Nenhum sucesso é precedido impreterivelmente de sucesso.
Exceto se sucesso para você é, metaforicamente, o exercício de uma subida de escada.
Somos seres de contrastes e percebemos algo como vitória diante de uma experiência anterior de derrota.
Será?
Não quero associar esse contraste em específico com uma batalha ou competição.
Tem tropeço, tem degrau, tem erro aqui e acolá, tem falha, condição essencial de uma existência imperfeita e nada disso é competição por definição. A gente cria muitas dessas competições em nossa mente através da comparação.
Não obstante, o sucesso engloba o fracasso.
Cada algo percebido como tal é um empurrãozinho na direção adequada de uma percepção muitas vezes volátil.
Sim, porque sucesso é uma definição pessoal. Você tem essa liberdade e não deve explicações a ninguém. Esse é um direito seu do qual abre mão.
Cabe um arrazoado neste sentido. Vejamos.
Se o seu sucesso depende de plateia, está a caminho da infelicidade.
Mas cada superação é no mínimo uma insatisfação com o estado anterior.
Cada superação é uma análise comparativa, específica e pontual. Plateia e aplausos podem ser potencialmente evidências para uma avaliação.
Só que essa inquietação e insatisfação são um dos maiores artifícios de motivação que podem existir em nossas vidas e…
Tenho plena certeza, motivo pelo qual muitos superam-se.
Não tem coisa mais linda na existência humana do que olhar para trás, perceber cada momento de dúvida de si, de suposto fracasso… hesitar, respirar fundo…
Abrir os olhos… olhar para frente, para o futuro e pensar consigo: subi um degrau.
Contextualizada a questão, “subir um degrau” já é um “sucesso”. Percebem?
Fracasso sem mudança de estado é morte existencial.
Mas fracasso seguido de mudança de estado é sucesso por definição.
Só, talvez, você não perceba.
Eu falo disso com conhecimento de causa, ensinado por 22 anos de vitória sobre a depressão.
Este texto não é sobre a minha experiência com a depressão diretamente, mas como a concepção de “vitória” na frase acima, como definição de sucesso, é própria, um conceito para o qual tenho a propriedade.
E, aqui, evidencio o ponto mais importante: tomar para si através do autoconhecimento a propriedade de definições como vitória, fracasso, sucesso.
Já parou pra pensar que, de certo modo, todo ser humano é um ratinho correndo em um vídeo do genial Steve Cutts?
O que nos motiva a correr são as definições externas como no vídeo.
Estamos falando de uma indústria de 50 bilhões de dólares no mundo. Isto se consideramos apenas o lado da autoajuda.
Se tornarmos a questão mais abrangente e considerarmos todas as situações onde perseguimos uma definição externa de sucesso em um contexto de terceiros, temos 99% de todas as situações motivacionais do mundo que envolvem trabalho e falo isso só para provocar.
Sim, eu acho que aquilo que consideramos ser sucesso tem influência máxima em nossa felicidade.
Se eu abro mão de definir sucesso em favor daquilo que definem para mim, estou abrindo mão de um poder enorme.
Caramba… como fiz isso ao longo dos anos e como isso influenciou meu bem-estar.
Percebe o poder abnegado em favor do reconhecimento?
Se o sucesso é definido por um terceiro, entidade, organização, grupo ou pessoa e isso faz você ir na direção planejada (por eles) ou comportar-se de uma forma determinada, por que você acha que chegará e manterá um dia o “sucesso”, se isso mantém você sendo manipulado na direção desejada pelos outros? Pode acontecer? É claro! E certamente mudará.
Surpreso como a definição de sucesso externa é alterada à medida em que alcança seus objetivos?
Se a sua definição de sucesso é continuar a subir a escada dos outros, tá tudo bem. Se é um destino específico dos outros, não tá tudo bem assim.
Sim, chegamos ao cerne da questão: permitimos o sucesso como definição externa para também permitirmos o eventual julgamento social de nós mesmos como seres de potencial sucesso terceirizado.
Isso é insano.
Só reconhecemos como sucesso aquilo exercido pelo agente que julga, usando critérios externos de sucesso.
Só gostamos do sucesso quando há aplauso?
Eu acabei com essa concepção na época em que gravei esse vídeo para o YouTube mais de 2 anos atrás.
Colocar definições de sucesso, fracasso, vitória ou derrota no exercício potencial de aplausos coloca todo o poder sobre nossa felicidade nas mãos dos outros.
Não permito mais essa terceirização. Não permito mais a propriedade do *meu* sucesso nas mãos de quem nem me conhece.
Quer me julgar?
Fod@-s3.
Ser aplaudido é bom. Mas acordar pela manhã sentindo-se bem sem depender de ninguém, não tem preço.
E, se para isso, precisar revisitar minhas próprias definições existenciais, respeitadas algumas convenções sociais e culturais importantes, que seja.
Só não deixarei mais essa régua nas mãos de ninguém.
Apropriei-me.
Convido-o a apropriar-se.
Como seres sociais que somos, quer saber o que traz mais realização?
Reconhecer as réguas alheias. Compartilhá-las com aceitação e respeito.
Mas isso é tema para outro ensaio.
Fonte da imagem: https://www.appalachianaxeworksshop.com/listing/738468854/vintage-folding-ruler-stanley-sweetheart
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