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Lições

Para muitos, as lições abaixo farão sentido.

Para outros, parecerão apenas bom senso e, para alguma parcela, causarão incômodo, desconforto e talvez discordância e rejeição.

São coisas que aprendi ao longo da vida e muitas destas lições solidificaram-se nos anos recentes e, principalmente, de 2020 para cá.

Deixarei a lista aqui, mesmo assim. Será que tem coragem de ler até o fim?

Lá no final tenho uma surpresa para você, mas só vai funcionar se ler o texto antes:

Achar que o Universo nos deve alguma coisa é um dos exercícios e comportamentos mais egóicos que existem. Não somos o centro do Universo… somos menores do que grãos de areia no grande esquema das coisas;

Aprenda a separar aquilo que controla do que não controla. Aplique energia naquilo que controla;

Não existe poupança de dor e sofrimento, muito menos são moedas de investimento. Sofrer hoje não garante o futuro, do contrário o mundo seria um exemplo de igualdade e justiça. Em outras palavras, não existe mecanismo que recompense dor e sofrimento e tenho minhas dúvidas quanto ao esforço. Sim, muita coisa na vida depende de esforço, mas achar que TUDO depende de esforço torna você o peão perfeito no xadrez da vida;

Inteligência emocional não é sobre o controle das emoções. Ninguém controla as emoções. Elas são reações neurofisiológicas do nosso corpo que nos aproximam do bem-estar e nos afastam daquilo que potencialmente nos prejudica ou ameaça a nossa existência. Podemos, no máximo, aprender a reagir melhor quando elas ocorrem;

Não gerenciamos o tempo. Ele tem lastro absoluto. Gerenciamos prioridades e eventualmente, escolhas. E sim, tem muita gente na face da terra que precisa usar de 20 a 40% do seu tempo (talvez mais) em tarefas desumanas e voltadas à sobrevivência. Pense nisso;

Procrastinação é um sintoma, nunca uma causa. No momento atual de coaches afirmando que basta agir para resolver a questão, sugiro ver o vídeo e ler novamente: procrastinação é um sintoma, nunca uma causa;

Ter opções e poder escolher dentre elas não é liberdade se as opções forem previamente escolhidas para nós por alguém. Somos seres com o poder da imaginação, consciência e criatividade. Somos capazes de conceitos abstratos e de comunicá-los. Crie opções e oportunidades e não se limite as opções apresentadas;

A identidade, o eu é transitório. Quem achamos que somos e que o outro é nada mais é do que uma construção nossa que atualizamos sempre que podemos, baseado no comportamento;

E, por causa disso, criamos expectativas demais, que levam a decepções demais. Isso não é conteúdo do outro;

O que nos leva à seguinte consideração: quando sofremos uma decepção com alguém, é muito mais conteúdo nosso do que do alguém. A decepção acontece porque a identidade exercida pelo outro não condiz com as expectativas de identidade que temos para o outro. No fundo, decepcionamo-nos com nós mesmos, não com o outro. E já que falamos sobre isso, pense no conteúdo nosso que projetamos na identidade do próximo através das expectativas. Se não é capaz de enxergar ainda, tente novamente;

O “foda-se” mental, não no sentido da agressividade, xingamento ou adjetivação de alguém, mas no sentido do desapego, é terapêutico;

Por sinal, se uma conversa cai na adjetivação negativa das partes, a comunicação caminha para a direção da agressão, para o  desentendimento e não terá utilidade para ninguém. Conversas inteligentes, produtivas e altamente criativas focam nas ideias e argumentos e nunca na identidade ou autoridade;

Nada é automaticamente verdade por causa da suposta autoridade de quem diz. O ser humano faz o possível para economizar energia (pensar gasta energia), tem preguiça de pensar e mais do que gostaríamos, ignora as ideias e argumentos em si em favor dessa autoridade. Isso tem nome: viés da autoridade e é usado extensivamente nas redes sociais;

Algo que “faz sentido” não é um indicativo inequívoco de verdade. Pelo contrário, é um afago ao ego, manutenção da zona de conforto e também tem nome: viés da confirmação. Esse é especialmente perigoso;

Como seres humanos capazes de criar conceitos abstratos, conseguimos idealizar as mais belas concepções e os mais vis desejos. Entre um e outro resta a individualidade (no sentido de sermos únicos) da existência humana. É exatamente por isso que a comparação é destrutiva e potencialmente leva a obliteração de praticamente todos aqueles opostos a nós, “concorrentes“… já a cooperação é fundamental para a nossa evolução;

Todas as redes sociais, sem exceção, são uma projeção idealizada de identidade, uma imagem de um alter ego de perfeição e desejo, uma produção maquiada, filtrada e produzida;

Identidades virtuais ou alter egos nas redes sociais onde a suposta felicidade, sucesso, goodvibes, positividade, bem-estar e realização são constantes, são o perfeito exercício de uma fuga e não representam a existência humana. Não compare a sua despensa com o palco de ninguém;

Por outro lado, nem tanto, nem tão pouco. Equilíbrio é a chave. Se a positividade pode ser tóxica ao realizar uma busca insana por ela, 100% do tempo, o conteúdo que consumimos também pode ser tóxico. O nosso estado emocional é influenciado a todo o momento (as propagandas são especialistas nisso). Nem sempre conseguimos reagir da forma como planejamos, mas muitas vezes consumimos aquilo que não levará aos resultados que desejamos e não nos damos conta. Dá uma olhada nesse texto aqui;

Como disse Kierkegaard, “A raiz da infelicidade humana está na comparação”;

E essa comparação acontece de inúmeras formas, até em nosso nome. Se alguém chegar e disser que deveria estar feliz (tem a obrigação de sentir-se feliz ou não tem o direito de estar triste) porque você “tem tudo” ou tem gente na merda ou pior do que você, cuidado: isso pode ser inveja, mas certamente é julgamento, comparação e falta de empatia por parte desse alguém (nenhuma pessoa tem a capacidade nem o direito de julgar a dor de ninguém – dica: se não há compreensão, que haja silêncio). Somos mais de 7,5 bilhões de pessoas únicas, com seus próprios desafios e questões. Cuide do seu corre, agradeça pelo que tem (pois são as ferramentas e recursos que pode usar, principalmente as internas) e se tem gente na merda, ajude (o que trará bem-estar), mas não use como critério de comparação;

Você tem o direito de ficar puto, com raiva, triste, revoltado e de luto. Faz parte de ser humano. Aceite. Não caia na armadilha de reprimir emoções e sentimentos negativos, achando que a positividade (tóxica) resolverá todos os seus problemas. Não resolverá, da mesma forma que reclamar também não. Entretanto, se sente-se triste e sem energias por longos períodos de tempo (mais do que duas semanas), consulte um especialista;

Quem cuida de saúde mental primariamente são os psicólogos e psiquiatras. Este deve ser o tratamento principal e prioritário. Caso não tenha condições financeiras, procure os departamentos de psicologia e psiquiatria das universidades e faculdades em sua região. Todo e qualquer suposto tratamento fora dessa área de conhecimento pode ajudar (e muitos ajudam, de fato), mas são alternativos, coadjuvantes e secundários. Veja este vídeo;

Não há felicidade perene nem desespero ou tristeza eterna. Tudo passa. A vida é constituída de ciclos e contrastes, mesmo motivo pelo qual a representação de perfeição das redes sociais é uma falácia que leva à depressão para quem produz conteúdo e para quem consome;

Se por qualquer motivo, crença ou comportamento você pensa em alguém ou um grupo como superior, inferior, melhor, pior, mais ou menos evoluído, houve comparação. Não somos melhores ou piores, somos diferentes;

Se por causa de uma religião você deseja o mal a alguém, vai contra a própria concepção etimológica do termo, que vem de “religare“. Pesquise no Google, ouça a música “Manifesto” (Vintage Culture, Anmari, Wolfire), lendo a letra;

A cooperação da diversidade, de existências e pensamentos leva a resultados extraordinários;

Somos mais em grupo do que a soma das individualidades;

Aceitar não é igual a concordar;

É possível aprender sem necessariamente agir, mas não existe aprendizado sem mudança;

Se você não se permite questionar o que acha que sabe, pouco aprenderá;

Humildade, caridade, doação e altruísmo anunciados não são nenhuma dessas coisas. É fomento ao ego;

Vulnerabilidade não é vergonha, mas a sociedade fará você acreditar que é, porque isso atende a uma agenda de manipulação e comparação. Muitas pessoas procuram sentir-se “melhores” do que alguém agindo para “rebaixar” o próximo. Vulnerabilidade pode ser uma enorme fonte de aprendizado e força. Aliás, se não reconhece as próprias vulnerabilidades por causa da vergonha imposta por fatores externos, a jornada de autoconhecimento pode sequer ter começado;

Olhar para o passado e ter um pouco de vergonha do que fez ou pensou um dia é um excelente sinal de que hoje está melhor do que ontem. Houve evolução;

Arrepender-se é avaliar quem foi, reconhecer as merdas que fez e trabalhar para reparar. Quem não se arrepende de nada não aprendeu nada também… e a prova disso é mais simples do que imagina: não há ser humano perfeito. Se acha que não fez merda um dia com alguém, não é um ser humano (ou há uma tendência sociopata aqui);

Ninguém sabe totalmente o que está fazendo. Ninguém. Por mais autoridade, sapiência ou eloquência que a pessoa demonstre, todos estamos perdidos em algum nível, ampliando horizontes, exercitando o encontro com algo ou alguém, passíveis de falhas, erros e acertos. De fato, estamos todos fazendo o melhor que podemos, com os recursos que temos disponíveis e… é exatamente esse o motor da nossa evolução;

Propósito não precisa ser externo, muito menos entregue a nós. Isso é apenas confortável: isenta-nos da responsabilidade de olhar para dentro e descobrir quem somos. Se você procura respostas em algo ou alguém, talvez esteja evitando conhecer quem é ou tenha medo do que descobrirá. Perceba como talvez pule de galho em galho, procurando uma pílula mágica que resolva instantaneamente todas as questões, uma resposta no externo para explicar a forma como sente e age e, toda vez que não concorda ou “não faz sentido”, pula para outro galho. Não há pílula mágica. A busca mais importante é para dentro, não para fora. Busque o que habita em si, reconhecendo os vales e montanhas, os lugares claros e escuros, os monstros e os anjos. Todos são… você;

É possível encontrar sucesso, felicidade e realização dentro da gente, nas pequenas coisas e na jornada em si, não apenas no alcançar de objetivos;

Aliás, objetivos são importantes no contexto da vida, mas a jornada ensina mais do que o alcançar deles. O aprendizado da jornada permite o sucesso.

Chega de lições. Agora, encontramos o presente… e ele é uma reflexão:

Concordou ou discordou de mim em algum momento e, por causa disso, agora quer me seguir nas redes sociais ou pensou involuntariamente “que idiota”, “ridículo”, “que maluco” ou outro adjetivo? Sugiro ler este texto sobre punição e recompensa.

Sugiro ler este outro também, onde falo sobre a Pirâmide da Discordância de Graham.

Chegamos ao fim, na parte onde desconstruo tudo que foi dito aí em cima. É isso mesmo…

Quando falei em uma das lições que todos estamos de certa forma perdidos, fazendo o melhor que podemos, incluo-me no grupo.

Não há regras para a vida e as lições acima são individuais. Se você chegou até aqui achando que essas lições irremediavelmente se aplicam a você e que eu tenho as respostas, bem… você pode até sentir-se inspirado, mas a jornada é sua e as minhas palavras são apenas minhas. Também estou no trabalho de me encontrar.

Entretanto, isso não nos impede de darmos as mãos e seguirmos juntos. Podemos, inclusive, trocar ideias em busca de novas respostas. Nossas verdades podem ser diferentes, mas a interação dessa diversidade, com respeito, permite o desenvolvimento mútuo.

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Você Sente Culpa por Chorar?

Certa vez,

Disseram-me que “olhar para cima” faz você parar de chorar instantaneamente.

Sim, funciona.

Funciona tão bem que é desconcertante.

É como colocar uma rolha.

Mas às vezes, não quero que funcione.

Repressão emocional tem consequências profundas.

Chorar é um processo.

É uma resultante de emoções preenchendo e transbordando o nosso ser.

Quem foi a infeliz alma que criou o conceito de que chorar é vergonha?

Quem foi o ser humano que idealizou as lágrimas como uma punição social?

Quando foi que idealizamos uma existência sadia sem emoções?

Quem foi o responsável por idealizar uma sociedade onde vulnerabilidade é igual a vergonha?

Nós, como sociedade, instituímos que lágrimas são uma vergonha.

Isso é doentio e destrutivo.

Emoções não só são naturais como essenciais à nossa sobrevivência.

Precisamos urgente aprender a lidar com as nossas e com as dos outros.

E “lidar” definitivamente não significa “controlar”.

Significa “aceitar”.

O maior símbolo da gravidade da enfermidade social é perceber

Que para muitos,

Chorar só é possível dentro de quatro paredes.

Isso é um absurdo.

É literalmente desumano.

Da próxima vez que você chorar

Terá o livre arbítrio de olhar para cima e fazer parar.

Terá também a chance de compreender o que está acontecendo.

E, quem sabe,

Estabelecer um vínculo com outras pessoas tão intenso

Que olhar para cima perderá o sentido.

Chorar, para mim, é libertador.

E eu não quero ninguém perto de mim

Que pense diferente.

Aqui, vai a provocação:

Inteligência emocional NÃO É CONTROLAR EMOÇÕES.

É saber lidar com elas.

Você está em um contexto onde não pode chorar?

Onde exercer emoções é uma vergonha?

Está no lugar adequado para você?

Sente-se confortável e seguro em um lugar assim?

O que você faz quando vê alguém chorando? Reprime? Julga?

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Inteligência Emocional… Ao Contrário?

Desde 2017 que escrevo direta ou indiretamente sobre inteligência emocional e até virou um capítulo de livro.

Trata-se de um tema na moda há quase 30 anos que foi explorado à exaustão, colocado por muitos como solução para todos os problemas da humanidade, até a fome (contém ironia).

Outros especialistas na área trazem a inteligência emocional clássica como uma grande falácia.

Nem tanto, nem tão pouco.

O conceito foi esticado e resumido de formas inimagináveis ao longo dos anos.

Penso imediatamente e (quase) involuntariamente no trabalho de Myers-Briggs, que tomou por base Carl Jung.

Ele certamente ficaria surpreso com as conotações extraídas do seu trabalho, para dizer o mínimo. Hoje, estes testes são usados mundialmente em diversos cenários, mas também para rotular pessoas e em processos de seleção, algo inaceitável.

Voltando, analogamente, parece haver um consenso (principalmente em conteúdo de autoajuda) de que inteligência emocional é:

  1. Reconhecer as emoções;
  2. “Controlar” as emoções;
  3. Usá-las adequadamente, para si e socialmente (o que já leva a outro conceito criado ao longo do tempo: inteligência social).

Aqui, chamo especial atenção à palavra “controlar“. Uma rápida pesquisa no seu mecanismo de busca preferido e perceberá como o “gerenciamento das emoções” e a “autorregulação” surgem com frequência e, tristemente, acabam sendo interpretados como “controle”.

Mas antes de abordar esse tema em específico, falemos um pouco da meta-origem do conceito (comento a origem propriamente dita no post original).

Por trás do surgimento da ideia de inteligência emocional, há um processo de reconhecimento das diferenças individuais, diversidade (exemplificado pela multiplicação das inteligências, notadamente sobre as mãos de Howard Gardner) e, principalmente, uma busca por medir o sucesso.

O próprio surgimento da concepção de QI (Quociente de Inteligência) no início do século passado tinha a intenção de prever o sucesso (dentre outras), apesar de florescer em meio a profundos vieses comportamentais.

Isso mesmo, o QI tinha uma pitada de segregação e beneficiava uma parcela populacional, promovendo estereótipos e até o preconceito.

Nada bonito, diga-se de passagem – apesar de ser uma outra época com um contexto completamente diferente do atual. É mais fácil reconhecer tais características, hoje, mais de cem anos depois.

Contudo, se por um lado o QI é algo pragmático, supostamente fácil de medir e beneficia o raciocínio lógico e matemático, por outro, a inteligência emocional não só é difícil de medir como está sujeita à múltiplas interpretações. São habilidades importantes, mas dificilmente preveem o sucesso em todas as ocasiões.

O argumento original de Daniel Goleman (responsável pela popularização do conceito e não por sua criação) é de que a inteligência emocional é um indicador muito mais preciso e fácil de sucesso, ao contrário do QI.

Só que, aí, entramos em um loop: o QI é “mais fácil” de avaliar e o QE (Quociente Emocional), o oposto.

Tá. Eu sei que existem inúmeras tentativas de medir, testes e abordagens diferentes. Mas pense comigo: testes de QI são matemáticos, lógicos e mais precisos por definição (apesar de medirem conhecimento em alguma extensão – o que, perdoem-me, invalida o teste). Testes de QE são situacionais e sofrem profunda influência cultural.

Ao longo dos anos, surgiram várias potenciais metodologias propondo calcular o segundo, enquanto a metodologia para o primeiro sofreu inúmeras revisões (até para apagar um pouco dos vieses iniciais).

Uma pergunta válida: testes assim medem algo que pode ser efetivamente útil? Depende inteiramente do contexto e o contexto tem sido jogado fora.

Em ambos os casos, temos uma visão individualista de sucesso e a ausência completa de uma percepção sistêmica, apesar da inteligência emocional estar frequentemente associada à inteligência social. Mesmo assim, ela analisa o indivíduo, como se uma pessoa, sozinha, fosse capaz de ser qualificada como tendo ou  não a “qualidade” desejada e suficiente e que só depende dela. A bandeira do “protagonismo” segurada ao alto.

Chegamos à um ponto deste texto onde temos três conceitos a explorar: o controle, como prever o sucesso (incluo aqui a questão sobre o individualismo) e porque inteligência emocional “ao contrário”, concedendo-me a liberdade de, quem sabe, mudar de opinião sobre o tema.

Controle

As emoções são reações neurofisiológicas do corpo a estímulos. Primitivamente, emoções agradáveis nos aproximam daquilo que traz bem-estar e emoções negativas nos afastam do que pode potencialmente causar problemas ou ser uma ameaça. É assim com o medo, a raiva, a tristeza, a felicidade, o nojo e o desprezo… exceto com a surpresa, que precede outras emoções. (Ekman, 1971).

Para o ser humano, controle, dentre outras coisas, é praticamente um sinônimo de neutralizar ameaças. Colocando de outra forma, o desconhecido causa desconforto justamente pela falta de controle e é interpretado na maioria das vezes como uma ameaça.

Aquilo que é controlado, é conhecido (mas não necessariamente o contrário).

Frequentemente assumimos que uma situação ou estímulo já vivenciado anteriormente trará a mesma emoção. A experiência prévia é conhecida e isso pode dar a falsa sensação de controle emocional por saber o que eventualmente sentirá. Como não controlamos o desconhecido, achamos que controlamos as emoções diante de situações conhecidas, mas na verdade, estamos apenas recuperando uma memória relacionada à emoção presenciada (e talvez as ações decorrentes).

Agora, exploremos alguns conceitos essenciais.

Conhecimento e controle são conscientes.

A emoção surge de um mecanismo cerebral muito mais antigo e primitivo do que a nossa consciência e, muitas vezes, surge incontrolável de meio até um segundo e meio antes sequer de tomarmos consciência do que aconteceu (Nørretranders, 1998).

Começa a perceber aonde eu quero chegar?

Não controlamos as emoções. Podemos, no máximo, tentar gerar condicionamentos para reagirmos de forma intencionada e planejada. Veja a imagem abaixo:

Parece complexo? Não, é simples até.

  1. O estímulo acontece;
  2. A emoção surge em um nível inconsciente;
  3. Parte do nosso cérebro avalia se é necessária uma reação instintiva de autoproteção (lutar? Fugir? Paralisar para economizar energia?)
    Essa fase pode levar de meio segundo à um segundo e meio, mais ou menos;
  4. Nosso consciente começa a perceber o que está acontecendo. A emoção que tomou conta da gente começa a se dissipar e a ser interpretada
    Com a passagem dos segundos, ganhamos mais forças para interagir com as nossas reações, ao ponto das sensações atingirem um nível suficientemente baixo para permitir ponderarmos a situação. O tempo que leva para chegar nesse estágio varia com o estímulo e de pessoa para pessoa.

Ao longo do tempo, a emoção vai amadurecendo, assim como a nossa percepção da situação. Darei dois exemplos extremos.

  1. Extremo 1 – Alguém está em uma rua escura, tarde da noite e sente-se já ameaçado. Uma pessoa se aproxima e nosso alguém foge, instintivamente. Algum tempo depois, não sabe se de fato seria assaltado, mas a “decisão” de fugir tomou conta dele e foi incontrolável. Quando isso acontece, o que segue é a sensação: “nossa, simplesmente agi e não me dei conta”;
  2. Extremo 2 – Nosso alguém agora está em uma situação distinta e diante de uma perda. Pode ser a perda de um emprego, de um ente querido, de um relacionamento ou tantas outras. No momento inicial, ele é tomado pela tristeza e eventualmente pela raiva e medo. Os dias passam, as semanas também e o “luto” dessa perda transforma-se lentamente em saudades, memórias agradáveis e em aprendizado, um processo que pode durar meses.

Qual controle foi efetivamente exercido? Conseguimos escolher, deixar de sentir medo, tristeza e raiva em situações assim? No primeiro exemplo, reagimos antes até de arbitrar. No segundo, houve uma transformação (e como gosto de chamar), um amadurecimento emocional. Falei um pouco sobre isso neste outro post.

É importante registrar que há um debate acerca do tema.

Enquanto acredito não ser possível controlar diretamente e especificamente as emoções, podemos treinar, condicionar reações diante de determinadas situações.

Algumas profissões como a medicina, forças-tarefa de resposta à incidentes e as forças armadas são apenas alguns dos vários exemplos (definitivamente não limitado à esses). Entretanto, não há nada que possa ser feito no intuito de controlar as emoções em si, principalmente em situações novas e desconhecidas.

Aqui, faço uma reconsideração: se eu pudesse escolher aquilo que é mais importante no tocante à inteligência emocional, eu escolheria o aumento do repertório emocional ao invés da metodologia clássica. Talvez os dois em conjunto.

A “Necessidade” de Prever o Sucesso

Vivemos em uma sociedade que venera o sucesso e a percepção dele.

De fato, ao longo das décadas e séculos criamos diversos mecanismos para medi-lo, recompensá-lo e punir os fracassos.

Nesse contexto, o QI teve uma aplicação histórica, inclusive nas guerras mundiais. O conceito de inteligência emocional é promovido desde a década de 90 como fator preponderante em prever sucesso. A ideia é até comercializada assim (e como!).

Existe uma necessidade social e a argumentação em torno da inteligência emocional tenta fornecer a solução, posicionando-se como a saída universal para um problema que não deveria existir.

Se analisarmos a autoajuda dos últimos 20 anos, talvez o que mais tenha sido escrito em milhares de livros e guias são as fórmulas para o sucesso direta ou indiretamente e a inteligência emocional é citada frequentemente nesse contexto.

Não há fórmula para o sucesso. Não há modelo; há um conjunto de indivíduos fazendo o melhor que podem com os seus recursos únicos.

Usando uma percepção mais abrangente, dificilmente a inteligência emocional é o único argumento sobre o sucesso.

Vivemos uma atualidade cheia de métodos, processos e testes dos mais diversos que tentam estereotipar quem tem mais chances ou não. Reforço o termo “estereotipar”, porque é exatamente isso que acontece.

Temos definições de pessoas racionais, emocionais, introvertidas, extrovertidas, julgadoras, sensitivas, intuitivas, bagunçadas, criativas, executoras, sonhadoras… todas concepções realçadas por metodologias de testagem que supostamente apontam quais características têm mais “sucesso” em determinadas funções.

Mas a questão é bem mais complexa.

O resultado dessas metodologias é a classificação dos seres humanos em caixinhas (como escrevi aqui), ignorando a nossa maior característica: a capacidade de mudar, da adaptabilidade e do próprio cérebro de se reconectar.

Reunir indivíduos em conjuntos de pessoas com potenciais características supostamente semelhantes (importante registrar – altamente subjetivas) e arbitrar eliminar ou escolhê-los baseado nessas características não é tão diferente da mentalidade da eugenia do século passado.

E tudo em nome da ciência (não entrarei nem no mérito de outros artifícios que usamos diariamente, pseudocientíficos e bastante populares acerca de uma estereotipação semelhante).

É negar a oportunidade de evolução e mudança (que sabemos que existe) a qualquer um.

Afinal, na sociedade contemporânea e individualista, o que não faltam são exemplos de pessoas que proclamam suas próprias evoluções (irônico e contraditório), ao mesmo tempo em que fazem uso de métricas arbitrárias porque o sentido por si atribuído afaga o ego.

Falar de evolução sem admitir a mudança, através de uma classificação comportamental arbitrária é uma contradição. Aceita que dói menos.

Será que estou advogando contra o uso dessas ferramentas?

Não. Pelo menos não, totalmente.

Advogo contra o uso irrestrito e indiscriminado de aplicá-las para classificar seres humanos. São processos (falo dos que pelo menos tentam ser científicos) que podem ser eventualmente usados por profissionais qualificados para, por exemplo, reunir um grupo de pessoas com características favoráveis.

Mas nunca e eu repito, nunca em processos de seleção, eliminação e escolha ou que podem levar à segregação sob nenhuma forma, algo feito comumente.

Sucesso não é apenas uma questão de escolher as pessoas remotamente adequadas para uma tarefa específica.

Sucesso é muito mais uma questão de dar as condições para que as pessoas cooperem, aprendam e evoluam.

Sucesso é permitir que a diversidade interaja, fomentando a criatividade.

Inteligência Emocional ao Contrário?

Quando mencionei no parágrafo anterior a cooperação, lembro-me de algo que repito à exaustão em meus textos: nós somos em conjunto muito mais do que a soma das individualidades, um quebra-cabeças de peças completamente diferentes que, reunidas, formam uma imagem belíssima.

Somos seres sociais antes de tudo e é por causa disso que estamos vivos como espécie, hoje.

Não é porque alguém descobriu como manipular o fogo e usou isso para aquecer-se: é sobre o compartilhamento da habilidade para a sobrevivência do grupo e talvez a própria definição de civilização passe por isso.

Existe um sábio argumento (pelo menos na minha opinião) sobre o surgimento da civilização, contrário à concepções amplamente estabelecidas como a caça e a pesca, o surgimento de instrumentos, agricultura e de artefatos religiosos.

Há dúvidas sobre a origem do pensamento, atribuído à antropóloga Margaret Mead durante uma aula, mas que tem solidez.

Sobre o início da civilização e da cultura, a sua resposta surpreendeu muita gente:

“Qual o sinal mais antigo da civilização? Um pote de barro? Ferro? A agricultura?”

Não.

Para ela, a evidência mais antiga de uma verdadeira civilização é um fêmur curado [um osso enorme da perna, fundamental e de difícil reparo]. Ela explica que uma cura como essa nunca foi encontrada nas reminiscências de culturas competitivas ou sociedades selvagens. Pelo contrário, nestas, pistas de violência são comuns. (…) Mas um fêmur curado mostra que alguém deve ter cuidado da pessoa ferida – caçou em seu lugar, trouxe comida e serviu ela através do seu sacrifício pessoal. Sociedades selvagens não se sujeitavam a essa “pena”.
[Fearfully and Wonderfully Made (Grand Rapids, Mi.: Zondervan, 1980); Pain: The Gift Nobody Wants (Brand, 1993)]
Adicionalmente, https://stacyhackner.wordpress.com/2020/04/21/that-margaret-mead-quote/ e
https://www.patriciarobertsmiller.com/2020/11/30/margaret-meads-definition-of-civilization/

Pensando bem, qual maior ou melhor definição de sucesso do que o conceito por trás dessa afirmação ou ideia?

Confesso, essa percepção me deixa não só confortável, mas traz um senso de pertencimento e bem-estar.

Sim, eu frisei a palavra “competitivas” no texto atribuído a Mead intencionalmente. Parece que favorecemos essa questão sistematicamente na sociedade atual em detrimento da cooperação. Pódios potencialmente gerando violência, algo que vemos todos os dias nas redes sociais, ao contrário da histórica e comprovada comunhão.

E, talvez agora, você comece a perceber o argumento “inteligência emocional… ao contrário“.

O equívoco não está em achar que inteligência emocional não importa ao aplica-se a tudo: está em achar que é uma responsabilidade individual.

Em nossa busca incessante por medir as pessoas, classificá-las, recompensá-las e puni-las, criamos teorias e métodos supostamente precisos para a tarefa, meio que desprezando completamente a subjetividade e o fato de sermos seres únicos, mas que funcionamos melhor em conjunto justamente por isso.

Existem diversos efeitos colaterais dessa cultura e cito dois importantes: a segregação e o preconceito e a individualização de algo intrinsecamente social e sistêmico.

Falei sobre a segregação e as caixinhas estereotípicas neste post e sobre a individualização neste outro.

Com a inteligência emocional aconteceu algo assim.

Uma breve pesquisa em qualquer site de busca revelará milhares de conteúdos falando sobre o que é inteligência emocional, como cultivá-la e porque ela é importante. Mas o conceito é individualizado, na esfera da responsabilidade e da autonomia completa e absoluta, linha da concepção de protagonismo pregado pela autoajuda contemporânea.

Até mesmo quando abordamos o conceito adjacente de inteligência social, ele está preservado em torno de uma potencial capacidade individual de um ser social, uma contradição conceitual na minha opinião.

E isso atende a uma agenda.

O processo de autoconhecimento é uma jornada para dentro de si. Isso é compreensível (e vende).

Mas uma jornada de autoconhecimento não resolve todos os problemas do mundo e está repleta de percalços e dores.

Tem muita coisa que depende da gente como indivíduos e ser protagonista da própria vida tem um lado extremamente positivo. Autorresponsabilidade.

Contudo, é importante reconhecer as fronteiras desse processo, entendendo que também existem diversas coisas que não dependem unicamente da pessoa.

Contextos familiares e educacionais, profissionais, de sistemas aos quais pertencemos, questões estruturais como fome, doenças, pobreza extrema, governamentais e mundiais que vão muito além do indivíduo são apenas alguns exemplos.

Inteligência emocional não é diferente.

Identificar as próprias emoções, reconhecê-las, encontrar causas raiz, reconhecer as emoções dos outros e usar tudo isso adequadamente reagindo da melhor forma possível contextualmente parece ser uma estratégia de sucesso. Mas se focarmos apenas no indivíduo, a estratégia tem um grande potencial de falhar.

Muita gente tem uma dificuldade enorme de reconhecer as próprias emoções.

Quem dirá reconhecer e aceitar as emoções dos outros.

E quando mencionei no título “inteligência emocional ao contrário” foi neste sentido.

Como seres sociais totalmente interligados, talvez o aspecto mais importante de todos seja permitir a interação das nossas emoções com as dos outros.

Lembrando o que disse alguns parágrafos acima, é impossível para um ser humano não sentir emoções e podemos até condicionar reações favoráveis a intenções de comportamento previamente planejadas, mas sem considerar que todo ser humano da face da terra tem emoções, dizer ao próximo “eu enxergo você” ou “eu percebo você” em um nível emocional não gera apenas empatia.

Coloca-nos no mesmo patamar de existência, fazendo o possível e o melhor dentro das possibilidades de cada um, sem esquecer as emoções.

Precisamos remover essa conversa do debate da validade dos testes emocionais e estereotípicos. Precisamos renunciar ao protagonismo cego, puro e simples e entender que a emoção do outro, por mais que seja conteúdo do próximo, é algo que nos interliga, enlaça-nos em uma existência social que é muito mais natural diante de dezenas de milhares de anos de evolução do que apenas querer controlar o que sentimos.

Eu darei um exemplo prático agora.

Imagine que você leu todo o conteúdo disponível sobre o assunto e chegou à conclusão de seguir à risca as orientações.

Conta até 10, respira fundo… identifica as emoções despertadas, faz o possível para controlar as suas reações momentâneas e intempestivas buscando o melhor resultado esperado.

Essa frase parte do princípio de que temos que moldar o que quer que seja, atuando para chegar a um objetivo.

E isso é um absurdo.

Em um ambiente com pessoas que aceitam-se mutualmente emocionalmente, não há a necessidade de moldar comportamentos além do bom senso.

Há a compreensão.

Diga-me, usar as orientações clássicas ligadas ao tema, que incluem reprimir emoções, traz segurança para você?

Ou o que realmente traz segurança é saber que expor as emoções não será o motivo de julgamento por parte do próximo?

Que tal começar por não julgar as reações alheias?

Não devemos ferir a liberdade dos outros. Mas podemos aceitar que, se todo e qualquer ser humano tem emoções, que elas são incontroláveis (apesar das tentativas) e talvez o que falte aqui é compreensão e aceitação.

É aceitar que, assim como nós, aquele ser diante de você tem seus desafios, seus problemas, sua experiência única e suas formas de exercer tudo isso com ações influenciadas completamente por algo praticamente incontrolável.

Demonstrar emoção é tido como um critério de julgamento para a vulnerabilidade e a vergonha.

O problema está aí.

Falamos tanto do assunto como regulação, controle e manipulação, esquecendo que qualquer um de nós está sujeito às mesmas condições, fisiológicas até.

Reservamo-nos o direito de explodir emocionalmente, mas condenamos todos os outros à vergonha se o fizerem.

Então… apenas então, talvez a compreensão de começar a falar sobre inteligência emocional não seja sobre a gente. Não seja sobre mim ou você separadamente. Seja sobre aquele indivíduo que está a nossa frente, funcionando em conjunto conosco.

Onde se sente seguro?

Em um ambiente onde precisa usar a cartilha da identificação, reconhecimento, controle e atuação, ou em um ambiente onde pode mostrar o que sente, sendo você mesmo sem subterfúgios?

Tem vergonha de chorar em público?

Eu tive, por muito tempo. Talvez ainda tenha.

Tem vergonha de sentir-se triste na atual ditadura da felicidade, permeada por gratidão, positividade, #gratiluz e termos do gênero, conduzindo-nos a construir uma imagem social de perfeição impossível de manter em longo prazo?

Pense um pouco: tem coisa mais absurda do que isso? Negar nossa natureza humana em favor de uma imagem plasticamente perfeita de uma existência mentirosa, construindo um alvo ideal inatingível?

Isso não traz bem-estar. Traz depressão em escala.

Nada disso é remotamente compatível com a inteligência emocional.

Isso é reprimir algo que faz parte de cada ser humano e, nossa, como existe literatura sobre o assunto há séculos!

Somos portadores de momentos de altos e baixos, de tristezas, felicidades, paciência e raiva. Somos agraciados com pensamentos contendo os mais puros sonhos e os mais execráveis desejos. E não há nada de errado com isso, respeitadas as leis, a ética e as patologias (afinal, o limite da compreensão e da aceitação é uma média social salutar que existe, nos protege e há 7 bilhões e meio de razões para, pelo menos, considerar esse fator).

Enquanto não nos sentimos seguros para exercer uma parte de nós que está presente em cada humano que sequer aparece por medo de ser, não há inteligência emocional de nenhuma parte envolvida.

Talvez o assunto seja mais sobre essa compreensão do que versar sobre o que podemos fazer como indivíduos supostamente autônomos, protagonistas e totalmente responsáveis, porque não somos nenhum dos três, completamente.

Talvez inteligência emocional seja sobre o exemplo do fêmur quebrado de Mead e a sua cura, sobre o surgimento da civilização. Talvez seja sobre altruísmo.

Chego à conclusão de que qualquer tentativa de manutenção da inteligência emocional clássica, considerando apenas as nossas reações mais adequadas ao momento é apenas manipulação e atuação. Goleman chega a mencionar a questão através dos camaleões emocionais, mas na década de 90 ele não tinha ideia do que se tornaria a sociedade com o advento das redes sociais.

Não podemos gerenciar as reações dos outros. Podemos apenas deixar o próximo à vontade em expressar as suas emoções, criando um ambiente de confiança e segurança.

E esse perece ser um bom começo.

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Liderança, Empatia e Positividade Tóxica

Liderança não se trata de números, cotas, objetivos e gestão per se.

Liderança é sobre pessoas, permitindo-lhes atingir seu total potencial e, como efeito colateral, obter os resultados desejados.

Mas ser sobre pessoas envolve emoções e empatia.

Não simpatia, empatia.

Trabalhar pela simpatia apenas rejeita nossas emoções e sua compreensão. Quando isso acontece, a positividade tóxica prospera.

Ser líder significa entender as emoções das pessoas e também entender os altos e baixos emocionais.

Um líder consciente da inteligência emocional sabe que essas emoções fazem parte do dia, incluindo nossa vida pessoal e profissional.

Na verdade, quando a empatia e a consciência emocional aumentam e abrem espaço para a transparência, as pessoas deixarão de ter a necessidade de criar personas profissionais. Elas se sentirão à vontade para serem elas mesmas e a segregação da vida pessoal / profissional desaparece.

Agora deixo para você uma pergunta:

É isso que realmente queremos como líderes?

Trocar o potencial de um ambiente tóxico cheio de personas por um ecossistema são, onde os resultados são alcançados por meio de uma visão e propósito comuns, em vez dos requisitos de cotas trimestrais apenas?

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Positividade Tóxica?

Quase 3 anos atrás, escrevi um post sobre a positividade e a sua importância.

Foi parar no livro que publiquei em maio de 2020.

Cabe revisitar o tema.

(…)

Semana passada fiz uma enquete no Instagram sobre o termo “positividade tóxica” e recebi dezenas de respostas.

A interação foi tão positiva que decidi fazer um vídeo no canal do Youtube sobre a questão.

Aqui, tenho a oportunidade de dissertar sobre o assunto.

Comecemos com uma consideração filosófica sobre o termo em si: será que podemos usá-lo? Será que “positividade tóxica” faz algum sentido, ou seja, se for “tóxico”, como pode ser “positividade” ou é apenas a forma como se percebe o comportamento do outro?

Em segundo lugar, é necessário falar um pouco sobre rapport de comportamento.

Independente da conotação positiva ou negativa de algo, existe uma tendência de nos comportarmos de forma compatível com os grupos aos quais consideramos pertencer.

Fornecerei dois exemplos típicos.

Você vai a um show e, ao final da apresentação, começam a bater palmas.

Perceba que as palmas começam em ondas… Como um contágio e, se alguém se levantar, é bem provável que outras pessoas se levantem também e até você se sinta compelido a levantar e aplaudir de pé.

Outro exemplo: você está no trabalho, em um grupo de colegas.

Alguém começa a reclamar da empresa e, em poucos segundos, várias pessoas entram na roda e iniciam um ciclo de reclamações.

De uma forma geral, os exemplos podem ser considerados opostos: um positivo e um negativo.

Existem vários estudos que apontam para duas coisas: espelhamos o comportamento dos grupos aos quais pertencemos, dos indivíduos aos quais aspiramos e não só o contágio emocional existe, como influencia nosso modo de agir.

Estar cercado de “positividade” ou “negatividade” terá um efeito sob o nosso próprio comportamento.

É fácil então concluir que, se isso de fato acontece, gerar uma espiral de coisas positivas traz a tendência de se “contaminar” e contaminar os outros com pensamentos, emoções e ações possibilitadoras.

Por outro lado, agir assim tem o potencial de nos distanciar da realidade objetiva.

Ao considerarmos o que é “negativo” em favor do que achamos ser “positivo” (ou o contrário), criamos uma bolha cognitiva em torno de nós que eventualmente prejudicará uma análise factual do que se passa.

Ferrou, então?

Pode ser.

O que acha?

Essas questões podem não ter resposta.

Não no senso comum.

Senso comum são “médias”.

Alías, podem até possuir uma média social associada a elas, mas a sua resposta é a ÚNICA que importa.

Você não é uma média até ela ser tirada.

Ops!

Seja bem vindo. Esse é o caminho.

Crie o seu,

O que é negativo para alguém, podem não ser para outro e não o é para todos. O mesmo argumento pode ser usado com aquilo considerado positivo.

Partindo desse princípio, a potencial toxicidade de uma suposta positividade não só é um campo totalmente subjetivo como resultado de julgamentos.

Em terceiro lugar, voltemos à enquete.

70% das pessoas que responderam atribuíram a positividade tóxica como sendo exercida por um elemento externo – outra pessoa. Ou seja, perceberam a si mesmas como vítimas.

30%, de uma forma direta ou indireta, admitiram fazer parte da equação – associaram o termo à fuga da realidade e a um comportamento prejudicial próprio.

Ambos os casos estão relacionados, apesar de aparentar o contrário.

O momento atual em que vivemos, do início de 2020 para cá (escrevo este texto em agosto de 2020), impôs condições de convívio social e estresse emocional há muito esquecidos.

Estamos diante de um desafio que entrará para a história; uma ameaça real à existência de cada um, um risco invisível que está presente em praticamente todos os lugares, cerceando o ir e o vir, o contato interpessoal, gerando incertezas e questionamentos sérios a respeito da própria sobrevivência, em decorrência de ameaças como o desemprego à morte.

Menciono esse fator porque ele é um perfeito exemplo aplicável à questão do conceito de positividade tóxica.

Aqui, temos a convergência e a relação das respostas da enquete.

Sentir-se com medo, ameaçado, triste, solitário e com sentimentos análogos é natural, faz parte de existir. Não reconhecer esse comportamento em si pode eventualmente gerar um afastamento da realidade. Não reconhecer esse comportamento nos outros pode classificar algumas ações como positividade tóxica.

Além do fato de que o ser humano é um ser de contrastes, somos um caldeirão de emoções.

Portanto, nada mais sadio para a nossa existência do que respeitar o que sentimos, entendendo o que vai dentro da gente e estabelecendo, através desse entendimento, um caminho possibilitador na direção do autoconhecimento.

Entretanto, prepare-se para algum desconforto. Essa jornada levanta questões e põe em dúvida crenças. De fato, se não houver desconforto e questionamentos, não há jornada, muito menos respeito ao que se sente.

Dúvidas são desconfortáveis? Certamente.

Necessárias também, assim como o ato de questionar, algo ativo, consciente, que tem o potencial de trazer mais inquietude e emoções de felicidade, tristeza, raiva e tantas outras reações totalmente naturais.

Talvez você já tenha percebido aonde quero chegar.

Não somos 100% felizes, 100% do tempo, muito menos tristes. Existe muita coisa entre os dois. Portanto, um comportamento 100% do tempo positivo é incongruente com ser humano e pode, sim, ser uma fuga. Talvez daí o termo “positividade tóxica” tenha surgido.

Se por um lado ser positivo permite encarar a vida de forma mais saudável e potencialmente mais feliz, por outro é necessário entender que coisas ruins, negativas e desagradáveis também acontecem, despertando emoções limitantes.

Isso só prova que estamos vivos.

Contudo, é um engano achar que uma coisa exclui a outra.

É um equívoco acreditar que reconhecer os desafios desagradáveis da vida impede alguém de ser positivo, assim como também é um erro crer que ser positivo faz com que se viva no mundo da lua.

Diversos autores abordam esse tema, inclusive contemporaneamente, como Mark Manson (em dois livros que avaliei aqui no blog) e Gabriele Oettingen, apesar de ambos aparentemente não concordarem com a ideia de que não há dicotomia entre ser positivo e fugir da realidade.

Ou seja, não aceite respostas prontas em mídias sociais, em casa ou no trabalho sobre o que é negativo e o que é positivo.

Aliás, se me permite uma sugestão mais abrangente, não aceite respostas prontas sobre nada.

Reserve-se sempre o direito de questionar. Se surgir algum incômodo, entenda a origem dos sentimentos que considera negativos e talvez descubra mais sobre si próprio do que imagina, mantendo um pé na positividade e outro na realidade.

Como disse na descrição do meu canal no Youtube:

Eu não tenho respostas, mas prometo provocar questionamentos apropriados.

 


 

Conteúdo Adicional Recomendado

Livros:

TEDs:

Pesquisas e Publicações:

  • Baumeister, Roy F; Finkenauer, Catrin e Vohs, Hathleen D.: Bad Is Stronger Than Good [Artigo] // Review of General Psychology. – 2001. – 4 : Vol. 5. – pp. 323-370;
  • Dimberg, Ulf; Thunberg, Monika e Grunedal, Sara: Facial Reactions to Emotional Stimuli: Automatically Controlled Emotional Responses [Artigo] // Cognition and Emotion. – 2002. – 4 : Vol. 16. – pp. 449-471;
  • Gross, J.J. & Levenson, R.W. (1997): Hiding feelings: The acute effects of inhibiting negative and positive emotion. Journal of Abnormal Psychology, 107(1), 95-103. doi: 10.1037//0021-843x.106.1.95, PubMed: 9103721;
  • Hasson, Uri; Stephens, Greg e Silbert, Lauren: Speaker–listener Neural Coupling Underlies Successful Communication [Online] // Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA (PNAS) / PubMed. – 26 de 07 de 2010. – 22 de 06 de 2018. – http://www.pnas.org/content/107/32/14425. – PubMed: 20660768;
  • Kraft, Tara e Pressman, Sarah: Grin and Bear It: The Influence of Manipulated Facial Expression on the Stress Response [Artigo] // Psychological Science. – 24 de 09 de 2012. – 11 : Vol. 23. – pp. 1372-1378;
  • Lomas, T.; Waters, L.; Williams, P.; Oades, L.G.; & Kern, M. L. (2020): Third wave positive psychology: Moving towards complexity. The Journal of Positive Psychology. doi: 10.1080/17439760.2020.1805501;
  • Rozin, Paul e Royzman, Edward B.: Negativity Bias, Negativity Dominance and Contagion [Artigo] // Personality and Social Psychology Review. – 2001. – 4 : Vol. 5. – pp. 296-320;
  • Strack, Fritz; Martin, Leonard e Stepper, Sabine: Inhibiting and Facilitating Conditions of the Human Smile: A Nonobtrusive Test of the Facial Feedback Hypothesis [Artigo] // Journal of Personality and Social Psychology. – 1998. – 5 : Vol. 54. – pp. 768-777;
  • Wells, Gary e Petty, Richard: The Effects of Overt Head Movements on Persuasion: Compatibility and Incompatibility of Responses [Artigo] // Basic and Applied Social Psychology. – 1980. – 3 : Vol. 1. – pp. 219-230;
  • Wong, P. T. P. (2011). Positive psychology 2.0: Towards a balanced interactive model of the good life. Canadian Psychology/Psychologie canadienne, 52(2), 69-81. doi: 10.1037/a0022511
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Identidade, Crenças e Equilíbrio Emocional

O assunto abaixo é abordado no livro “O Guia Tardio”, já disponível.


Em junho, fui convidado para uma live sobre comunicação.

O vídeo não ficou salvo, mas fiz outro sobre o mesmo tema que pode ser visto clicando aqui.

Lá, levantei uma questão importantíssima acerca dos requisitos para uma excelente comunicação interpessoal: um paralelo entre identidades, crenças e argumentação, assunto para o qual dediquei um capítulo inteiro do meu livro.

A inteligência emocional (que também mereceu um capítulo específico no livro, assim como o ego) é um tema que anda bem na moda há mais de 20 anos.

Nas últimas semanas, pensei bastante a respeito da íntima relação dela com a comunicação, crenças e à argumentação em si.

Eu proponho uma reflexão sobre o tema que transcende o papo motivacional e da autoajuda.

Em primeiro lugar, é importante falarmos um pouco sobre a pirâmide da discordância de Graham. Não entrarei em detalhes – sugiro que veja primeiro o vídeo sobre o assunto.

Percebam que no topo da pirâmide temos o foco nas ideias. Na base dela, o foco na identidade, no ego coloquial.

Enquanto no topo o foco é o argumento central da comunicação, na base o foco está na desqualificação do comunicador e até a agressão.

Em segundo lugar, trago o desafio de manter-se no topo da pirâmide.

Uma opinião é normalmente resultado de quem somos, do conjunto de crenças que carregamos e potencialmente ligado às identidades que temos. Surge daí o conflito entre indivíduos e a tendência de levar o debate naturalmente para as camadas mais baixas da pirâmide.

Quando ouvimos um argumento contrário, nossos viéses cognitivos carregam a comunicação ao nível do desafio à própria identidade, afinal, a nossa opinião é fundamentada em nossas crenças que são, por sua vez, os tijolos que constróem as nossas identidades.

Quando as crenças estão alinhadas entre indivíduos, as opiniões seguem e as emoções resultantes são naturalmente positivas, como a realização, a felicidade, a autoafirmação e a comunhão.

Mas quando as opiniões são divergentes, surge o conflito, assim como as reações emocionais limitantes e negativas, como a raiva, a tristeza e o medo. Se forem fortes o suficiente, podem ativar o nosso instinto de sobrevivência e provocar a entrada em um estado de luta ou fuga.

Contudo, sem o conflito não há evolução.

Em terceiro, exploremos um pouco o conceito de inteligência emocional: a habilidade de reconhecer as próprias emoções, a capacidade de regular as emoções apropriadamente, a de auxiliar os outros nessa tarefa e a habilidade de usar as emoções adequadamente no dia a dia para resolver problemas, conflitos e até ajudar em questões como o pensamento criativo, motivação e empoderamento.

Para ajudar no entendimento do conceito de inteligência emocional e a relação com os demais temas trazidos até aqui, observe este gráfico:

 

Diante do estímulo da comunicação (verbal ou não-verbal) à esquerda, em até dois segundos, temos as reações mais ligadas ao emocional. Com o passar dos segundos, mais temos o resgate do estímulo para o consciente e a capacidade de interpretá-lo racionalmente.

Essa questão é tão importante que analistas comportamentais de linguagem corporal buscam exatamente por essas reações para julgar se somos congruentes (meta-comunicação e conteúdo compatíveis).

Em quarto, abordemos a questão do ego coloquial, da adaptabilidade e da empatia.

Há um monte de interpretações sobre o que significa “ego” e normalmente o debate surge sem fazer referência a qual definição ele está associado, gerando uma confusão danada.

Portanto, antes de prosseguirmos, vamos combinar qual usaremos:

  1. Etimologicamente, ego vem do latim e significa simplesmente eu;
  2. Já a alusão filosófica aponta de uma forma geral para o eu que somos ou a nossa personalidade. Particularmente credito a esse eu a nossa autoestima que, na minha opinião, é o efeito colateral do autoconhecimento, salvo as psicopatologias.
    Ela também pode representar a separação que existe entre nós, dada a unicidade característica da nossa individualidade. O eu que nos define únicos e que nos separa como consequência;
  3. Sigmund Freud, ao idealizar a teoria do modelo psíquico, instituiu três elementos que ajudam a regular o nosso comportamento. De forma altamente simplista, temos o “id”, que representa nossos impulsos; temos o “ego”, que representa nossa racionalidade e o “superego”, que representa nossa moral;
  4. E ainda existe o conceito de ego que é coloquial, popular, ligado ao culto a si próprio, associado a termos como egolatria e egocentrismo. Este é o conceito que trataremos aqui.

No primeiro e no segundo casos é totalmente compreensível e aceito que o ego exista sob tais conotações. Ele apenas representa quem é, a sua personalidade exclusiva e a sua individualidade, características que fazem de você um ser único (fantástico que assim seja!).

Conhecer a si mesmo permite a construção da própria autoestima que, antes de mais nada, representa o respeito e o amor que temos por nós mesmos e, em segunda instância, a ideia calibrada de nossas capacidades e habilidades, o que gera confiança e crenças possibilitadoras. Quando essa “calibração” não existe, o ego do quarto tipo, indesejado e coloquial, surge.

No terceiro caso não é uma questão de bom ou ruim – trata-se de uma definição, de um conceito usado na psicanálise.

No entanto, no quarto e último significado temos justamente o nosso alvo. Falho em achar algo positivo acerca dele e não consigo imaginar algo possibilitador que possa ser proveniente de se instigar esse ego em específico.

Há quem afirme que um pouco de ego é necessário para que se tenha autoconfiança, motivação, energia e garra para seguir em frente, argumento que só faz sentido se for referente ao primeiro e ao segundo conceitos. Eu particularmente acredito que, ao invés de fomentar o ego, a humildade seja uma espiral positiva mais adequada.

Ser questionado (o que na cabeça do egocêntrico significa que estamos colocando à prova o que ele sabe) passa a ser um desrespeito capital.

A autoestima vira ego quando não nos conhecemos e quando nossa percepção do eu não está calibrada (ou está depositada numa representação externa de ser, como no ter, por exemplo).

Em outras palavras, o egocêntrico dificilmente consegue adaptar-se, muito menos ser empático.

Agora, finalizando os conceitos, permitam-me falar um pouco sobre a psicologia envolvendo a conotação de mindset.

Como o ego distorce a realidade, um dos seus efeitos é provocar no egocêntrico a justificativa de que está apenas sendo “realista” quanto às suas capacidades, deliberações e ganhos.

Pessoas egocêntricas vivem em mundos particulares. O egocêntrico acredita ter o “dom”, a habilidade nata para determinadas tarefas, alguém que verdadeiramente acredita ser o melhor e, fatalmente, há muito tempo longe da posição de aprendiz, eliminando qualquer convívio, mesmo que remoto, com algum traço de humildade.

Ter o aprendizado como meta e, aí sim, um hábito super saudável, questionar o status quo e aceitar a mudança (mesmo que isso inclua atritos, dor e eventualmente sofrimento), são grandes evidências da presença na zona de evolução existencial, comportamento que aponta na direção do mindset de crescimento (Dweck, 2017). Você pode também encontrar referências para esse comportamento como mindset produtivo (Stark, 2004).

Não desejar aprender, manter o status quo, achar que sabe tudo, não aceitar a mudança e usar frases como “eu sou assim mesmo e nunca mudarei” são fortes indicativos de estagnação existencial. Típico comportamento do mindset fixo (Dweck, 2017) ou mindset defensivo (Stark, 2004).

O ponto aqui é a resistência à mudança e a característica natural que a acompanha de não aceitar bem a opinião de alguém. Uma consequência direta de achar que se sabe de tudo é ficar totalmente fechado ao aprender e isso tem uma profunda ligação com o ego.

  • Mindset fixo = zona de estagnação = vítima = ego
    Mentalidade = “eu sei de tudo”. “Sou assim mesmo e não vou mudar”
    Passivo, “o mundo me serve”, “eu basto”
    Se eu chego ao sucesso é porque eu sou bom naturalmente. Tenho o “dom”, nasci assim
    Se eu não chego ao sucesso, é culpa do externo, culpa dos outros ou das circunstâncias (e nunca minha), afinal, eu tenho o “dom”
    Sou incompreendido e injustiçado
  • Mindset de crescimento = zona de evolução = protagonista = humildade
    Mentalidade = “eu não sei, mas posso aprender”. “Mudanças são bem-vindas”
    Ativo, “eu vou atrás do que preciso”, “sou um eterno aprendiz”, “peço ajuda”
    Se eu chego ao sucesso é porque me empenhei, porque fiz acontecer e porque aprendi o que foi necessário
    Se eu não chego ao sucesso, devo analisar o que ocorreu e aprender, colher feedbacks, reagrupar, mudar a estratégia, me esforçar mais, pedir ajuda
    Eu posso

Se você chegou até aqui, brindá-lo-ei com uma conclusão rápida e simples.

Você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com inteligência e equilíbro emocional?

Perceba como há uma relação íntima entre todos eles.

Pessoas egóicas agarram-se as suas crenças e, cosequentemente, as suas opiniões. O desafio de focar em ideias, adaptar-se, aprender e aceitar o conjunto que encerra o próximo (emoções, sentimentos e ações) é praticamente impossível de realizar.

Ou seja, egocêntricos são praticamente incapazes de atuar nos 3 níveis mais altos da pirâmide da discordância de Graham.

Colocando de outra forma, inteligência e equilíbrio emocional estão totalmente ligados à aceitação e entendimento do próximo (empatia) e são incompatíveis com cultos à identidade, pois quaisquer discordâncias estarão associadas irremediavelmente à identidade do egocêntrico.

O egóico percebe invariavelmente a opinião do outro como uma desqualificação de quem é.

Então, é plausível afirmar que, para ter inteligência emocional, é necessário adaptar-se, ater-se as ideias, deixar o ego de lado e permitir novos conceitos ao ponto de colocar as suas próprias crenças em jogo, mesmo que isso direta ou indiretamente vá contra uma das nossas identidades. Se a troca intelectual despertou questionamentos em você, está no caminho certo.

“Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante o teu direito de dizê-la.”
Evelyn Beatrice

 


Leitura recomendada:

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O texto acima contém trechos do livro “O Guia Tardio“.

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A Diferença Entre Travar e Entrar em Pânico

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Sutil.

Enganosa.

Confusa.

Furtiva, mas importante.

Você estudou, aprendeu, treinou e mudou…. sabe o que fazer, como fazer e quando fazer.

Mas diante da situação que se apresenta, trava.

Os recursos estão lá, mas você não os acessa.

E, por causa disso, pode entrar em pânico.

Agora, imagine outra situação… totalmente nova, para o qual não treinou e não conhece.

O pânico se instala.

Em ambos os casos, não há ação, mas por motivos distintos.

No primeiro caso, o medo deu lugar ao pânico e ele pode surgir por vários motivos.

Dentre eles, síndrome do impostor, baixa autoestima ou a identificação, por seus sentidos e mapa, de estar diante de uma situação ameaçadora demais.

No segundo caso, o pânico surge mais rapidamente, diante de não ter a mínima ideia do que fazer.

Faço questão de apontar as similaridades das duas situações e as breves diferenças porque o que fazer na sequência depende deste entendimento.

Em ambos os casos, quanto mais a emoção dominar, mais tendencioso será o rapto do nosso comportamento por instintos básicos de sobrevivência que sempre extrapolam em duas ações possíveis:

Lutar ou fugir.

Então, a primeira coisa a fazer é descobrir se estamos falando de uma situação conhecida ou não.

Para tanto, é necessário retomar um pouco do controle, tanto quanto possível.

Respire profundamente.

Identifique a emoção despertada. Atribua uma palavra a ela.

Conte até dez, devagar.

Agora, faça-se uma pergunta simples: conheço esta situação?

Treinei para ela?

Preparei-me?

Tenho informações suficientes?

Se sim, você tem os recursos para seguir em frente. O resultado pode ser positivo ou negativo, não importa. É feedback. É insumo e aprendizado em qualquer desfecho.

Caso contrário, peça ajuda… e também aprenda.

“Aquilo que não nos mata, nos torna mais fortes.”
Friedrich Nietzsche

Peraí Romulo… E se fudeu de verdade – não sei o que fazer e não tenho a quem pedir ajuda?

Ainda assim temos opções.

Se há tempo, pense. Estude, prepare-se e crie opções novas. O contrário do medo não é a coragem. É o conhecimento. Temos medo do desconhecido e ao conhecer, a coragem aumenta.

Falei sobre isso quando abordei a procrastinação como sintoma de algo maior e a nossa capacidade de amadurecer emoções.

Perceba que, do início da argumentação até a última frase é possível eliminar praticamente todas as situações do mundo cotidiano onde usualmente travamos ou entramos em pânico.

Se não há tempo, então é exatamente a razão para o qual o instinto de lutar ou fugir existe. Abrace-o.

Lembre-se de duas coisas importantes:

  1. O ser humano tem mais medo de perder do que de não ganhar e isso influencia totalmente as nossas decisões no dia a dia;
  2. Emoção e razão são indissociáveis. O segredo é reconhecer as emoções e entender que elas fazem parte do processo.

Parece simples?

É simples.

É muito mais desafiador aceitar que assim seja.

Achar complexidade onde não existe transfere culpa e invoca a zona de estagnação existencial (ou zona de conforto, se preferir)… coloca na complexidade das coisas a motivo pelo qual achamos que não somos capazes.

 


Informações adicionais:

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Estímulos, Motivação e Autoajuda

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Tenho uma passagem emblemática na mente: a de um treinador, no topo dos seus pulmões, berrando para um atleta: “vaaaaai, você consegue! Você é capaz! Vaaaaamos! Assim!!! Mais um passo!! Agoooora! Issssoooo!!!!”

Nos últimos quatro anos, mais próximo da indústria da autoajuda, do coaching, das imersões e de várias outras experiências do gênero, algumas até mais espirituais, eu presenciei a mudança chegar na vida de centenas, talvez milhares de pessoas.

É uma indústria que causa transformação: a estratégia muitas vezes consiste em alterar o estado do indivíduo através de estímulos sensoriais, emoções fortes e situações de alto impacto e, aí, permitir percepções valiosas.

O caminho usado é amplamente estudado na psicologia e certamente traz mudanças. Algumas vezes positivas, outras vezes negativas… uma percepção que depende de um enorme número de fatores, como o tempo e o momento analisado, o passado, as experiências e o mapa da pessoa.

Os estímulos são apresentados em múltiplos níveis. Vão desde condições ambientais, passando por experiências comportamentais, novas habilidades, interposição de crenças e valores (ou questionamento de ambos), mudança da própria percepção de ser e de identidade e, em alguns casos, indo até o nível de pertencimento, conexões, social ou espiritual.

Nestes quatro anos, muitos continuam a me perguntar se vale a pena experimentar situações assim.

Só existe uma forma de responder a essa pergunta: para mim, valeu.

Mas a situação é mais complexa e quero fornecer elementos para uma avaliação pessoal.

Vamos por partes.

Talvez o mais importante seja a disposição de olhar para dentro.

Dores crônicas antigas são confortáveis. Se acha que não, examine-as: fortes o suficiente para serem percebidas mas fracas demais para provocar mudança. Nos acostumamos e aprendemos a lidar com elas, exatamente de onde vem o conforto.

Nossa própria identidade já conhecida é muitas vezes um desejo comum: não mexe no que tá quieto; sou assim mesmo e que me aceitem. O corpo humano tende à conservação de energia e mudar gasta energia.

Melhor dizendo, olhar para si e escavar exige coragem. Não se preocupe, apenas a coragem necessária para começar.

Em segundo lugar, temos a confusão frequente de estímulo com motivação.

E, sejamos francos, não são poucos os estímulos.

Eles alteram o estado emocional do indivíduo, fazendo-o crer que tudo é possível, está ao alcance do esforço e do trabalho, basta empenhar-se. Fazendo crer que nada pode parar uma pessoa determinada.

Pode. Ah e como pode! A vida é cheia de surpresas.

A maior força do ser humano não é determinação; é a capacidade de adaptar-se.

Portanto, estímulo que leva a uma suposta e aparente motivação momentânea apenas, é a mesma coisa que potência sem controle.

Gasto de energia.

Alguém berrando frases motivacionais no seu ouvido ou seguir perfis motivacionais nas redes sociais pode até gerar movimento, mas mudança e evolução são outras coisas.

Muito da autoajuda é essa provocação na nossa cara que causa movimento… então, você sai do lugar, age, levanta do sofá e se cadastra na academia, começa a dieta, para de fumar, para de beber, começar a ler, estudar…  mas a iniciativa, o movimento encerra-se dias depois… e nada de verdade muda. Nada em longo prazo e a maioria das pessoas nem percebe, porque nunca avaliou.

Se você já passou pela experiência e acha que estou exagerando, faça uma análise do que alcançou concretamente: você agradecerá a si por ir mais fundo, além do jargão motivacional.

Investigue quais o resultados de fato conseguiu. Isso sim é um excelente exercício para avaliar se o estímulo levou a melhoras e, olha, as emoções exacerbadas podem ocultar os reais resultados: quando estamos excitados, acreditamos que as meras possibilidades já estão realizadas.

Isso leva à motivação propriamente dita.

Os estímulos são externos, a motivação vem de dentro.

Um estímulo pode acordar uma motivação sem precendentes dentro de alguém, mas apenas ele não leva muito longe. Falei sobre isso em outro texto, sobre procrastinação.

Então, se o estímulo serve para uma busca interna, para o aprendizado e para o autoconhecimento, a motivação tão desejada será encontrada ou criada. Mas se ele estiver só, volta-se para o ponto inicial.

Pior, pode-se retornar para o início com a sensação de que muito esforço foi desprendido mas que não se chegou a lugar algum.

Em terceiro lugar, não há garantia alguma de que o estímulo levará à realização, transformação, compreensão ou mudança positiva imediata.

Eu creio que a mudança é eventualmente positiva, mas olhar para dentro pode revelar faces do nosso ser há muito ocultas, conscientemente ou não.

Trata-se de um caminho. Um caminho com algumas estradas perfeitas; outras estradas um pouco esburacadas, à beira de abismos e campos floridos. Uma jornada muitas vezes de lucidez, de tristeza, de raiva, de felicidade… de prazer e de realização.  E tudo bem, faz parte da natureza humana.

Portanto, entenda que não há nada de imediato na evolução e no crescimento.

Percebeu a implicação dessa afirmação?

Os estímulos são momentâneos.

Se eles nos colocam no caminho da evolução, ótimo. De fato, só saberemos ao avaliar os resultados obtidos. Só através deles que saberemos se houve ou não evolução. Eu particularmente não me canso de trazer a minha e a sua atenção à este ponto: quais os resultados conquistados, de curto, médio e longo prazo?

Não vale afirmar que sente-se bem somente.

Pro seu próprio bem e correndo o risco de ser qualificado como racional, meça.

O que considera um bom objetivo ou conjunto de objetivos a ser alcançado?

Emocionais? Materiais? Existenciais? Espirituais?

Chegou lá? Está chegando?

Como ouvi Sri Sri Ravi Shankar[1] falar uma vez… pergunte-se: eu estou mais feliz? Eu estou mais calmo? Quando meu humor se altera por causa das inúmeras coisas desagradáveis da vida, ele retorna à calma e à felicidade mais rápido do que antes? A sensação de pertencer a algo maior e de querer contribuir têm aumentado? A necessidade do material tem diminuído e ter saúde financeira apenas para comprar coisas e momentos se distancia?

Eu acho que muita gente menospreza tudo que é entitulado “autoajuda” justamente por isso.

Por um lado, há um número enorme de gurus vendendo estímulos e, por outro, muitos clientes achando que vão comprar a pílula da felicidade. A tal da modernidade líquida de Bauman[2].

A tão desejada solução externa.

Uma equação lucrativa e, por muitos, considerada exploratória. Junta-se a oferta perfeita para o querer desesperado.

Aqui, há uma consideração importante a ser feita.

Os que procuram as pílulas mágicas, as fórmulas encantadas e os métodos supostamente infalíveis das peças de marketing de treinamentos de autoajuda e das capas dos livros… potencialmente encontrarão decepção.

O sórdido é que a decepção não vem rápido. Demora a perceber que não se sai do lugar e o argumento do marketing vigente é que… se não funcionou, foi porque você não se esforçou o suficiente.

Clóvis de Barros Filho coloca isso muito bem.

  • Os dez passos para a felicidade…
  • A fórmula do sucesso…
  • As cinco maneiras de ser produtivo…
  • As quarenta leis da persuasão…
  • A fórmula de lançamento perfeita…
  • Os sete mandamentos da inteligência emocional…
  • O método infalível para ser rico…
  • Os doze hábitos da venda…
  • O segredo da mente produtiva…
  • Os 48 ensinamentos do poder…

Soam familiares as colocações acima?

Todos elementos externos de uma suposta mudança indolente. Todos argumentos de persuasão e manipulação emocional para vender a solução absoluta (tão absoluta quanto a peça de marketing seguinte).

Pare por um momento e me diga: qual mudança é realmente passiva?

Não se percebe uma incongruência fundamental aí?

Não adianta olhar apenas para fora. Há de se olhar para dentro. Há de se cavar. Autoconhecimento é mudar a partir de si. É enfrentar dores conhecidas, demônios pessoais, esqueletos no armário da alma…

Todas as fórmulas, métodos, passos, segredos, leis, mandamentos e maneiras têm o seu sucesso inteiramente dependente da gente.

Aqueles que procuram tais recursos no intuito de conhecer quem são, mudam de vida.

São os que estão dispostos a mudar verdadeiramente.

São os que estão dispostos a encontrar em si a motivação. A razão, o propósito e… Como já disse Viktor Frankl[3], propósitos podem ser criados. Está TUDO dentro de nós.

Mas Romulo, eu li um livro de autoajuda que mudou a minha vida! Eu fiz um treinamento que me transformou em outra pessoa!

Foi?

Certeza?

Foi o livro que mudou a sua vida?

Foi o treinamento responsável pela transformação?

Conveniente quando fazem isso com a gente, não é mesmo?

O nome “autoajuda” é extremamente apropriado, percebe?

Ajudar a si.

Permita-me entregar-lhe uma nova percepção.

Aliás, mudando de ideia, permitirei que você conclua.

Eu concluirei com parabéns, por ter se permitido e por ajudar-se.

Deixo uma reflexão, correndo o risco mais uma vez de retornar ao tema da motivação:

Diante de tudo que foi dito… se o estímulo é externo e se ele nos leva a agir, estaremos abdicando da nossa capacidade de escolha? Estaremos sendo manipulados ao permitir que estímulos externos guiem nossas ações puramente no emocional?

Será que… conseguimos usar os estímulos ao nosso favor e guiar a nossa evolução de acordo com quem somos, no fundo? Será que, com isso, mudamos quem somos?


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Há anos que me propus a escrever um texto sobre inteligência emocional para esse blog… e ele terminou virando um capítulo do meu livro, que deve ser lançado ainda este ano.

Tirei alguns trechos do capítulo e coloco para vocês abaixo.


Quando eu ouvi o termo inteligência emocional pela primeira vez, associei-o à calma e à paciência. Foi no fim de década de noventa e lembro que muita gente que conhecia desenvolveu interpretações semelhantes. Demorou um bom tempo para eu começar a entender que inteligência emocional vai muito além e está mais para usar a emoção adequada diante das mais diversas situações.

Entretanto, apenas recentemente eu compreendi a participação disso no contexto social e como as relações interpessoais, seus laços, o rapport, a empatia e toda uma série de mecanismos de conexão entre as pessoas provavelmente são os fatores mais importantes de todos para o sucesso.

A Origem

Há mais de cem anos que usamos o quociente de inteligência (QI) criado por Alfred Binet como parâmetro para medir o quão inteligente um indivíduo é.

O teste de QI foi usado ostensivamente ao longo da história, principalmente no início do século passado, para medir desde a probabilidade de alunos se darem bem na escola até a inteligência de soldados antes da primeira grande guerra e vem sofrendo revisões frequentes para se adequar às novas descobertas no ramo da psicologia e cognição.

Todavia, a associação do QI com o sucesso dos indivíduos tem sido inevitável e a partir daí, começou a se constatar, principalmente desde a década de noventa, que um alto QI não é um bom indicador de sucesso.

A ideia por trás da inteligência emocional não é nova e surgiu nos anos sessenta (Davitz & Beldoch, 1964).

Já o ponto de vista dela talvez ser mais importante do que o QI, no que diz respeito ao sucesso, foi levantado por Howard Gardner na década de oitenta (Gardner, 1983), melhorado por Peter Salovey e John Mayer em 1990 (Salovey & Mayer, 1990) e expandido por Daniel Goleman em 1995 (Goleman, 2012), lançando o termo “inteligência emocional” ao estrelato.

Gardner e Goleman advogam que o QI, como indicador de inteligência de uma forma geral, é ineficaz. O teste de QI mede habilidades racionais e que deixam de lado toda a importância das nossas emoções, sentimentos e como saber lidar com ambos.

Enquanto o raciocínio analítico é importante em várias áreas do conhecimento humano, é a habilidade de controlar e usar as emoções ao nosso favor que nos permite gerar empatia e estabelecer relacionamentos mais eficazes e proveitosos, campo onde um alto QI não garante absolutamente nada.

Gardner apoia sua argumentação na existência de múltiplas inteligências e Goleman parece ter seguido a mesma linha de raciocínio: ele tem esticado esse chiclete ao máximo, lançando inúmeros livros desde 1995 tratando do tema sob várias perspectivas, inclusive identificando outras “inteligências”, como a social.

Mas também é fato que o conceito de inteligência emocional ganhou muita força e vem na prática aos poucos tomando espaço do QI, pelo menos para prever o sucesso das pessoas.

A Definição

A noção por trás da inteligência emocional inclui algumas características principais: a habilidade de reconhecer as próprias emoções, a capacidade de regular as emoções apropriadamente, a de auxiliar os outros nessa tarefa e a habilidade de usar as emoções adequadamente no dia a dia para resolver problemas, conflitos e até ajudar em questões como o pensamento criativo, motivação e empoderamento.

Em resumo: reconhecê-las, controlá-las e usá-las adequadamente.

Eu sei, deve estar pensando “fácil de escrever, mas na prática…”

Como Funciona e o Que Fazer?

A primeira coisa que você precisa entender é como o nosso cérebro reage a estímulos externos no que diz respeito às emoções. Quando recebemos um estímulo através nos nossos canais representacionais visual, auditivo ou cinestésico (VAC), a informação é enviada simultaneamente para vários lugares e, eventualmente, tornamo-nos conscientes de parte do que chega.

Do que veio ao consciente, é gerado um pensamento que, por sua vez, gera emoção(ões) e sentimento(s) relacionado(s), que podem ou não resultar em ações da nossa parte, sendo potencialmente influenciadas por como nos sentimos. Esse pensamento gerado já é resultado de uma percepção influenciada pelos filtros e pelo mapa individual.

Contudo, existe uma exceção à regra: quando por algum motivo nosso cérebro acredita ser uma situação de emergência, ameaça ou perigo. Nesse caso a região da amígdala (não, não estou falando das amígdalas na garganta, mas de duas pequenas amêndoas no centro e embaixo do cérebro), pode sequestrar as nossas ações e disparar uma reação de lutar ou fugir.

Estamos diante de um comportamento que ocorre mais rápido do que o nosso consciente. É por esse motivo que reagimos algumas vezes “sem pensar”, quando estamos tomados pela raiva ou medo, inseridos em uma situação de perigo ou ameaça iminente: agimos e só depois nos damos conta do que fizemos (ou, algumas vezes, da burrada que provocamos).

Segundo Paul Ekman (Pogosyan, 2018), nossas emoções deveriam estar coordenando o show das nossas vidas. Em um passado distante, elas eram a diferença entre viver ou morrer. Com o crescimento das nossas habilidades analíticas e racionais, junto com as funções superiores, ganhamos outra habilidade: a de intervir – de uma forma pragmática, ganhamos um filtro, em forma de região em nosso cérebro, chamado córtex pré-frontal.

Explorando essa “nova” habilidade, você deve se condicionar a identificar cada emoção e sentimento que sente, algo que pode parecer simples (demais) para alguns. Leva algum tempo até adquirirmos esse hábito, mas ele o ajudará a trazer para a superfície da sua consciência a emoção e o sentimento gerado pelo pensamento que acabou de ter, permitindo que você os associe.

Costumeiramente temos pensamentos e reagimos no impulso (ou deixamos os hábitos tomarem conta, levados pelas emoções). Controlar impulsos é talvez a habilidade mais importante no que concerne a inteligência emocional, com exceção do reflexo de lutar ou fugir, onde pouco podemos fazer.

Só o tempo que você levará para identificar emoções e sentimentos, associando-os aos seus respectivos pensamentos, trará maior autocontrole.

Por falar em autocontrole, durante décadas acreditou-se na psicologia que ele e a motivação fossem recursos finitos e que, ao esgotá-los, seríamos incapazes de manter o controle ou seguir em frente.

Essa perspectiva ficou conhecida como a teoria da depleção do ego. Entretanto, ela vem sendo sistematicamente questionada diante da incapacidade de reprodução e da detecção de erros de análise estatística (Carter, Kofler, Forster, & McCullough, 2015) / (Lurquin, et al., 2016).

A renomada psicóloga Carol Dweck (a mesma de Mindset) já tinha achado evidências, antes dos estudos/meta-análise de 2015 e 2016, de que as nossas crenças têm influência fundamental nisso (Job, Walton, Bernecker, & Dweck, 2013).

Colocando de outro modo, quando acreditamos que nossa motivação e autocontrole são recursos finitos (e apenas nesse caso), agimos de acordo.

Quantas vezes você já repetiu para si ou para os outros frases como “minha paciência se esgotou”?

Isso reforça o poder das nossas crenças e de acreditar que podemos não só controlar nossos impulsos como também seguir em frente, não importa o tamanho dos obstáculos.

O mais interessante é que, quando você torna essa prática um hábito, as vezes em que a amígdala capturará sua reação e a enquadrará como lutar ou fugir tendem a diminuir, entregando para a sua vontade e discernimento o ato de reagir da forma que interessar. Como tantas outras, é uma habilidade que, ao ser treinada, melhora com o tempo.

Identificar e enfrentar essas emoções é (Goleman, 2012), inclusive, uma das formas de tratar pessoas com transtorno do estresse pós-traumático (TEPT ou, do inglês, Post Traumatic Stress Disorder – PTSD), uma condição onde o indivíduo é exposto a uma experiência traumática tão forte que deixa sequelas emocionais e cerebrais.

Diante de um gatilho ligado à experiência, a amígdala sequestra o comportamento do cérebro fazendo a vítima reviver a situação original, evitar qualquer coisa que lembre a experiência, ficar superexcitada emocionalmente ou ter pensamentos e crenças negativas.

À medida em que se exercita o hábito de identificar as emoções e associá-las aos pensamentos originadores, você ganha alguns segundos importantíssimos e, com o tempo, a habilidade de controlar suas reações vai crescendo (no caso de vítimas de TEPT, o cenário tende a ser mais delicado e requer acompanhamento médico).

Veja a importância e a repercussão disso na sua vida:

  1. O que você pensa influencia as suas emoções;
  2. As suas emoções geram sentimentos e determinam como se sente;
  3. O que você sente influencia o seu comportamento;
  4. O seu comportamento e as suas ações são como o mundo percebe você;
  5. Como as pessoas percebem você influencia os seus relacionamentos;
  6. Os seus relacionamentos influenciam os seus resultados;
  7. Os seus resultados influenciam como você se sente.

Ao tornar suas emoções conscientes e associá-las aos seus pensamentos, você estará intervindo no primeiro passo, na raiz de tudo.

A todo momento, a nossa mente inconsciente está recebendo estímulos e interpretando-os diante das nossas experiências passadas, hábitos, crenças e tudo aquilo que carregamos. Ela gera alternativas de reação que são tratadas na sequência, quando se tornam conscientes (mas nem tudo vem à tona).

Entre o estímulo inicial e o completo controle pelo consciente, onde você terá a possibilidade de focar e racionalizar totalmente a situação, podemos ter de meio segundo a um segundo e meio de atraso (Nørretranders, 1998). Se a mente classificar a situação como merecedora de uma reação de lutar ou fugir, você vira passageiro: a sua ação de proteger-se ou partir pra cima acontece sem o seu consciente tomar conhecimento inicialmente (ele eventualmente saberá o que aconteceu, mais ou menos meio segundo depois). Ou seja, pouco podemos fazer aqui.

A real oportunidade aparece quando a reação de lutar ou fugir não ocorre e você começa a identificar as emoções, lado a lado aos seus pensamentos.

À medida em que identificamos a emoção que surgiu, começamos a ganhar o controle da situação – ela passa cada vez mais para o foco do consciente, onde é possível racionalizar e mudar as nossas ações resultantes.

É importante entender que as reações comandadas pelo nosso inconsciente são muito mais rápidas do que aquelas que ganharam a atenção do consciente e que a capacidade desse último de lidar com múltiplos estímulos é absurdamente menor. Quando o nosso consciente está ocupado ou com sono por exemplo, a nossa capacidade de reagir adequadamente diminui.

Outro ponto a se considerar é que não estamos falando de algo bom ou ruim: precisamos das duas habilidades! O grande objetivo da inteligência emocional é ter acesso e usar o melhor recurso, adequado para cada situação (Kahneman, 2012).

Tenha em mente que, se a pessoa não criar o hábito de identificar e associar as emoções aos pensamentos que surgiram e parar por alguns segundos para dar tempo de formular opções conscientes, ela estará abrindo mão de atuar e abrindo espaço para as reações automáticas.

Inteligência Emocional e Empatia

À essa altura você já deve ter percebido a íntima relação que existe entre a empatia e a inteligência emocional.

Será então que podemos afirmar que, ao identificar apropriadamente as emoções dos outros, consigo agir de forma mais adequada, da mesma forma que ao reconhecer as emoções e sentimentos em mim, associando-os aos pensamentos de origem, crio a habilidade de controlá-los e, por consequência, usá-los adequadamente?

Será que, ao fazer isso, aumento o meu potencial empático?

Pois é, esses são exatamente os pontos em questão. Sem a habilidade de detectar nossas próprias emoções e as emoções dos outros, a mágica não acontece.

Todo esse operacional emocional é uma caixa cheia de ferramentas. Existe uma tendência ao sincronismo entre as pessoas quando a comunicação é eficiente e esse sincronismo se dá em diversos níveis, refletido nas expressões faciais, corporais, em todo o espectro da comunicação não-verbal (Dimberg, Thunberg, & Elmehed, 2000) e, também, chegando na empatia através das emoções.

Tudo está interligado: rapport, empatia, comunicação não-verbal, inteligência emocional e social. Pessoas incapazes de reconhecer as emoções dos outros e de ler as pistas não-verbais (dissemia) são desastres sociais, não importa o QI que tenham. Não conseguem se relacionar, construir relações duradouras e são frequentemente excluídas dos círculos sociais.

Por outro lado, pessoas que identificam as suas emoções, as emoções dos outros e ajustam a sua atuação social de acordo com as expectativas do(s) seu(s) interlocutor(es) são as mais aceitas e as que potencialmente tem mais sucesso. Mas o exagero também traz penalidades.

Os ditos “camaleões” sociais são aqueles que deixam de lado as suas próprias opiniões, posicionamentos e convicções, abrindo mão de quem são para agradar, ascender socialmente ou conseguir algo específico (Snyder, 1987).

Como Goleman aponta, pessoas assim são, tipicamente, advogados, atores, vendedores, diplomatas, políticos… que pagam um preço alto em relacionamentos superficiais e na impressão usual de não serem confiáveis.

Repertório Emocional

Todo esse arcabouço de recursos emocionais é desenvolvido desde os nossos primeiros meses, ao nos relacionarmos com nossos pais e chorarmos quando queremos algo. Não é chantagem emocional. Trata-se de um perfeito exemplo de comunicação, naturalmente limitada aos recursos que um bebê tem acesso.

Chorou e a mamãe vem? Comunicação eficiente.

À medida em que crescemos, o repertório de recursos aumenta. Portanto, entenda que você provavelmente já possui dentro de si todos esses recursos instalados e os usa sem ter consciência (alguns são até usados contra você). Quanto mais usados, mais enraizados em nosso inconsciente, sob a forma de hábitos emocionais.

Alguns são eficazes, outros podem não ser. É por esse motivo que quando começamos a identificar nossas emoções e sentimentos conscientemente, assim como os das outras pessoas, as coisas se encaixam e a habilidade que antes estava escondida e era usada sem você perceber, passa a ser algo que pode ser exercido intencionalmente.

Ao trazer esse operacional para o consciente, podemos intervir e… ao intervirmos repetidas vezes, geramos novos hábitos! Com isso, temos a capacidade de aprender novos “comportamentos” emocionais (ou corrigir velhos hábitos limitantes). É certamente desafiante, mas perfeitamente possível ressignificar.

Contudo, ao fazermos isso e mudarmos nossos hábitos emocionais de limitantes para possibilitadores estaremos sendo “falsos”, a partir do momento que criamos novas reações de acordo com nossos interesses?

Não mais do que ser verdadeiro com alguém ou contar uma mentira, o que depende de outras características da personalidade. A inteligência emocional é um conjunto de ferramentas e, assim como uma chave de fenda pode ser usada para construir coisas, pode ser usada para agredir alguém. Se você as usar para enganar e dissimular no intuito de obter algo, nada mais estará fazendo do que se comportando compativelmente com quem é, no fundo.

Ao ser fiel à sua essência, estará sendo harmonioso para com os seus valores e verdadeiro com o mundo externo também. Em outras palavras, não é o controle emocional e a habilidade de ajustar sua representação social que fará de você alguém mais ou menos confiável, mas sim deixar de ser fiel à sua opinião, mentir ou enganar: as suas ações resultantes da aquisição da inteligência emocional e social serão uma extensão do tipo de pessoa que já é. Após educar-se no processo de identificar emoções e sentimentos, você começará a descobrir quem é embaixo das múltiplas camadas de proteção.

Agora que você está no caminho de domar as emoções, que tal usar esse conhecimento para ajustar a sua vida de forma positiva?

Justin Bariso (Bariso, 2018) sintetiza extraordinariamente, em uma pergunta, quão bem estamos no quesito inteligência emocional:

“Em que situações eu acho que as emoções estão agindo contra mim ou meus interesses?”

Ao respondê-la, você descobrirá onde disse algo que não queria ou deveria, onde não entendeu as emoções de alguém prejudicando a empatia, onde achou difícil gerenciar conflitos, onde deixou passar oportunidades por causa do medo, da raiva ou da ansiedade e até quando concordou em fazer algo porque estava excitado ou de bom humor, para descobrir depois de algum tempo que deveria ter analisado melhor o caso.

Lembre-se: o segredo está em identificar a emoção que o pensamento desperta, em trazer ao consciente. Esse meio segundo, quem sabe até um ou dois segundos que você usará para isso, farão toda a diferença entre entender como agir adequadamente e evitar uma reação levado pelo impulso. Se for o caso, leve até mais tempo!

É melhor contar até dez e ter uma reação adequada do que colocar tudo a perder (segredinho pra você: contar até dez funciona porque é uma tarefa feita no consciente. É justamente ele que queremos chamar para participar.).

Uma vez despertada a consciência e mais calmo, aproveite para esboçar em sua mente algumas opções positivas! Nenhuma espiral negativa lhe trará coisas boas.

Reação emocional sanitizada e adequada, parta para o próximo passo: identifique a necessidade que está ou não sendo atendida e que foi a raiz da emoção provocada.

Perceba como as coisas ficam mais evidentes ao trazer à tona essa necessidade. Sim, reagir com inteligência emocional, por mais eficiente que seja e por mais benéfico que possa ser aos sistemas que pertence, é um efeito colateral de algo mais abrangente.


Leitura recomendada:

EQ Applied, Justin Bariso
Inteligência Emocional, Daniel Goleman
Inteligências Múltiplas: A Teoria na Prática, Howard Gardner
Mindset, Carol Dweck
The User Illusion, Tor Nørretranders
Rápido e Devagar, Daniel Kahneman

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(*)Quero começar afirmando algo doloroso para alguns: pressão é normal, não só no trabalho, mas em diversos aspectos da nossa vida e pode ter sua fonte em diversos lugares.

Exploraremos hoje seis deles, abordagens individuais e uma potencial abordagem global:

A pressão sempre foi uma constante, provocada por algum dos pontos acima e, com o tempo (e o amadurecimento), adicionamos à equação algo que faz toda a diferença: inteligência emocional, que mencionarei por último, pois trata-se de um tema que facilita (muito) a lidar com a pressão.

Quando menciono que pressão é doloroso, não me refiro a sofrimento, necessariamente; refiro-me à mudança, um processo amplamente documentado e estudado na psicologia e que, ao longo do último século e meio, é tratado exaustivamente.

“Não há despertar da consciência sem dor.”
Carl Jung

O que é a pressão muitas vezes, se não uma comunicação desesperada de mudança direta ou indiretamente ligada à responsabilidade, visão distinta de uma realidade ou um embate de posicionamentos, provavelmente com data e hora para ocorrer?

“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta à mudanças.”
Leon C. Megginson

Curiosamente, a citação acima é quase sempre atribuída a Charles Darwin mas, na verdade, ela é de Leon C. Megginson.

 

A mudança em si é um gerador fortíssimo de ansiedade. Soma-se a isso o fato de que muitos trabalham dentro de suas respectivas zonas de conforto. Mais, trabalham para se manter dentro dela. Mudar gera desafio imediato e um esforço muitas vezes indesejado, o que nos leva a talvez afirmar que a resistência à mudança é o cerne da questão, e não a mudança em si. Refratamos a mudança muitas vezes de forma inconsciente, sem sequer pensar a respeito.

Isso, meu caro amigo, não deveria ser indesejado. Pelo contrário, oportunidades de ser o protagonista lhe colocam no comando da sua vida, o que pode lhe levar a outra conclusão também dolorosa:

“A maioria das pessoas não quer verdadeiramente liberdade, porque liberdade envolve responsabilidade e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade.”
Sigmund Freud

Chamo especial atenção a esse ponto porque ele transforma você em sujeito! Ele é fundamental para o nosso crescimento e ser ator principal do nosso palco exige responsabilidade.

Existem outros geradores de ansiedade e pressão, seja no ambiente de trabalho ou fora dele. Ouso afirmar: as questões e a ansiedade geradas pela falta de comunicação clara e a ausência de entendimento talvez sejam as mais presentes em nossas vidas. Abordei a comunicação em específico em dois artigos sobre como ela pode até ser considerada, quem sabe, a razão principal para a discórdia no mundo.

A minha argumentação gira em torno de dois pontos principais: em primeiro lugar, a responsabilidade do entendimento da comunicação é de quem emite a informação e essa responsabilidade (olha ela novamente!), é frequentemente negligenciada. Em segundo, elenco uma série de estratégias que podem ajudar muito a melhorar o processo de comunicação.

Além da comunicação, quero abordar três pontos adicionais que geram pressão e ansiedade, antes de retornar para a inteligência emocional. Perceba como há toda uma lógica por trás de falar de comunicação antes dos demais, pois sofrem influência direta ou indireta.

Um dos artigos mais lidos deste blog trata da gestão do tempo. Uma das reclamações mais comuns hoje em dia é a alegação de que não temos tempo para realizar o que queremos (ou devemos). No texto, repare que a conclusão fatal é de que a nossa agenda é populada pelos itens para os quais demos prioridade de forma consciente ou não. A questão toda resume-se a isso: descobrir como o tempo está sendo consumido e usar técnicas para colocar em nossas agendas aquilo que de fato é prioridade consciente.

“A falta de tempo não é uma desculpa plausível quando queremos fazer acontecer. Se assim fosse, todos os desocupados seriam bem-sucedidos.”
Tathiane Deândhela

No âmbito profissional, uma das grandes experiências que vivi foi a correta ou incorreta comunicação de prazos e a negociação de deadlines, batendo de frente com as expectativas geradas.

Quando não há uma gestão efetiva do tempo (ou comunicação ineficiente), não conseguimos medir a nossa produtividade e frequentemente comunicamos, para a cadeia de gestão, informações equivocadas, o que gera um fenômeno interessante: a equipe tem receio de comunicar e se comprometer com prazos que não conhece ou domina, simplesmente porque não há um trabalho de gestão de tempo sendo realizado e não porque a gestão é intransigente ou algo do tipo (que, por sua vez, se sente naturalmente insegura, sem evidências).

“Objetivos são sonhos com prazos.”
Diana Scharf

Mais uma vez, o que termina faltando é o protagonismo, a responsabilidade e a comunicação eficiente… grandes geradores de pressão e ansiedade, o que nos leva à próxima questão: a nossa percepção da realidade o que, para a PNL, é tratada pelo seu primeiro pressuposto, mencionando que “mapa não é território“.

É necessário entender que existe uma diferença entre a realidade objetiva (como ela de fato é) e a nossa percepção do que é realidade (chamado de realidade subjetiva). Isso ocorre porque a nossa interface com o mundo ocorre através dos sentidos e o que de fato armazenamos pode ser alterado por uma série de fatores, como questões de personalidade, sentimentos, distorções, omissões e generalizações, tema que abordei nesse outro artigo.

A questão é extremamente importante porque nos permite, de cara, entender que a percepção da realidade é subjetiva, por mais que se force a barra. A sua realidade é diferente da minha e está sujeita a um sem número de interações e experiências que você teve ao longo da vida, o que, em outras palavras, significa que o certo de alguém pode ser diferente do certo de outra pessoa por uma pura diferença de interpretação da realidade.

Isso, tomado por base, nos faz refletir e respeitar melhor as opiniões alheias.

No artigo sobre o dilema do certo versus o errado, exploro a questão, indo um pouco adiante: além das nossas representações internas sobre realidade serem potencialmente diferentes, o mundo é composto de bilhões e bilhões de variáveis, a maioria sequer conhecidas por nós, o que implica na existência de talvez milhões de “certos” e milhões de “errados”.

O ser humano, por uma necessidade fundamental de “entender” tudo que o cerca e um medo irrefreável do desconhecido, atribui muitas vezes explicações a coisas inexplicáveis. Esse é outro fenômeno bastante estudado ao longo do tempo e tem o efeito colateral de fazer com que as pessoas se agarrem às suas verdades, achando que são únicas e imutáveis, gerando conflitos de entendimento ou “mapa” e comunicação, por não conseguirem enxergar realidades ou alternativas.

É necessário, como ser humano, ter a humildade para entender que podemos não ter inteligência, conteúdo ou comportamento adequado e suficiente para compreender muita coisa no universo e isso não está, necessariamente, errado ou carente de retificação imediata e depende de um processo de evolução longo.

“A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o medo mais antigo e o mais forte é o medo do desconhecido.”
H. P. Lovecraft

Ao expor os pontos acima, há de se convir que os seis, colocados como geradores de ansiedade e pressão em nossas vidas, tem um caráter subjetivo e nem sempre uma solução clara e direta. Cada caso é um caso e precisa ser avaliado com carinho.

Entretanto, existe um fator que permeia as seis questões e pode servir como uma potencial solução mais ampla, talvez associada a uma comunicação eficaz: a inteligência emocional.

Trata-se de um conceito difundido e popularizado pelo psicólogo Daniel Goleman há cerca de 10 anos, mas que vem sendo aplicado com algumas variações deste o início do século passado.

O mais interessante do trabalho de Goleman é o fato de que, dele, derivaram-se tantos outros trabalhos (inclusive, de outros autores), evoluindo nas mais diversas direções, como o conceito de inteligência social, foco / mindfulness e tantas outras “inteligências”.

De uma forma bem prática, inteligência emocional significa avaliar, através do comportamento de um indivíduo, as emoções que estão sendo representadas, bem como o desenvolvimento da habilidade de lidar com elas e com as suas próprias (em reação a alguém ou que provoquem reação em alguém).

Permito-me adicionar um comentário à definição: ao aprender a lidar com as próprias emoções e com as do próximo, comunicar-se e apresentar-se ao próximo e à sociedade de forma mais eficiente, mantendo a fidelidade para com os seus sentimentos e opiniões originais (você agora deve estar pensando: nem todo mundo é fiel aos seus sentimentos e opiniões originais…).

De acordo com ele, o nosso “cérebro” emocional é mais rápido do que o “racional”, portanto, é tão importante na comunicação e transparência nos relacionamentos.

Perceba como o uso correto desse conceito tem o potencial de desarmar a grande maioria das situações de conflito, ansiedade e pressão que surgem no nosso dia-a-dia. Perceba talvez, como a comunicação acontece muito além da palavra (argumento principal desse outro artigo) e como a interpretação de sinais não-verbais está intimamente ligada ao conceito de inteligência emocional:

“As emoções das pessoas raramente são colocadas em palavras, muitas vezes elas são expressas através de outras pistas. A chave para intuir os sentimentos de outros é a capacidade de ler canais não-verbais, tom de voz, gesto, expressão facial e similares.”
Daniel Goleman

Identificar em nossas próprias vidas e nas relações interpessoais os seis pontos levantados aqui pode (e deve) trazer uma série de recursos adicionais para que cada um lide melhor com as pressões diárias, seja no trabalho ou fora dele. Uma vez identificados os pontos de pressão e atrito, fica mais fácil trabalhar cada um deles individualmente ou aplicar estratégias mais amplas, como a inteligência emocional por trás das relações.

Para finalizar, retorno ao início do texto: pressão deve ser natural para o ser humano e significa, dentre tantas coisas, que ajustes e mudanças estão ocorrendo. Pergunto-me: talvez não estejamos vivos até hoje por causa da nossa habilidade de lidar com isso?

Finalizando com essa linha de raciocínio, deixo você com essa apresentação para entender como o nosso corpo lida com a dor, objetivos, liderança e o amor biologicamente e as razões evolucionárias por trás do stress e da ansiedade. Como bem diz Simon Sinek no vídeo: o stress é contagioso, basta observar um grupo de gazelas, defendendo-se de um predador.

Referências adicionais:


(*) Esse texto é fruto de um processo criativo que iniciou-se a partir de conversas com ex-colegas de trabalho e amigos, e terminou gerando três artigos sobre desafios profissionais bastante comuns e com profundo impacto na vida de tantos.


(*) O texto sobre os desafios (positivos!) do meu trabalho e como isso tem me feito crescer, gerou uma procura enorme nas redes sociais, WhatsApp e ligações de voz. Foram dezenas de mensagens e conversas extremamente interessantes.

O que me surpreendeu foi o tom das conversas. Enquanto vivo um momento de crescimento e gratidão, percebo que muitos estão inseridos em um contexto mais desafiante. A maioria relata ser isso um efeito colateral da crise e ausência de oportunidades. Outros, chegaram a verbalizar que precisam mudar suas respectivas posturas e dois confessaram, depois da conversa, que precisam se empenhar mais.

Nossos bate-papos me inspiraram a escrever sobre os três dos principais temas, traduzidos em três textos semanais, cada um abordando um tema em específico. O primeiro deles é esse, sobre pressão, com foco no ambiente de trabalho.

Estes textos são dedicado a vocês, alguns ex-colegas de trabalho e amigos que encontram-se vivendo em situações que variam da pressão natural do trabalho até outras, quase que insustentáveis. Saibam meus queridos que existe, sim, saída. Ela tem diversos passos, mas começa por acreditarem em vocês mesmos.

Como cheguei a dizer a muitos: vistam as capas de mago!