seja, comunicação é convencimento.

E se o ato da comunicação for intencionalmente falho de forma a provocar confusão?

Meu caro leitor, essa afirmação nada mais é do que a validação do meu argumento e do pressuposto da PNL até então.

Como assim Romulo?

A confusão só nasce justamente porque a responsabilidade da comunicação é comprovadamente de quem emite a informação. Tem o poder quem tem a responsabilidade. A prova disso é o empoderamento de quem emite – ao intencionalmente falhar, a confusão se instala através do poder que possui ao ser responsável.

Colocando de uma forma análoga, comunicar-se de forma ineficiente é uma irresponsabilidade. Ouso afirmar que a maioria dos problemas do mundo são falhas de comunicação ou iniciados por isso. Peter Drucker chegou a afirmar que giram em torno de 60%.

A responsabilidade atrai o poder?

Vencida a fase da argumentação, assim como defendi o empoderamento do protagonista, ao chamar a responsabilidade para si, imagine, como se fosse possível, o poder que ser responsável pelo entendimento da comunicação traz a quem emite a informação, pegando emprestada, de forma bidirecional, a afirmação do grande filósofo Tio Ben: “grandes poderes vem com grandes responsabilidades.”

Mas…

“Grandes responsabilidades geralmente vem com grandes poderes.”

… Principalmente ao entendermos o poder da ação e o poder de poder agir. Fácil concluir então que…

“Comunicar-se de forma eficiente nos atribui grande poder.”

Querido leitor, antes de me perguntar se estou maluco, faça uma análise da história da humanidade e me diga se os grandes comunicadores tiveram ou não grandes poderes:

  • Jesus
  • Gandhi
  • Madre Teresa
  • Mohamed Ali
  • Mandela
  • Martin Luther King
  • Kennedy

A lista é imensa. Certamente, essas pessoas sabiam se comunicar e se fazer entender.

Como isso afeta a nossa vida?

A essa altura, não preciso dizer que afeta total e profundamente. Pense comigo nas mais diversas situações da sua vida em que você conseguiu algo porque falou o necessário e as vezes que não conseguiu porque não se expressou como devia.

Quantas vezes, ao final de uma conversa, você ficou com a sensação de que não foi entendido e que, por causa disso, seu interlocutor provavelmente não fez o que você pediu? Quantas vezes, ao não se comunicar de forma eficiente, o rapport foi destruído e a relação com seu interlocutor ficou prejudicada?

Agora, pense nas consequências dessas conversas e como tudo poderia ser diferente se o entendimento fosse diverso. Não é difícil compreender a máxima que afirma que guerras foram deflagradas por falta de entendimento.

Da mesma forma que as pessoas transferem a responsabilidade do entendimento para quem recebe a informação, existem indivíduos que transferem a responsabilidade da ação para quem emite a informação e isso pode acontecer por vários motivos.

Você já deve ter ouvido a frase: “eu fiz isso ou aquilo porque fulano mandou.”

Trata-se de questão ainda mais polêmica, que nos remete ao início do texto, sobre protagonismo e responsabilidade. Se por um lado essa questão apenas corrobora o poder de quem comunica, precisamos entender que a nossa sociedade possuiu e possui sistemas inteiros construídos em cima do descasamento de quem perpetua a ação da sua responsabilidade sob as consequências dos seus atos.

Na minha humilde opinião, estamos diante de uma questão perigosa e que tem consequências bastante graves. Vemos isso no nosso dia a dia com tantos analfabetos funcionais(*), capazes de seguir ordens, mas incompetentes ao julgar ou compreender seus atos. Outro bom exemplo são as forças armadas e outras cadeias de comando inquestionáveis.

Não quero entrar no mérito sobre o que é assim e até concordo que pode haver uma boa justificativa ou necessidade por trás. Mas será que as guerras não existem justamente porque há gente sendo comandada sem usar seu bom senso? Será que elas não existem pela transferência de responsabilidade, pela concentração do poder da ação alheio nas mãos de poucos?

Encontramos situação semelhante em algumas religiões. Ela também é usada como desculpa para essa transferência de responsabilidades e algumas chegam a construir seus argumentos de crença e fé em cima dessa delegação. Se matou muito “sob a vontade de Deus” ou de divindades, de acordo com Steven Pinker, em seu fabuloso livro “Os Anjos Bons de Nossa Natureza”. De acordo com ele, os principais culpados por grandes conflitos e mortes ao longo de nossa história são as religiões e o estado.

O processo civilizador, contudo, de forma recorrente, se posiciona como responsável pela diminuição da violência. Se por um lado o estado é uma das grandes consequências do processo civilizador, um dos seus efeitos colaterais é a criação de cadeias e hierarquias de comando com a alienação do bom senso e a transferência da responsabilidade da ação para poucos.

Como eu disse, o tema é polêmico. Entretanto, resgatando a questão central, pare e pense um pouco: o que há por trás da religião e do estado, ao levar grandes multidões algumas vezes ao conflito, se não o poder da palavra e do convencimento?

O que há em comum e por trás de grandes líderes que comovem empresas e cidadãos com suas palavras, arrastando pessoas, funcionários, plateias e multidões, na direção dos seus pensamentos e do sucesso?

O poder está em suas mãos. Ou melhor, em suas palavras. Lembre-se, o poder da comunicação está em quem emite, assim como a responsabilidade de se fazer entender. Não abra mão nem delegue esse poder. Não caia na tentação de se isentar dessa responsabilidade e colocar nas mãos dos outros o que você quer.

Repita comigo, salve e poste por aí:


 

(*) A questão dos analfabetos funcionais e da responsabilidade da ação em si foi sugerida por Rafaella Lins. Obrigado pela sugestão!