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A Arte de Não Julgar

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Medir. Avaliar. Testar. Comparar.

E, talvez…

Aproximar. Compreender. Aceitar. Ajudar. Abraçar. Amar.

Ao invés de…

Relevar. Ignorar. Segregar. Afastar. Desencorajar. Ameaçar. Punir.

Eu chamaria esse texto de “A Arte de Julgar”, mas estamos falando de um mato tão espinhoso e de um ato a desencorajar que decidi usar uma negação.

Antropologicamente, nuances do ato de julgar são quase tão enraizadas em nós, seres humanos, quanto o instinto de lutar ou fugir.

“A experiência não erra. Apenas seus julgamentos erram por esperar dela o que não está em seu poder.”
Leonardo da Vinci

É, a partir do julgamento, que enxergamos um aliado ou uma ameaça. É, a partir dele, que sentimos se alguém nos quer bem… Ou até se somos os líderes de um grupo.

É julgando que decidimos se devemos participar de uma empreitada ou não.

Fazemos isso o tempo todo, com todos, em quase todas as situações e nossa sobrevivência já dependeu (e talvez ainda dependa) desse mecanismo.

Por outro lado, há um conjunto de reações menos instintivas (e mais racionais) ligadas ao ato de julgar.

Diante de estímulos externos, que são filtrados pelo nosso mapa de mundo, personalidade e experiências anteriores, racionalizamos e concluímos, potencialmente nos levando a sentir e a agir.

Colocamos pessoas e circunstâncias em nossas caixinhas mentais, catalogando tudo e todos, sem nos dar conta. Geralmente, não revisitamos essas caixinhas.

Muitas vezes, temos poucas evidências ou informações para chegar a uma conclusão minimamente coerente.

Como se não bastasse, nem sempre usamos nossos próprios sentidos para julgar.

Frequentemente incluímos a opinião e o julgamento do próximo: concluímos baseados na opinião alheia formada (ou nem tanto) e a pirâmide da incerteza velada começa a crescer.

“O ato mais corajoso ainda é pensar por si mesmo. Em voz alta.”
Coco Channel

Boatos e muitas mentiras surgem assim. Pense, como exemplo, nas fofocas que circulam pelo seu WhatsApp.

E como assunto foi de “julgamento” para “boatos”?

O mecanismo por trás dos dois é basicamente o mesmo e lhe é certamente familiar.

É o construir conclusões e julgamentos em cima da opinião dos outros ou sem evidências suficientes.

O melhor termômetro de que a sociedade funciona assim é a rapidez e a ingenuidade (na maioria das vezes) com as quais os boatos se propagam em mensagens e nas redes sociais.

De repente, você lê que trigo é bom pra queimaduras, que cebolas são venenosas, que o governo está devolvendo impostos aos cidadãos, que redes sociais doarão para uma criança necessitada se você compartilhar a mensagem mil vezes ou que enfermeiros estão infectando pacientes com HIV.

“As pessoas adoram fofocas. É a maior contribuição para manter a indústria do entretenimento funcionando”.
Ellen DeGeneres

Vá além, pense nas mensagens que você mesmo(a) repassou sem checar a fonte, porque julgou ser verdade, ao confiar na opinião de alguém que lhe enviou.

Olhe à sua volta e perceba quem recorre nessa prática. Adiante, se esforce para detectar o que essa pessoa valoriza e como se posiciona diante dos mais diversos assuntos. Não se surpreenda se encontrar toda uma coerência.

Não é intenção destas palavras fazer você se sentir desconfortável. Mas é uma possibilidade, até o fim do texto.

Todos fazem ou já fizeram isso. Exercemos a prática de forma quase inconsciente e a ideia aqui é trazê-la à luz, ao consciente, para que possamos intervir.

É fazer cada um pensar que, da mesma forma que propagamos inverdades, julgamos frequentemente baseados no que os outros acham.

“É melhor arriscar salvar uma pessoa culpada do que condenar uma inocente”.
Voltaire

Perceba que em nenhum momento estou tocando no mérito da conclusão do julgamento ser certa ou errada. Isso é “conteúdo” e irrelevante, diante do processo, da forma em si.

Se chegamos à alguma conclusão em cima das opiniões dos outros, o resultado será deturpado, longe da realidade objetiva e isso não tem nada a ver com maldade de nenhuma das partes – tem a ver com o fato de que cada indivíduo enxerga uma realidade diferente.

Sabemos desde criança as consequências do telefone sem fio mas resolvemos ignorar esse aprendizado rapidamente.

Agora que coloquei os pontos que considero importantes em perspectiva, abordemos o assunto principal: o ato de julgarmos as pessoas ou, melhor, a arte de não julgá-las.

Se julgamos tão mal mensagens que vemos nas redes sociais (e agimos, por consequência, pior ainda), será que fazemos isso coerentemente em relação ao próximo?

Partamos do princípio de que o ser humano é extremamente complexo.

Somos frutos de incontáveis variáveis, como nossos pais e família, experiências, traumas, relações sociais e interpessoais e até da genética.

“Se você não cresceu como eu, então você não sabe, e se você não sabe, é melhor você não julgar.”
Junot Diaz

Para qualquer ser humano já é impossível, para si próprio, determinar todos os fatores que o levaram a um pensamento, sentimento ou ação. Podemos ter uma boa ideia, mas ninguém se conhece tão bem assim.

Levando isso em consideração, como qualquer indivíduo, além de a si mesmo, pode julgar quem quer que seja?

Colocando em outras palavras, se mal nos conhecemos, como podemos sequer pensar em julgar o próximo?

Diante da nossa própria bagagem, considere este pressuposto da Programação Neurolinguística:

“As pessoas fazem a melhor escolha com os recursos que possuem no momento.”

Temos mais de sete bilhões de pessoas morando nesse pontinho azul chamado Terra.

Como mencionei anteriormente, existem inúmeros fatores que influenciam quem somos, como enxergamos o mundo e como respondemos aos estímulos externos. Se multiplicarmos esses fatores por sete bilhões, teremos incontáveis combinações.

Cada indivíduo, para cada especto de sua vida em um dado momento, possui uma quantidade determinada de recursos, que foram sendo “instalados” ao longo da jornada, através do aprendizado, das experiências, evolução, das situações e de tantas outras lições que a vida dá.

Julgar o próximo baseado na opinião dos outros é imoral.

Além disso, o que a vida ensina pode sofrer ou não uma grande influência dos nossos valores.

De acordo com Richard Bandler, Psicólogo e um dos pais da PNL, nascemos com medo de cair e medo de barulho. Todo o resto é aprendido.

Eu posso escrever bem e você ser um ás da matemática.

Eu posso dirigir carros extraordinariamente e você ser um excelente piloto de avião. Eu sei fazer uma Paella fantástica e você uma excelente feijoada.

Eu posso ter medo do escuro e você, não.

Eu posso lidar bem com as pressões do trabalho e você ser um excelente líder

“Você consegue olhar sem a voz na sua cabeça comentando, tirando conclusões, comparando ou tentando descobrir alguma coisa?”
Eckhart Tolle

Para um determinado assunto, eu posso ter mais recursos ou menos recursos do que você e gerar um comportamento ou reação que, aos seus olhos, seja inexplicavelmente eficaz ou absurdamente limitante (ou algo entre os dois).

Considere por um momento que ninguém é um comportamento. Somos seres em constante mudança (evoluindo ou involuindo) todos os dias, a cada passo, a cada banho, a cada conversa, a cada livro, a cada carinho, a cada tropeço… E isso é fabuloso!

Como qualquer recurso, você pode aprender mais. Isto significa que o que hoje é limitante, amanhã pode deixar de ser. E como tudo aquilo que não é usado atrofia, podemos perder recursos também.

Ao julgar alguém, você usará a sua base de recursos e seu mapa de mundo no momento.

“(…) Já julgou muitas pessoas durante a vida. Julgou os atos e até mesmo as motivações dos outros, como se soubesse quais eram. Julgou a cor da pele ,a linguagem corporal e o odor pessoal.(…) Até julgou o valor da vida de uma pessoa segundo seu conceito de beleza.”
William P. Young em “A Cabana”

Pouco (ou nada) você conhece sobre a realidade, as experiências, as lições, os livros, a escola, os relacionamentos e até a genética desse “alguém”… Apenas que aquela ação foi realizada com os melhores recursos que o “alguém” tem naquele exato momento.

Percebe como isso muda tudo?

Claro, enxergar o mundo dessa forma não significa necessariamente que você tem que concordar com as ações de um assassino ou de um político corrupto que, certamente, tem recursos bastante limitados.

Significa que, para entender a situação e poder concluir algo, é necessário enxergar os recursos que a pessoa tem no momento da ação… E isso pode mudar em algumas horas, dias, semanas, meses ou anos… Porque somos seres que se adaptam.

“Não podemos definir as pessoas pelas suas piores ações.”
Paula Stokes

Ao analisar o posicionamento ou a ação de alguém, imagine também o mundo sobre as limitações ou recursos deste alguém.

Aquele posicionamento, que pode parecer para você inexplicavelmente incoerente ou pobre, notadamente é o máximo que o indivíduo consegue. O melhor? Certamente você já esteve do outro lado da mesa e foi enxergado por uma pessoa da mesma forma, como fonte de sentimentos, pensamentos ou ações limitadas.

Mas não para por aí. Se ainda não percebeu, a questão é muito mais profunda.

Somos seres únicos, infinitos em nossa própria diversidade!

Você se considera extrovertido? Quantas vezes julgou um introvertido, achando seu comportamento incompreensível, anti-social, antipático ou chato? Parou para considerar que esse pode ser o “normal” de uma pessoa introvertida e tímida? Pode ser o “normal” daquele indivíduo em específico?

Você é introvertido? Quantas vezes achou alguém “espalhado” demais, amostrado, convencido ou cheio de si? Julgou-o, baseado em sua referência de realdade? Seria essa pessoa falsa porque “ninguém pode ser tão exibido ou positivo assim”?

Quantas vezes olhou para alguém chorando em um filme e pensou: “nossa, que pessoa frágil!“?

“Se me julgas te julgas por julgares.”
Agostinho da Silva

Já julgou alguém com depressão, pensando algo como “nossa, que pessoa fraca!”?

Já julgou alguém por ser frio e calculista? Pergunte-se: você conhece a pessoa ao ponto de determinar se esse comportamento é ou não compatível com o perfil psicológico dela? Quem sabe, com as experiências que ela teve ou deixou de ter, decepções amorosas, traições e com os amores correspondidos?

Você conhece uma pessoa que está sempre atrasada? Você consegue compreender o que há por trás desse comportamento? Seria essa pessoa mais criativa e adaptável do que a média ou você?

Você não compreende como uma pessoa pode ser tão inflexível com horários? “Nossa, odeio gente certinha demais…”

Sente como a ausência de um recurso em você pode ser responsável até pela falta de compreensão do comportamento do outro?

“Ninguém é mais injusto ao julgar o próximo do que aqueles que têm uma opinião elevada sobre si mesmos.”
Charles Spurgeon

E nem usarei o argumento de que o julgamento é um reflexo das questões, aflições e aspirações de quem julga.

Com tudo isso em mente, talvez a ação de julgar o próximo tenha ganhado uma nova perspectiva e conotação para você.

Entenda, as pessoas são diferentes e ainda bem que é assim. A diversidade nos permite cooperar e montar o quebra-cabeça complexo da nossa existência conjunta sem faltar nenhuma peça.

Não serei ingênuo ao ponto de afirmar que não devemos julgar nunca. Julgar faz parte da nossa natureza e estamos aqui vivos por causa disso. Julgar é necessário para nos protegermos de uma ameaça.

Contudo, é fundamental que:

  • Revisitemos os julgamentos que fazemos e corrijamos a partir da coleta de novas evidências;
  • Que não julguemos a partir das opiniões alheias;
  • Que gerenciemos o nosso ego, fonte das maiores injustiças, no que diz respeito ao ato de julgar alguém;
  • Que aceitemos as pessoas a partir da mera possibilidade da existência de diferenças, antes de julgar.

Sim, possibilidade!

É através do processo de empatia e relacionamento com o próximo que começamos a desvendar o mistério que cada indivíduo representa e guarda dentro de si.

Não quer se aproximar? Não há coerência em você para concluir nada.

Ao conhecer alguém, não temos nenhuma experiência em primeira mão que sirva de base para quaisquer conclusões, apenas as opiniões dos outros.

Precisamos ser humildes para reconhecer a nossa ignorância e permitir que uma relação se estabeleça, antes de estragar tudo com o preconceito alheio. Não esqueça: preconceito é contagiante.

Já se perguntou qual a diferença entre julgar o próximo e recorrer ao preconceito? É simples: Se o julgamento usou como referência algum estereótipo, você está sendo preconceituoso.

Até meados da adolescência eu sofri bullying por ser diferente. Tinha uma saúde frágil, era gordinho, muito branco e cheguei a apanhar por causa disso. As ameaças foram se dissipando quando comecei a ficar maior (e fiquei bem maior).

Já fui julgado por ter enfrentado a depressão.

Já fui julgado por meus posts sorridentes, minhas caretas e minha irreverência nas mídias sociais.

Já fui julgado por apoiar causas como voluntário, ao ponto do meu comprometimento profissional ser questionado.

Já fui julgado por estar em forma na minha idade, cuidar da minha saúde e não comer o que considero lixo, em comunhão com outras pessoas.

Já fui julgado por não aceitar beber semanalmente, vários dias.

Já fui julgado por ter tatuagens.

Já fui julgado quando usava brinco.

Já fui julgado por causa do meu corte de cabelo (e ainda sou).

Já fui julgado por defender uma opinião. E você?

As pessoas julgam por tão pouco… Sem dar a chance de conhecer quem está ao seu lado. Sem se dar a chance de aceitar e aprender, ao não ter ferramentas para compreender.

Se você pensa como eu, fique à vontade para passar essas ideias adiante. Se fizer pelo menos uma pessoa refletir sobre como se comporta, terá valido à pena.

“Quando as pessoas fazem julgamentos, elas se fecham para todas as possibilidades em torno delas.”
Jeff Koons

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