Semanas atrás fiz uma apresentação em um cliente onde falei um pouco sobre o momento da economia digital onde nos encontramos.
Na primeira fase, chamada “TI tradicional” (que durou 40 anos), existia um isolamento entre a tecnologia, seu ecossistema e o resto da empresa. A tecnologia servia para automatizar processos e era concebida dentro de “aquários”, cheios de gente considerada “estranha” pelo resto da companhia.
Na segunda fase, que durou cerca de 20 anos, houve uma padronização de processos e melhoria da gestão, que fez com que a eficiência aumentasse consideravelmente e a comunicação com o negócio passasse a existir, mesmo que de forma reativa. Essa foi a época da TI industrial.
Estamos vivendo atualmente uma terceira fase, onde o foco é o negócio. Resultados, que eram esperados em meses, hoje são esperados em dias. A comunicação entre TI e estratégia deixa de ser um acessório e passa a ser condição sine qua non para sua sobrevivência – a tecnologia passou a existir para suportar o “business”.
Após conversarmos sobre os desafios que o CEO enfrentava, ele fez questão de destacar que, lidar com as pessoas, gerenciá-las e motivá-las era o seu maior desafio. Pontuou também algo provocante: uma incompatibilidade entre a cultura interna e a dos seus clientes e potenciais clientes.
Soma-se a isso outro dado importante: Adivinhem qual é a principal característica da era da economia digital? Engajamento (seja ele interno ou externo) e inovação.
Dentro da maioria das empresas, temos gerações Y, X e até baby boomers. Por outro lado, seus potenciais clientes (e os que mais demandam tecnologia), são gerações Y e Z.
Senhores, há uma tremenda incompatibilidade fundamental aqui.
É mandatório entender o cliente e falar uma linguagem diferente não ajuda! Por que será que tantas empresas não alcançam o que seus clientes desejam? É necessário que haja uma mudança básica de cultura para que a empresa esteja preparada para lidar com o novo e com as gerações que demandam fortemente mais interação através da tecnologia.
Para tanto, precisamos quebrar diversos paradigmas, como a estrutura organizacional tradicional e hierárquica das empresas. É necessário focar na capacidade das pessoas e alocá-las de acordo com o que cada um tem de melhor, mesmo que isso gere estruturas pseudo matriciais, mas que promoverão a colaboração, interação e, sem dúvida, fomentarão a inovação.
Outro ponto importante é ter estruturas internas capazes de lidar com a TI tradicional (modo 1) e também permitir uma TI ágil (modo 2) que permita o surgimento, monitoração e correção de novas ideias que podem se tornar os produtos e serviços diferenciais de amanhã.
Por fim, quem deverá levar essa bandeira adiante?
Como disse meu colega Cassio Dreyfuss, Analista VP do Gartner:
“A capacidade de pilotar mudanças e reorganizar a organização, nenhuma outra área sabe fazer isso. A área de TI, ou como será chamada no futuro (TN, ou Tecnologia de Negócios), deve fazer isso. Eu já vi a TI educar o negócio, mas nunca vi o contrário.”
Sim, o CIO deve se preparar para liderar essa mudança. Vou um pouco mais além: ouso afirmar que a sua existência depende da atitude em agarrar essa bandeira e seguir em frente. O negócio está à procura de parceiros internos que atendam às suas necessidades e o CIO deve se posicionar como tal rapidamente. Deve assumir o papel de líder digital antes que alguém o faça.
Tecnologia deixou de ser algo incompreensível e é hoje muito mais acessível. O que era chamado de shadow IT seis anos atrás, hoje é a capacidade de qualquer departamento de contratar produtos e serviços de TI mais alinhados com o negócio, sem a TI do status quo sequer saber. Basta um cartão de crédito.
Pode ser fácil, mas não é uma política de longo prazo sustentável e, talvez, seja esse o argumento que permitirá ao CIO assumir a posição de líder e mostrar ao negócio que está apto, pois apenas o CIO preparado tem essa visão e a experiência necessária.
Adam Grant fala sobre o assunto em seu fabuloso “Originais – Como os Inconformistas Mudaram o Mundo”: seja você um inovador conceitual ou experimental, está na hora de agir.