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As Redes Sociais e a Polarização

As redes sociais ampliam o que as pessoas são.

Então, seria natural ver a polarização e o ódio; mas seria igualmente natural ver a bondade, o carinho, o altruísmo e tudo aquilo entre os extremos.

Percebo que enquanto a polarização circula em temas como política, preconceito / discriminação e religião, a “bondade” circula em mensagens motivacionais e de bom dia.

A questão é que a polarização é ativa e procura atingir identidades… e a bondade parece ser passiva.

Eu poderia entrar no debate sobre como as questões polarizadas são representadas pelas crenças das pessoas e como elas estão associadas ao que cada um percebe como “bom”, certo ou errado.

Ou seja, quem defende ou ataca lados está certamente envolvido na crença de que age para o bem-estar ou bem maior.

Mas não entrarei na discussão do conteúdo.

Minha observação é simples: em qualquer caso, se argumentação adjetiva pessoas, ações e foca na identidade de indivíduos direta ou indiretamente, entra-se no confronto egóico que traz resultados nada construtivos.

Quando o debate entra nessa fase, somos levados a punir e a vingar.

Ou seja, se esse é o rumo da conversa, cabe a si próprio reavaliar o argumento em si.

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Identidade, Crenças e Equilíbrio Emocional

O assunto abaixo é abordado no livro “O Guia Tardio”, já disponível.


Em junho, fui convidado para uma live sobre comunicação.

O vídeo não ficou salvo, mas fiz outro sobre o mesmo tema que pode ser visto clicando aqui.

Lá, levantei uma questão importantíssima acerca dos requisitos para uma excelente comunicação interpessoal: um paralelo entre identidades, crenças e argumentação, assunto para o qual dediquei um capítulo inteiro do meu livro.

A inteligência emocional (que também mereceu um capítulo específico no livro, assim como o ego) é um tema que anda bem na moda há mais de 20 anos.

Nas últimas semanas, pensei bastante a respeito da íntima relação dela com a comunicação, crenças e à argumentação em si.

Eu proponho uma reflexão sobre o tema que transcende o papo motivacional e da autoajuda.

Em primeiro lugar, é importante falarmos um pouco sobre a pirâmide da discordância de Graham. Não entrarei em detalhes – sugiro que veja primeiro o vídeo sobre o assunto.

Percebam que no topo da pirâmide temos o foco nas ideias. Na base dela, o foco na identidade, no ego coloquial.

Enquanto no topo o foco é o argumento central da comunicação, na base o foco está na desqualificação do comunicador e até a agressão.

Em segundo lugar, trago o desafio de manter-se no topo da pirâmide.

Uma opinião é normalmente resultado de quem somos, do conjunto de crenças que carregamos e potencialmente ligado às identidades que temos. Surge daí o conflito entre indivíduos e a tendência de levar o debate naturalmente para as camadas mais baixas da pirâmide.

Quando ouvimos um argumento contrário, nossos viéses cognitivos carregam a comunicação ao nível do desafio à própria identidade, afinal, a nossa opinião é fundamentada em nossas crenças que são, por sua vez, os tijolos que constróem as nossas identidades.

Quando as crenças estão alinhadas entre indivíduos, as opiniões seguem e as emoções resultantes são naturalmente positivas, como a realização, a felicidade, a autoafirmação e a comunhão.

Mas quando as opiniões são divergentes, surge o conflito, assim como as reações emocionais limitantes e negativas, como a raiva, a tristeza e o medo. Se forem fortes o suficiente, podem ativar o nosso instinto de sobrevivência e provocar a entrada em um estado de luta ou fuga.

Contudo, sem o conflito não há evolução.

Em terceiro, exploremos um pouco o conceito de inteligência emocional: a habilidade de reconhecer as próprias emoções, a capacidade de regular as emoções apropriadamente, a de auxiliar os outros nessa tarefa e a habilidade de usar as emoções adequadamente no dia a dia para resolver problemas, conflitos e até ajudar em questões como o pensamento criativo, motivação e empoderamento.

Para ajudar no entendimento do conceito de inteligência emocional e a relação com os demais temas trazidos até aqui, observe este gráfico:

 

Diante do estímulo da comunicação (verbal ou não-verbal) à esquerda, em até dois segundos, temos as reações mais ligadas ao emocional. Com o passar dos segundos, mais temos o resgate do estímulo para o consciente e a capacidade de interpretá-lo racionalmente.

Essa questão é tão importante que analistas comportamentais de linguagem corporal buscam exatamente por essas reações para julgar se somos congruentes (meta-comunicação e conteúdo compatíveis).

Em quarto, abordemos a questão do ego coloquial, da adaptabilidade e da empatia.

Há um monte de interpretações sobre o que significa “ego” e normalmente o debate surge sem fazer referência a qual definição ele está associado, gerando uma confusão danada.

Portanto, antes de prosseguirmos, vamos combinar qual usaremos:

  1. Etimologicamente, ego vem do latim e significa simplesmente eu;
  2. Já a alusão filosófica aponta de uma forma geral para o eu que somos ou a nossa personalidade. Particularmente credito a esse eu a nossa autoestima que, na minha opinião, é o efeito colateral do autoconhecimento, salvo as psicopatologias.
    Ela também pode representar a separação que existe entre nós, dada a unicidade característica da nossa individualidade. O eu que nos define únicos e que nos separa como consequência;
  3. Sigmund Freud, ao idealizar a teoria do modelo psíquico, instituiu três elementos que ajudam a regular o nosso comportamento. De forma altamente simplista, temos o “id”, que representa nossos impulsos; temos o “ego”, que representa nossa racionalidade e o “superego”, que representa nossa moral;
  4. E ainda existe o conceito de ego que é coloquial, popular, ligado ao culto a si próprio, associado a termos como egolatria e egocentrismo. Este é o conceito que trataremos aqui.

No primeiro e no segundo casos é totalmente compreensível e aceito que o ego exista sob tais conotações. Ele apenas representa quem é, a sua personalidade exclusiva e a sua individualidade, características que fazem de você um ser único (fantástico que assim seja!).

Conhecer a si mesmo permite a construção da própria autoestima que, antes de mais nada, representa o respeito e o amor que temos por nós mesmos e, em segunda instância, a ideia calibrada de nossas capacidades e habilidades, o que gera confiança e crenças possibilitadoras. Quando essa “calibração” não existe, o ego do quarto tipo, indesejado e coloquial, surge.

No terceiro caso não é uma questão de bom ou ruim – trata-se de uma definição, de um conceito usado na psicanálise.

No entanto, no quarto e último significado temos justamente o nosso alvo. Falho em achar algo positivo acerca dele e não consigo imaginar algo possibilitador que possa ser proveniente de se instigar esse ego em específico.

Há quem afirme que um pouco de ego é necessário para que se tenha autoconfiança, motivação, energia e garra para seguir em frente, argumento que só faz sentido se for referente ao primeiro e ao segundo conceitos. Eu particularmente acredito que, ao invés de fomentar o ego, a humildade seja uma espiral positiva mais adequada.

Ser questionado (o que na cabeça do egocêntrico significa que estamos colocando à prova o que ele sabe) passa a ser um desrespeito capital.

A autoestima vira ego quando não nos conhecemos e quando nossa percepção do eu não está calibrada (ou está depositada numa representação externa de ser, como no ter, por exemplo).

Em outras palavras, o egocêntrico dificilmente consegue adaptar-se, muito menos ser empático.

Agora, finalizando os conceitos, permitam-me falar um pouco sobre a psicologia envolvendo a conotação de mindset.

Como o ego distorce a realidade, um dos seus efeitos é provocar no egocêntrico a justificativa de que está apenas sendo “realista” quanto às suas capacidades, deliberações e ganhos.

Pessoas egocêntricas vivem em mundos particulares. O egocêntrico acredita ter o “dom”, a habilidade nata para determinadas tarefas, alguém que verdadeiramente acredita ser o melhor e, fatalmente, há muito tempo longe da posição de aprendiz, eliminando qualquer convívio, mesmo que remoto, com algum traço de humildade.

Ter o aprendizado como meta e, aí sim, um hábito super saudável, questionar o status quo e aceitar a mudança (mesmo que isso inclua atritos, dor e eventualmente sofrimento), são grandes evidências da presença na zona de evolução existencial, comportamento que aponta na direção do mindset de crescimento (Dweck, 2017). Você pode também encontrar referências para esse comportamento como mindset produtivo (Stark, 2004).

Não desejar aprender, manter o status quo, achar que sabe tudo, não aceitar a mudança e usar frases como “eu sou assim mesmo e nunca mudarei” são fortes indicativos de estagnação existencial. Típico comportamento do mindset fixo (Dweck, 2017) ou mindset defensivo (Stark, 2004).

O ponto aqui é a resistência à mudança e a característica natural que a acompanha de não aceitar bem a opinião de alguém. Uma consequência direta de achar que se sabe de tudo é ficar totalmente fechado ao aprender e isso tem uma profunda ligação com o ego.

  • Mindset fixo = zona de estagnação = vítima = ego
    Mentalidade = “eu sei de tudo”. “Sou assim mesmo e não vou mudar”
    Passivo, “o mundo me serve”, “eu basto”
    Se eu chego ao sucesso é porque eu sou bom naturalmente. Tenho o “dom”, nasci assim
    Se eu não chego ao sucesso, é culpa do externo, culpa dos outros ou das circunstâncias (e nunca minha), afinal, eu tenho o “dom”
    Sou incompreendido e injustiçado
  • Mindset de crescimento = zona de evolução = protagonista = humildade
    Mentalidade = “eu não sei, mas posso aprender”. “Mudanças são bem-vindas”
    Ativo, “eu vou atrás do que preciso”, “sou um eterno aprendiz”, “peço ajuda”
    Se eu chego ao sucesso é porque me empenhei, porque fiz acontecer e porque aprendi o que foi necessário
    Se eu não chego ao sucesso, devo analisar o que ocorreu e aprender, colher feedbacks, reagrupar, mudar a estratégia, me esforçar mais, pedir ajuda
    Eu posso

Se você chegou até aqui, brindá-lo-ei com uma conclusão rápida e simples.

Você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com inteligência e equilíbro emocional?

Perceba como há uma relação íntima entre todos eles.

Pessoas egóicas agarram-se as suas crenças e, cosequentemente, as suas opiniões. O desafio de focar em ideias, adaptar-se, aprender e aceitar o conjunto que encerra o próximo (emoções, sentimentos e ações) é praticamente impossível de realizar.

Ou seja, egocêntricos são praticamente incapazes de atuar nos 3 níveis mais altos da pirâmide da discordância de Graham.

Colocando de outra forma, inteligência e equilíbrio emocional estão totalmente ligados à aceitação e entendimento do próximo (empatia) e são incompatíveis com cultos à identidade, pois quaisquer discordâncias estarão associadas irremediavelmente à identidade do egocêntrico.

O egóico percebe invariavelmente a opinião do outro como uma desqualificação de quem é.

Então, é plausível afirmar que, para ter inteligência emocional, é necessário adaptar-se, ater-se as ideias, deixar o ego de lado e permitir novos conceitos ao ponto de colocar as suas próprias crenças em jogo, mesmo que isso direta ou indiretamente vá contra uma das nossas identidades. Se a troca intelectual despertou questionamentos em você, está no caminho certo.

“Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante o teu direito de dizê-la.”
Evelyn Beatrice

 


Leitura recomendada:

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O texto acima contém trechos do livro “O Guia Tardio“.

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O Paradoxo do Impossível

Vencer paradigmas existenciais é da natureza do ser humano.

Temos a nossa evolução para comprovar isso, uma história de milhares de anos que nos diz que, o que ontem era impossível, hoje não é.

Por outro lado, quebrar um paradigma e cair em outro não significa que a nova realidade será melhor ou pior e isso está relacionado à percepção do sujeito e não ao rompimento da realidade anterior.

Agora, o que pode eventualmente fundir a cabeça é:

O novo paradigma existe quando estamos no menor?

Temos como antever os limites que ainda não alcançamos?

Ou seja, não termos consciência dos limites permite que eles existam?

Isso leva a outro ponto: será que um novo paradigma não é resultado de tornar consciente os próprios novos limites?

Se considerarmos apenas as escolhas que temos, não temos liberdade, muito menos livre arbítrio.
Qualquer animal macroscópico consegue fazer escolhas – isso não é exclusividade nossa.

Do nivel 0 ao nivel 2 de aprendizado.

Mas o ser humano é o único ser que conhecemos com a capacidade de criar, a partir da imaginação e da nossa capacidade consciente. Conseguimos idealizar conceitos abstratos, intangíveis e complexos que permeiam a nossa cultura e sociedade. Organizamo-nos a partir desses conceitos, que estão em constante mudança.

E é ai justamente que entra o meu argumento.

Somos capazes de criar.
Podemos criar escolhas, novas realidades e, quando isso acontece, saimos do nivel 2 para o nivel 3 de aprendizado.

Temos o dom de trazer ordem ao caos através da nossa imaginação e criatividade… quando fazemos isso, surgem novos cenários, conceitos abstratos que antes não existiam.

Assim, tanto criamos uma nova realidade quanto idealizamos novos limites considerados impossíveis que, eventualmente, deixarão de sê-lo.

A nossa capacidade de criar quebrando paradigmas e, ao mesmo tempo, criando limitações.

Chamo isso de paradoxo do impossível.

Seja bem vindo à sua própria evolução. E ela não pára.

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