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Síndrome do Impostor

Certamente você já deve ter ouvido falar em síndrome do impostor ou, em algum momento da vida, sentiu na pele do que se trata.

Talvez o que não saiba é que, apesar de desagradável, ela pode ser usada a seu favor.

Por onde passa, a síndrome do impostor gera identificação e a noção está comumente relacionada a uma baixa autoestima.

Associado a esse comportamento, temos o medo de sermos supostamente desmascarados como uma fraude… mesmo que as evidências externas reafirmem a competência e os nossos resultados.

Existem algumas perguntas que você pode se fazer para conhecer melhor a questão. Pergunte-se:

  1. Você percebe críticas ou feedback como supostas provas de sua incapacidade ou incompetência?
  2. Você relaciona o seu sucesso à sorte?
  3. Você sofre profundamente diante das menores falhas ou equívocos no que produziu?
  4. Você acredita que é apenas uma questão de tempo para que descubram que você não é capaz?
  5. Você se considera perfeccionista?

E por último, talvez a mais importante:

  • Existem evidências externas do seu sucesso ou competência?

Com essas perguntas, você deve identificar um comportamento de se considerar impostor e uma potencial saída dele.

Convivi com essa sensação durante anos e ainda convivo com ela.

Mas o que eu quero falar para vocês hoje, provavelmente causará uma surpresa.

A síndrome do impostor, por mais desagradável que seja, pode ser usada a seu favor, trazendo resultados positivos.

No livro Think Again de Adam Grant, ele conta a história de Halla Tómasdóttir, que concorreu ao cargo de presidente da Islândia cerca de 6 anos atrás, de como ela superou as dúvidas para sair do último lugar nas pesquisas, chegar em segundo lugar na eleição e de como usou a síndrome do impostor para reavaliar a situação constantemente, superando todas as objeções.

De fato, durante meses ela rejeitou o clamor popular para concorrer à presidência, chegando a achar um absurdo que as pessoas sequer sugerissem a possibilidade.

Deixarei no fim tanto essa quanto as demais referências usadas.

Agora, trago um conceito bem famoso criado por Martin Broadwell na década de sessenta: o dos estágios de aprendizado.

Incompetência Inconsciente

No primeiro cenário, você não sabe o que não sabe. Também chamado de incompetência inconsciente, é aquela situação onde nos deparamos com algo novo, mas sabemos tão pouco a respeito que é impossível avaliar o quanto não sabemos.

Incompetência Consciente

No segundo cenário, temos a incompetência consciente e uma boa ideia do quanto ainda precisamos aprender.

Competência Consciente

No terceiro cenário, chamado de competência consciente, aprendemos o suficiente para sabermos que sabemos… E executamos a tarefa de forma competente, mas ainda não no automático e pensamos durante o processo.

Competência Inconsciente

E, no último estágio, temos a competência inconsciente. Já praticamos tanto aquilo que sabemos que a execução fica automática.

É como dirigir um carro depois de anos de prática: podemos sair de casa e chegar ao trabalho sem pensar uma única vez em pisar no freio ou trocar de marcha.

E o que o conceito de Martin Broadwell tem a ver com a história contada por Adam Grant sobre a corrida presidencial na Islândia?

Pra entender a relação, imagine que as pessoas que estão nos estágios da competência consciente ou inconsciente podem exibir um comportamento conhecido como o efeito Dunning-Kruger ou viés do conhecimento.

Estudos científicos apontam que, quando achamos que sabemos de algo, cometemos o equívoco de achar que sabemos mais do que de fato sabemos.

E quando isso acontece, paramos de aprender.

Aqui, perceba relação com a síndrome do impostor.

Quando ela ocorre, um dos efeitos colaterais positivos é sempre achar que podemos melhorar ou aprender algo.

Se por um lado achar que é um impostor pode provocar a paralização pelo medo, por outro, a síndrome pode ser também um excelente mecanismo para sempre se superar.

Pense na síndrome do impostor e no efeito Dunning-Kruger como opostos. De um lado, a sensação de incompetência e, do outro, a arrogância de achar que sabe de tudo.

Halla, a candidata à presidência da Islândia, relatou sofrer desde os oito anos com a síndrome do impostor… Mas ela também afirma que foi um dos maiores motores para avaliar a situação e impulsioná-la na direção da superação.

A história é curiosa porque, um dos seus maiores concorrentes no início da corrida presidencial e líder nas pesquisas era um candidato que demonstrava egocentrismo e arrogância… E acabou quase em último lugar.

Se a síndrome do impostor causa a impressão em nós de que sempre estamos vivendo a incompetência inconsciente ou consciente, a sensação de estar aí nos faz questionar e estar abertos ao aprendizado.

É contra intuitivo achar que questionar ou repensar uma situação ou opinião leva a decisões e escolhas erradas.

Mas o que os estudos evidenciam é exatamente o contrário: quando nos damos a oportunidade de reavaliar o que achamos, na média, decidimos melhor.

Então, quero deixar três mensagens para vocês.

Se você acha que sofre com a síndrome do impostor, saiba que ela pode ser positiva, desde que não cause paralização e que todos nós somos imperfeitos.

E para que ela não trave você, recorra às evidências externas do que faz. Certamente entrará pessoas que respeitam você, o que faz e o resultado que obtém.

Segundo, como bem coloca Adam Grant, permita-se questionar, pensar novamente e reconsiderar, mesmo que tenha absoluta certeza de algo. O aprendizado depende disso.

E em terceiro, fuja do viés da autoridade. Não acredite em algo por causa da identidade de quem afirma, mas por causa da força das evidências. Se as evidências mudam, talvez esteja na hora de reavaliar e mudar de opinião também.

Com isso, você abrirá as portas para o aprendizado e ressignificará algo que é aparentemente limitante inicialmente, mas que pode ser usado em seu benefício.

Use a oportunidade para ficar aberto ao aprendizado e evoluir cada vez mais.


Conteúdo Adicional e Referências

Vídeos

Referências:

Livros:


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FOCO NO PROBLEMA OU NA SOLUÇÃO? OU EM NENHUM DOS DOIS?

[O vídeo original está disponível em focosolucao.oguiatardio.com]

Muitos usam a potencial falha dos outros, através da comparação, para se sentirem superiores.

Quando alguém rejeita supostos problemas e fala para focar absolutamente na solução, gera uma cultura de individualismo e vergonha, onde cada ser humano trabalhará para alcançar a saída sozinho e “provar” que é capaz, fazendo o possível para fugir da vulnerabilidade.

Entretanto, como grupo, somos muito mais do que a simples soma de nossas individualidades.

Perdemos uma excelente oportunidade.

Compartilhar o desafio em um grupo no qual se tem confiança, é muito mais eficaz do que guardar a questão para si e tentar sair do outro lado desamparado pela percepção de tantas outras pessoas que podem contribuir.

De fato, em algumas culturas organizacionais, o suposto “foco na solução” é isenção de responsabilidade e atribuição de culpa por parte do líder.

Um Álibi.

O papel do líder é construir essa confiança e diminuir a vergonha no processo.

Não arrumar uma desculpa para não se envolver.

Culturas de confiança não só são bem mais saudáveis: são mais produtivas.

Conteúdo Adicional

Vídeos

SUCESSO E A EPIDEMIA DE ESCASSEZ
https://www.youtube.com/watch?v=108se2QnhqU

ESCALA DE VALORES: COMO SABER SE ESTAMOS NA DIREÇÃO ADEQUADA?
https://www.youtube.com/watch?v=sMEkVhzf_5E

A SOCIEDADE DO CANSAÇO: ANSIEDADE, DEPRESSÃO E BURNOUT
https://www.youtube.com/watch?v=N-8ih-HC4tw

O Mindset de Naçòes e Oragnizações
https://www.youtube.com/watch?v=575DVoqLTTg

Honestidade NÃO é um Valor
https://www.youtube.com/watch?v=IQuYzXWXDqI

Referências:

Foco na Solução?
https://rmcholewa.com/2021/02/02/foco-na-solucao/

Livros:
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Romulo é um autodidata. Começou a lidar com tecnologia aos 16 anos e, ao longo da carreira, teve a oportunidade de conhecer profundamente cada aspecto da área e, curiosamente, da natureza humana. Diante de uma crise mundial no setor, conheceu o desemprego aos 25 anos.

Durante três anos, frequentou a melhor escola: não é à toa que dizem que a necessidade é a maior de todas elas. Aprendeu muito com a vida a partir daí, até mudar de vida: entendeu que o melhor caminho para a felicidade existencial é a prática da ressignificação, a humildade e que o fracasso é um mecanismo natural do ser humano para evoluir.

Enfrentar a depressão diversas vezes e lutar por saúde mental mostrou que o nosso maior adversário… somos nós mesmos. Vencê-la ensinou, dentre tantas coisas, que a maior realização que o ser humano pode alcançar é ver o próximo crescer. É ver, acima de tudo, o próximo brilhar, superar-se e não há melhor tratamento do que doar-se.

Hoje, como Master Practitioner em programação neurolinguística (PNL), atua na área de tecnologia da informação, vendas e tem como hobby ler, escrever e estudar sobre autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e humano, motivação, mindset, coaching, liderança e alta performance.

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O Despertar da Revolução Intelectual, Versão 2.0

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Texto originalmente publicado em 30 de janeiro de 2018, atualizado em 08/10/2020 e republicado. Para fins de referência, deixo o texto original inalterado.

Antes, uma breve história.

Escrevi originalmente este texto em janeiro de 2018 e ele foi parar no rascunho do livro que publiquei em maio de 2020. Entre janeiro de 2018 e fevereiro de 2020 (fechamento da versão final), sofreu um refinamento necessário e a adição de vários conceitos.

Entretanto, apesar de considerar o texto abaixo super importante na minha jornada criativa, não fez tanto sentido diante do contexto dos demais textos do livro e ele terminou não saindo na versão final e publicada. Então, resolvi republicá-lo como uma versão 2.0, contendo aquilo que foi elaborado até fevereiro de 2020.

Como ele é extenso, resolvi quebrá-lo em duas partes: esta, que trata especificamente da revolução intelectual e outra, que será publicada na próxima semana, falando sobre o ensino.

Vamos lá!


 

Será que a percepção que tenho da sociedade sofre influência da minha carreira na área de tecnologia?

Certamente e, por causa disso, vamos explorar um assunto que me incomoda bastante. A tecnologia faz parte da vida de todos e muitos não percebem ou pensam “isso não é comigo” ou “não preciso disso” (e esse é o problema).

Assim como meus colegas de profissão, consigo enxergar coisas que as pessoas “de fora” da área não conseguem (o que é natural em qualquer segmento) e faço a seguir um alerta sobre a tendência de caminho que se desenrola à nossa frente. Quem sabe é o establishment, alterando o formato da escravidão para se adequar a uma nova era.

Os conceitos estão sendo reciclados e atualizados, mas o fato é que até hoje se diz que “informação é poder”. Você já deve ter ouvido essa frase em algum momento da vida.

Se analisarmos a revolução industrial[1], do início do século dezoito até a metade do século vinte, veremos uma transição gradativa do “foco revolucionário” (se é que podemos chamar assim), calçado pela evolução científica e questões econômicas, para a revolução da informação[2], algo ainda cotidiano. Enquanto até a década de oitenta o conceito por trás de informação ser poder estava relacionado à captura e armazenamento da informação (ela era poder pela escassez, pois poucos tinham a capacidade de capturar, armazenar e processar quantidades suficientes de dados), hoje ele está mais ligado ao dar sentido à informação não estruturada.

Estamos falando de significado.

Praticamente todos os dispositivos móveis hoje em dia (pensei no seu celular, basicamente) não só são capazes de armazenar e processar grandes quantidades de dados como qualquer um tem acesso a estruturas compartilhadas poderosas (como a própria Internet), que permite pesquisar, de imediato, sobre praticamente tudo que vem sendo gerado pela humanidade nos últimos séculos. E ele armazena uma quantidade impensável de informações sobre cada momento seu.

Talvez informação tenha deixado de ser poder. Talvez esse poder tenha migrado para outro lugar.

Para colocar as coisas em perspectiva, imagine o seguinte cenário: a quantidade de informação produzida nos últimos dois anos é maior do que tudo que já foi produzido pela humanidade em toda a sua história anterior e o ritmo está cada vez mais acelerado.

O foco deixou de ser em “deter” (ou na custódia da informação) para estar no “fazer sentido” dela.

Desde o fim da década de noventa, a informação está virando uma commodity[3]. Estamos evoluindo de um cenário industrial, mecanizado e de força bruta para outro intelectual que requer cooperação e evolução em escala global.

Cada vez mais as questões da humanidade (e as soluções) estão deixando de caber nas mentes individuais e se tornando fruto de cooperações nacionais ou mundiais (empreitadas comparáveis a colocar o homem na lua). Situações assim estão se tornando mais comuns. Esforços que a cada dia se tornam mais distribuídos, permeando países e culturas.

As pessoas estão se dando conta de que um de nossos objetivos aqui na Terra é sermos mais do que o indivíduo. É interagir, evoluir como seres, sociedade, entregar ao universo mais do que as nossas somas individuais e obter felicidade e realização com a jornada.

Quando o ser humano coopera, coisas extraordinárias acontecem.

Antes de se perguntar como o assunto foi da revolução industrial para felicidade, note como o foco no século dezenove e meados do século vinte era econômico e vem migrando para realização e preenchimento das nossas vidas, um excelente sinal de maturidade para a humanidade: estamos saindo do operacional, do braçal, da subsistência e do mecânico para o intelecto. Esses sempre existirão (ou por um bom tempo além das nossas vidas).

No entanto, está ocorrendo um alinhamento entre benefício econômico, produtividade, realização pessoal, profissional e a felicidade. Para as pessoas que nasceram até 1990, esse alinhamento pode parecer estranho, distante e não fazer sentido.

Serei eu um otimista (quando uso argumentos como os anteriores) ou pessimista (quando lembro que o abismo social só aumenta)?

A revolução industrial foi uma grande padronização e mecanização de ações repetitivas (que exigiu intelecto) mas focada na “produtividade” e na transformação do ser humano em um apertador de botões. Com a evolução dos processos, estamos sendo substituídos nessa tarefa.

Entre o núcleo da revolução industrial e o da informação, tivemos outras mudanças que vem servindo como “cola” e evidenciam ocorrências naturais, adaptações necessárias para que a transição ocorra e a humanidade consiga englobar pessoas, processos, métodos, tecnologias, crenças, identidades e sistemas, diferentes e em estágios distintos de evolução e maturidade, além da natural migração do velho para o novo.

Veja por exemplo como, em meados do século vinte, o emprego no varejo (inclua aqui o comércio físico em geral, como shoppings, supermercados, lojas de departamento, fast-food etc.) tornou-se o que era o chão de fábrica no século dezenove ou como o desenvolvimento de software vem se tornando o mesmo chão de fábrica desde 2005. Não importa qual a revolução de amanhã, essa “cola” em forma de transição sempre existirá e permeará os tempos e as culturas. No entanto, a transição não é perfeita e enquanto a sociedade não se adapta, desemprego é gerado.

Retornando à questão da padronização e evolução de processos, a revolução da informação teve o seu momento idêntico, onde o ser humano “apertava botões”. De forma semelhante, o advento da inteligência artificial (IA)[4] começa a mudar o panorama (Heffernan, 2019), assim como a especialização e a automação mudou a indústria. De fato, a IA já faz parte e muda diariamente a vida de todos nós e nem tomamos conhecimento.

Na revolução industrial, houve uma comoditização[5] com a criação de uma camada de abstração que hoje nos permite usar elementos a baixíssimo custo, facilidade, padronização, racionalidade e de forma tão natural que pudemos passar a nos preocupar com coisas novas. Já ultrapassamos essa barreira há muito tempo para com a revolução industrial e estamos à beira de ultrapassá-la no âmbito da revolução da informação. Chame de indústria 4.0, 5.0, período pós-industrial, pós-moderno… ou de algum outro termo. Funciona do mesmo jeito.

O nível de padronização e automação está se tornando tão profundo que a próxima revolução estará ligada a quanto tempo o ser humano consegue dedicar ao seu processo de tomada de decisão, intelectual, inovação e criatividade. Imagine isso: entraremos em uma era onde a nossa capacidade de concentração, dedicação, cooperação e evolução será uma moeda. Na verdade, já estamos entrando nela e não nos demos conta.

“Quando fazemos a mesma coisa repetidas vezes,
você constrói momento, o que é bom para eficiência, mas terrível para a inovação.”
Gus Balbontin

Sabemos que a natureza do trabalho está em franca evolução e mudança. Desde 2000, cada vez mais temos migrado para um trabalho relacionado a resultados e a produtividade e menos relacionado ao tempo dedicado. O tempo, que antes estava nas mãos do empregador e das instituições, está passando gradativamente para as mãos dos indivíduos. Chamemos de mudança do paradigma do tempo. É, através dele, que as pessoas poderão desenvolver-se intelectualmente para abraçar metas cada vez mais audaciosas.

Entretanto, com a mudança do paradigma, vem a responsabilidade de administrar o tempo adequadamente (ou, como acredito ser mais apropriado, gerenciar as prioridades), assim como a grande chance de nos alçarmos ao protagonismo.

Sendo mais direto: tempo é uma moeda com lastro absoluto. O tempo não volta e uma vez investido, ele se transforma e você tem uma perda ou um ganho, determinado por quão bem investiu. Ao contrário do dinheiro ou bens, não há como gerar mais tempo (e o tempo ocioso é a maior perda de todas: ele vai embora sem transformação alguma).

“É o tempo que você dedicou para sua rosa
que faz da sua rosa tão importante”.
Antoine de Saint-Exupéry

É aí onde entra o conceito por trás do que talvez seja o maior furto e o maior processo de enganação já realizados em larga escala em nossa história recente.

Esclarecerei.

Com a reconfiguração do paradigma do tempo em favor do indivíduo, as organizações e governos começaram a perder o acesso a mais de cinquenta por cento do tempo de vida das pessoas. Desconte da sua vida os intervalos do trabalho, alimentação, deslocamento e sono e o que sobra é uma dicotomia temporal entre trabalho e vida pessoal. Deixei o número em cinquenta por cento como margem para ter uma zona que acomode os fins de semana, feriados e os workaholics[6]. Com isso, passa a ser cada vez mais importante onde escolhe investir seu tempo.

“Vou ensinar como gerenciar o tempo eficientemente.
Coloque todas as suas altas prioridades em uma lista e
as baixas em outra. Depois, faça tudo das duas listas até isso te matar,
do contrário, você é um perdedor.”
Dilbert

Essa movimentação, sem dúvida alguma, tem chamado a atenção de governos e organizações. Sinta como as estratégias de marketing têm mudado nos últimos anos e se tornaram tão invasivas que passaram a fazer ainda mais parte do nosso dia a dia e nem percebemos. Eu lembro de uma época onde o debate na Internet era como empresas de tecnologia fariam para monetizar anúncios online, porque já estava ficando feio ninguém saber. Foi uma época antes do Facebook e antes do conceito do Google como motor de marketing, anúncios e notícias – o início deste século, uma época que foi assolada pelo estouro da bolha da Internet.

Desde 2005, vem sendo criado todo um ecossistema de captura da atenção do indivíduo e sua monitoração, que vai do mais básico, como a idealização do veículo em si (dispositivos móveis), passando pela categorização do ser humano e pela criação de mecanismos de apuração de resultados até chegar a novas formas de interromper o uso do tempo no fluxo planejado por mim ou você.

Quantas vezes parou no dia de hoje para olhar para seu celular? Estima-se que ficamos um total de quatro horas por dia olhando apenas para ele. Quantas vezes checou online suas mensagens e notícias? Você tem a mínima ideia do quanto isso prejudicou o que intencionava realizar ou as suas ações? Se considerarmos por um momento que… o que “intencionava realizar” era uma expressão real do seu ser, que terminou abafada por exercícios externos que tentaram a todo custo capturar a sua atenção para exercer a influência desejada, entregando escolhas de fachada que nada mais são do que… apenas as direções que interessam, estabelecendo uma ficção narrada e realizada, por você, de liberdade.

Como se sente agora?

Ocorreu a transformação do indivíduo (e seu perfil de consumo e preferências) em produto, o que faz todo sentido quando enxergamos isso aliado às consequências da exacerbação do ego e do material. Da “coisificação”, como gosto de colocar, algo que veremos em detalhes mais a frente.

Ao usar quaisquer meios eletrônicos ou a internet, serviços supostamente gratuitos e as redes sociais, seu perfil de utilização (tudo que escolhe, diz, clica, comenta, compra, coloca no carrinho, cancela ou até mesmo recomenda) é associado à você, junto com a sua localização, informações demográficas, crédito, capacidades financeiras e até ao seu salário e isso é vendido livremente entre empresas[7] que existem com a exclusiva finalidade de saber quem é, através das suas escolhas feitas desde a tela do celular até o caixa da farmácia.

Trata-se do capitalismo de vigilância[8].

Cultiva-se o ego que, por sua vez, é vendido como produto.

Como conseguem isso?

Estimulando o nosso ego, “coisificando” as pessoas e criando mecanismos para que nós mesmos estimulemos ele mutualmente. Sim, ao transformar pessoas em coisas, tudo pode ser comercializado, inclusive eu ou você.

Por que fazem isso?

Porque conseguem vender muito mais pra você e até controlar o seu comportamento (Hill, 2014) / (McCarthy-Jones, 2017). Talvez isso interesse a um ou dois indivíduos no mundo… quem sabe. E eu sequer entrarei nas implicações diretas sobre privacidade. Com toda uma indústria vendendo múltiplas características intimamente pessoais e privadas de todos nós, achamos que temos… liberdade.

Essa é uma indústria mundial totalmente sem regulamentação ou fiscalização. Dentre as seis maiores empresas de tecnologia do mundo (corporações acima dos cem bilhões de dólares de tamanho e algumas que até já quebraram a barreira do trilhão de dólares), cinco estão relacionadas à essa prática, direta ou indiretamente.

Enquanto reafirmo ser o tempo uma moeda de lastro absoluto, a atenção é o meio pelo qual o establishment retira o tempo do nosso bolso e deposita nas mãos de quem nos manipula. É furto porque a relação que temos com o mundo que nos cerca e tais instituições não é clara e a retirada ocorre sem nosso consentimento ou percepção. É enganação porque os termos e as condições aos quais nos submetemos nos levam a conclusões equivocadas.

Estamos diante de uma nova forma de escravidão. Quanto mais você usa esse maquinário digital, mais sabem sobre você. Mais cedemos quem somos. Mais nos transformamos em coisas e em transações. Mais conseguem colocar opções na nossa frente que atendem aos interesses do establishment e… ao ter a possibilidade de escolher dentre tais opções, reforçamos nossa sensação de liberdade.

Em uma era que se inaugura diante de nós, onde o intelecto, a capacidade de tomar decisões, de inovar e a responsabilidade do indivíduo aumentam, bem como o seu potencial de protagonismo, podemos fazer mais no que diz respeito a questões como crescimento, evolução e desenvolvimento humano.

Estamos diante de um alinhamento substancial entre a era que se inicia e o empoderamento individual, bem como a possibilidade, agora real, do ser humano se desenvolver pessoalmente e profissionalmente com as mesmas iniciativas e, na jornada, ajudar o próximo e ser de fato feliz existencialmente.

Já olhou ao seu redor e se deu conta de quantas pessoas não aguentam mais os seus empregos atuais tradicionais ou, sob outra ótica, como a quantidade de empreendedores tem aumentado vertiginosamente nos últimos anos, mesmo diante de tantas dificuldades?

Pare por um momento e pense: vivemos em um país totalmente hostil ao empreendedorismo e, mesmo assim, temos mais empreendedores. Nunca se viu uma onda tão grande de treinamentos de desenvolvimento humano, pessoal e de autoconhecimento. Nunca houve uma procura tão grande por alinhar, conscientemente, a realização pessoal e profissional com a felicidade e as atividades do dia a dia que cada indivíduo ama realizar. Todos esses são excelentes indicadores de que estamos tentando. Mas a escravidão do establishment está mudando também e acompanhando a evolução dos tempos para continuar fabricando escravos. Temos muito espaço, conhecimento e ferramentas para sair dela, mas estamos falhando em perceber o todo.

O nosso poder através do foco e da atenção é tanto que nossas escolhas determinam o sucesso ou o fracasso de produtos, serviços, empresas, governos, pessoas, políticos e tudo aquilo que compete por eles. Ao que damos atenção, realizamos. Qual o valor que tem dado a sua atenção e tempo? Quem os usa?

Percebe-se frequentemente estar “sem tempo” para ler um livro, ligar para um amigo, brincar com seus filhos, comer direito, se exercitar ou sair com seu par, mas os likes e comentários nas redes sociais estão em dia assim como as séries e filmes?

Ah, entendo, no seu caso é “diferente”… está “sem tempo” por causa do trabalho.

Está na hora de fazermos algo a respeito disso. Está na hora de gerenciarmos melhor nossas escolhas, tornando-as conscientes. Está na hora de criar escolhas; de gerenciar melhor quem tem acesso ao nosso foco, atenção e tempo. Está na hora de nos fazermos mais “presentes” e acordados, quebrar o ciclo e questionar.

Questionar?

[Esse texto é divivido em duas partes. A segunda parte pode ser acessada clicando aqui.]


  • [1] A revolução industrial foi a transição do método de produção manual e artesanal para a produção em larga escala utilizando máquinas, insumos de melhor qualidade produzidos pela própria indústria e novas fontes de energia (elétrica, vapor, combustíveis fósseis, dentre outras). Ela foi um divisor de águas por modificar profundamente a sociedade, a educação e as relações de trabalho.
  • [2] Com o surgimento e o crescimento dos sistemas computacionais na década de sessenta, aliado a uma fusão generalizada de áreas do conhecimento que provocaram o avanço e o surgimento de inúmeras tecnologias, a matéria prima passou a ser a informação em si e como usá-la adequadamente.
  • [3] Mercadoria comum ou amplamente disponível.
  • [4] A Inteligência Artificial (IA ou também conhecida como aprendizagem de máquina ou machine learning) é a exibição da característica de inteligência humana exercida por máquinas ou software. O conceito é muito amplo mas, de uma forma geral, significa empregar recursos artificiais (máquinas e software) para executar tarefas outrora apenas realizadas com a participação da inteligência humana.
  • [5] Comoditização vem da palavra inglesa “commodity” e significa “qualquer mercadoria”. Em termos práticos, é quando não há diferença entre produtos, sob a ótica do cliente.
  • [6] Termo usado para definir pessoas viciadas em trabalho.
  • [7] Os data-brokers são empresas especializadas em compilar informações da sua vida digital, do seu perfil de consumo e preferências pessoais, vendendo o resultado como inteligência para outras organizações.
  • [8] O termo original em inglês é “surveillance capitalism”.

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O Despertar da Revolução Intelectual

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Atenção: este artigo foi atualizado.

Escrevi originalmente este texto em janeiro de 2018 e ele foi parar no rascunho do livro que publiquei em maio de 2020. Entre janeiro de 2018 e fevereiro de 2020 (fechamento da versão final), sofreu um refinamento necessário e a adição de vários conceitos.

Entretanto, apesar de considerar o texto super importante na minha jornada criativa, não fez tanto sentido diante do contexto dos demais textos do livro e ele terminou não saindo na versão final e publicada. Então, resolvi republicá-lo como uma versão 2.0, contendo aquilo que foi elaborado até fevereiro de 2020.

Portanto, para acessar a versão 2.0 (atualizada) deste texto, clique aqui.


Informação é poder“, diz-se até hoje.

Se analisarmos a revolução industrial, do início do século 19 até a metade do século 20, vimos uma transição gradativa do “foco revolucionário” (se é que podemos chamar assim), calçado pela evolução científica e questões econômicas, para a revolução da informação, algo totalmente presente em nossas vidas.

Enquanto trinta anos atrás o conceito por trás de “informação ser poder” estava relacionado à captura e armazenamento da informação (ela era “poder” pela escassez, pois poucos tinham a capacidade financeira de capturar e armazenar quantidades suficientes de dados), hoje ele está mais ligado ao dar sentido à informação não estruturada.

Qualquer dispositivo móvel hoje em dia não só é capaz de armazenar e processar grandes quantidades de dados como qualquer pessoa tem acesso a estruturas compartilhadas poderosas (como a própria Internet), que permite pesquisar, de imediato, sobre praticamente tudo que vem sendo gerado pela humanidade nos últimos séculos.

Talvez informação tenha deixado de ser poder. Talvez esse poder tenha migrado para outro lugar.

Investiguemos.

Para colocar as coisas em perspectiva, inicialmente temos que imaginar o seguinte cenário: a quantidade de informação produzida nos últimos dois anos é maior do que tudo que já foi produzido pela humanidade em toda a sua história anterior e o ritmo está cada vez mais acelerado.

O foco deixou de ser em “deter” (ou na custódia da informação) para estar no “fazer sentido” dela.

Nos últimos cinco anos, a informação está virando uma commodity (e isso é muito bom). Estamos evoluindo de um cenário industrial, mecanizado e de força bruta para outro, intelectual, que requer cooperação e evolução em escala global.

Cada vez mais, as questões (e as soluções) estão deixando de caber nas mentes individuais e se tornando fruto de cooperações nacionais ou globais (refiro-me a empreitadas comparáveis a colocar o homem na lua).

Situações assim estão se tornando mais comuns. Um exemplo é o desenvolvimento de software, uma prática que a cada dia se torna mais distribuída, permeando países e culturas.

As pessoas estão se dando conta de que um de nossos objetivos aqui na Terra é ser mais do que o indivíduo. É interagir, evoluir como seres, sociedade, entregar ao universo mais do que as nossas somas individuais e obter felicidade e realização com a jornada.

Quando o ser humano coopera, coisas extraordinárias acontecem.

Antes de se perguntar como o assunto foi da revolução industrial para felicidade, perceba como o foco no século passado era econômico e vem migrando para realização e preenchimento das nossas vidas. Acredito ser esse um excelente sinal de maturidade para a humanidade: estamos saindo do operacional, do braçal, da subsistência e do mecânico para o intelecto. Estes sempre existirão, mas está ocorrendo um alinhamento entre benefício econômico, produtividade, realização pessoal, profissional e felicidade.

“As pessoas bem sucedidas fazem o que as pessoas mal sucedidas não estão dispostas a fazer. Não deseje que fosse mais fácil, deseje ser melhor”.
Jim Rhon

Melhor: A revolução industrial foi uma grande padronização e mecanização de ações repetitivas (claro, que exigiu intelecto) mas focada na “produtividade” e na transformação do ser humano em um apertador de botões. Com a evolução dos processos, estamos sendo substituídos.

Entre o núcleo da revolução industrial e o da informação, tivemos outras mudanças que vem servindo como “cola” e evidenciam ocorrências naturais, adaptações necessárias para que a transição ocorra e a humanidade consiga englobar culturalmente e evolucionalmente pessoas, processos, métodos, tecnologias, crenças, identidades e até a fé, diferentes e em estágios distintos de evolução.

Veja por exemplo como, em meados do século 20, o emprego no varejo (inclua aqui o comércio físico em geral, como shoppings, supermercados, lojas de departamento, fast-food e etc.) tornou-se o chão de fábrica do século 19, ou como o desenvolvimento de software vem se tornando nos últimos 5 anos o mesmo chão de fábrica.

Importante notar que, não importa qual a revolução de amanhã, essa “cola” sempre existirá e permeará os tempos e as culturas.

Retornando à questão da padronização e evolução de processos, a revolução da informação teve o seu momento idêntico, onde o ser humano “apertava botões“. De forma semelhante, o advento da inteligência artificial começa a mudar o panorama, assim como a especialização e a automação mudou a indústria.

Em ambos os casos, houve uma comoditização do modus operandi e foi criada uma camada de abstração que hoje nos permite usar elementos de ambas a baixíssimo custo, facilidade, padronização, racionalidade e de forma tão natural que podemos, a partir de agora, passar a nos preocupar com coisas novas. Já ultrapassamos esse barreira para com a revolução industrial e estamos à beira de ultrapassá-la no âmbito da revolução da informação.

O nível de padronização e automação está se tornando tão profundo que ouso afirmar que a próxima revolução estará ligada à quanto tempo o ser humano consegue dedicar-se ao seu processo de tomada de decisão, intelectual e para pensar o novo.

Imagine isso: entraremos em uma era onde a nossa capacidade de concentração, dedicação, cooperação e evolução será uma moeda. Na verdade, já estamos entrando nela e não nos demos conta.

“A pergunta que você deve fazer não é ” O que eu quero? ” ou ” Quais são meus objetivos? “, mas” O que me excitaria? “
Tim Ferriss

Eu tenho quase 43 anos, 27 de profissão e ainda trabalhei no modo revolução industrial de ser. É uma associação completa de produtividade com tempo, que engloba nosso sistema de ensino que, por sua vez, foi criado para treinar apertadores de botões. Ouve-se uma buzina, entra-se numa sala. Buzina, lanche. Buzina, recreio. Buzina, intervalo, buzina, prova… e você cumpre uma carga horária desde criancinha. Você aprendeu, desde pequeno, a respeitar os sinais que determinavam o que fazer até o fim da existência.

O que importava era chegar às 8 e sair as 18, onde você era medido por assiduidade e presença.

Repetição. Momentum. Status quo. Onde fica a criatividade e a inovação? Nosso sistema profissional e educacional, intimamente relacionados, não promoviam, não respeitavam e não tinham lugar para elas.

“Quando fazemos a mesma coisa repetidas vezes, você constrói momento, o que é bom para eficiência mas terrível para a inovação.”
Gus Balbontin

Convenhamos, sabemos que a natureza do trabalho está em franca evolução e mudança. Nos últimos dez anos, cada vez mais temos migrado para um trabalho relacionado a resultados e produtividade.

O tempo, que antes estava nas mãos do empregador e das instituições, está passando gradativamente para as mãos dos indivíduos. Chamemos, por questões didáticas, de mudança do paradigma do tempo. É, através dele, que as pessoas poderão desenvolver-se intelectualmente para abraçar metas cada vez mais audaciosas. Entretanto, com ele vem a responsabilidade de administrá-lo adequadamente, assim como a grande chance de nos alçarmos ao protagonismo.

De fato, sendo mais direto: tempo é uma moeda com lastro absoluto no nosso plano interpessoal, do dia a dia. O tempo não volta e, uma vez investido, ele se transforma e você tem uma perda ou um ganho, determinado por quão bem você investiu. Ao contrário do dinheiro ou bens, não há como gerar mais tempo (e o tempo ocioso é a maior perda de todas: ele vai embora sem transformação alguma).

“É o tempo que você desperdiçou em sua rosa que faz da sua rosa tão importante”.
Antoine de Saint-Exupéry

É aí onde entra o conceito por trás do talvez maior furto e do maior processo de enganação já realizados contra a humanidade.

Permita-me esclarecer.

Com a reconfiguração do paradigma do tempo em favor do indivíduo, as organizações e governos começaram a perder o acesso a mais de 50% do tempo de vida das pessoas. Chegar a esse número é fácil: você deveria dormir oito horas (desconto-as do total porque particularmente não considero dormir uma atividade pessoal ou profissional).

Desconte os intervalos do trabalho, alimentação e deslocamento e o que sobra é uma dicotomia temporal entre trabalho (expediente e horas extras) e vida pessoal (restante). Deixei o número em 50% como margem para ter uma zona que acomode os fins de semana, feriados e os workaholics.

Com isso, passa a ser cada vez mais importante onde você escolhe investir seu tempo. Lembre-se, outrora uma decisão tomada pelos outros, essa decisão está cada vez mais nas mãos do indivíduo (mas não sem esforço).

Vou ensinar como gerenciar o tempo eficientemente. Coloque todas as suas altas prioridades em uma lista e as baixas em outra. Depois, faça tudo das duas listas até isso te matar, do contrário, você é um perdedor.

Essa movimentação, sem dúvida alguma, tem chamado a atenção de governos e organizações. Evidência clara: perceba como as estratégias de marketing tem mudado nos últimos quinze anos e se tornaram tão invasivas que passaram a fazer ainda mais parte do nosso dia-a-dia e nem percebemos.

Eu lembro de uma época onde o debate na Internet era como empresas de tecnologia fariam para monetizar anúncios online, porque já estava ficando feio. Foi uma época antes do Facebook e antes do conceito do Google como motor de marketing, anúncios e notícias. Estamos falando do início do século, uma época que foi assolada pelo estouro da bolha das .com.

“Historicamente, a privacidade estava quase implícita, porque era difícil encontrar e coletar informações. Mas no mundo digital, seja através de câmeras digitais ou satélites, ou apenas o que você clica, precisamos de regras mais explícitas – não apenas para governos, mas para empresas privadas.”
Bill Gates

Em quinze anos, foi criado todo um ecossistema de captura da atenção do indivíduo, que vai do mais fundamental, como a criação do veículo em si (dispositivos móveis por exemplo), passando pelo profiling ou categorização do ser humano, criação de mecanismos de apuração de resultados até chegar à novas formas de interromper o uso do tempo no fluxo planejado por mim ou você (smartwatches e interfaces criadas com a única intenção de viciar o usuário em FOMO (Fear Of Missing Out).

Estes são alguns dos exemplos mais óbvios. A coisa está tão fora de controle que você paga pela assinatura de um produto ou serviço e, ainda assim, recebe propaganda através dele, algo inconcebível dez anos atrás. De fato, todo o argumento da indústria de TV por assinatura baseava-se em você estar livre de propaganda ou distrações (diga-se de passagem, o modelo da TV por assinatura está morrendo).

Hoje, até o menu iniciar do Windows 10 empurra anúncios na sua cara. Eu não vou nem mencionar os aparelhos celulares e seus aplicativos cheios de propaganda.

Como se não bastasse, ocorreu a transformação do indivíduo (e seu perfil de consumo / preferências) em produto. Ao usar plataformas como o Facebook, Google e tantas outras, seu perfil de utilização (tudo que você escolhe, diz, clica, comenta, compra, coloca no carrinho, cancela ou até mesmo recomenda) é associado a você, junto com informações demográficas e até o seu salário e isso é vendido livremente entre data brokers, empresas que existem com a exclusiva finalidade de saber quem você é através das suas escolhas online. Eu sequer entrarei nas implicações sobre privacidade.

“Os que podem desistir da liberdade essencial para obter um pouco de segurança temporária não merecem liberdade nem segurança”.
Benjamin Franklin

Essa é uma indústria mundial totalmente sem regulamentação ou fiscalização. De fato, dentre as seis maiores empresas de tecnologia do mundo, cinco estão relacionadas à essa prática, direta ou indiretamente.

Talvez agora, meu caro Leitor, tudo comece a fazer sentido para você. Enquanto reafirmo ser o tempo uma moeda de lastro absoluto, a atenção é o meio pelo qual o mundo retira nosso tempo do nosso bolso e deposita nas mão alheias. Trata-se de furto porque a relação que temos com o mundo que nos cerca e tais instituições não é clara e a retirada ocorre sem nosso consentimento ou percepção. Trata-se de enganação porque os termos e condições aos quais nos submetemos nos levam à conclusões equivocadas.

Permita-me agora propor uma atualização, diante de evidências mais ricas, à primeira frase do texto:

Atenção é poder.

Em uma era que se inaugura diante de nós, onde o intelecto, a capacidade de tomar decisões, de inovar e a responsabilidade do indivíduo aumentam, bem como o seu protagonismo, poderemos fazer muito mais no que diz respeito à questões como crescimento, evolução e desenvolvimento humano. Passa a existir um alinhamento fundamental entre a era que se inicia e o empoderamento individual, bem como a possibilidade, agora real, do ser humano se desenvolver pessoalmente e profissionalmente com as mesmas iniciativas e, na jornada, ajudar ao próximo e ser, de fato, feliz existencialmente.

Não entrarei no mérito da questão, mas pare por um momento e pense: vivemos em um País totalmente hostil ao empreendedorismo e, não obstante, temos mais empreendedores. Nunca se viu uma onda tão grande de treinamentos de desenvolvimento humano, pessoal, coaching e de auto conhecimento. Nunca houve uma procura tão grande por alinhar, conscientemente, a realização pessoal e profissional com a felicidade e as atividades do dia a dia que cada indivíduo ama realizar.

Você já olhou ao seu redor e se deu conta de quantas pessoas não aguentam mais seus empregos atuais tradicionais ou, colocando de uma outra forma, como a quantidade de empreendedores tem aumentado vertiginosamente nos últimos anos, mesmo diante de tantas dificuldades, como no nosso País?

A jornada requer foco. Ela requer o uso sábio do tempo e da nossa atenção, bens imateriais dos mais preciosos e que nos vem sendo furtados.

O nosso poder através do foco e da atenção é tanto que nossas escolhas determinam o sucesso ou o fracasso de produtos, serviços, empresas, governos, pessoas, políticos e tudo aquilo que compete por eles. Qual o valor que você tem dado a sua atenção?

Está na hora de fazermos algo a respeito disso. Está na hora de gerenciarmos melhor nossas escolhas, tornando-as conscientes; de gerenciar melhor quem tem acesso ao nosso foco, atenção e tempo. Está na hora de nos fazermos mais “presentes” e acordados.

Despertar é a palavra.


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Você Trabalha Ou Vive Sob Stress e Pressão?

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(*)Quero começar afirmando algo doloroso para alguns: pressão é normal, não só no trabalho, mas em diversos aspectos da nossa vida e pode ter sua fonte em diversos lugares.

Exploraremos hoje seis deles, abordagens individuais e uma potencial abordagem global:

A pressão sempre foi uma constante, provocada por algum dos pontos acima e, com o tempo (e o amadurecimento), adicionamos à equação algo que faz toda a diferença: inteligência emocional, que mencionarei por último, pois trata-se de um tema que facilita (muito) a lidar com a pressão.

Quando menciono que pressão é doloroso, não me refiro a sofrimento, necessariamente; refiro-me à mudança, um processo amplamente documentado e estudado na psicologia e que, ao longo do último século e meio, é tratado exaustivamente.

“Não há despertar da consciência sem dor.”
Carl Jung

O que é a pressão muitas vezes, se não uma comunicação desesperada de mudança direta ou indiretamente ligada à responsabilidade, visão distinta de uma realidade ou um embate de posicionamentos, provavelmente com data e hora para ocorrer?

“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta à mudanças.”
Leon C. Megginson

Curiosamente, a citação acima é quase sempre atribuída a Charles Darwin mas, na verdade, ela é de Leon C. Megginson.

 

A mudança em si é um gerador fortíssimo de ansiedade. Soma-se a isso o fato de que muitos trabalham dentro de suas respectivas zonas de conforto. Mais, trabalham para se manter dentro dela. Mudar gera desafio imediato e um esforço muitas vezes indesejado, o que nos leva a talvez afirmar que a resistência à mudança é o cerne da questão, e não a mudança em si. Refratamos a mudança muitas vezes de forma inconsciente, sem sequer pensar a respeito.

Isso, meu caro amigo, não deveria ser indesejado. Pelo contrário, oportunidades de ser o protagonista lhe colocam no comando da sua vida, o que pode lhe levar a outra conclusão também dolorosa:

“A maioria das pessoas não quer verdadeiramente liberdade, porque liberdade envolve responsabilidade e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade.”
Sigmund Freud

Chamo especial atenção a esse ponto porque ele transforma você em sujeito! Ele é fundamental para o nosso crescimento e ser ator principal do nosso palco exige responsabilidade.

Existem outros geradores de ansiedade e pressão, seja no ambiente de trabalho ou fora dele. Ouso afirmar: as questões e a ansiedade geradas pela falta de comunicação clara e a ausência de entendimento talvez sejam as mais presentes em nossas vidas. Abordei a comunicação em específico em dois artigos sobre como ela pode até ser considerada, quem sabe, a razão principal para a discórdia no mundo.

A minha argumentação gira em torno de dois pontos principais: em primeiro lugar, a responsabilidade do entendimento da comunicação é de quem emite a informação e essa responsabilidade (olha ela novamente!), é frequentemente negligenciada. Em segundo, elenco uma série de estratégias que podem ajudar muito a melhorar o processo de comunicação.

Além da comunicação, quero abordar três pontos adicionais que geram pressão e ansiedade, antes de retornar para a inteligência emocional. Perceba como há toda uma lógica por trás de falar de comunicação antes dos demais, pois sofrem influência direta ou indireta.

Um dos artigos mais lidos deste blog trata da gestão do tempo. Uma das reclamações mais comuns hoje em dia é a alegação de que não temos tempo para realizar o que queremos (ou devemos). No texto, repare que a conclusão fatal é de que a nossa agenda é populada pelos itens para os quais demos prioridade de forma consciente ou não. A questão toda resume-se a isso: descobrir como o tempo está sendo consumido e usar técnicas para colocar em nossas agendas aquilo que de fato é prioridade consciente.

“A falta de tempo não é uma desculpa plausível quando queremos fazer acontecer. Se assim fosse, todos os desocupados seriam bem-sucedidos.”
Tathiane Deândhela

No âmbito profissional, uma das grandes experiências que vivi foi a correta ou incorreta comunicação de prazos e a negociação de deadlines, batendo de frente com as expectativas geradas.

Quando não há uma gestão efetiva do tempo (ou comunicação ineficiente), não conseguimos medir a nossa produtividade e frequentemente comunicamos, para a cadeia de gestão, informações equivocadas, o que gera um fenômeno interessante: a equipe tem receio de comunicar e se comprometer com prazos que não conhece ou domina, simplesmente porque não há um trabalho de gestão de tempo sendo realizado e não porque a gestão é intransigente ou algo do tipo (que, por sua vez, se sente naturalmente insegura, sem evidências).

“Objetivos são sonhos com prazos.”
Diana Scharf

Mais uma vez, o que termina faltando é o protagonismo, a responsabilidade e a comunicação eficiente… grandes geradores de pressão e ansiedade, o que nos leva à próxima questão: a nossa percepção da realidade o que, para a PNL, é tratada pelo seu primeiro pressuposto, mencionando que “mapa não é território“.

É necessário entender que existe uma diferença entre a realidade objetiva (como ela de fato é) e a nossa percepção do que é realidade (chamado de realidade subjetiva). Isso ocorre porque a nossa interface com o mundo ocorre através dos sentidos e o que de fato armazenamos pode ser alterado por uma série de fatores, como questões de personalidade, sentimentos, distorções, omissões e generalizações, tema que abordei nesse outro artigo.

A questão é extremamente importante porque nos permite, de cara, entender que a percepção da realidade é subjetiva, por mais que se force a barra. A sua realidade é diferente da minha e está sujeita a um sem número de interações e experiências que você teve ao longo da vida, o que, em outras palavras, significa que o certo de alguém pode ser diferente do certo de outra pessoa por uma pura diferença de interpretação da realidade.

Isso, tomado por base, nos faz refletir e respeitar melhor as opiniões alheias.

No artigo sobre o dilema do certo versus o errado, exploro a questão, indo um pouco adiante: além das nossas representações internas sobre realidade serem potencialmente diferentes, o mundo é composto de bilhões e bilhões de variáveis, a maioria sequer conhecidas por nós, o que implica na existência de talvez milhões de “certos” e milhões de “errados”.

O ser humano, por uma necessidade fundamental de “entender” tudo que o cerca e um medo irrefreável do desconhecido, atribui muitas vezes explicações a coisas inexplicáveis. Esse é outro fenômeno bastante estudado ao longo do tempo e tem o efeito colateral de fazer com que as pessoas se agarrem às suas verdades, achando que são únicas e imutáveis, gerando conflitos de entendimento ou “mapa” e comunicação, por não conseguirem enxergar realidades ou alternativas.

É necessário, como ser humano, ter a humildade para entender que podemos não ter inteligência, conteúdo ou comportamento adequado e suficiente para compreender muita coisa no universo e isso não está, necessariamente, errado ou carente de retificação imediata e depende de um processo de evolução longo.

“A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o medo mais antigo e o mais forte é o medo do desconhecido.”
H. P. Lovecraft

Ao expor os pontos acima, há de se convir que os seis, colocados como geradores de ansiedade e pressão em nossas vidas, tem um caráter subjetivo e nem sempre uma solução clara e direta. Cada caso é um caso e precisa ser avaliado com carinho.

Entretanto, existe um fator que permeia as seis questões e pode servir como uma potencial solução mais ampla, talvez associada a uma comunicação eficaz: a inteligência emocional.

Trata-se de um conceito difundido e popularizado pelo psicólogo Daniel Goleman há cerca de 10 anos, mas que vem sendo aplicado com algumas variações deste o início do século passado.

O mais interessante do trabalho de Goleman é o fato de que, dele, derivaram-se tantos outros trabalhos (inclusive, de outros autores), evoluindo nas mais diversas direções, como o conceito de inteligência social, foco / mindfulness e tantas outras “inteligências”.

De uma forma bem prática, inteligência emocional significa avaliar, através do comportamento de um indivíduo, as emoções que estão sendo representadas, bem como o desenvolvimento da habilidade de lidar com elas e com as suas próprias (em reação a alguém ou que provoquem reação em alguém).

Permito-me adicionar um comentário à definição: ao aprender a lidar com as próprias emoções e com as do próximo, comunicar-se e apresentar-se ao próximo e à sociedade de forma mais eficiente, mantendo a fidelidade para com os seus sentimentos e opiniões originais (você agora deve estar pensando: nem todo mundo é fiel aos seus sentimentos e opiniões originais…).

De acordo com ele, o nosso “cérebro” emocional é mais rápido do que o “racional”, portanto, é tão importante na comunicação e transparência nos relacionamentos.

Perceba como o uso correto desse conceito tem o potencial de desarmar a grande maioria das situações de conflito, ansiedade e pressão que surgem no nosso dia-a-dia. Perceba talvez, como a comunicação acontece muito além da palavra (argumento principal desse outro artigo) e como a interpretação de sinais não-verbais está intimamente ligada ao conceito de inteligência emocional:

“As emoções das pessoas raramente são colocadas em palavras, muitas vezes elas são expressas através de outras pistas. A chave para intuir os sentimentos de outros é a capacidade de ler canais não-verbais, tom de voz, gesto, expressão facial e similares.”
Daniel Goleman

Identificar em nossas próprias vidas e nas relações interpessoais os seis pontos levantados aqui pode (e deve) trazer uma série de recursos adicionais para que cada um lide melhor com as pressões diárias, seja no trabalho ou fora dele. Uma vez identificados os pontos de pressão e atrito, fica mais fácil trabalhar cada um deles individualmente ou aplicar estratégias mais amplas, como a inteligência emocional por trás das relações.

Para finalizar, retorno ao início do texto: pressão deve ser natural para o ser humano e significa, dentre tantas coisas, que ajustes e mudanças estão ocorrendo. Pergunto-me: talvez não estejamos vivos até hoje por causa da nossa habilidade de lidar com isso?

Finalizando com essa linha de raciocínio, deixo você com essa apresentação para entender como o nosso corpo lida com a dor, objetivos, liderança e o amor biologicamente e as razões evolucionárias por trás do stress e da ansiedade. Como bem diz Simon Sinek no vídeo: o stress é contagioso, basta observar um grupo de gazelas, defendendo-se de um predador.

Referências adicionais:


(*) Esse texto é fruto de um processo criativo que iniciou-se a partir de conversas com ex-colegas de trabalho e amigos, e terminou gerando três artigos sobre desafios profissionais bastante comuns e com profundo impacto na vida de tantos.


(*) O texto sobre os desafios (positivos!) do meu trabalho e como isso tem me feito crescer, gerou uma procura enorme nas redes sociais, WhatsApp e ligações de voz. Foram dezenas de mensagens e conversas extremamente interessantes.

O que me surpreendeu foi o tom das conversas. Enquanto vivo um momento de crescimento e gratidão, percebo que muitos estão inseridos em um contexto mais desafiante. A maioria relata ser isso um efeito colateral da crise e ausência de oportunidades. Outros, chegaram a verbalizar que precisam mudar suas respectivas posturas e dois confessaram, depois da conversa, que precisam se empenhar mais.

Nossos bate-papos me inspiraram a escrever sobre os três dos principais temas, traduzidos em três textos semanais, cada um abordando um tema em específico. O primeiro deles é esse, sobre pressão, com foco no ambiente de trabalho.

Estes textos são dedicado a vocês, alguns ex-colegas de trabalho e amigos que encontram-se vivendo em situações que variam da pressão natural do trabalho até outras, quase que insustentáveis. Saibam meus queridos que existe, sim, saída. Ela tem diversos passos, mas começa por acreditarem em vocês mesmos.

Como cheguei a dizer a muitos: vistam as capas de mago!