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Sobre Jornada, Destinos, Falhas e Arrependimentos

Sabe… Eu tenho 47 anos no momento.

Exercitei-me valeeendo por mais de 15 desses 47.

Mesmo assim, cheguei à obesidade, emagreci e recuperei algum peso.

Durante o tempo em que me exercitei seriamente, até recentemente, foquei nos resultados, como se treinar fosse um objetivo a ser alcançado.

Ficar saradão, no shape, trincado… Quanto menos porcentagem de gordura, melhor. Primeiro 20, depois 15, 10, 8.

Mas eu não chegava lá.

Aliás, cheguei várias vezes, mas nunca era o suficiente.

Eu comecei e parei várias vezes. Não era prazeroso.

A última, foi em dezembro de 2018, depois de 12 anos treinando praticamente todos os dias (confesso, no último ano farrapava mais).

Mês passado voltei a me exercitar e a treinar pesado.

Sabe do que me dei conta?

Não é apenas sobre o resultado.

É sobre a jornada.

Com sucesso, felicidade e realização é a mesma coisa.

Será por isso que antes, ir à academia era um desafio, um esforço e às vezes uma dor, enquanto hoje, é o que me faz sair mais rápido da cama às 4:20?

Então, quero colocar uma treta para vocês.

E, antes de fazer isso, definamos algumas questões.

Primeiro, vivemos em uma sociedade onde as delimitações de sucesso, felicidade e realização são como destinos a serem alcançados.

Imaginem uma prateleira e, lá, caixinhas para cada uma dessas coisas. Objetos brilhantes que nos excitam.

Uma casa, um carro, um homem ou mulher, uma bolsa, uma jóia… até status.

As narrativas desaparecem em favor de momentos estanque e voláteis para a roda girar mais rápido.

É tudo tão… líquido.

Isso é intencional e atende a uma agenda, que cria uma cenoura para você perseguir.

Quem controla o objeto do seu desejo, controla você.

Quem desperta em você o desejo por algo externo, controlado pela mesma entidade, também.

Essa cenoura parece ser o que desejamos, mas é o que uma ou mais entidades externas querem e… convencer você de que “é a mesma coisa” é uma das grandes armas de manipulação desse sistema.

Terminamos acreditando fielmente que essas definições são nossas próprias concepções de felicidade, sucesso ou realização.

Dor e desejo fazem o homem se movimentar. E nada como provocar ambos para se obter o que é planejado, movimento na direção da manipulação.

Mostram a dor, apontam para ela e fazem você sentir vergonha… Despertam o desejo e criam o movimento de afastar-se do indesejado em direção ao cobiçado.

Uma reta que alinha os dois, gerando movimento no sentido da dor para o desejo.

A cenoura perfeita.

Aceitamos isso de boas, porque dá um barato… O consumo é um exemplo clássico dessa mecânica.

Vícios também.

Aliás, como essas definições nos são entregues e estão atreladas ao desejo e ao prazer, ninguém questiona, porque faz sentido.

Apropriamo-nos dessa idealização. Percebemos como nosso.

Só faz, só corre, só persegue… E somos controlados através desses mecanismos.

E esse “corre” é tão absurdo, tão frenético que ninguém para… Ninguém olha para si, para dentro e descobre suas próprias definições.

Segundo, não existe ser humano perfeito. Todos os seres humanos, para começarem a errar e a falhar, bastam nascer.

Não entrarei no mérito de imputar responsabilidade ou culpa… A questão é que a imperfeição traz, obrigatoriamente, aquilo que reconhecemos como erro e falha.

Não existe a possiblidade de ser diferente disso.

O conceito social de imperfeição não só é ligado ao errar e ao falhar; são a mesma coisa.

Mas errar e falhar podem ser percebidos não como imperfeição, mas como algo inato da evolução.

E, se do nascimento à morte, vem a certeza de que teremos uma jornada repleta de erros e falhas, como podemos estabelecer um critério de felicidade, sucesso e realização que é um destino?

Se pensarmos sobre a existência humana, o único destino absoluto é a finitude, deixar de existir… Morrer.

Já pensou que nesse corre para o sucesso, vamos cada vez mais rápido em direção ao fim e desprezamos a caminhada?

Aqui, entram as crenças individuais de continuidade pós morte do corpo físico… Mas deixo cada um com suas crenças.

Terceiro, se para o ser humano a perfeição é inalcançável, errar e falhar é uma constante de existir.

Colocados esses pontos, lá vem a treta:

Se é impossível para o ser humano ser perfeito, por que insistimos em colocar o erro, a falha e o arrependimento como vergonhas, coisas que fazem parte da nossa natureza?

Por que insistimos em colocar a obtenção do sucesso e da felicidade como um destino definido pelo externo, contrariando aquilo que vai dentro da gente?

E olha, nem falei sobre arrependimento ainda… Mas falarei agora.

Durante anos, ouvi muita gente próxima encher o peito para falar que não se arrepende de nada do que fez na vida.

Eu aceitei isso como verdade por muito tempo.

Então resolvi dedicar uns 2 neurônios à questão e cheguei a uma opinião completamente contrária.

Olho para o meu passado e lembro de inúmeras situações das quais me arrependo.

E quando eu tenho essa sensação de arrependimento, é muito no sentido de que eu percebo o mundo hoje diferente do que percebia na época…

E essa sensação não é negativa.

Arrepender-se (4) não só é um ato de coragem: é coroar a própria evolução com aprendizado e fazer alguma coisa no sentido de corrigir as cagadas feitas.

Houve aprendizado (1), crescimento (2) e acho que evolução (3)… E essa sensação não seria possível sem os três.

Eu não consigo ver uma realidade onde os quatro não estejam associados… E, quando isso acontece, arrepender-se vira troféu.

Eu não consigo perceber como alguém cresce, evolui, desenvolve-se e não se arrepende de nada.

Na minha cabeça, as únicas formas de alguém olhar para o passado e não se arrepender são…

Não errou, não falhou ou não aprendeu e não cresceu.

Não tem como ser diferente e as duas primeiras opções não existem para quem é ser humano.

Ou seja: quem não se arrepende de nada… Errou sim, falhou sim, machucou sim outras pessoas, mas não reconhece isso.

Negação ou desconhecimento de si.

Fale-me mais então alecrim dourado, como passou pela vida, como ser imperfeito e acredita que nada poderia ser melhor ou diferente.

Que não machucou ninguém, que não pisou na bola nenhuma única vez.

Eu vou parar por aqui porque o texto não é uma determinação de caminho, mas apenas um estímulo.

Pense: se você vive em um contexto de grupo social onde errar e falhar é uma vergonha, será que esse contexto faz bem a você?

Proponho pararmos de reconhecer o erro, a falha e o arrependimento como vergonhas… E passarmos a vê-los como parte do nosso mecanismo de evolução.

E essa ideia não é minha, Brené Brown fala isso há mais de 10 anos.

Ah, mas Romulo, tem situações que errar ou falhar pode significar a morte para um monte de gente!

Sim! É por isso que existem processos e redundância… para quando as consequências de falhar e errar não são opções aceitáveis.

Parafraseando Nassim Nicholas Taleb, se um sistema não contempla a falha ou o erro humano, ele está condenado ao fracasso.

Nada que evolui retorna ao estado original. Se houve mudança, há diferença. Se há diferença, não é resiliência que busca.

Um sistema que almeja a resiliência, não evolui.


 

Para saber mais:

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A Falácia da Constância

Descarte.

Isso é o que fazemos com os copos de plástico (e não deveríamos), após beber café.

É aquilo que fazemos com as pessoas que não demonstram comportamentos e resultados constantes ou regulares.

E tudo muda. Aliás, cito o paradoxo da certeza: a única certeza (ou constante) é a mudança.

Olhe à sua volta. Perceba o comportamento das pessoas, das coisas da natureza, de tudo.

Do universo que nos cerca, dessa realidade objetiva ou interpretada de ideias e conceitos abstratos.

Tudo o que nos envolve e nos inclui existe sob ciclos.

Não há exceção.

O desejo, a pulsão, os dias, as noites… os animais, as plantas, a vida e o gerar dela, tudo, absolutamente tudo possui o seu próprio ciclo, com a sua própria frequência. Dê tempo suficiente e o ciclo aparecerá.

Agora, considerando um contexto universal como esse, como nós, seres humanos, cobramos das pessoas um comportamento regular?

Como nós, seres humanos, exigimos e recomendamos um sucesso atingido através da constância?

Haja hipocrisia.

A mecânica aqui presente é vil e totalmente clara.

Cada indivíduo vive o seu momento único, uma combinação de quase infinitos fatores que levam cada um de nós a experimentar um maior ou menor nível de potência de agir, em um dado momento.

Se tirarmos um instantâneo, um extrato em imagem ultra rápida do estado imediato de toda a humanidade neste exato momento, veremos quase 8 bilhões de pessoas em uma jornada com características singulares.

Veremos na merda quem ontem gozava da felicidade.

Veremos alguém no ápice que, outrora, chorava o fracasso.

E, aqui, entra a estratégia do descarte.

Traça-se um objetivo qualquer. Associa-se a esse objetivo um conjunto de recursos dos mais diversos, materiais e humanos.

Se algum dos elementos usados não estiver dentro de uma estreita margem de performance ou atendendo ao esperado, substitui-se por outro que esteja em um momento mais “adequado”, incluindo o próprio fator humano.

As equações relacionadas às estratégias de busca por metas e objetivos não contemplam os ciclos naturais da existência de qualquer coisa, muito menos da existência humana.

Não há espaço para respirar (outro ciclo, deste da qual a nossa vida e existência dependem).

Define-se então a falácia da constância.

Prega-se um comportamento regular, uma entrega cadenciada como qualidade a ser alcançada, mas que, no fundo, é impossível.

Não é que a equação apenas não acomode a existência humana: ela a descarta, à medida em que o elemento que foge ao ideal inalcançável é meramente substituído por outro elemento em um momento distinto (e mais favorável) do instantâneo social.

Revolta-me a ânsia hipócrita por regularidade em uma existência totalmente inconstante, variável e natural.

Perceba o sucesso como uma estrada repleta de fracassos, erros, falhas e correções de rumo. E o fato de ser assim permite-nos a adaptação, a superação e a evolução.

Revolta-me escolhermos apenas os sucessos no instantâneo da vida.

Como diria Mlodinow, somos bêbados a caminhar e, como embriagados, achamos que não houve exagero.

Como diria Nassim Nicholas Taleb, equações que não contemplam a falha e a correção de rumo não são duradouras.

Como digo, sistemas que exigem constância dos seres humanos (ou de quaisquer outros elementos) e não contemplam os ciclos da natureza, são falhos e não resilientes por definição. São utilitaristas, de curto prazo e não resistem ao tempo.

Precisamos normalizar equações de felicidade e sucesso que admitem a inconstância, a inclusão e descartam o descarte.

Que admitam a existência humana.


A imagem em destaque no cabeçalho é uma alusão à velocidade da luz no vácuo. Limite de velocidade do universo e uma constante universal (C).

Origem da Imagem:
https://www.publicdomainpictures.net/en/view-image.php?image=96602&picture=light-painting-abstract

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Bucket-list: Eu Não Quero Uma Visão Utilitarista da Vida. Ou Quero?

Vi uma entrevista de Neil Patrick Harris falando que a vida é uma bucket-list… não conheço uma tradução fiel ao termo, mas é como uma lista de coisas para fazer antes de morrer.

Se por um lado acho interessante a ideia de realizar coisas legais e experimentar novas experiências, acho também que essa mentalidade atende a uma agenda consumista, utilitarista e de comparação.

Remeto-me (quase sempre) ao livro Sociedade do Cansaço, de Byung-Chul Han, fonte constante de inspiração para mim quando o tema é o sujeito de desempenho.

Esse sujeito inserido na sociedade moderna que o excita a conquistar cada vez mais através dos parâmetros de sucesso tangíveis, empoderando-o e fazendo-o crer que qualquer coisa pode ser obtida, só dependendo única e exclusivamente de si.

De fato, é um contexto existencial que associa o conceito de sucesso ao obter. Então, em um cenário como esse, uma bucket-list faz todo o sentido: ela representa a epítome do sucesso e da realização para o sujeito de desempenho.

Cuidado com essa percepção.

Quando pensamos no sucesso só como degraus de uma escada, em metas a serem atingidas, terceirizamos o sucesso, transformamos ele em uma concepção transacionável e nos incluímos no processo: nós viramos itens no mercado existencial e nem eu nem você somos os donos do mercado.

Não é mera coincidência que as redes sociais usam um mecanismo fidedigno.

Temos a coisificação dos indivíduos através dos likes, comentários e engajamento. O algoritmo mede e pesa cada identidade que se aventura a estar presente, gerando um ciclo que influencia a criação de alter egos com a intenção objetiva de aumentar a sua percepção de valor usando os critérios algorítmicos.

O que acontece com o conteúdo gerado? A mesma coisa: é fabricado com a intenção maior de gerar engajamento, curtidas, repostagens e retweets.

Assim como moldamos as nossas identidades no mundo da realidade supostamente objetiva em torno dos critérios tangíveis de sucesso, construímos representações de identidade no mundo virtual fazendo a mesma coisa.

Não é que exista uma confluência entre os dois conceitos. Eles são a mesma coisa, aplicados em esferas distintas! São o exercício da coisificação e da tangibilização da existência humana.

O prazer, a realização e a dopamina do reconhecimento e do like passam a moldar o comportamento das pessoas. Com o sucesso tangível e terceirizado é a mesma coisa.

Ficamos à mercê da opinião dos outros e o nosso comportamento acaba ditado por essas opiniões e parâmetros socialmente aceitos de sucesso.

Qual a agenda aqui? Qualquer critério de sucesso terceirizado pode ser usado para manipulá-lo. Aliás, é certamente usado.

Já parou para refletir que boa parte daquilo que considera sucesso hoje é sucesso para terceiros e você aceitou porque participa de uma barganha ou troca nessa realização?

Já falei tanto sobre esse assunto que corro o risco de me tornar repetitivo.

Então, faço uma consideração sobre a minha percepção de sucesso.

  • Sucesso já foi fechar um negócio e ser aplaudido.
  • Sucesso já foi comprar um carro.
  • Sucesso já foi tomar um vinho específico.
  • Sucesso já foi viajar…
  • Sucesso já foi conhecer Ibiza (esse foi um sucesso duplo, fruto de uma premiação por desempenho do trabalho).

Apesar do carinho por tudo que veio antes de cada uma das situações acima (e levou a elas), Lembro especialmente de:

  • Quando conclui meu livro em 2020;
    • … Quando recebi o primeiro feedback da leitura dele de alguém que me disse que… foi transformador;
  • … Quando voltei a viver em sociedade após a primeira crise de depressão, 20 anos atrás;
  • … Quando, ano passado, depois de meses de isolamento e outra crise, consegui sair de casa e caminhar na praia;
    • … Quando quebrado e isolado após 15 meses de pandemia e desemprego, recoloquei-me;
  • … Quando parei para pensar sobre os desafetos que tenho ou tive na vida… e percebo que não guardo rancor nem desejo mal a ninguém, hoje.

A primeira foi uma bucket-list. A segunda, bem… a segunda lista foi a vida acontecendo.

Olho para essas experiências e percebo que a sociedade de uma forma geral esconde os baixos e evidencia os altos.

Entendo perfeitamente o movimento… a questão é que, de tanto nos comportarmos assim, começamos a acreditar que somos super seres humanos capazes de manter alto desempenho 100% do tempo.

  • Quem promove e busca isso vai em direção à questões sérias de saúde mental, no mínimo;
  • Quem vende isso quer enganar você.

Pera…

Surgiu uma ideia aqui.

  1. Sabemos que é impossível para um ser humano entregar 100% de desempenho 100% do tempo;
  2. Sabemos que os critérios de sucesso recompensam quem tem um comportamento mais próximo disso;

Então… será que aqueles que têm sucesso são os que escondem de forma mais eficiente quando não estão em 100%?

Nossa, isso agora fez um sentido absurdo, principalmente se associarmos ao conceito amplamente exercitado (e graças ao trabalho de Brené Brown, começa a ser questionado) de que vulnerabilidade é vergonha.

A real conexão humana está através da percepção da vergonha e no compartilhar das vulnerabilidades, no reconhecimento mútuo da humanidade que habita em nós.

Eu não quero uma visão utilitarista da vida.

Quero conexão, compartilhamento e cooperação.

Parei de esconder e de me esconder.

Talvez alguém use isso contra mim eventualmente, no exercício clássico da relação vulnerabilidade vs. vergonha… mas encontro conforto em saber que o exercício é feito por alguém que tem as mesmas questões que eu.

Cansei de competir. Não sou melhor, superior ou mais evoluído do que ninguém.

Sou um ser humano que faz merda quase todo dia, arrependo-me do que fiz… e faço um esforço para corrigir o rumo.

Partindo do princípio de que somos imperfeitos, fazemos besteira o tempo todo, o quanto se arrependeu até hoje?

Eu, com orgulho afirmo que… muito.

A minha bucket-list?

Ela é atualizada com frequência e… isso significa que não persigo cegamente os itens nela.

Persigo aquilo que permite a sua criação.

Permito-me mudar.

A minha bucket-list é apenas uma consequência e ela… ela acompanha essas mudanças.

A minha existência não é pautada por aquilo que quero fazer até morrer. É pautada pelo que provoca em mim o desejo de seguir em frente, viver e ter uma lista.

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Lições

Para muitos, as lições abaixo farão sentido.

Para outros, parecerão apenas bom senso e, para alguma parcela, causarão incômodo, desconforto e talvez discordância e rejeição.

São coisas que aprendi ao longo da vida e muitas destas lições solidificaram-se nos anos recentes e, principalmente, de 2020 para cá.

Deixarei a lista aqui, mesmo assim. Será que tem coragem de ler até o fim?

Lá no final tenho uma surpresa para você, mas só vai funcionar se ler o texto antes:

Achar que o Universo nos deve alguma coisa é um dos exercícios e comportamentos mais egóicos que existem. Não somos o centro do Universo… somos menores do que grãos de areia no grande esquema das coisas;

Aprenda a separar aquilo que controla do que não controla. Aplique energia naquilo que controla;

Não existe poupança de dor e sofrimento, muito menos são moedas de investimento. Sofrer hoje não garante o futuro, do contrário o mundo seria um exemplo de igualdade e justiça. Em outras palavras, não existe mecanismo que recompense dor e sofrimento e tenho minhas dúvidas quanto ao esforço. Sim, muita coisa na vida depende de esforço, mas achar que TUDO depende de esforço torna você o peão perfeito no xadrez da vida;

Inteligência emocional não é sobre o controle das emoções. Ninguém controla as emoções. Elas são reações neurofisiológicas do nosso corpo que nos aproximam do bem-estar e nos afastam daquilo que potencialmente nos prejudica ou ameaça a nossa existência. Podemos, no máximo, aprender a reagir melhor quando elas ocorrem;

Não gerenciamos o tempo. Ele tem lastro absoluto. Gerenciamos prioridades e eventualmente, escolhas. E sim, tem muita gente na face da terra que precisa usar de 20 a 40% do seu tempo (talvez mais) em tarefas desumanas e voltadas à sobrevivência. Pense nisso;

Procrastinação é um sintoma, nunca uma causa. No momento atual de coaches afirmando que basta agir para resolver a questão, sugiro ver o vídeo e ler novamente: procrastinação é um sintoma, nunca uma causa;

Ter opções e poder escolher dentre elas não é liberdade se as opções forem previamente escolhidas para nós por alguém. Somos seres com o poder da imaginação, consciência e criatividade. Somos capazes de conceitos abstratos e de comunicá-los. Crie opções e oportunidades e não se limite as opções apresentadas;

A identidade, o eu é transitório. Quem achamos que somos e que o outro é nada mais é do que uma construção nossa que atualizamos sempre que podemos, baseado no comportamento;

E, por causa disso, criamos expectativas demais, que levam a decepções demais. Isso não é conteúdo do outro;

O que nos leva à seguinte consideração: quando sofremos uma decepção com alguém, é muito mais conteúdo nosso do que do alguém. A decepção acontece porque a identidade exercida pelo outro não condiz com as expectativas de identidade que temos para o outro. No fundo, decepcionamo-nos com nós mesmos, não com o outro. E já que falamos sobre isso, pense no conteúdo nosso que projetamos na identidade do próximo através das expectativas. Se não é capaz de enxergar ainda, tente novamente;

O “foda-se” mental, não no sentido da agressividade, xingamento ou adjetivação de alguém, mas no sentido do desapego, é terapêutico;

Por sinal, se uma conversa cai na adjetivação negativa das partes, a comunicação caminha para a direção da agressão, para o  desentendimento e não terá utilidade para ninguém. Conversas inteligentes, produtivas e altamente criativas focam nas ideias e argumentos e nunca na identidade ou autoridade;

Nada é automaticamente verdade por causa da suposta autoridade de quem diz. O ser humano faz o possível para economizar energia (pensar gasta energia), tem preguiça de pensar e mais do que gostaríamos, ignora as ideias e argumentos em si em favor dessa autoridade. Isso tem nome: viés da autoridade e é usado extensivamente nas redes sociais;

Algo que “faz sentido” não é um indicativo inequívoco de verdade. Pelo contrário, é um afago ao ego, manutenção da zona de conforto e também tem nome: viés da confirmação. Esse é especialmente perigoso;

Como seres humanos capazes de criar conceitos abstratos, conseguimos idealizar as mais belas concepções e os mais vis desejos. Entre um e outro resta a individualidade (no sentido de sermos únicos) da existência humana. É exatamente por isso que a comparação é destrutiva e potencialmente leva a obliteração de praticamente todos aqueles opostos a nós, “concorrentes“… já a cooperação é fundamental para a nossa evolução;

Todas as redes sociais, sem exceção, são uma projeção idealizada de identidade, uma imagem de um alter ego de perfeição e desejo, uma produção maquiada, filtrada e produzida;

Identidades virtuais ou alter egos nas redes sociais onde a suposta felicidade, sucesso, goodvibes, positividade, bem-estar e realização são constantes, são o perfeito exercício de uma fuga e não representam a existência humana. Não compare a sua despensa com o palco de ninguém;

Por outro lado, nem tanto, nem tão pouco. Equilíbrio é a chave. Se a positividade pode ser tóxica ao realizar uma busca insana por ela, 100% do tempo, o conteúdo que consumimos também pode ser tóxico. O nosso estado emocional é influenciado a todo o momento (as propagandas são especialistas nisso). Nem sempre conseguimos reagir da forma como planejamos, mas muitas vezes consumimos aquilo que não levará aos resultados que desejamos e não nos damos conta. Dá uma olhada nesse texto aqui;

Como disse Kierkegaard, “A raiz da infelicidade humana está na comparação”;

E essa comparação acontece de inúmeras formas, até em nosso nome. Se alguém chegar e disser que deveria estar feliz (tem a obrigação de sentir-se feliz ou não tem o direito de estar triste) porque você “tem tudo” ou tem gente na merda ou pior do que você, cuidado: isso pode ser inveja, mas certamente é julgamento, comparação e falta de empatia por parte desse alguém (nenhuma pessoa tem a capacidade nem o direito de julgar a dor de ninguém – dica: se não há compreensão, que haja silêncio). Somos mais de 7,5 bilhões de pessoas únicas, com seus próprios desafios e questões. Cuide do seu corre, agradeça pelo que tem (pois são as ferramentas e recursos que pode usar, principalmente as internas) e se tem gente na merda, ajude (o que trará bem-estar), mas não use como critério de comparação;

Você tem o direito de ficar puto, com raiva, triste, revoltado e de luto. Faz parte de ser humano. Aceite. Não caia na armadilha de reprimir emoções e sentimentos negativos, achando que a positividade (tóxica) resolverá todos os seus problemas. Não resolverá, da mesma forma que reclamar também não. Entretanto, se sente-se triste e sem energias por longos períodos de tempo (mais do que duas semanas), consulte um especialista;

Quem cuida de saúde mental primariamente são os psicólogos e psiquiatras. Este deve ser o tratamento principal e prioritário. Caso não tenha condições financeiras, procure os departamentos de psicologia e psiquiatria das universidades e faculdades em sua região. Todo e qualquer suposto tratamento fora dessa área de conhecimento pode ajudar (e muitos ajudam, de fato), mas são alternativos, coadjuvantes e secundários. Veja este vídeo;

Não há felicidade perene nem desespero ou tristeza eterna. Tudo passa. A vida é constituída de ciclos e contrastes, mesmo motivo pelo qual a representação de perfeição das redes sociais é uma falácia que leva à depressão para quem produz conteúdo e para quem consome;

Se por qualquer motivo, crença ou comportamento você pensa em alguém ou um grupo como superior, inferior, melhor, pior, mais ou menos evoluído, houve comparação. Não somos melhores ou piores, somos diferentes;

Se por causa de uma religião você deseja o mal a alguém, vai contra a própria concepção etimológica do termo, que vem de “religare“. Pesquise no Google, ouça a música “Manifesto” (Vintage Culture, Anmari, Wolfire), lendo a letra;

A cooperação da diversidade, de existências e pensamentos leva a resultados extraordinários;

Somos mais em grupo do que a soma das individualidades;

Aceitar não é igual a concordar;

É possível aprender sem necessariamente agir, mas não existe aprendizado sem mudança;

Se você não se permite questionar o que acha que sabe, pouco aprenderá;

Humildade, caridade, doação e altruísmo anunciados não são nenhuma dessas coisas. É fomento ao ego;

Vulnerabilidade não é vergonha, mas a sociedade fará você acreditar que é, porque isso atende a uma agenda de manipulação e comparação. Muitas pessoas procuram sentir-se “melhores” do que alguém agindo para “rebaixar” o próximo. Vulnerabilidade pode ser uma enorme fonte de aprendizado e força. Aliás, se não reconhece as próprias vulnerabilidades por causa da vergonha imposta por fatores externos, a jornada de autoconhecimento pode sequer ter começado;

Olhar para o passado e ter um pouco de vergonha do que fez ou pensou um dia é um excelente sinal de que hoje está melhor do que ontem. Houve evolução;

Arrepender-se é avaliar quem foi, reconhecer as merdas que fez e trabalhar para reparar. Quem não se arrepende de nada não aprendeu nada também… e a prova disso é mais simples do que imagina: não há ser humano perfeito. Se acha que não fez merda um dia com alguém, não é um ser humano (ou há uma tendência sociopata aqui);

Ninguém sabe totalmente o que está fazendo. Ninguém. Por mais autoridade, sapiência ou eloquência que a pessoa demonstre, todos estamos perdidos em algum nível, ampliando horizontes, exercitando o encontro com algo ou alguém, passíveis de falhas, erros e acertos. De fato, estamos todos fazendo o melhor que podemos, com os recursos que temos disponíveis e… é exatamente esse o motor da nossa evolução;

Propósito não precisa ser externo, muito menos entregue a nós. Isso é apenas confortável: isenta-nos da responsabilidade de olhar para dentro e descobrir quem somos. Se você procura respostas em algo ou alguém, talvez esteja evitando conhecer quem é ou tenha medo do que descobrirá. Perceba como talvez pule de galho em galho, procurando uma pílula mágica que resolva instantaneamente todas as questões, uma resposta no externo para explicar a forma como sente e age e, toda vez que não concorda ou “não faz sentido”, pula para outro galho. Não há pílula mágica. A busca mais importante é para dentro, não para fora. Busque o que habita em si, reconhecendo os vales e montanhas, os lugares claros e escuros, os monstros e os anjos. Todos são… você;

É possível encontrar sucesso, felicidade e realização dentro da gente, nas pequenas coisas e na jornada em si, não apenas no alcançar de objetivos;

Aliás, objetivos são importantes no contexto da vida, mas a jornada ensina mais do que o alcançar deles. O aprendizado da jornada permite o sucesso.

Chega de lições. Agora, encontramos o presente… e ele é uma reflexão:

Concordou ou discordou de mim em algum momento e, por causa disso, agora quer me seguir nas redes sociais ou pensou involuntariamente “que idiota”, “ridículo”, “que maluco” ou outro adjetivo? Sugiro ler este texto sobre punição e recompensa.

Sugiro ler este outro também, onde falo sobre a Pirâmide da Discordância de Graham.

Chegamos ao fim, na parte onde desconstruo tudo que foi dito aí em cima. É isso mesmo…

Quando falei em uma das lições que todos estamos de certa forma perdidos, fazendo o melhor que podemos, incluo-me no grupo.

Não há regras para a vida e as lições acima são individuais. Se você chegou até aqui achando que essas lições irremediavelmente se aplicam a você e que eu tenho as respostas, bem… você pode até sentir-se inspirado, mas a jornada é sua e as minhas palavras são apenas minhas. Também estou no trabalho de me encontrar.

Entretanto, isso não nos impede de darmos as mãos e seguirmos juntos. Podemos, inclusive, trocar ideias em busca de novas respostas. Nossas verdades podem ser diferentes, mas a interação dessa diversidade, com respeito, permite o desenvolvimento mútuo.

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Ressaca

Já bateu a ressaca? Ela eventualmente chegará.

Moral, financeira ou bastante real na figura do exagero alcoólico ou através de outras drogas lícitas ou ilícitas.

O “sextou” de toda a semana, que vira o Réveillon.

Apesar da virada do ano ser o simbolismo da renovação, tecnicamente o dia 01 de janeiro é idêntico ao dia 31 de dezembro.

Em termos de natureza, pode ser. Mas para nós, seres humanos desejantes por mudança externa, fruto de um castelo de cartas de expectativas, não é… e pouco fazemos para mudar a nós mesmos.

No momento, temos uma situação peculiar: o dia 1 de janeiro cai em um sábado… teremos o domingo de intervalo e a segunda do batente, da realidade à porta. Aliás, escancarando a porta.

Temos uma delimitação bastante clara entre o que foi e o que será em nossas mentes. Por enquanto, apenas em nossas mentes.

As redes sociais inundadas de fotos de bem-estar, fartura e felicidade, pessoas afirmando que só aceitarão goodvibes e energias positivas para o ano que começa.

O universo não precisa agradar a você.

Aliás, cada um de nós é menor do que um grão de areia, um breve suspiro no grande esquema das coisas.

Esperar que tamanha grandiosidade afague o nosso ego individualista é o maior exercício egóico que consigo imaginar.

Mas a ressaca passa também. Tudo passa.

E na segunda, tudo volta a ser como era antes e não volta apenas porque a existência é injusta.

Volta também porque atribuímos ao externo a nossa felicidade, sucesso e realização.

Atribuímos até ao externo nossa concepção de propósito. Terceirizamos os quatro, além das emoções e responsabilidades!

Queremos que o mundo mude para nós, mas poucos querem mudar para o mundo.

Então, após a ressaca passar, imagine o que pode fazer para o todo. Para o próximo.

Imagine o que pode sair de dentro de você para que você mesmo chegue aonde quer chegar.

Você pode ler até aqui e achar este texto pessimista ou negativo… pelo contrário.

Ele é a realização plena de que cada um de nós tem mais autonomia e responsabilidade do que desejamos.

Como disse Freud certa vez:

“A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, porque liberdade envolve responsabilidade e a maioria das pessoas tem medo da responsabilidade.”
Sigmund Freud

Então, ao encher a boca para dizer que só quer energias positivas em 2022, pense no que pode fazer a respeito. Aliás, aceite que a vida é um caminho de contrastes, de altos e baixos… que vão e vem em ciclos.

Para muitos, o primeiro minuto do ano seguinte é o início do carnaval, um ciclo que dura cerca de 2 meses e apenas após o qual o ano se inicia.

Cada dia, cada hora e cada minuto é um tempo a menos. Não espere março para viver a vida, porque ela já está sendo vivida a cada segundo, queira ou não.

E não, não é uma visão puramente utilitarista que proponho. É a realização de onde surgem em nós os elementos e recursos para que mudemos a vida no sentido daquilo que planejamos.

Sugiro que leve o tempo que quiser… mas quando o seu ano começar, não espere que haja uma reverência ao seu desejo de bem-estar, sucesso e felicidade, um conjunto de expectativas a partir dos outros.

Busque e seja a referência com ações, na medida do possível. Vamos olhar para dentro e perceber o que habita em nós.

Agora, ao invés de imaginar o ano apenas como um bebê nascendo ou 365 oportunidades, perceba o que nasce dentro de você.

O que 2022 tem pra mim? Não sei. Sei que estou olhando para dentro em busca do que eu tenho para ele.

Estes 365 dias são telas nem sempre em branco, mas eu tenho um pincel e tinta nas minhas mãos e dá pra pintar muita coisa.

Desejo a você muito mais do que felicidade, sucesso e realização.

Desejo a capacidade de adaptar-se não importa o que aconteça.

Desejo o reconhecimento da linha que separa o que controla do que não controla, da autonomia que possui ou pode buscar e a apropriação da responsabilidade advinda deste exercício de percepção.

Ao invés de pedir ao Universo que seja bonzinho com a gente, pedindo tudo do bom e do melhor e esperar que nossos desejos de bem-estar sejam atendidos, que tal agirmos ativamente neste sentido?

Pegue o seu pincel e comece agora.

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Renovação

Hoje acordei às quatro e meia como usualmente e senti algo que não costuma estar lá.

Quase dá pra pegar no ar algo diferente, uma sensação mais evidente de bem-estar.

Depois de um litro de café e de endereçar as primeiras tarefas do dia, fui à praia caminhar.

Praia vazia como é, tão cedo, junto com um mar cheio e insistente.

À cada passo em direção à água, pareço entrar em um mundo utópico e distinto.

Acaba de chover e o sol, já se fazendo presente, deixa clara a natureza da natureza, de que tudo que começa, acaba.

Areia molhada e fria, fortes sons, cheiros de sargaço e mar.

Meu olhar passeia da ponta dos dedos dos pés molhados até a linha do horizonte… quando vejo um vazio de estímulos acompanhado de um peito cheio de questões.

Os olhos mantém-se em movimento e fogem sobre o ombro… e o corpo acompanha lentamente… uma selva de pedra me encara imponente e impotente diante mais uma vez… da natureza da natureza, de que tudo que acaba, começa.

Que sensação boa, pensei.

Lembro de pouco mais de um ano atrás, ao ensaiar sair da última crise de depressão, quando o passo dado assemelhou-se ao de agora.

Então, uma ida à praia após anos, um caminhar sobre arrecifes, fortes emoções e um recomeço.

Sentir-se vivo, como hoje, a vida chegando em ciclos de altos e baixos, em ondas como as que tocam os meus pés.

Em outubro do ano passado, não queria que a sensação passasse.

Mas passou. Tudo passa.

Agora, quero o mesmo e não sei o que o futuro me reserva, mas sobra o desejo de me agarrar ao momento e não deixar passar.

Talvez a renovação, talvez o aprendizado e a aceitação sejam uma barganha.

Quem sabe a indignação, a raiva, o medo, a felicidade, a tristeza e a realização façam-se presentes.

Sejam bem-vindas.

Dissocio do momento e percebo que há algo diferente de outubro do ano passado, não importando os ciclos, as coisas que aconteceram ou a semelhança da situação.

Não houve repetição.

Não sou o mesmo. Adaptei-me. Cresci.

Talvez o dia primeiro de janeiro seja tecnicamente igual ao dia trinta e um de dezembro… mas a salutar análise do momento presente e do passado revela uma renovação acontecendo.

Deixei de ser ele para tornar-me eu, mais uma vez, pela primeira vez.

Abro os braços, emociono-me mais uma vez e começo a andar pela praia de olhos quase fechados, agradecendo pelo fim da tristeza.

Hoje… ah, hoje é diferente. percebo o sucesso.

Agora entendo, se utópico à primeira vista por preconceito, um resquício de acreditar que nada pode ser tão bom, simplesmente me permito e aceito.

Esperança, obrigado.

E se um dia não encontrá-la, lerei esse texto.

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Sobre Adjetivos, Estereótipos, Comparação e Diversidade

Depois de expor tanto ao longo dos últimos anos sobre estereótipos, preconceito, diversidade, criatividade e comparação versus cooperação em vários conteúdos, percebi que não tenho nenhum específico e unificado sobre o tema.

Chegou a hora de reuní-los.

Como Tudo (Potencialmente) Começou

Tudo começa pelo conceito do ser humano como ser social e da sua necessidade de pertencimento.

Isso não é novo, evoluiu conosco provando ser um mecanismo de sobrevivência eficaz.

Talvez o resumo mais eficiente do assunto seja afirmar que somos como grupo mais do que a soma das partes.

Imagine existir em um mundo onde praticamente tudo pode lhe matar. O indivíduo, diante deste contexto, pode pouco. Mas descobrimos em algum momento do passado que, ao ajudarmos uns aos outros, nossas chances aumentam muito.

Tenho especial apreço por um argumento atribuído à antropóloga Margaret Mead.

Sobre o início da civilização e da cultura, a sua resposta surpreendeu muita gente:

“Qual o sinal mais antigo da civilização? Um pote de barro? Ferro? A agricultura?”

Não.

“Para ela, a evidência mais antiga de uma verdadeira civilização é um fêmur curado [um osso enorme da perna, fundamental e de difícil reparo]. Ela explica que uma cura como essa nunca foi encontrada nas reminiscências de culturas competitivas ou sociedades selvagens. Pelo contrário, nestas, pistas de violência são comuns. (…) Mas um fêmur curado mostra que alguém deve ter cuidado da pessoa ferida – caçou em seu lugar, trouxe comida e serviu ela através do seu sacrifício pessoal. Sociedades selvagens não se sujeitavam a essa “pena”.”

Mas para ser soma, o grupo precisa ser formado.

É ainda um mistério parcial o entendimento dessa mecânica por completo. Algumas evidências apontam para a influência do local ou região (proximidade regional relacionada à recursos), características físicas e adequação protocultural nos primórdios da existência dos nossos ancestrais.

Como cheguei a escrever anteriormente, tínhamos uma situação nesses primórdios onde a reunião pode ter sido influenciada pelo local e o acesso a recursos (água, alimento, abrigo), mas isso também acabou por influenciar a identidade das pessoas pertencentes ao grupo (para dois exemplos extremos, imagine as diferenças entre uma pequena sociedade de esquimós no ártico e uma de beduínos vivendo no deserto).

Natural, em um contexto desses, que grupos distintos tenham se confrontado eventualmente em busca de recursos.

A partir do momento em que isso ocorre, faz-se necessário distinguir membros de cada grupo, o que provavelmente também ocorreu através de elementos como a localização, aspectos físicos e culturais, traduzidos em comportamento, vestimentas, linguagem e tantos outros meios.

Estamos falando de uma época onde a força física e violência imperavam por pura necessidade. A capacidade de exercer domínio, assim como defender-se, atacar e caçar eram fundamentais à sobrevivência não só do indivíduo como do coletivo.

Dentro do próprio grupo, surgem as primeiras hierarquias, provavelmente definidas também pela capacidade física.

Um bom sistema de sobrevivência onde os mais fortes têm acesso primário à comida e à reprodução, enquanto os não tão fortes realizam outras tarefas em troca de proteção, alimentação e sobrevivência.

Temos então um ecossistema onde há a luta pelo poder e há o surgimento de hierarquias. Em um contexto como esse, é inevitável que tenham aparecido as primeiras situações de comparação não só entre indivíduos dentro do grupo, mas com outros grupos.

Contribui-se com o trabalho ou com a força e chega-se ao topo da hierarquia através do exercício da violência e da obliteração dos adversários.

Portanto, em uma existência pautada pelo concreto e tangível, pela sobrevivência e pela força, pertencer a um grupo que provenha mais chances de manter-se vivo é um diferencial importante tanto quanto fazer com que as chances do grupo sejam maiores.

Como sistema eficaz de sobrevivência que se destacou através da evolução do ser humano como vantagem, não é de se espantar que cerca de um milhão de anos depois, tenhamos ele como uma parte profunda de todos nós e isso tenha levado à formação das nossas civilizações.

Imaginação, Criatividade e o Intangível

Mais recentemente, surgiu a habilidade de criar conceitos complexos e abstratos usando a nossa imaginação, algo provavelmente responsável pelo surgimento de grupos cada vez maiores de seres humanos.

A partir daí, mais do que nunca, conceitos abstratos passaram a ser parte essencial nessa distinção: a adição de elementos intangíveis como ideias e concepções calçadas em crenças, para os quais atribuímos valores, capazes de separar indivíduos e grupos através de um conjunto de regras de comportamento compostas em segmentos que se transformaram em cultura. Perceba, inclusive, que existem diversos exemplos de sociedades onde o topo da hierarquia deixou de ser pautado pela força física, mas pela experiência.

Hoje, vemos facilmente uma versão disso emulada nas redes sociais: temos grupos de pessoas que defendem ideologias, políticos, expressões religiosas e espirituais, dicas de bem-estar, desenvolvimento pessoal e tantas outras tribos, não ausente de conflito por crenças contraditórias ou até opostas, totalmente associadas à identidade de quem pertence por percepção própria ou reconhecimento da tribo.

Em síntese, pertencer e comparar não é forte em nós por aleatoriedade. Foi por uma questão de sobrevivência inicialmente. Mas com a adição dos conceitos abstratos que levaram ao surgimento da cultura e da linguagem, junto com a comparação natural em favor da sobrevivência, outro elemento surge também: as primeiras relações de poder associadas ao conceito de identidade.

Byung-Chul Han descreve essa mecânica de forma exemplar em “O Que é Poder“, ao versar sobre Canneti (Canneti, Massa e Poder, 1960):

“O assassinato do outro [e da sua identidade ou parte da simbologia de sua existência] termina com a relação de poder. Entre seres humanos que se matam uns aos outros, o poder não tem lugar. Há apenas uma diferença de força física. O poder autêntico ocorre, na verdade, quando um deles, seja por medo da morte possível ou antecipando a superioridade física do oponente, se submete a este [neste caso, a identidade que arbitra agir é preservada e a relação de poder também]. Não a batalha que leva à morte daquele, mas a sua ausência [escolha de não agir face à ameaça] é o que constitui o poder em sentido autêntico.”
(itens em negrito são observações minhas).

Portanto, para preservar as relações de poder, a identidade através da existência é fundamental, bem como a comparação entre identidades. Ainda, como diz Byung-Chul Han no parágrafo anterior:

“O poder, contudo, é uma relação. Sem alter e ego não há poder.”

Não que a citação acima não seja conveniente. Ela é estratégica.

A Base do Preconceito

Quanto mais conceitos abstratos associamos ao longo dos séculos à identidade, mais possibilidades temos para o universo potencial do ego, ao ponto de, hoje, termos concepções totalmente intangíveis, como o conceito de posse associado não ao valor intrínseco, mas a uma marca ou dinheiro por exemplo (já pensou sobre como o dinheiro é uma história totalmente intangível na qual todos acreditam?), e o possuir como fator de fomento egóico.

Não podemos esquecer da autoridade (campo vastíssimo, incluindo a autoridade intelectual, religiosa ou espiritual, política, militar, social, governamental, institucional, familiar, moral, autoritária, hierárquica, tradicional ou cultural, carismática, legal e tantas outras).

A autoridade, por sinal, é um excepcional exemplo da questão associada à identidade. Um indivíduo pode se perceber uma autoridade em algum campo, mas é o reconhecimento deste mesmo indivíduo pela sociedade e outros grupos que valida a autoridade e reforça a identidade como tal (e o ego, por consequência). Quanto maior a autoridade, maior a concepção de que “sou melhor do que você ou do que um grupo” e o poder potencial.

Definitivamente, não estamos presos a estes conceitos apenas. Existem inúmeras características que supostamente definem as tribos atuais e as estipuladas regras de pertencimento, muitas vezes veladas.

Mais recentemente, temos o ápice (até o momento) da transferência egóica, a criação do alter quase perfeito. A identidade projetada nos avatares virtuais, em mídias eletrônicas como as redes sociais. Uma projeção muitas vezes calculada, uma idealização construída com a intenção fundamental de parecer “melhor” para sentir-se melhor.

A busca aqui é construir um alter constituído de uma identidade com as características mais próximas do desejo e da perfeição, com o máximo de autoridade possível, situação tão séria que há inúmeros exemplos onde há a intenção de que o alter substitua o ego. O eu externo passa a valer mais do que a existência humana. Alguns filósofos tratam da questão atualmente como uma potencial transição e fica a pergunta: não seria essa transferência um novo cenário da nossa existência? O desejo crescente e sem limites de se tornar a identidade idealizada… tornando-a realidade.

Chegamos então ao curioso caso da coisificação de todos esses aspectos intangíveis, assim como da própria identidade. Ela foi coisificada, transformada em algo transacionável (influência?) um produto à venda na prateleira social. Até o conceito de beleza foi coisificado.

Um passo antes, o que há?

Comparação, fundamentada em todos os aspectos acima.

Temos a comparação como a raiz para a busca pelo sucesso, felicidade e realização. Se há metas e objetivos, há a comparação. Ao invés de olharmos dentro de nós mesmos à procura de tais elementos, os três passaram a ser codependentes do sucesso, da felicidade e da realização dos outros. Metas a serem cumpridas, objetivos a serem alcançados.

Mais, através da comparação é possível, inclusive, a movimentação hierárquica e o exercício de instâncias de poder e dominação.

Ou influência, se preferir, para usar mais uma vez uma palavra na moda que até virou profissão.

Portanto, soma-se à percepção de pertencimento os conceitos de outrora às concepções intangíveis (transformadas em transacionáveis) atuais. Tudo aquilo que pode (e é) associado à identidade, é também usado para classificar e separar as pessoas em caixinhas estereotípicas.

Aliás, importante notar que fazemos um esforço sem igual de encaixar qualquer coisa “diferente” em uma caixinha. Existe até a própria caixinha do “diferente“. “Diferente” é percebido como não pertencente ao “meu” grupo e uma potencial ameaça.

Com elas, após a classificação estereotípica, atribuímos aos indivíduos pertencentes todas as características que nós mesmos temos para cada estereótipo, ignorando completamente a unicidade natural de cada ser humano e sem quaisquer interesses de saber mais. Um dos principais efeitos colaterais desse movimento é a adjetivação de pessoas e grupos.

Tememos o que não conhecemos. Tememos o diferente.

Surge então o preconceito como exercício de poder e superioridade. Compara-se, classifica-se, associa-se a um estereótipo, adjetiva-se negativamente e exerce-se o poder através do preconceito, como busca doente de um suposto bem-estar através do ser “mais ou “melhor” do que alguém ou um grupo, muitas vezes atuando ferozmente na desqualificação das demais identidades objeto de comparação.

Diante da estereotipação, surgem emoções básicas como nojo e desprezo. Enquanto o desprezo tem uma conotação intelectual de superioridade, o nojo tem uma base de sobrevivência (por exemplo, manter-se longe de algo que pode potencialmente envenená-lo).

E não é que o sentimento de envenenamento intelectual faz muito sentido?

No caso do preconceito, o nojo passa a ser intelectual também, baseado na representação da identidade formada para o alvo do estereótipo. Em ambos os casos, houve um aprendizado através dos grupos e sistemas aos quais se pertence (família, trabalho, comunidade são exemplos) onde o estereótipo é formado. Sim, trata-se de algo tão perigoso e difícil de combater por causa das suas origens e das emoções que desperta.

Essa comparação, que incentiva uma competição desenfreada em busca da felicidade, sucesso e realização, cria situações totalmente destrutivas e de insatisfação constante. Uma sociedade insatisfeita e coisificada, que deposita a felicidade, o sucesso e a realização em elementos externos, é uma sociedade de um consumo doentio e do cansaço, que busca na descarga de dopamina constante, a felicidade (aquisição, drogas lícitas ou ilícitas, competitividade, exercício de poder e superioridade), em busca de mais um suspiro de sobrevida, apesar da exaustão.

Entretanto, como disse em um texto anterior:

Não somos mais nem menos. Somos diferentes.

E nossa, não há poder maior para a humanidade do que a interação dessa diversidade.

Nossa realidade hoje é outra, pautada por conceitos cada vez mais complexos e que exigem um alto poder cognitivo e imaginativo.

Ao promover uma irremediável associação em grupos de pessoas com características supostamente semelhantes, o que traz o conforto do pertencimento, de poucas mudanças e o poderoso viés da confirmação, a realidade atual e o nosso futuro dependem da criatividade, da inovação e de pensar o novo rapidamente.

Eles dependem da nossa habilidade em focar nas ideias e não na identidade das pessoas ou estereótipos.

Perceba as forças contrárias em jogo aqui.

Um mecanismo inato e milenar de sobrevivência, apto a uma realidade dos nossos antepassados com pouca capacidade inventiva, versus o momento atual de altíssima necessidade e habilidade cognitiva e que exige a aceitação de diferenças em busca do novo. É como um quebra-cabeças: cada um de nós uma peça diferente e essencial à formação da imagem do final. Neste caso, não há fim. Há jornada e evolução.

Temos a ilusão advinda dos exercícios de poder do passado, através do embate dos grupos de indivíduos com características semelhantes, de que a maneira mais eficaz de obter resultados é o conflito.

Mas é exatamente o contrário: o extraordinário acontece quando as diferenças e individualidades são aceitas, permitindo a interação da diversidade de pensamentos, emoções e ideias, algo que incentiva a cooperação e não a comparação e competição.

E sim, o choque ocorre a toda hora, a todo momento.

Como podemos então migrar para uma abordagem mais sadia?

A Pirâmide ou Hierarquia da Discordância de Graham

Agora que exploramos vários conceitos fundamentais, apresento-lhes outro do qual sou fã, faz parte do meu livro e já mencionei por aqui. Tenho um vídeo que também aborda o tema.

Criada pelo investidor Paul Graham em 2008 meio que na brincadeira, ela fala sobre como argumentar na Internet. Entretanto, o conceito é muito mais poderoso e exprime muito bem quando há a aceitação ou não de ideias ou quando o processo de comparação está em exercício e, principalmente, se ele está no nível da identidade.

Pirâmide ou Hierarquia da Discordância de Graham

Devemos fazer um esforço e mirar sempre numa argumentação de melhor qualidade (no topo da pirâmide). Perceba que lá, não tocamos na identidade ou na liberdade existencial de cada um. O foco é o argumento, a ideia, a proposição.

À medida em que se caminha para a base da pirâmide, mais percebe-se a identidade do interlocutor, chegando ao ponto da comparação ser tão extrema que há a necessidade de desqualificá-lo ou eliminá-lo. Vejamos cada etapa a seguir.

Direto Ao Ponto

Focado na ideia ou conceito. É o melhor e mais rico nível de argumentação, onde há respeito mútuo e o foco é o ponto central da ideia, conceito ou argumento que foi colocado. Tem o poder de derrubar totalmente a proposição inicial. Visa completamente o conteúdo central e em nenhum momento questiona os autores, sempre fazendo referência aos pontos de discordância e fornecendo as evidências necessárias.

Focado em Erros e Trechos

Ainda focado na ideia, mínima percepção da identidade do interlocutor. Neste nível há contribuição real para os participantes e, se a contra argumentação for feita de forma eficaz, ela deve derrubar parte da proposta inicial. No entanto, como não consegue perceber (ou não aborda) o ponto central da ideia, não refuta o raciocínio original como um todo. É útil e pode ser explorada para que chegue no nível acima, basta ampliar o conhecimento acerca do argumento de partida e do seu contexto. Existe o respeito mútuo e o foco está nos argumentos.

Contra Argumentação

Existe a visão da ideia ou conceito, mas o objetivo já passa a ser contrapor a identidade do interlocutor. Oferece uma posição contrária ao argumento original ou partes, mas não foca em nenhum deles, apenas oferecendo uma justificativa pelo qual é contra. Continua existindo respeito entre as partes. Pode ter alguma utilidade, mas dificilmente se conseguirá elevar a argumentação para o nível acima, talvez por falta de compreensão do que foi dito.

Sou do Contra

Mínima visão do conceito. O foco passou a ser a identidade do outro. É quando existe uma postura contrária à questão e não se fornece nenhuma justificativa. Mesmo que não ataque o autor original, não há utilidade alguma nesse tipo de argumentação para ninguém envolvido e ele está normalmente baseado em crenças ocultas.

Focado no Tom

Não há mais nenhuma percepção da ideia ou conceito e o objeto da argumentação é a metalinguagem: a suposta incapacidade do interlocutor de expressar-se.

Ad Hominem

Foco na identidade do interlocutor e o objetivo passou a ser desqualificá-lo. Esqueça o argumento e até o assunto em questão. Aqui, ele sequer será abordado. O foco está na desqualificação do autor, atacando a sua identidade e competência.

Xingamentos

Não há mais interesse em desqualificar o interlocutor. O objetivo passou a ser obliterá-lo. No nível mais baixo de todos, o que reina é a agressividade,  a violência, a ofensa e o desrespeito, mútuo ou não. São os xingamentos, as grosserias e talvez até as agressões físicas. Adjetivos são a regra e a comparação, junto com julgamento e conflito exercem o maior poder.

A pirâmide de Graham pode ser usada como ferramenta excepcionalmente útil por cada um de nós para detectar se estamos nos relacionando com outras pessoas através da cooperação e no nível das ideias ou se estamos indo em direção à identidade e à comparação.

Há Esperança?

Há, certamente.

E a tradução dessa esperança em realidade passa pelo entendimento e pela aceitação de que não somos melhores ou piores do que ninguém. Somos diferentes.

E isso é fantástico!

Como gosto de dizer (algo que pratico no dia a dia, mas não ausente de desafio), se somos expostos a uma ideia, conceito ou concepção e adjetivamos negativamente a pessoa que nos expôs (mesmo que mentalmente), há uma evidência de que estamos caminhando para a base da pirâmide. Neste caso, há uma fuga da aceitação das diferenças e um movimento em direção ao conflito.

O que proponho é que a mudança necessária comece dentro de cada um nós. Não podemos arbitrar sobre o que o próximo pensa ou sente. Podemos, sim, fazer a nossa parte para ter um futuro de grande evolução e paz. O que nos diferencia do nosso passado é justamente aquilo que exige uma mudança de pensamento se quisermos sobreviver como humanidade com menos conflitos.

“A raiz da infelicidade humana está na comparação”
Søren Kierkegaard


Leitura adicional:

 


Não consegui achar a origem da imagem usada nesse texto. Caso infrinja direitos autorais reservados, favor entrar em contato para remoção. Obrigado.

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Degraus

Comecei este texto com um spoiler gigante logo no título.

Vamos falar de sucesso e fracasso.

Só que de um jeito diferente.

Comecemos pelo sucesso.

Comemorar conquistas é essencial biologicamente falando. Disparamos toda uma química poderosíssima de bem-estar em nosso corpo com o ato de celebrar.

Traz satisfação, felicidade e realização.

Mas existe um lado do sucesso, da conquista e da celebração que não só está presente no fracasso como são idênticos.

Um lado muitas vezes sequer percebido e talvez o mais importante: o encerramento de um ciclo e o início de outro.

Pense numa escada, com vários degraus e, no topo dela, o sucesso, o objetivo a ser alcançado.

Cada degrau é um fracasso ou um pequeno sucesso na jornada.

Cada degrau é um ciclo.

A cada um deles, temos a oportunidade, a chance de aprender com o que aconteceu e subir outro degrau.

Se não houver aprendizado, a chance se esvai.

Se ele acontece, um ciclo se encerra, outro se inicia.

E quando chegamos ao topo, a mesma coisa acontece: aquele ciclo de tentativa, erro, fracasso e finalmente sucesso, se encerra. Crescemos, evoluímos e podemos agora construir algo novo, uma nova jornada à um novo sucesso.

Não existem atalhos: se você não está aberto a errar, falhar e aprender, o sucesso NUNCA chegará para você.

Lembre-se: reconheça todos os ciclos e festeje pequenas conquistas também. Trata-se de uma sinalização fundamental para a nossa percepção de realidade e evolução.

“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.”
Bernardo de Chartres

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Utilidade e o Direito de Existir

Quando recebi aquela mensagem pelo LinkedIn no dia 15 de fevereiro de 2021, meu coração explodiu de emoção.

Um misto de felicidade, medo, apreensão, incompetência, competência, utilidade (e inutilidade)… um verdadeiro caldeirão de sentimentos e conceitos conflitantes.

Sensação de incompetência pelos 14 meses sem emprego; competência pelo reconhecimento do trabalho realizado no passado; utilidade pela associação imediata entre trabalho e existir.

Será mais uma entrevista infrutífera? Será mais uma das centenas de candidaturas que não dão em nada e não recebo nem um posicionamento?

Foram 14 meses de questionamentos.

Em 15 dias, estava empregado. Foi um presente de aniversário pensar em um contracheque, ainda mais em um lugar agradável e acolhedor.

Comemorei o aniversário (e o emprego) fazendo um jantar e, para meu pai… bem, talvez ele tenha entendido pouca coisa. Mas entendeu o suficiente.

Recebi uma educação extremamente utilitarista. Ele, como ex-militar que viveu uma guerra mundial quando criança, educou para “os rigores da vida”. Educou no viés da associação irremediável entre existir e ser útil.

Não lembro quantas vezes enfrentei a depressão desde a primeira crise em 2001. Tive que filar das minhas declarações de imposto de renda e só tenho registros de 2007 para cá. Incluindo os anos sabidamente problemáticos e considerando tratamento psiquiátrico como evidência, temos:

2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2013, 2014, 2018, 2019, 2020, 2021.

Aí, inclui anos em que estava em crise e anos onde paguei um profissional (ainda bem, tive condições), de acordo com as declarações.

Caraca, 14 anos?

De 20 anos, não vivi 14 em crise. Fiz pesquisa semelhante para o meu livro e concluí que, crises mesmo, foram 5 (2001, 2005, 2012, 2018 e 2020), praticamente todas relacionadas a emprego e relacionamentos.

A utilidade. A prover… e não conheço algo que afete mais o senso de utilidade e provimento do que uma depressão.

Senti-me um fracasso ao escrever esses anos aí em cima. A realidade batendo com força essa lista na minha cara, quando enfrentei uma condição por muito mais tempo do que gostaria e quando tornei a vida de muita gente um desafio (pra ser light).

Entretanto, quando me deparei com o conteúdo de Brené Brown pela primeira vez, algo em seu livro atraiu a minha atenção irreparavelmente.

Ela iniciou suas pesquisas sobre vergonha e vulnerabilidade no contexto feminino ainda na década passada, até receber a visita (e um comentário) masculino, quando expandiu sua atuação.

Essa passagem caiu como um raio na minha cabeça:

A Coragem de Ser Imperfeito, Brené Brown, Página 59

Claro que o livro contextualiza muito bem a situação e a pesquisa da vida da autora (leitura recomendada, inclusive). Mas é fato que vivemos na sociedade da produtividade, do resultado e do esconder fraquezas a qualquer custo.

Quando li isso anos atrás, comecei a refletir sobre a associação da sensação de utilidade com realização, felicidade e depressão.

Ano passado (2020), essas reflexões ficaram bem mais contundentes.

Não é razão de ser deste texto falar que homens são especiais. Pelo contrário. A questão, como bem coloca a autora ao longo do conteúdo que produziu a partir das suas pesquisas, é que essa situação descrita é apenas uma dentre tantas que existem no intuito de marginalizar a fragilidade, a vergonha e a vulnerabilidade, associando-os à fraqueza.

Trata-se de algo ainda mais perigoso se considerarmos a associação do conceito de erro ou falha à fraqueza também.

Quando decidi produzir conteúdo sobre a depressão em 2016, a vergonha tomou conta de mim e eu tenho a plena certeza que ela toma conta de cada uma das pessoas que enfrenta a condição. Vergonha de parecer frágil e vulnerável. Fazemos o impossível para esconder tudo isso do mundo criando uma persona muitas vezes bem longe das capacidades e da realidade do ser humano.

Cada um de nós tem fraquezas. Tem vulnerabilidades, erra e fracassa. Somos seres imperfeitos produzindo imagens ideais de perfeição para o consumo alheio na prateleira da sociedade, mas isso é algo impossível de sustentar em longo prazo.

Não descreverei aqui o fantástico trabalho de Brené Brown; peço com a devida reverência o seu argumento emprestado para afirmar que o ato de prover e sentir-se útil (“produzir”) são algumas das minhas vulnerabilidades. Adoeci por causa disso e é algo ainda em sedimentação dentro de mim.

No ano passado, no meio da pandemia e sem emprego, o que mais me atingiu foi a concepção de não estar sendo útil.

Logo no início de 2020, com a primeira quarentena, tomei a decisão de criar mais para as redes sociais. Voltei a escrever aqui com mais frequência, produzindo mais provocações no Instagram e até movimentando um canal no YouTube. Em paralelo, consumi dezenas de livros, um hábito há muito negligenciado.

Eu sabia desde o início do ano passado que essa atividade intelectual poderia eventualmente inspirar ou ajudar alguém. Mas confesso, a prioridade era me sentir vivo.

Acredito que o objetivo foi de certa forma alcançado, mas sobrou um gosto amargo na boca.

A realização de que, para mim, a felicidade talvez dependa da sensação de ser útil.

A compreensão de que a associação de felicidade e utilidade com sentir-se vivo liga incondicionalmente ser útil a existir e, diante do afastamento físico das poucas pessoas próximas, expor a vida nas redes sociais foi usado como ato em prol dessa existência.

O contrário, a suposta solidão, percepção de uma existência não observada, compreendida como nula.

Sim, eu sei. É aqui que comumente a pergunta vem à mente: viver para quê?

Então, a recolocação aconteceu.

A utilidade, da noite para o dia, fez-se presente: luz, guia, realização e sim, um pouco de felicidade.

Hoje, pego-me pensando sobre o tema sem aceitar essa associação, por mais que reconheça os seus efeitos práticos. Pergunto-me se não há aí um mecanismo ou argumento milenar em ação. Acho que sim.

Recuso-me a aceitar que a felicidade dependa de sentir-se útil, fazendo uma distinção importante entre utilidade e ação (algo já abordado ao longo da história por tantos filósofos como Sartre e Viktor Frankl).

Então, lembro-me do livroA Sociedade do Cansaço“, de Byung Chul Han, mentalmente associando a “utilidade” às atribuições do “sujeito de desempenho” descrito na obra.

E putz, faz um sentido absurdo.

E sabe quando esses questionamentos internos ficaram mais fortes?

Quando percebi, ainda no primeiro mês de volta ao trabalho, que não só as minhas postagens nas redes sociais caíram em frequência, como comecei a desenvolver uma rejeição a elas, em especial ao Instagram.

Será que substituí o esforço de me sentir útil através da produção de conteúdo por um emprego formal?

Será que cansei das personas perfeitas e irretocáveis, das imagens icônicas de bundas, peitorais, músculos, filtros, bens e bem-estar fabricados?

Será que… quando a gente percebe a fábrica viciada de certas coisas, não dá pra “desver”? Não dá pra ir contra valores e consumir algo que bate na trave?

Não seria essa uma reação de manutenção de uma zona de conforto sobre a qual tanto já escrevi aqui?

Ainda é cedo para responder.

Não obstante, a sensação de sentir-me útil e acolhido profissionalmente tem a sua valia.

Posso recusar-me a aceitar essa realidade, mas ela existe e sinto seus efeitos.

Então, que seja, por enquanto, a comemoração dos dias 15 de fevereiro e 1o de março de 2021.

E que eu possa olhar para o meu imposto de renda em 10 anos e ver os pagamentos para terapia com uma sensação de conquista e superação, desassociado da ideia das crises de depressão.

Quem sabe, lá, terei uma percepção mais clara do direito de existir, diferente de uma condição de utilidade.

Eu quero ter esse direito sem precisar de nada mais. Afinal, se é um direito, não há condições.

Agora, preciso descobrir se as condições são auto impostas.

Aliás, será mesmo um direito?

Parece-me uma conquista individual e diária.

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Expectativas e Felicidade

Não sou especialmente fã de fórmulas para a felicidade ou para o sucesso.

Mas Mo Gawdat tem um argumento interessante:

A felicidade é igual à percepção dos acontecimentos da vida ao nosso redor menos as expectativas que criamos e aceitamos (Gawdat, 2017).

Ter confiança e autoestima é ter a capacidade de desafiar expectativas.

Libertar-se das expectativas e dos julgamentos dos outros é essencial para a felicidade.

Só você é capaz de avaliar e entender o que é importante para você.

Eu sei, o desafio é grande.

Lembre-se: qualquer expectativa externa é um conteúdo dos outros, não seu.

Sim, a ideia que as pessoas têm de quem somos é uma construção do outro, não nossa.

E como lidamos com as nossas próprias expectativas?

Vivemos em uma sociedade da autonomia, onde somos levados a crer que tudo é possível, basta querer.

Isso gera um efeito colateral terrível: substituímos a aceitação dos pontos fortes pelas expectativas de supostamente melhorar o que consideramos falho.

Atitude louvável… Mas já parou para entender o que você realmente tem de especial, ao invés de focar no que acha ser um defeito através da comparação?

Expectativas e comparação andam juntas, mas separam as pessoas.

Cooperação aproxima.

O Guia Tardio, Romulo Cholewa
(disponível na Amazon: http://oguiatardio.com)

A Fórmula da Felicidade, Mo Gawdat
Sociedade do Cansaço, Byung-Chul Han
Descubra Seus Pontos Fortes, Tom Rath

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Sucesso e a Epidemia de Escassez

Este texto foi publicado em vídeo no canal do Youtube. Para assistir, clique aqui.

Se você entrar em uma livraria hoje encontrará muitos livros sobre sucesso, especialmente dizendo o que é e como chegar lá.

É muito confortável cair na tentação de seguir um roteiro que já foi supostamente testado sobre como chegar ao sucesso.

Mas é bem mais desafiador olhar para dentro de si e descobrir o que é sucesso para nós mesmos e entender que cada um de nós tem a sua própria jornada.

Como se não bastasse, a sociedade, o trabalho, nossos amigos e familiares têm suas próprias definições padronizadas e existe uma associação bem direta entre cumprir metas, objetivos e como alcançar o sucesso.

Imagine: trocar o conhecido, aquilo que dá uma definição clara e mostra um caminho, versus enfrentar o desconforto do desconhecido de não saber.

Aliás, existem inúmeras definições de como “não falhar” e esconder os erros são a receita para a felicidade.

Na prática, é assim que a sociedade funciona, seja em casa ou no trabalho e esse conceito de jornada para o sucesso não poderia estar mais longe da realidade.

Para cada sucesso, existem inúmeros fracassos… E escondemos os fracassos: temos vergonha deles.

Perceba o movimento aqui.

A associação do conceito de sucesso à expectativas externas, a metas e objetivos externos.

E isso gera uma verdadeira epidemia de vazio e escassez.

O conceito prático de sucesso atual gera uma onda de tristeza e depressão porque o sucesso é externo. Vem de fora.

Cada vez que prestamos atenção a um discurso que tenta nos ensinar o que é sucesso e como alcançá-lo, estimulamos essa epidemia de escassez, olhamos para fora, esquecendo o que vai dentro da gente, lugar onde o real sucesso mora. Isso nos afasta cada vez mais da felicidade e da realização.

Eu fiz uma enquete nas redes sociais sobre o quê as pessoas entendem por sucesso, em uma frase.

As respostas variaram muito, desde a sintonia entre valores, propósito, ajudar as pessoas, até o dinheiro, passando por coisas como ser bem sucedido.

Agora, veja que curioso: apenas QUATRO pessoas disseram que o sucesso vem de dentro da gente e usaram uma metalinguagem compatível.

Ou seja, mesmo considerando questões internas como valores e propósito, apenas quatro respostas NÃO relacionaram esses fatores como dependentes direta ou indiretamente de fatores externos.

Não importa a definição de sucesso que tenha. O que realmente importa é se essa definição vem de dentro para fora ou se é algo de fora para dentro, porque é exatamente daqui que surge a epidemia de escassez, quando seguimos receitas e ideais externos apenas.

Para entender melhor essa questão, veja esse vídeo (clicando aqui) sobre felicidade material, contextual e existencial.

Não existe uma única definição de sucesso dada na enquete que não esteja adequada… porque ela deve ser individual e tá tudo bem.

O ponto é que quando abrimos mão de um conceito de sucesso próprio e abraçamos as expectativas do externo, promovemos potencialmente o desalinhamento com quem somos.

Passamos a buscar um estado idealizado pelos outros, pela sociedade e iniciamos uma corrida para querer sempre mais sucesso, sem nem saber direito o que ele significa para nós, com o terrível efeito colateral de estar sujeito a sermos manipulados pelas necessidades dos outros em favor das nossas próprias necessidades.

Aqui, abro um parêntese.

Em 2001, enfrentei dificuldades consideráveis diante do desemprego.

Uma crise de depressão que durou 3 anos e uma sensação de incompetência gigantesca.

Talvez uma das coisas que mais contribuiram para esse estado foi não poder acolher as pessoas que dependiam de mim.

E quando falo sobre isso, penso logo no sucesso e no seu antagônico clássico: o fracasso ou percepção de fracasso.

Sentia-me um inútil e, apesar de conseguir sair daquela primeira crise, apenas há pouco tempo comecei a perceber o sucesso de forma diferente.

Na verdade, comecei a percebê-los, porque só enxergava as falhas.

Considerava-me um fracasso por não atender às expectativas que eu achava que estavam depositadas em mim.

Hoje, eu olho para o passado e reconheço, como um tremendo sucesso, ter superado a depressão várias vezes.

Curioso que, ao longo dos últimos 20 anos, passei por outras crises, recebi alta e meu conceito de sucesso permaneceu o mesmo.

Sempre com foco nos fracassos ou nos conceitos de sucesso que percebia da sociedade, principalmente aqueles focados no material.

Durante tanto tempo não percebia como sucesso a superação, a reconstrução da minha carreira profissional, o alinhamento entre as minhas ações e os meus valores, o livro que publiquei, esse canal no youtube, o blog, tantos prêmios que recebi ao longo da carreira e tantos reconhecimentos, justamente por fazer aquilo que eu acho que está sintonizado com os meus valores.

Durante tanto tempo eu percebi a felicidade como obtenção do sucesso e o sucesso apenas como atingir metas, ganhar dinheiro para ter coisas, comer bem, tomar um vinho, me divertir com os amigos e eventualmente ser aplaudido.

Agora, sabe porque decidi fazer esse vídeo?

Semana passada fui caminhar cedo na praia… E vi uma praia totalmente seca… consegui andar na areia até os arrecifes sem molhar os pés.

De lá, vi o mar, vi as pedras… Vi peixes… Varas de pescar… Senti o vento forte, o cheiro de mar, o som das ondas… Dei meia volta, olhei para os prédios e pensei:

Isso é sucesso.

Foi uma das sensações de sucesso mais fortes dos últimos anos.

Então, faço um convite: que tal pensar um pouco mais sobre o que é felicidade, realização e sucesso pra você, mas com o desafio adicional de pensar nos três SEM ser algo externo, sem condicionar ao que esperam de você… Sendo algo partindo de dentro do seu peito, de dentro de você sem depender de nada ou de ninguém.

Eu tenho a certeza de que ficará surpreso e verá que você experimenta muito mais sucessos do que imagina.

Talvez a gestão das expectativas, as próprias e as dos outros, seja o fator mais importante para a felicidade, a realização e o sucesso.

Muita gente acha que o sucesso é feito uma poupança onde a gente deposita dor e sofrimento para colher juros mais pra frente.

Culturalmente somos levados a crer que não há sucesso sem dor e sofrimento e não consigo pensar em coisa mais distante do bem-estar.

O sucesso pode ser encontrado em pequenas coisas do dia a dia.

Aliás, se você conseguir encontrar sucesso nas pequenas coisas do dia a dia, a felicidade e a realização certamente lhe farão companhia.

Sucesso é uma descoberta de autoconhecimento, totalmente relativa, individual e muda assim como a vida.

Não confunda metas e objetivos com sucesso. É muito comum que o lado profissional queira que a confusão ocorra simplesmente porque isso é favorável aos interesses alheios.

É assim que nós somos transformados em números.

Você deve estar se perguntando… Então perseguir metas e objetivos não é sucesso?

Eu não vou dizer o que é sucesso e acredito que ninguém pode fazer isso. Você tem que descobrir o que é sucesso pra você e se isso é compatível com quem é.

Preste bastante atenção: depende de como reconhece o objetivo a ser alcançado.

Se for imposto e não idealizado em conjunto, sem estar sintonizado com quem somos, uma descoberta que deve acontecer antes, você pode estar indo numa direção que não trará nem felicidade nem sucesso.

E é por isso que é tão conveniente achar que sucesso depende de dor e sofrimento. Quando buscamos metas e objetivos desalinhados e fora de sintonia com nós mesmos, passamos a achar que o sacrifício de hoje é a felicidade de amanhã.

Se você pensar bem, perceberá que faz muito sentido.

Veja por exemplo este gráfico que trago no meu livro, explicado em detalhes. Perceba que ele não fala sobre o que é sucesso, apenas ajuda a classificá-lo:

Quanto mais a percepção de sucesso estiver atrelada ao material, mais ele estará relacionado ao ego coloquial e mais rápido ele desaparece, como um vício, uma droga…

Quanto mais essa percepção estiver associada ao todo e ao altruísmo, mais duradoura será sensação de sucesso, maior será a contribuição, a cooperação e as sensações de felicidade e realização.

Uma mesma situação na vida da gente pode ser percebida em qualquer lugar do gráfico, ou seja, como sucesso material, contextual ou existencial.

Darei um exemplo prático.

Em 2017, atuava como consultor na área de vendas para uma multinacional de tecnologia. Participei de um projeto para o governo de um estado aqui no Brasil, onde foi possivel economizar milhões em aquisições.

Por esse projeto e como parte do meu trabalho, eu fui remunerado e recebi uma comissão.

Eu poderia ter olhado para esse projeto apenas pelo aspecto financeiro, o que seria qualificado como sucesso material.

Mas o meu trabalho foi reconhecido e eu ganhei um prêmio por causa dele. A sensação de reconhecimento é fantástica.

Mas ao longo do tempo, enquanto o projeto era executado, eu percebi também o quanto a economia trazida beneficiou a população de uma forma geral.

A economia viabilizada pôde ser empregada em outros projetos de cunho social e isso está diretamente sintonizado com o propósito de ajudar as pessoas.

Veja como uma mesma situação, um mesmo evento gerador, pode ser percebido de diversas formas.

Se for percebido apenas como sucesso material, a sensação duraria pouco tempo.

Se usando a ótica do reconhecimento, talvez um pouco mais… Faria apenas bem ao meu ego.

Mas 3 anos após a venda do projeto, ainda sinto o bem estar de ter contribuído para algo maior.

Quero finalizar deixando as perguntas:

Quantas vezes perseguiu metas e objetivos e analisou se eles estão de acordo com quem é, com os seus valores e com o quê acredita?

Quantas vezes trabalhou para que o sucesso de fato seja uma contribuição para algo maior?

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Positividade Tóxica?

Quase 3 anos atrás, escrevi um post sobre a positividade e a sua importância.

Foi parar no livro que publiquei em maio de 2020.

Cabe revisitar o tema.

(…)

Semana passada fiz uma enquete no Instagram sobre o termo “positividade tóxica” e recebi dezenas de respostas.

A interação foi tão positiva que decidi fazer um vídeo no canal do Youtube sobre a questão.

Aqui, tenho a oportunidade de dissertar sobre o assunto.

Comecemos com uma consideração filosófica sobre o termo em si: será que podemos usá-lo? Será que “positividade tóxica” faz algum sentido, ou seja, se for “tóxico”, como pode ser “positividade” ou é apenas a forma como se percebe o comportamento do outro?

Em segundo lugar, é necessário falar um pouco sobre rapport de comportamento.

Independente da conotação positiva ou negativa de algo, existe uma tendência de nos comportarmos de forma compatível com os grupos aos quais consideramos pertencer.

Fornecerei dois exemplos típicos.

Você vai a um show e, ao final da apresentação, começam a bater palmas.

Perceba que as palmas começam em ondas… Como um contágio e, se alguém se levantar, é bem provável que outras pessoas se levantem também e até você se sinta compelido a levantar e aplaudir de pé.

Outro exemplo: você está no trabalho, em um grupo de colegas.

Alguém começa a reclamar da empresa e, em poucos segundos, várias pessoas entram na roda e iniciam um ciclo de reclamações.

De uma forma geral, os exemplos podem ser considerados opostos: um positivo e um negativo.

Existem vários estudos que apontam para duas coisas: espelhamos o comportamento dos grupos aos quais pertencemos, dos indivíduos aos quais aspiramos e não só o contágio emocional existe, como influencia nosso modo de agir.

Estar cercado de “positividade” ou “negatividade” terá um efeito sob o nosso próprio comportamento.

É fácil então concluir que, se isso de fato acontece, gerar uma espiral de coisas positivas traz a tendência de se “contaminar” e contaminar os outros com pensamentos, emoções e ações possibilitadoras.

Por outro lado, agir assim tem o potencial de nos distanciar da realidade objetiva.

Ao considerarmos o que é “negativo” em favor do que achamos ser “positivo” (ou o contrário), criamos uma bolha cognitiva em torno de nós que eventualmente prejudicará uma análise factual do que se passa.

Ferrou, então?

Pode ser.

O que acha?

Essas questões podem não ter resposta.

Não no senso comum.

Senso comum são “médias”.

Alías, podem até possuir uma média social associada a elas, mas a sua resposta é a ÚNICA que importa.

Você não é uma média até ela ser tirada.

Ops!

Seja bem vindo. Esse é o caminho.

Crie o seu,

O que é negativo para alguém, podem não ser para outro e não o é para todos. O mesmo argumento pode ser usado com aquilo considerado positivo.

Partindo desse princípio, a potencial toxicidade de uma suposta positividade não só é um campo totalmente subjetivo como resultado de julgamentos.

Em terceiro lugar, voltemos à enquete.

70% das pessoas que responderam atribuíram a positividade tóxica como sendo exercida por um elemento externo – outra pessoa. Ou seja, perceberam a si mesmas como vítimas.

30%, de uma forma direta ou indireta, admitiram fazer parte da equação – associaram o termo à fuga da realidade e a um comportamento prejudicial próprio.

Ambos os casos estão relacionados, apesar de aparentar o contrário.

O momento atual em que vivemos, do início de 2020 para cá (escrevo este texto em agosto de 2020), impôs condições de convívio social e estresse emocional há muito esquecidos.

Estamos diante de um desafio que entrará para a história; uma ameaça real à existência de cada um, um risco invisível que está presente em praticamente todos os lugares, cerceando o ir e o vir, o contato interpessoal, gerando incertezas e questionamentos sérios a respeito da própria sobrevivência, em decorrência de ameaças como o desemprego à morte.

Menciono esse fator porque ele é um perfeito exemplo aplicável à questão do conceito de positividade tóxica.

Aqui, temos a convergência e a relação das respostas da enquete.

Sentir-se com medo, ameaçado, triste, solitário e com sentimentos análogos é natural, faz parte de existir. Não reconhecer esse comportamento em si pode eventualmente gerar um afastamento da realidade. Não reconhecer esse comportamento nos outros pode classificar algumas ações como positividade tóxica.

Além do fato de que o ser humano é um ser de contrastes, somos um caldeirão de emoções.

Portanto, nada mais sadio para a nossa existência do que respeitar o que sentimos, entendendo o que vai dentro da gente e estabelecendo, através desse entendimento, um caminho possibilitador na direção do autoconhecimento.

Entretanto, prepare-se para algum desconforto. Essa jornada levanta questões e põe em dúvida crenças. De fato, se não houver desconforto e questionamentos, não há jornada, muito menos respeito ao que se sente.

Dúvidas são desconfortáveis? Certamente.

Necessárias também, assim como o ato de questionar, algo ativo, consciente, que tem o potencial de trazer mais inquietude e emoções de felicidade, tristeza, raiva e tantas outras reações totalmente naturais.

Talvez você já tenha percebido aonde quero chegar.

Não somos 100% felizes, 100% do tempo, muito menos tristes. Existe muita coisa entre os dois. Portanto, um comportamento 100% do tempo positivo é incongruente com ser humano e pode, sim, ser uma fuga. Talvez daí o termo “positividade tóxica” tenha surgido.

Se por um lado ser positivo permite encarar a vida de forma mais saudável e potencialmente mais feliz, por outro é necessário entender que coisas ruins, negativas e desagradáveis também acontecem, despertando emoções limitantes.

Isso só prova que estamos vivos.

Contudo, é um engano achar que uma coisa exclui a outra.

É um equívoco acreditar que reconhecer os desafios desagradáveis da vida impede alguém de ser positivo, assim como também é um erro crer que ser positivo faz com que se viva no mundo da lua.

Diversos autores abordam esse tema, inclusive contemporaneamente, como Mark Manson (em dois livros que avaliei aqui no blog) e Gabriele Oettingen, apesar de ambos aparentemente não concordarem com a ideia de que não há dicotomia entre ser positivo e fugir da realidade.

Ou seja, não aceite respostas prontas em mídias sociais, em casa ou no trabalho sobre o que é negativo e o que é positivo.

Aliás, se me permite uma sugestão mais abrangente, não aceite respostas prontas sobre nada.

Reserve-se sempre o direito de questionar. Se surgir algum incômodo, entenda a origem dos sentimentos que considera negativos e talvez descubra mais sobre si próprio do que imagina, mantendo um pé na positividade e outro na realidade.

Como disse na descrição do meu canal no Youtube:

Eu não tenho respostas, mas prometo provocar questionamentos apropriados.

 


 

Conteúdo Adicional Recomendado

Livros:

TEDs:

Pesquisas e Publicações:

  • Baumeister, Roy F; Finkenauer, Catrin e Vohs, Hathleen D.: Bad Is Stronger Than Good [Artigo] // Review of General Psychology. – 2001. – 4 : Vol. 5. – pp. 323-370;
  • Dimberg, Ulf; Thunberg, Monika e Grunedal, Sara: Facial Reactions to Emotional Stimuli: Automatically Controlled Emotional Responses [Artigo] // Cognition and Emotion. – 2002. – 4 : Vol. 16. – pp. 449-471;
  • Gross, J.J. & Levenson, R.W. (1997): Hiding feelings: The acute effects of inhibiting negative and positive emotion. Journal of Abnormal Psychology, 107(1), 95-103. doi: 10.1037//0021-843x.106.1.95, PubMed: 9103721;
  • Hasson, Uri; Stephens, Greg e Silbert, Lauren: Speaker–listener Neural Coupling Underlies Successful Communication [Online] // Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA (PNAS) / PubMed. – 26 de 07 de 2010. – 22 de 06 de 2018. – http://www.pnas.org/content/107/32/14425. – PubMed: 20660768;
  • Kraft, Tara e Pressman, Sarah: Grin and Bear It: The Influence of Manipulated Facial Expression on the Stress Response [Artigo] // Psychological Science. – 24 de 09 de 2012. – 11 : Vol. 23. – pp. 1372-1378;
  • Lomas, T.; Waters, L.; Williams, P.; Oades, L.G.; & Kern, M. L. (2020): Third wave positive psychology: Moving towards complexity. The Journal of Positive Psychology. doi: 10.1080/17439760.2020.1805501;
  • Rozin, Paul e Royzman, Edward B.: Negativity Bias, Negativity Dominance and Contagion [Artigo] // Personality and Social Psychology Review. – 2001. – 4 : Vol. 5. – pp. 296-320;
  • Strack, Fritz; Martin, Leonard e Stepper, Sabine: Inhibiting and Facilitating Conditions of the Human Smile: A Nonobtrusive Test of the Facial Feedback Hypothesis [Artigo] // Journal of Personality and Social Psychology. – 1998. – 5 : Vol. 54. – pp. 768-777;
  • Wells, Gary e Petty, Richard: The Effects of Overt Head Movements on Persuasion: Compatibility and Incompatibility of Responses [Artigo] // Basic and Applied Social Psychology. – 1980. – 3 : Vol. 1. – pp. 219-230;
  • Wong, P. T. P. (2011). Positive psychology 2.0: Towards a balanced interactive model of the good life. Canadian Psychology/Psychologie canadienne, 52(2), 69-81. doi: 10.1037/a0022511
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Contrastes

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Sabe o frio?

Ele existe por causa do calor. O claro? Por causa do escuro. O bem? Por causa do conceito de mal… e em todos os casos, vice-versa.

A percepção do ser humano está totalmente ligada aos contrastes. Uma coisa não existe sem a outra… e tudo aquilo que reside entre os extremos. É o contraste entre eles que permite ao ser humano perceber diferenças. Até as nossas decisões levam isso em consideração.

Com a felicidade? Não é diferente. Ela existe ao ser contrastada contra a tristeza. O seu conceito individual de uma coisa… e de outra. Se a felicidade fosse um estado constante, não saberíamos defini-la. Ela existe em nossas mentes e corações por causa da eventual alternância.

Ciclos. Se entendemos como o eu é transitório, nada mais natural do que a transitoriedade da felicidade ser, digamos, saudável.

Você reconhece uma evolução porque conhece o caminho que percorreu e ele… contrasta com a sua realidade atual.

#OGuiaTardio

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Felicidade, Essa Danada

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O que é felicidade para você?

Eu já ouvi as mais diferentes opiniões. Certamente você também e ouso afirmar que você talvez tenha a sua definição particular.

Eu acredito que a fórmula para a felicidade é extremamente simples, mas desafiante de se por em prática.

“As pessoas tomam diferentes caminhos buscando satisfação e felicidade. Só porque eles não estão no seu caminho não significa que eles se perderam.”
H. Jackson Brown Jr.

Existiu uma época em minha vida onde felicidade era jantar em um bom restaurante. Era tomar um bom vinho, sair com os amigos para beber ou pra balada. Comprar um carro, passar numa prova, dormir…

Ser aceito socialmente, ser aplaudido em uma palestra, ver uma série na TV, jogar videogame, comprar e gastar dinheiro… Porque não incluir ganhá-lo?

Nossa, como pensei no meu sucesso profissional como felicidade! Você certamente já deve ter pensado algo como “tudo que eu preciso na vida é de sucesso profissional”.

Também houve uma época em que felicidade para mim era ter o suficiente para poder fazer uma refeição com minha família. Em um outro momento, conseguir sair do quarto.

Experimentei extremos.

Com a idade (e possivelmente com a maturidade), minha visão de mundo foi mudando. Fui sofrendo decepções aqui e ali e comecei a perceber que minha ideia de felicidade era um pouco vazia ou focada em elementos nada eficientes.

“Felicidade não é algo pronto. Ela surge de suas próprias ações.”
Dalai Lama

O sucesso chegou e foi embora, as coisas se foram. Até os amigos. Obtive sucesso novamente, mais coisas, mais relacionamentos. Vida que segue, ciclos que se repetem.

Eu tinha caído numa armadilha. É fácil demais cair nela, porque tudo que falei acima pode deixar você feliz, mesmo que momentaneamente.

Eu estava obtendo minha felicidade de fontes externas, de coisas que não dependiam só de mim. Coisas passageiras e que, normalmente, custam caro ou dinheiro.

Essa armadilha é muito traiçoeira. Nós somos bombardeados a todo minuto pela sociedade, pela mídia, pelas empresas e um sem número de pessoas e instituições querendo nos dizer o que é felicidade e que ela é composta por todos estes fatores alheios.

Como se não bastasse, alimenta-se o ego, esse grande vilão que precisa ser constantemente domado. O ego cresce e nosso desejo por mais cresce com ele.

“Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.”
Carlos Drummond de Andrade

Mas não acaba aqui.

Vivemos diariamente conectados às redes sociais que nos perseguem, sabem onde estamos, exatamente o que queremos e desejamos e colocam justamente isso na nossa frente, incitando e exacerbando nossa vontade de suprir aquela necessidade que aparece quando vemos algo em promoção ou quando “brilha” o brilho desejado. Você pode até alegar que não usa redes sociais, mas elas são nada mais nada menos do que um reflexo da sociedade em si.

Através de inúmeras telas que nos assediam, vemos um mundo perfeito de abundância, risos e poses, muitas vezes bem distante da realidade objetiva. Um universo de coisas e situações “ideais” plasticamente, um objetivo de vida feito para nós sob medida, quase divino, primoroso.

Não posso deixar de fora a expectativa social. Tanto temos uma expectativa própria de ser, fazer e estar no mundo perfeito e sermos como os “perfeitos”, quanto a sociedade espera isso de nós.

Esperam a perfeição de nós em casa, no trabalho e no shopping. Na roda de amigos e na igreja, no futebol, no metrô e também nas redes sociais.

Nós assumimos compromissos interpessoais, familiares, sociais, morais, éticos e até religiosos. É claro que isso influencia nossa capacidade de ser feliz.

“Eu não tenho que perseguir momentos extraordinários para encontrar a felicidade – ela está bem na minha frente, se estou prestando atenção e praticando a gratidão.”
Brene Brown

Eu sei, é fácil sucumbir. O sistema é projetado dessa forma. Feito com essa finalidade, empurrar você para dentro do mecanismo, transformá-lo numa das peças, das engrenagens.

Talvez seja por isso que é tão desafiante ser feliz existencialmente, sentir-se de fato realizado.

Talvez seja por isso que a grande maioria acredita que a felicidade está no objetivo, na obtenção de algo exterior… A eterna busca, o eterno correr atrás da cenoura.

Ao sair do ciclo dormir, acordar, trabalhar, comer, trabalhar, comer, dormir, ganhar dinheiro, pagar contas e repetir, eu comecei a me questionar o que de fato é felicidade.

Confesso que passei a torcer para que existisse pelo menos um tipo que não dependesse destes fatores externos. Pensava: “a vida não pode se resumir a isso. A busca por felicidade não pode ser tão efêmera, momentânea e decepcionante.”

Hoje acredito que, de uma forma geral, temos três tipos de felicidade.

Em um extremo, temos a felicidade momentânea ou material, que é associada, sem surpresas, a coisas materiais, necessariamente elementos concretos, tangíveis e externos a nós.  Comumente custa dinheiro e é temporária, porque não dizer curta e incompleta.

Estamos falando de acumular riqueza, comprar coisas (carro, casa, roupas, bolsas e tantos outros objetos), sair com os amigos pra balada, consumir drogas lícitas ou ilícitas e até o sucesso, dependendo de como você chegou lá e da sua definição dele.

“A felicidade não é algo que você adia para o futuro; é algo que você projeta para o presente.”
Jim Rohn

Mais ou menos no meio, temos a felicidade contextual. Apesar de ser também externa, ela é imaterial. Ela depende de contextos e acontecimentos não tangíveis, como a sensação de passar numa prova, ouvir ou dizer um “eu te amo“, a sensação de um abraço apertado, um olhar, um carinho, de estar com alguém, ajudar outros seres ou atos de caridade.

Ela também está presente em pequenas coisas do dia-a-dia e que não encontramos por estarmos muito ocupados e não vivermos no presente. É ver um por do sol, um céu estrelado, é andar no parque, brincar na chuva, molhar os pés no mar e sentir o seu cheiro…

O detalhe aqui é o tempo que você dedica, a emoção positiva envolvida e nenhuma relação com custo ou dinheiro… Mas há uma troca de sentimentos. Você já deve ter percebido que ela também é temporária, apesar de durar mais do que a momentânea.

E, no extremo talvez mais importante, aquela que vem de dentro de nós, que não depende de nada externo e que dura e resiste às nossas dificuldades. Uma felicidade chamada de existencial.

O nome é perfeito para caracterizá-la, pois significa exatamente isso: uma felicidade que, quando ocorre, só precisa que você exista como é, de forma congruente, para que ela se manifeste. Ela é assim porque só depende dos seus valores e do seu propósito.

“A felicidade não depende de nenhuma condição externa, é governada por nossa atitude mental.”
Dale Carnegie

Não há nada de errado em ficar feliz ao sair com amigos, comprar uma bolsa, um carro ou uma casa, beber um bom vinho, ganhar ou gastar dinheiro e tantas outras coisas materiais.

A questão é moldar a sua vida em torno disso e usar a obtenção dessa lista, e de outras coisas exteriores, como a sua prioridade ou fórmula de felicidade. Seria, no mínimo, um jeito ineficaz de viver a vida em busca de ser feliz – uma montanha russa de conquistas, que deixarão você indo da felicidade à sensação de fracasso e incompetência ou vazio, repetindo o ciclo a cada nova conquista… enquanto a sensação de vazio aumenta.

Aqui vai uma dica: se alguém lhe propõe riqueza, ganhos extraordinários, coisas materiais e o sucesso supostamente derivado também de coisas materiais, associando tudo isso a ser feliz ou afirmando que este é o caminho para a felicidade, suspeite. No mínimo, a ideia de felicidade desse alguém é deturpada. Talvez até os valores.

Pode funcionar por um tempo, mas o rebote será doloroso.

E a felicidade existencial? Por que é fácil entendê-la e tão desafiante obtê-la?

A raiz dela é uma coisa simples: o alinhamento entre nossos valores e propósito com as nossas ações.

Veja como ela precede a ideia da obtenção de algo. Ela vem até antes da ação em si.

Trata-se de uma cadeia: valores e propósito – pensamentos – sentimentos – ações.

“Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em harmonia.”
Mahatma Gandhi

Ela não custa nada.

O mais absurdo de tudo? Muita gente passa dos 50 anos sem saber quais são os seus valores e o seu propósito. Quando isso acontece, é fácil cair na armadilha.

Eu disse que era fácil entender a equação. Dedique um tempo a descobrir seus valores e propósito. Passe a considerar isso e, a partir do momento em que você torná-los conscientes, poderá trabalhar para que suas ações resultantes estejam alinhadas com eles. Mais, entre dedicar seu tempo para obter felicidade momentânea ou contextual, sugiro focar na contextual.

A razão por traz disso é que nada material lhe trará uma felicidade real ou uma realização duradoura. Entretanto, ações envolvendo sentimentos positivos e estimulando a felicidade contextual lhe trarão realização. Isso mesmo, as felicidades existencial e contextual estão intimamente ligadas.

Na verdade, ao alinhar valores e propósito com suas ações, você alcançará a felicidade existencial e, como efeito colateral, sua vida será preenchida com momentos de felicidade contextual.

O que é a eternidade afinal, se não momentos que se sucedem até o final de nossas percepções?

“A felicidade não pode ser percorrida, adquirida, usada ou consumida. Felicidade é a experiência espiritual de viver cada minuto com amor, graça e gratidão.”
Denis Waitley

Isso nos traz a outra questão: o tempo é uma ilusão que a mente cria para entender algo que não temos um sentido específico para interpretar. Não existe passado ou futuro. Só existe o momento presente. Provar isso é fácil: você não pode viver o passado ou o futuro, apenas o momento atual.

Entretanto, a mente é capaz de acessar a memória e lembrar do que já foi. Ela também é capaz de imaginar o que pode acontecer e lembrar disso da mesma forma que lembra do passado.

Não podemos mudar o passado, mas devemos aprender com ele. O ato de aprender com ele já implica uma ressignificação de situações desagradáveis. Isto serve de insumo para planejarmos o futuro.

Não sou ingênuo em afirmar que devemos esquecer de tudo e curtir o presente chutando o pau da barraca, como muitos gostam de afirmar ao encher a boca para dizer equivocadamente “carpe diem!”(*)

“A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.”
Albert Einstein

A questão é que estamos perdendo a capacidade de viver o presente. Passamos o dia, a tarde, a noite e as madrugadas encharcados de pensamentos sobre o passado e o futuro, em uma quase tortura constante geradora de depressão, ansiedade e aniquiladora da felicidade.

Estamos tão condicionados a viver assim que passamos a impor esse comportamento às pessoas com as quais nos relacionamos, seja pessoalmente ou profissionalmente. Comumente agimos gerando ansiedade para pessoas próximas e nem percebemos.

Entenda que o ato de avaliar o passado e planejar o futuro não pode descontroladamente controlar você. Ele deve ser agendado. Isso mesmo, agendado. Você deve reservar horários em seu dia para pensar sobre os assuntos que necessitam de cuidado e deve tornar isso um hábito.

Deixem eu colocar de uma outra forma: não há nenhum ganho com excesso de ansiedade. Não há nenhum ganho com a insegurança. Não há nenhuma vantagem em não dormir à noite pensando no futuro, sem parar. Ao contrário do que já é aceito socialmente, isso diminui a qualidade de vida e a qualidade dos nossos resultados.

Na prática, nunca desligar, deixar a ansiedade e o stress invadir a sua vida sem início e fim nada mais é do que um sinal gigante de desorganização, falta de planejamento e desrespeito para com a sua saúde. Todos nós vivemos sob pressão, mas não confunda o stress estratégico, momentâneo e um pouco de ansiedade gerada pela pressão diária com a perda do controle ou fazer os outros perderem o controle.

Preciso dizer novamente que isso afeta diretamente a sua capacidade de ser feliz?

“As soluções sempre aparecem quando saímos do pensamento e ficamos em silêncio, absolutamente presentes, ainda que seja só por um instante.”
Eckhart Tolle

Ao reservar tempo para avaliar e planejar, você terá a mente apta a viver o presente. Desenvolver essa capacidade requer foco e prática. Destas, recomendo a meditação como caminho para desenvolver a habilidade de focar no presente e impedir que o turbilhão de pensamentos naturais da sua vida assuma o controle e o leve à ansiedade patológica, geralmente associada à depressão (mal do século XXI).

Voltemos aos compromissos que assumimos.

O que você acha que acontece quando não sabemos nossos valores ou propósito e somos levados pelas circunstâncias da vida a assumir compromissos interpessoais, familiares, sociais, morais, éticos ou religiosos, algo que acontece diariamente?

Sim meu caro, assumimos compromissos potencialmente incompatíveis com nossos valores e propósito, principalmente quando não os conhecemos.

Acho que agora ficou claro porque existe tanta gente infeliz no mundo e que diz não se sentir realizada com sua vida…

“Milhares de velas podem ser acesas de uma única vela e a vida da vela não será encurtada. Felicidade nunca diminui por ser compartilhada.”
Buda

Ao inibir a felicidade existencial de nossas vidas, seja pelo desconhecimento dos nossos valores e propósito ou por pura inconsciência do presente, deixamos de promover a felicidade contextual e recorremos apenas à felicidade momentânea para sermos felizes.

Olhe à sua volta. Analise os posts de seus amigos e conhecidos nas redes sociais. Ouça as conversas em família, no bar, na roda de amigos, no futebol. Sinta o comportamento das pessoas próximas… Veja como é fácil encontrarmos a felicidade associada ao material em todo lugar e como ela é… Lugar comum.

Pense sobre isso. Pense sobre como vem levando a sua vida e que tipo de felicidade vem perseguindo. Sinta como o mundo está influenciando a sua busca.

Talvez você se assuste um pouco no início, mas ao refletir sobre o tema, eu tenho certeza de que fará sentido.

“Não é sobre tudo que o seu dinheiro
É capaz de comprar
E sim sobre cada momento
Sorriso a se compartilhar
Também não é sobre correr
Contra o tempo pra ter sempre mais
Porque quando menos se espera
A vida já ficou pra trás”

Trem-Bala, Ana Vilela

Recursos Adicionais:

 

(*) “carpe diem”: normalmente as pessoas usam como sugestão para aproveitar o dia ao máximo e, em alguns casos, dado a extremos, como se não houvesse amanhã.

A frase original era mais longa: “Carpe diem, quam minimum credula postero” e significa que você deve viver o agora e não confiar no futuro. Em outras palavras, significa que devemos planejar o futuro agora para colhermos os resultados esperados adiante.

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Em Busca de Propósito

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Porquê. Isso mesmo, por quê?

Me refiro ao porquê por trás do que pensamos, sentimos e fazemos. Propósito, essa palavra tão festejada nos últimos cinco a dez anos, como consequência da explosão das oportunidades de autoconhecimento. E não é pra menos, pois conhecer nossos valores e nosso propósito tem o poder de dar sentido à vida (não é à toa que esse tem sido o foco, a base e o início de qualquer processo de coaching).

“Um nobre propósito inspira sacrifício, estimula a inovação e encoraja a perseverança.”
Gary Hamel

Entretanto, trata-se de um tema bastante controverso e não há um consenso geral entre autores sobre como achá-lo. Prefiro pensar que existem diversas estradas que levam ao mesmo destino e que os múltiplos conceitos são complementares. Essa é, particularmente, a minha abordagem.

Comecemos pelo começo.

Nosso propósito está intimamente ligado aos nossos valores. Sugiro que, antes de seguir adiante, dê uma olhada nesse texto. Lá, eu explico a importância de conhecê-los e ajudo você nessa descoberta.

Vejamos agora alguns pontos que considero conceitos, premissas e informações importantes para essa jornada.

Primeiro, você pode chegar à conclusão de que tem mais de um propósito ou porquê.

Em segundo lugar, como tudo na vida, ele pode mudar.

“Qualquer ideia, plano ou propósito pode ser colocado na mente através da repetição do pensamento.”
Napoleon Hill

Terceiro, pergunte-se: estou deixando a vida me levar, como um barco na correnteza ou tenho planejado a minha existência? Isso nos leva ao ponto seguinte.

Em quarto lugar, é bem provável  que você tenha diversos bloqueios que não lhe permitem enxergar dentro de si fundo suficiente para encontrar o seu porquê.

E está tudo bem!

Somos levados pela sociedade, pelos grupos (sistemas) aos quais pertencemos, pela doutrina, trabalho, religião, casamento, família, escola, faculdade… A casar com um esterótipo de homem ou mulher, de ter um trabalho específico (normalmente atendendo à vontade da família), ter um carro do ano, gostar das músicas que pessoas perto de nós gostam, comprar roupas de alguma marca, assistir ao que nossos amigos assistem, a ler o que nossos amigos leem, comer uma dieta específica… E por aí vai.

Isso acontece porque o ser humano tem uma razão antropológica, com milhões de anos de evolução por trás, de se organizar em grupos. Isso ocorreu no nosso passado em benefício de nossa sobrevivência, continua ocorrendo e é, através de características assim, que identificamos os grupos aos quais pertencemos.

“Quando você está cercado por pessoas que compartilham um compromisso apaixonado em torno de um propósito comum, tudo é possível.”
Howard Shultz

Se esses pontos nos fazem agir de forma específica, terminam influenciando quem somos. Pense em tudo isso como um ruído de fundo que, quando está alto demais, deixamos de escutar a nossa voz interior, aquela voz que sai do nosso verdadeiro eu.

Por último, entenda que não conhecer o seu propósito não é desculpa para desistir de tudo, travar ou procrastinar. Falarei mais sobre isso no próximo texto… Mas a ideia aqui é: continue respirando! Você chegou até aqui e sobreviveu. Muita coisa acertada você fez. Parabéns! Chegou a hora de dar mais um passo, de subir de nível.

Prontos para começar?

Vamos lá!

A primeira coisa que você precisa fazer é sair desse modo automático de comportamento. Quando estamos no meio do furacão, soterrados de responsabilidades, trabalho, família e tantas outras coisas, dificilmente olhamos para dentro de nós mesmos. Trazer a questão à tona, ao consciente, por si só já é, muitas vezes, metade do caminho.

Você precisa encontrar um tempo para você, um tempo para esvaziar a mente e escutar o seu eu. Falei disso recentemente, no texto da semana passada.

Recomendo fortemente que você comece a meditar. A meditação ajuda (e muito!) a acalmar esses pensamentos relacionados ao nosso dia-a-dia que parecem não ter fim e, em alguns casos, são a causa da insônia de muita gente.

“Meditação traz sabedoria; falta de meditação deixa a ignorância. Saiba bem o que o leva adiante, o que o retém e escolha o caminho que leva à sabedoria.”
Buda

Faça tanto tempo quanto achar que deve ou possa. Use seu bom senso! O importante é fazer todos dias. Eu, por exemplo, faço pela manhã, ao acordar. Dependendo da agenda do dia, pode durar de dez minutos a uma hora.

No início, será desafiante conseguir manter a mente livre ou focada. Com o tempo, verá que o desafio desaparece e dá lugar ao foco e a serenidade, que ajudarão você a pensar com mais clareza sobre seu propósito.

Continuando, preciso registrar que gosto muito da abordagem de Simon Sinek, no que diz respeito à descoberta do porquê. Ele escreveu um livro sobre essa jornada em conjunto com mais dois autores, chamado “Encontre O Seu Porquê” que, infelizmente, ainda não possui tradução para português.

“Palavras podem inspirar, mas apenas ação cria mudança. A maioria de nós vive nossas vidas por acidente – vivemos a vida como acontece. Realização vem quando vivemos nossas vidas com propósito.”
Simon Sinek

Nele, defendem que o nosso porquê, o nosso propósito, é filho das nossas experiências passadas e entender como reagimos a cada uma nos dá um excelente indicativo.

Portanto, elenque pelo menos dez situações que ocorreram com você que considere importantes e que tenham de alguma forma lhe impactado, mudado seu comportamento, opinião ou direcionamento, profundamente. Pense naquilo que ocorreu ao longo da sua vida e que talvez o tenha transformado em quem é hoje.

Para lhe ajudar, veja alguns exemplos:

  • Um casamento;
  • O nascimento de um filho(a);
  • A perda de um ente querido;
  • O início de um trabalho;
  • Uma promoção;
  • Um treinamento, curso ou formatura;

Agora, você precisa detalhar cada experiência, à procura de padrões. Eu vejo duas formas de fazer isso: com um parceiro (opção recomendada no livro e por mim) ou escrevendo sozinho(*). A primeira opção é interessante quando existe um ambiente de coaching ou quando você deseja fazer com alguém e esse alguém com você (pode ser um amigo próximo, sua esposa ou marido, etc.).

O passo consiste em você contar, da forma mais específica possível, cada uma das histórias, sem generalizações. Faça o possível para ter em mente uma relação de causa e efeito e evidenciar seus sentimentos durante o processo, transmitindo essas informações ao parceiro.

Ele deve anotar em uma lista os temas principais de cada história, como ajudar ao próximo, quebrar barreiras, superação, cuidar de pessoas, liderar,  contribuir para a sociedade, luta por liberdade, ganhar dinheiro, realização profissional(**), ou algum outro objetivo.

Permitam-me, a partir daqui, me distanciar de Simon Sinek, simplificando as coisas um pouco.

Ao lado de cada tema, seu parceiro deve construir outra lista com os sentimentos relacionados a cada um, que ele conseguiu extrair da respectiva história original. Para ajudar o seu parceiro, considere que cada ação no plano existencial é fruto de um sentimento, que surgiu a partir de um pensamento. Use isso para entender o fluxo e informar ao seu parceiro o sentimento correspondente.

Em seguida, analise a lista de histórias, temas e sentimentos em relação aos seus valores. Perceba quais temas e sentimentos estão alinhados com os principais. Se você foi honesto no exercício de descoberta de valores, de cinco a dez histórias estarão alinhadas com eles. Escolha as cinco principais e de maior impacto. Se você não encontrar pelo menos cinco histórias alinhadas, deve repetir a coleta de mais histórias até que obtenha cinco.

“Seus sentimentos e emoções são seus indicadores mais fortes de que sua vida está se movendo em uma direção com propósito ou não… Portanto, ouça com atenção como você se sente.”
Rebecca Rosen

Essa lista de temas resultante é, na verdade, a lista dos seus motivadores. São aquelas coisas na sua vida que lhe impulsionam, fazem você se mover, dar passos, reagir, sentir, atacar, defender-se.

O próximo passo é ajudar o seu parceiro a construir uma lista de dez a quinze coisas que você odeia, que lhe incomodam,  que você mudaria ou problemas que você deseja que sejam corrigidos, sempre em um âmbito global, como na sua comunidade, na sociedade ou no mundo. Recomendo que você se permita sonhar alto!

Por último, coloque as listas uma ao lado da outra e correlacione os seus motivadores com a lista de problemas. O critério é usar o bom senso e a compatibilidade: ligue o motivador que faz sentido usar para resolver o item da lista de problemas. Você pode ter um motivador ligado a mais de um problema e não deve ligar do problema ao motivador (sempre no sentido motivador -> problema).

Talvez você já tenha percebido aonde chegaremos.

Aquele motivador que está ligado a um maior número de questões que lhe incomodam ou problemas que deseja ver resolvidos é a base do seu propósito!

Olhe para estas ligações e pergunte: como, a partir dessas conexões, posso contribuir e servir?

“A gente só dá o que tem.”
Desconhecido – Provavelmente Isabel Allende

Mas Romulo, servir a quem?

Meu caro, um propósito é justamente isso. Algo em que você é bom, valoriza, tem uma boa motivação por trás (responsável pela maioria de suas ações e alinhado aos seus valores), tem utilidade prática e serve ao próximo, à sociedade ou ao mundo! É a sua contribuição, seu legado para o bem maior.

Por fim, voltando ao Simon Sinek, você pode continuar o exercício mental de tornar o seu propósito algo mais concreto e palpável ao transformá-lo em uma frase.

A base dela deve ser algo como:  Eu ___[contribuição]____ para que ____[impacto]____.

  • [contribuição] está relacionado ao seu motivador
  • [impacto] está relacionado ao problema que quer resolvido e à forma como você servirá

Veja, por exemplo, o que considero o meu propósito:

“Ajudar, de forma inteligente e eficaz, as pessoas a evoluírem como seres, transformando a sociedade e o mundo em um lugar melhor.”

Leia a frase acima. Tente entendê-la. Interprete o que ela significa, a sua profundidade e influência.

Agora, acompanhe meu raciocínio.

Quando leio essa frase, meu peito se enche de uma sensação boa, agradável.

Para mim, ela significa que eu devo ajudar o próximo. Mas a ajuda deve ser inteligente, duradoura, de forma a provocar uma mudança positiva na vida das pessoas. Significa que eu preciso, necessariamente, ter um impacto positivo nelas, incluindo você, meu leitor. O âmago da frase é “servir”.

Entenda a repercussão disso na minha vida. No meu entendimento, denota toda uma série de consequências, de tratar bem as pessoas até escrever esse blog (que, por sua vez, é parte da minha contribuição e surgiu da descoberta do propósito!).

Há uma manifestação de sentido, fundamental em todas as ações que realizo, a partir do momento que uso a ótica do meu porquê para enxergá-las.

E sabe qual o bônus? quando executo ações alinhadas à este propósito, tenho como efeito colateral ficar verdadeiramente feliz, realizado e completo 🙂

Voltemos a você. Agora que conhece potencialmente o seu porquê, sugiro validá-lo. Certamente essa é a etapa mais fácil: aplique o mesmo princípio acima, que usei no meu exemplo pessoal. Como eu, você saberá, no seu íntimo!

Diante das situações da vida que se apresentarem, pense no seu propósito e se ele se encaixa. Pense em suas ações frente ao seu porquê e sinta se você está em um caminho congruente, que faz sentido. A partir do momento que conhecê-lo, ficará claro para você se cada ação lhe aproxima ou não dele.

“O propósito da vida é contribuir de alguma forma para tornar as coisas melhores.”
John Kennedy

Se você tem interesse em se aprofundar, sugiro a seguinte literatura, que foi usada direta ou indiretamente como referência e inspiração para esse texto:


(*)Se você não tiver um parceiro ou optar por escrever, você mesmo realizará as duas funções. Dica: o resultado é melhor com alguém e a razão é simples: a parceiro terá a capacidade de interpretar sua comunicação não-verbal e de enxergar de forma global, coisa que você provavelmente não conseguirá fazer, por estar envolvido emocionalmente.

(**) Tomei cuidado de riscar essas duas opções porque elas devem ser consequência das ações alinhadas entre valores, propósito e vida. Pense em seu propósito como algo maior, que esteja na raiz da sua motivação.

 

 

 

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A Importância dos Nossos Valores

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Ao longo da nossa vida, há algo por trás das nossas ações que norteiam as decisões que as precedem. Esse mesmo algo é responsável por orientar nossas opiniões e decisões que tomamos, também frente aos desafios e as ações dos outros.

A importância e a influência dos valores em nossas vidas é indiscutível. Mas e se eu disser a você que a grande maioria das pessoas não sabe quais são os seus e age puramente por instinto?

Quaisquer situações que demandem decisões são guiadas por eles; de fato, posso afirmar que influenciam nossos pensamentos, sentimentos e ações em cascata, tem importância gigantesca em nossa existência e são frequentemente negligenciados.

  • Você já se deparou com uma situação onde agiu de uma forma mas não se sentiu bem, ficou em dúvida ou se questionou, percebendo “algo fora do lugar”?
  • Você já viu alguém falar ou agir e ficou com uma sensação estranha, como se algo fosse incompatível ou não se encaixasse?
  • Já se arrependeu de ter falado, feito ou achado algo, sem necessariamente saber o porquê?
  • Já foi rápido em julgar alguém, por quaisquer motivos?

Provavelmente houve uma incongruência entre os seus valores e o que aconteceu e, o fato de você ter se sentido assim, decerto indica que você não os conhece. A grande maioria não sabe sequer lidar com estes cenários.

Eu tenho uma explicação para isso: na sociedade moderna, somos usualmente levados pelas circunstâncias – a pensar, sentir e agir.

A maioria passa a vida sendo levada por essas circunstâncias. Vamos sendo empurrados pela vida numa louca perseguição dos objetivos dos outros e somente aceitamos.

Alguns terminam percebendo a importância dos seus valores e da qualidade de suas decisões cedo ou tarde e passam a respeitá-los.

Em um contexto pessoal(*), temos o nosso primeiro sistema familiar (pais, irmãos, tios, etc.), onde nos dizem o que fazer boa parte dos nossos primeiros 20 anos, talvez até 30. Convém observar que a construção de nossos valores sofre influência fundamental desse sistema que, de uma forma ou de outra, eventualmente os determina.

Caso a pessoa esteja em um contexto pessoal onde o primeiro sistema familiar não existe ou é substituído por outro sistema, os seus valores serão certamente influenciados de forma semelhante pelo contexto que substituí-lo.

Famílias em conflito tendem a ser naturais à ausência de valores claros. É muito importante registrar que valores diferentes entre pessoas não significam necessariamente que uma está certa e a outra errada: temos mais de um valor e a prioridade pode ser distinta.

Enquanto uma pessoa pode valorizar mais a família, outra pode ter uma perspectiva diferente e valorizar mais a sua liberdade. Isso, por si só, pode gerar uma divergência de pontos de vista – não significando que uma ou outra está certa ou errada.

Registre-se: temos a tendência de associar valores a uma questão de certo vs. errado, (o “meu certo” contra o “seu errado”). Para esclarecer essa questão, sugiro a leitura desse texto. Lembre-se: nós vivemos em um mundo de infinitas possibilidades. É plausível afirmar que temos infinitos “certos” para cada situação. Na dúvida? Respeito.

Já em um contexto profissional(*), geralmente começamos subordinados a uma hierarquia, que dita nossas ações por um bom tempo, até termos autonomia gerencial, estratégica ou empreendedora.

Enquanto essa autonomia não vem, nadamos conforme a maré e somos levados a realizar fatalmente os planos dos outros, o que é alinhado a valores alheios e não aos nossos. Claro, isso não significa que existe um conflito entre ambos. A questão é justamente procurar o alinhamento. Mais adiante.

A existência de valores claros na cultura de uma empresa é tão importante que pode ser a razão do seu sucesso ou da sua destruição. Corporações onde os valores são claros, respeitados e alinhados, tem mais estabilidade de longo prazo e sobrevivem às mais diversas crises, sendo normalmente empresas com décadas de existência.

Corporações sem valores claros demonstram um comportamento errático, altos e baixos, conflitos, falhas de comunicação e, comumente, pessoas trabalhando umas contra as outras sem perceber ou uma enorme incidência de retrabalho. Muito comum também é a presença de assédio moral.

Mesmo tendo alguém nos dizendo o que fazer, nossos valores terão uma pequena ou grande influência em nossas ações, dependendo da nossa consciência acerca deles.

É aí que chegamos ao cerne da questão:

O alinhamento entre valores e nossa existência é a chave!

Quando me refiro à existência, penso no existencialismo de Sartre: somos o que fazemos e, principalmente, somos o que fazemos com o que fazem com a gente.

Quando esse alinhamento não existe, toda uma série de consequências negativas vem à tona, desde o desmoronamento de relacionamentos, o baixo desempenho, o isolamento social, a depressão, e até o suicídio. Como esse tipo de relação não é claro, bem como quais são os valores que nos orientam, as pessoas vão levando suas vidas de forma medíocre ou sofrida sem saber porquê.

Para evitar uma situação dessas, você deve descobrir quais são. Observe, contudo, que evidenciá-los traz uma consequência: você provavelmente não conseguirá mais aceitar fazer algo que seja contrário a eles, principalmente aqueles que considerar inegociáveis.

Descobri-los pode ser mais simples do que parece e é um exercício de autoconhecimento.

Tenha um pouco de paciência e esteja disposto a ser sincero com você durante todo o processo, mesmo descobrindo que tem agido, no seu dia a dia, aparentemente contra algum valor.

Esse é um ponto muito importante: durante o exercício, você pode terminar chegando à conclusão de que um valor é contrário a uma ação que desempenha de forma corriqueira e habitual, no ambiente pessoal ou profissional e isso certamente fará com que você passe a questionar a validade de suas ações, seu comportamento, as amizades e relações que tem e até o seu emprego.

Além disso, é certo que as circunstâncias da vida podem alterá-los – eventos traumáticos, marcantes, relacionamentos, experiências profundas ou emocionais de alto impacto, dentre outros fatores, podem fazer você considerar um valor novo ou alterar suas prioridades.

Pense neste processo como um investimento de médio a longo prazo. Pense numa descoberta, que lhe permitirá entender o que lhe faz bem ou mal. O que lhe traz felicidade e realização ou não.

O que fará a respeito, com esse conhecimento? É com você.

Primeiro Passo: O Universo

Sugiro que você pegue papel e caneta ou faça uma planilha no computador, colocando, durante alguns dias, tantos valores quantos considerar válidos.

Não estamos agora procurando quais são ou não os seus, ou qual a prioridade: apenas escreva. Gere um universo interessante de valores, como ética, liberdade, família, dignidade, lealdade, coragem, honestidade, segurança, sucesso, justiça, qualidade de vida, crescimento, amor, fidelidade,  amizade, compaixão, contribuição, caridade, status, humor, prosperidade, dinheiro, poder…

Enfim, tantos quantos conseguir! Se possível, construa a lista tendo em mente as seguintes perguntas: “O que é importante para mim?” “O que é compatível com minhas necessidades?” “Tomo decisões considerando-o?”

Se a lista contém algum nome que você sente ser inadequado, faz você se sentir estranho ou gera rejeição, remova-o.

Dica importante: os melhores valores são aqueles que dependem de você ou sejam internos a você. Se você escolher um valor externo, terá pouco poder sobre a obtenção dele como, por exemplo, popularidade.

Segundo Passo: A Escolha

O objetivo aqui é diminuir o universo de nomes criado. Diante do conjunto de possibilidades, alguns você conseguirá eliminar de cara.

Outros você terá a reação oposta – provavelmente afirmará para si: “este não consigo viver sem“.

A ideia é restar apenas de dez a quinze opções.

Importante: NÃO monte uma lista dos valores que deseja ter, mas uma lista dos valores que você possui!

Para lhe ajudar a escolher, existem algumas técnicas.

A primeira delas é verificar os valores que despertam emoções e sentimentos.

A segunda é prestar atenção naqueles que “mexem” com você, meio que sem explicação.

A terceira e reparar nos valores que talvez tragam à tona um pouco de impulsividade.

Em todos os casos, pense nas situações do seu cotidiano e, ao verificar uma reação impulsiva, reconhecer uma emoção ou sentimento despertado, perceba qual valor, ou conjunto de valores, veio à mente involuntariamente.

Em quarto lugar, pense nos momentos em que se sentiu mais feliz, realizado e orgulhoso.

Em seguida, analise que valores estavam envolvidos nesses momentos e que podem até ter guiado você em cada um deles.

Não tente construir a lista rapidamente. Dê tempo para que as escolhas amadureçam por alguns dias, quem sabe uma semana: dê-se a liberdade de ir alterando à medida que vive a sua vida.

Recomendo uma semana por causa do ciclo natural relacionado: enfrentamos desafios distintos diariamente e o ciclo se repete mais ou menos a cada semana. Assim, você abrirá espaço para viver a maioria das situações “comuns” e verificar como reage.

Terceiro Passo: A Priorização

Novamente, existem algumas maneiras de realizar essa tarefa e priorizar a lista.

É bem provável que uma olhada já lhe permita decidir algum valor em favor de outro.

Compare dois dos valores e se pergunte: numa situação onde eu tenha que colocá-los à prova, qual prevaleceria? Escolha outro valor e compare novamente. Repita até começar a enxergar o que é prioridade.

Para auxiliar, escreva ao lado de cada valor a forma com a qual você exerce ele no seu dia a dia. Escreva também, se você souber, o sistema origem (família? Igreja? Escola? Trabalho? Time de futebol? etc.). O exercício de pensar sobre isso já lhe dará uma pista sobre quais valores são mais importantes, baseados nos sistemas origem mais relevantes para você.

Ordene visualmente da melhor forma que conseguir. Sugiro retornar à tarefa durante uma semana e em horários diferentes. Em alguns dias, é bem possível que a lista acabe ordenada.

Alguns tem tanta certeza dos seus valores quando os confronta que chegam à versão final da lista em poucos minutos (mas não fique triste se ficar em dúvida por um tempo! Neste caso, “o seu jeito é o jeito certo!”)

Atribuir valores numéricos absolutos a cada nome também ajuda. Você pode escolher uma escala de zero a cem e colocar esse peso ao lado do valor na planilha. Não tente racionalizar muito, pois estamos à procura da sua reação emocional ao valor e não de uma racionalização. Depois, é só ordenar a planilha do maior peso para o menor.

Quarto Passo: A Eliminação

É ótimo que tenha chegado até aqui!

Sinto dizer-lhe, contudo, que uma lista com quinze nomes é muito extensa (confesse, a sua tem quinze!).

A boa notícia é que o trabalho já foi feito: despreze os últimos sete valores. Isso mesmo! Aqueles que realmente tem influência na sua vida estão entre os quatro a oito iniciais. Recomendo focar nos cinco primeiros.

E Agora?

Com a lista construída em mente, passe a perceber as situações de sua vida que não são compatíveis e alinhadas com ela. Veja como ficou fácil entender cada situação que lhe incomoda, em maior ou menor grau! Você pode tomar a decisão de mudar o que lhe incomoda ou conviver com ela.

Permita-me adicionar, todavia, que se você está indo contra um valor inegociável (e é bem provável que a lista contenha vários deles), está também abrindo mão da sua felicidade… (talvez lá no fundo do seu ser, você sabe que é o caso).

Avalie igualmente as situações que são agradáveis: você notará que o alinhamento com a sua lista agora lhe é óbvio! Mais, a sua capacidade de tomar decisões que lhe levarão à sua realização e à felicidade acaba de ficar ordens de grandeza maior!

Se você chegou até aqui e realizou o processo, devo parabenizá-lo. Encarar esse desafio e tomar conhecimento dos nossos valores é, certamente, um ato de sabedoria… Mas antes de mais nada, exige coragem.

Deixar a vida nos levar é um comportamento equiparado a viver na zona de conforto. Não conhecer os valores que regem a nossa existência nada mais é do que dar manutenção a esse comportamento.

É muito difundida a ideia de que devemos viver em nossa zona de esforço e que viver na zona de conforto deve ser execrado – notório que viver na zona de conforto é condenado por coaches, palestrantes e tantos livros de desenvolvimento humano e pessoal quanto se pode ler.

Eu tenho uma visão distinta, apesar de, particularmente, acreditar que viver na zona de conforto é, no mínimo, um desperdício.

É necessário conhecer a si próprio e traçar um plano existencial. Um planejamento de vida e de como se deseja vivê-la. Eu não condeno quem deseja viver na sua zona de conforto ou trabalhar para chegar lá e pendurar as chuteiras. Pelo contrário, eu respeito essa decisão!

O que precisa ficar claro são as consequências disso, dessa atitude e comportamento. Não existe aprendizado ou evolução na zona de conforto. Não existe crescimento e, ouso afirmar que, em alguns casos, há a atrofia de certas qualidades humanas.

Não obstante, é um plano existencial válido e, aceitemos, desejado por mais pessoas do que se admite abertamente…

Se esse é o seu plano de vida, parabéns! É provável que você não traga muitas contribuições para a sociedade. Estando isso claro, devemos respeitar a individualidade de cada um e invadir menos os mapas alheios.

Se você fica incomodado de estar na sua zona de conforto e age ativamente para viver fora dela, aceitando mudanças, aprendendo sempre e procurando evoluir, parabéns! Ao conhecer os seus valores, você poderá planejar a sua vida, suas ações e sua existência sadiamente. Você tem coragem de se enfrentar, de mudar e se adaptar… Mesmo que doa…

Você segue em frente… E pode talvez seguir para o próximo passo: descobrir seu propósito.


(*)Nota: alguns coaches e especialistas no tema preferem segregar valores pessoais de profissionais. Eu acredito que temos apenas um conjunto fundamental de valores.

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O Poder de Ser Positivo, Parte 1

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Querido Leitor,

Nas duas últimas semanas, interagi muito com as pessoas por causa do meu post, onde descrevi o esforço em manter a depressão afastada. Foram muitos debates, trocas de ideias e experiências pelo Messenger, WhatsApp e Instagram e um assunto dominou: como manter-se positivo diante do desafio.

Não só foi uma rica troca de ideias como algo se encaixou dentro de mim.

Diante das dificuldades da vida, eu costumava racionalizar e tentava me preparar para o pior. Cheguei a comentar isso no post sobre minha caminhada: no intuito de me preparar, pensava em todas as formas possíveis (ou não) de algo dar errado. Planejava pensando o pior e achava uma irresponsabilidade pensar algo diferente do pior cenário.

Minha negatividade não parava por aí. Eu hoje sei que influenciava os outros e achava uma tremenda irresponsabilidade quem não se planejasse também, pensando nos piores cenários.

Meu caro leitor, eu era uma pessoa nada positiva, provavelmente aquela pessoa tóxica com a qual muitos não querem conviver por opção.

Diante de vocês, peço minhas sinceras desculpas. Devo isso não só às pessoas com as quais me relacionei até hoje, mas ao universo. Devo isso a todos que eventualmente influenciei com esse comportamento. Cabe a mim reconhecer e evoluir com o erro. Cabe a mim não só pedir desculpas, mas agradecer ao universo por essa catarse.

Como cheguei a essas conclusões?

É onde mora a melhor parte: resultados práticos.

Fazendo um balanço, esse tipo de atitude diante dos desafios da vida NUNCA me trouxe nada de útil. Considerando os últimos quarenta e dois anos, pensar no que poderia dar errado nunca me trouxe nenhuma vantagem sequer, nenhum insight ou nenhuma preparação, de fato, contra as intempéries da vida. Sem dúvida, hoje tenho a certeza de que me comportar assim só me presenteou com resultados negativos.

Isso não acontece por acaso. É bastante comum uma convivência negativa com o mundo estar associada a sentimentos negativos. Quando esses sentimentos são gerados, temos a tendência de enxergar o mundo através deles e agir de acordo.

Em 2013, um estudo observacional com mais de trinta mil pessoas (Kinderman P, Schwannauer M, Pontin E, Tai S) indicou que eventos negativos em nossas vidas, junto com o “ruminar” de pensamentos compatíveis e o sentimento de culpa, servem como bons indicadores de problemas mentais futuros, como depressão. Além dos fatos em si, o que pensamos e como reagimos a estes eventos modelam o nosso bem-estar psicológico.

Ou seja, intenções que surgem de pensamentos, geram sentimentos que geram ações. Se a cadeia for negativa meu caro, o resultado também será.

Ao longo dos últimos dezesseis anos, a vida tem tentado (inicialmente com muito esforço!), me ensinar que a gente atrai o que transmite. Essa é uma das leis mais antigas do universo. Aos poucos, fui percebendo que não só ser negativo não me ajudava, como pensar e desejar o melhor invariavelmente traz resultados melhores.

O primeiro passo dado foi rever os sistemas aos quais pertencia e as conexões que tinha com a sociedade. Essa revisão provocou uma mudança na forma com a qual eu interagia com outras pessoas, ao vivo e remotamente (pelo celular, internet etc.) e, aos poucos, esses sistemas foram sendo alterados, cada vez mais passando a serem populados por pessoas de bem com a vida, positivas e felizes.

Foi quando decidi conscientemente me afastar daquilo que julgava negativo, pessimista ou limitante. Aprendi que nós temos, como dizem lá fora, um “gut feeling“, um frio na barriga… uma espécie de alerta natural contra essas coisas que nós frequentemente subjugamos. É necessário escutar mais nosso “eu” interior, essa intuição que nos alerta para o perigo (sim, perigo!). Quando me refiro a afastar-se daquilo que é negativo, refiro-me a desde um vídeo aparentemente inocente em um grupo do WhatsApp à convivência com determinados perfis de pessoas.

Cometi erros de julgamento? Certamente. Quando somos ácidos e negativos, nosso poder de análise fica prejudicado e é natural que, em um momento inicial, nos afastemos de pessoas ou coisas que não são tão prejudiciais assim. Se usarmos educação e respeito ao próximo, isso não será uma questão importante com a qual deva se preocupar. Você sempre pode rever sua posição e se reaproximar. A questão aqui é: você não precisa ofender ninguém ou tomar ações irremediáveis.

Trata-se de auto preservação.

Não consigo afirmar se essas mudanças foram provocadas por minha nova postura (positiva) ou o contrário. Mas elas ocorreram e, hoje, olhando para o passado, consigo afirmar quando, com uma precisão de semanas, elas ocorreram. Fui, pouco à pouco, me livrando da toxicidade.

A partir daí, as mudanças começaram a aparecer de forma menos dolorosa e mais fácil. Uma coisa puxou a outra: cercar-me de pessoas positivas tornou mais fácil ter uma postura positiva frente à vida; tornou também mais fácil pensar positivamente, agir positivamente e falar uma linguagem de empoderamento ao invés de continuar a usar termos limitantes. A roda começa a girar e uma ação beneficia a próxima. É assim que funciona e é necessário atitude da nossa parte para agir e quebrar o ciclo. Esse pode ser o maior desafio de todos: apostar na mudança e agir. Pagar para ver.

O mais curioso disso tudo é a mudança interna provocada. Quando o novo alinhamento interno (positivo) ocorre, a lente que você enxerga o mundo mudará também e você passará a ver as coisas de forma mais bonita, mais possibilitadora.

[Este post tem duas partes. Esta é a primeira parte. Para continuar e ler a segunda parte, clique aqui.]

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O Poder de Ser Positivo, Parte 2

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[este post é uma continuação. Para ler a parte 1, clique aqui]

Dias atrás li um artigo na Entrepreneur sobre uma linha de raciocínio liderada pela psicóloga Gabriele Oettingen da Universidade de Nova York, afirmando que pensar positivo pode prejudicar o atingimento de metas e objetivos. Na minha humilde opinião, o artigo falha semanticamente ao confundir pensamento positivo com sonhar acordado. Não li ainda o livro dela que fala a respeito e prefiro acreditar se tratar de uma má interpretação.

É muito importante fazer uma distinção entre os dois: concordo com o artigo quando afirma que desviar recursos para ficar sonhando com uma realidade alternativa (positiva) pode prejudicar o atingimento dos seus objetivos. Mas pensar positivo faz muito mais parte do motor que deve existir por trás de ações objetivas do que do motivo para se mudar para um canto da sua mente, onde sempre faz sol e você está tomando mojitos à beira da praia.

Ter positividade frente à vida não significa que você deve ser irresponsável e ignorar evidências de algo que pode dar errado. Aqui, as coisas podem ficar um pouco mais complexas, pois podem faltar recursos em nós mesmos para avaliar objetivamente uma situação e concluir o que fazer.

No momento atual da minha vida, acredito que é melhor ser positivo sempre e influenciar positivamente tudo em que se toca, correndo o risco de falhar e não estar necessariamente “preparado“. Entenda, pois são coisas distintas – preparar-se para o pior (como eu fazia) não evita a falha em si. Ou seja, não serve para nada.

“It’s your unlimited power to create and to love
that can make the biggest difference in the quality of your life.”
Tony Robbins

Ser positivo ajudará você, inclusive, a ressignificar o ocorrido de forma a encontrar feedbacks úteis e seguir em frente. Algo tão óbvio, mas que muitos teimam em não enxergar: falhar não é agradável nem desejado, mas é um processo natural da evolução! Entenda como um aprendizado.

Agora, amigo leitor, pode restar a dúvida: como faço então para analisar objetivamente uma situação e decidir como agir, se ser negativo / pessimista pode me influenciar negativamente e ser positivo / otimista pode me influenciar positivamente (em ambos os casos, avaliando equivocadamente uma realidade)?

Existem inúmeras respostas a essa pergunta. Sugiro ler o fantástico “Originais” de Adam Grant para alguns insights. Contudo, como bom estudante da PNL, não poderia deixar de sugerir a estratégia ou Método Disney.

Criada em 1994 por Robert Dilts ao modelar como Walt Disney trabalhava, consiste em separar o processo criativo em partes: o sonhador, o realizador e o crítico.

Walt Disney possuía salas para cada uma dessas tarefas. Na primeira, seus parceiros de trabalho eram responsáveis por sonhar livremente sobre um determinado tema, irrefreáveis, sem se preocupar com a forma de executar ou quaisquer questões que poderiam eventualmente impedir a realização do sonho.

A segunda etapa consistia em pegar “o sonho” e submeter à equipe realizadora, responsável por elencar todos os passos necessários à criação do sonho, sem nenhum espírito crítico, apenas reunindo tudo aquilo necessário para tornar o sonho da primeira sala realidade.

Por fim, na sala da equipe crítica, o sonho e suas etapas de realização eram testados à procura de falhas e objeções. Ciclo concluído, as sugestões eram passadas adiante e o processo se repetia.

As interações das equipes em ciclos eram realizadas até Walt Disney ficar feliz com o resultado. Reza a lenda que, de tanto andar entre as salas, o chão era desgastado.

O ponto importante da estratégia é dar o tempo necessário para que cada etapa seja realizada completamente, algo que não acontece quando temos essa luta dentro de nós ou quando o sonhador, o realizador e o crítico estão no mesmo ambiente.

Agora, pare um pouco e pense em como um processo criativo se desenvolve dentro de sua mente. Perceba que a luta mental é constante e estamos ao mesmo tempo tentando sonhar, pensar nas etapas e criticá-las. Isso torna todo o processo pouco eficiente. Ao separar as etapas, não só ele se torna mais fácil e eficaz, como o impacto de uma característica de seu funcionamento, do seu estado momentâneo ou personalidade (como ser positivo, favorecendo o sonhador ou negativo, favorecendo o crítico), é minimizado.

Com isso em mente, não há desculpas a favor de não tomar uma atitude positiva por padrão. Mas se tem uma coisa que eu aprendi ao ser pessimista durante a maior parte da minha vida é que, quando os argumentos acabam, ouvem-se as generalizações.

É aí onde você começará a escutar argumentos do tipo “como é possível pensar positivamente, ser otimista em um mundo repleto de violência?” “Ah, não dá pra ser otimista com tanta tragédia acontecendo no mundo“.

Permita-me afirmar que esse argumento também é equivocado.

Steven Pinker escreveu um livro chamado “Os Bons Anjos da Nossa Natureza”, onde ele prova que, ao contrário do senso comum, a violência no mundo está diminuindo, e não aumentando.

Ele faz isso embasado em fatos, do início ao fim de sua obra de mais de mil páginas. De uma forma geral, o processo de civilização é responsável pela redução da violência por cem mil habitantes, estatística mais apropriada para avaliar a questão.

Ele também afirma, em um dado momento, uma suspeita antiga: a globalização e a velocidade com a qual a informação é difundida, juntamente com a mídia e um interesse maior por notícias negativas, nos dá a impressão de que o mundo está pior quando, na verdade, não está.

Sem querer entrar em outro tema mas pare por um momento e reflita: na Roma antiga, a diversão era jogar gente dentro do Coliseu e simular batalhas onde não só o sangue jorrava como partes de corpos voavam para todos os lados e eram estraçalhados por animais, algo inconcebível culturalmente por mais de mil anos recentes.

Não precisa ser estudante de história para pensar em pelo menos mais duas situações de violência corriqueira culturalmente aceitas nos últimos mil anos e que são impensáveis nos dias de hoje.

Em outras palavras: tragédia vende jornal (e não é, necessariamente, culpa da mídia).

Entretanto, somos bombardeados por notícias negativas, que só contribuem para uma espiral negativa.

Convido você a começar essa mudança. Comece aos poucos, evitando frases pessimistas, conteúdo negativo e pessoas como eu fui, não necessariamente nessa ordem.

Acorde pela manhã, olhe-se no espelho e dê um sorriso. Respire fundo, erga o peito e o queixo, assuma uma postura de vencedor e empodere-se: pense em como as coisas darão certo nesse dia maravilhoso que está à sua frente!

Aquele grupo do WhatsApp que só tem acidente e gente morta? Saia dele. E do grupo que só tem gente reclamando da vida? A mesma coisa.

Aquelas pessoas no Facebook que só falam dos seus problemas ou contam miséria? As que postam sobre como a vida é injusta ou ruim? Pare de seguir. Gente que só reclama no Twitter? Pare de seguir também. Substitua o jornal da TV à noite por uma boa leitura. Aproveite para estudar ou ler um bom livro!

Eu desafio você a me contar uma única coisa boa que aconteceu em decorrência de algum conteúdo negativo ou pessimista. E não, você não corre o risco de ficar “alienado” como alguns pensam – no mundo globalizado de hoje em dia, nem se você parar em uma ilha deserta.

E daí que o mundo não é só flores? Se está provado que isso pode influenciar seu dia, seu humor, seus sentimentos e seus resultados, escolha contaminar-se COM BONDADE!

Pense positivamente, use isso como combustível para todas as suas ações, conscientemente ou não. Escolha ser essa a influência que deseja carregar para além das suas ações – seus resultados. Você não tem absolutamente nada a perder, não esquecendo de ser grato ao universo (e a você!) quando as coisas derem certo. Se não derem? Seja grato pelo aprendizado, da mesma forma.

“Trade your expectation for appreciation and the world changes instantly.”
Tony Robbins.

Dedico esse texto (partes 1 e 2) à pessoa que tem, nos últimos sete anos, sido uma das minhas maiores fontes de positividade: minha Abacaxi com Canela.