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O Despertar da Revolução Intelectual

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Atenção: este artigo foi atualizado.

Escrevi originalmente este texto em janeiro de 2018 e ele foi parar no rascunho do livro que publiquei em maio de 2020. Entre janeiro de 2018 e fevereiro de 2020 (fechamento da versão final), sofreu um refinamento necessário e a adição de vários conceitos.

Entretanto, apesar de considerar o texto super importante na minha jornada criativa, não fez tanto sentido diante do contexto dos demais textos do livro e ele terminou não saindo na versão final e publicada. Então, resolvi republicá-lo como uma versão 2.0, contendo aquilo que foi elaborado até fevereiro de 2020.

Portanto, para acessar a versão 2.0 (atualizada) deste texto, clique aqui.


Informação é poder“, diz-se até hoje.

Se analisarmos a revolução industrial, do início do século 19 até a metade do século 20, vimos uma transição gradativa do “foco revolucionário” (se é que podemos chamar assim), calçado pela evolução científica e questões econômicas, para a revolução da informação, algo totalmente presente em nossas vidas.

Enquanto trinta anos atrás o conceito por trás de “informação ser poder” estava relacionado à captura e armazenamento da informação (ela era “poder” pela escassez, pois poucos tinham a capacidade financeira de capturar e armazenar quantidades suficientes de dados), hoje ele está mais ligado ao dar sentido à informação não estruturada.

Qualquer dispositivo móvel hoje em dia não só é capaz de armazenar e processar grandes quantidades de dados como qualquer pessoa tem acesso a estruturas compartilhadas poderosas (como a própria Internet), que permite pesquisar, de imediato, sobre praticamente tudo que vem sendo gerado pela humanidade nos últimos séculos.

Talvez informação tenha deixado de ser poder. Talvez esse poder tenha migrado para outro lugar.

Investiguemos.

Para colocar as coisas em perspectiva, inicialmente temos que imaginar o seguinte cenário: a quantidade de informação produzida nos últimos dois anos é maior do que tudo que já foi produzido pela humanidade em toda a sua história anterior e o ritmo está cada vez mais acelerado.

O foco deixou de ser em “deter” (ou na custódia da informação) para estar no “fazer sentido” dela.

Nos últimos cinco anos, a informação está virando uma commodity (e isso é muito bom). Estamos evoluindo de um cenário industrial, mecanizado e de força bruta para outro, intelectual, que requer cooperação e evolução em escala global.

Cada vez mais, as questões (e as soluções) estão deixando de caber nas mentes individuais e se tornando fruto de cooperações nacionais ou globais (refiro-me a empreitadas comparáveis a colocar o homem na lua).

Situações assim estão se tornando mais comuns. Um exemplo é o desenvolvimento de software, uma prática que a cada dia se torna mais distribuída, permeando países e culturas.

As pessoas estão se dando conta de que um de nossos objetivos aqui na Terra é ser mais do que o indivíduo. É interagir, evoluir como seres, sociedade, entregar ao universo mais do que as nossas somas individuais e obter felicidade e realização com a jornada.

Quando o ser humano coopera, coisas extraordinárias acontecem.

Antes de se perguntar como o assunto foi da revolução industrial para felicidade, perceba como o foco no século passado era econômico e vem migrando para realização e preenchimento das nossas vidas. Acredito ser esse um excelente sinal de maturidade para a humanidade: estamos saindo do operacional, do braçal, da subsistência e do mecânico para o intelecto. Estes sempre existirão, mas está ocorrendo um alinhamento entre benefício econômico, produtividade, realização pessoal, profissional e felicidade.

“As pessoas bem sucedidas fazem o que as pessoas mal sucedidas não estão dispostas a fazer. Não deseje que fosse mais fácil, deseje ser melhor”.
Jim Rhon

Melhor: A revolução industrial foi uma grande padronização e mecanização de ações repetitivas (claro, que exigiu intelecto) mas focada na “produtividade” e na transformação do ser humano em um apertador de botões. Com a evolução dos processos, estamos sendo substituídos.

Entre o núcleo da revolução industrial e o da informação, tivemos outras mudanças que vem servindo como “cola” e evidenciam ocorrências naturais, adaptações necessárias para que a transição ocorra e a humanidade consiga englobar culturalmente e evolucionalmente pessoas, processos, métodos, tecnologias, crenças, identidades e até a fé, diferentes e em estágios distintos de evolução.

Veja por exemplo como, em meados do século 20, o emprego no varejo (inclua aqui o comércio físico em geral, como shoppings, supermercados, lojas de departamento, fast-food e etc.) tornou-se o chão de fábrica do século 19, ou como o desenvolvimento de software vem se tornando nos últimos 5 anos o mesmo chão de fábrica.

Importante notar que, não importa qual a revolução de amanhã, essa “cola” sempre existirá e permeará os tempos e as culturas.

Retornando à questão da padronização e evolução de processos, a revolução da informação teve o seu momento idêntico, onde o ser humano “apertava botões“. De forma semelhante, o advento da inteligência artificial começa a mudar o panorama, assim como a especialização e a automação mudou a indústria.

Em ambos os casos, houve uma comoditização do modus operandi e foi criada uma camada de abstração que hoje nos permite usar elementos de ambas a baixíssimo custo, facilidade, padronização, racionalidade e de forma tão natural que podemos, a partir de agora, passar a nos preocupar com coisas novas. Já ultrapassamos esse barreira para com a revolução industrial e estamos à beira de ultrapassá-la no âmbito da revolução da informação.

O nível de padronização e automação está se tornando tão profundo que ouso afirmar que a próxima revolução estará ligada à quanto tempo o ser humano consegue dedicar-se ao seu processo de tomada de decisão, intelectual e para pensar o novo.

Imagine isso: entraremos em uma era onde a nossa capacidade de concentração, dedicação, cooperação e evolução será uma moeda. Na verdade, já estamos entrando nela e não nos demos conta.

“A pergunta que você deve fazer não é ” O que eu quero? ” ou ” Quais são meus objetivos? “, mas” O que me excitaria? “
Tim Ferriss

Eu tenho quase 43 anos, 27 de profissão e ainda trabalhei no modo revolução industrial de ser. É uma associação completa de produtividade com tempo, que engloba nosso sistema de ensino que, por sua vez, foi criado para treinar apertadores de botões. Ouve-se uma buzina, entra-se numa sala. Buzina, lanche. Buzina, recreio. Buzina, intervalo, buzina, prova… e você cumpre uma carga horária desde criancinha. Você aprendeu, desde pequeno, a respeitar os sinais que determinavam o que fazer até o fim da existência.

O que importava era chegar às 8 e sair as 18, onde você era medido por assiduidade e presença.

Repetição. Momentum. Status quo. Onde fica a criatividade e a inovação? Nosso sistema profissional e educacional, intimamente relacionados, não promoviam, não respeitavam e não tinham lugar para elas.

“Quando fazemos a mesma coisa repetidas vezes, você constrói momento, o que é bom para eficiência mas terrível para a inovação.”
Gus Balbontin

Convenhamos, sabemos que a natureza do trabalho está em franca evolução e mudança. Nos últimos dez anos, cada vez mais temos migrado para um trabalho relacionado a resultados e produtividade.

O tempo, que antes estava nas mãos do empregador e das instituições, está passando gradativamente para as mãos dos indivíduos. Chamemos, por questões didáticas, de mudança do paradigma do tempo. É, através dele, que as pessoas poderão desenvolver-se intelectualmente para abraçar metas cada vez mais audaciosas. Entretanto, com ele vem a responsabilidade de administrá-lo adequadamente, assim como a grande chance de nos alçarmos ao protagonismo.

De fato, sendo mais direto: tempo é uma moeda com lastro absoluto no nosso plano interpessoal, do dia a dia. O tempo não volta e, uma vez investido, ele se transforma e você tem uma perda ou um ganho, determinado por quão bem você investiu. Ao contrário do dinheiro ou bens, não há como gerar mais tempo (e o tempo ocioso é a maior perda de todas: ele vai embora sem transformação alguma).

“É o tempo que você desperdiçou em sua rosa que faz da sua rosa tão importante”.
Antoine de Saint-Exupéry

É aí onde entra o conceito por trás do talvez maior furto e do maior processo de enganação já realizados contra a humanidade.

Permita-me esclarecer.

Com a reconfiguração do paradigma do tempo em favor do indivíduo, as organizações e governos começaram a perder o acesso a mais de 50% do tempo de vida das pessoas. Chegar a esse número é fácil: você deveria dormir oito horas (desconto-as do total porque particularmente não considero dormir uma atividade pessoal ou profissional).

Desconte os intervalos do trabalho, alimentação e deslocamento e o que sobra é uma dicotomia temporal entre trabalho (expediente e horas extras) e vida pessoal (restante). Deixei o número em 50% como margem para ter uma zona que acomode os fins de semana, feriados e os workaholics.

Com isso, passa a ser cada vez mais importante onde você escolhe investir seu tempo. Lembre-se, outrora uma decisão tomada pelos outros, essa decisão está cada vez mais nas mãos do indivíduo (mas não sem esforço).

Vou ensinar como gerenciar o tempo eficientemente. Coloque todas as suas altas prioridades em uma lista e as baixas em outra. Depois, faça tudo das duas listas até isso te matar, do contrário, você é um perdedor.

Essa movimentação, sem dúvida alguma, tem chamado a atenção de governos e organizações. Evidência clara: perceba como as estratégias de marketing tem mudado nos últimos quinze anos e se tornaram tão invasivas que passaram a fazer ainda mais parte do nosso dia-a-dia e nem percebemos.

Eu lembro de uma época onde o debate na Internet era como empresas de tecnologia fariam para monetizar anúncios online, porque já estava ficando feio. Foi uma época antes do Facebook e antes do conceito do Google como motor de marketing, anúncios e notícias. Estamos falando do início do século, uma época que foi assolada pelo estouro da bolha das .com.

“Historicamente, a privacidade estava quase implícita, porque era difícil encontrar e coletar informações. Mas no mundo digital, seja através de câmeras digitais ou satélites, ou apenas o que você clica, precisamos de regras mais explícitas – não apenas para governos, mas para empresas privadas.”
Bill Gates

Em quinze anos, foi criado todo um ecossistema de captura da atenção do indivíduo, que vai do mais fundamental, como a criação do veículo em si (dispositivos móveis por exemplo), passando pelo profiling ou categorização do ser humano, criação de mecanismos de apuração de resultados até chegar à novas formas de interromper o uso do tempo no fluxo planejado por mim ou você (smartwatches e interfaces criadas com a única intenção de viciar o usuário em FOMO (Fear Of Missing Out).

Estes são alguns dos exemplos mais óbvios. A coisa está tão fora de controle que você paga pela assinatura de um produto ou serviço e, ainda assim, recebe propaganda através dele, algo inconcebível dez anos atrás. De fato, todo o argumento da indústria de TV por assinatura baseava-se em você estar livre de propaganda ou distrações (diga-se de passagem, o modelo da TV por assinatura está morrendo).

Hoje, até o menu iniciar do Windows 10 empurra anúncios na sua cara. Eu não vou nem mencionar os aparelhos celulares e seus aplicativos cheios de propaganda.

Como se não bastasse, ocorreu a transformação do indivíduo (e seu perfil de consumo / preferências) em produto. Ao usar plataformas como o Facebook, Google e tantas outras, seu perfil de utilização (tudo que você escolhe, diz, clica, comenta, compra, coloca no carrinho, cancela ou até mesmo recomenda) é associado a você, junto com informações demográficas e até o seu salário e isso é vendido livremente entre data brokers, empresas que existem com a exclusiva finalidade de saber quem você é através das suas escolhas online. Eu sequer entrarei nas implicações sobre privacidade.

“Os que podem desistir da liberdade essencial para obter um pouco de segurança temporária não merecem liberdade nem segurança”.
Benjamin Franklin

Essa é uma indústria mundial totalmente sem regulamentação ou fiscalização. De fato, dentre as seis maiores empresas de tecnologia do mundo, cinco estão relacionadas à essa prática, direta ou indiretamente.

Talvez agora, meu caro Leitor, tudo comece a fazer sentido para você. Enquanto reafirmo ser o tempo uma moeda de lastro absoluto, a atenção é o meio pelo qual o mundo retira nosso tempo do nosso bolso e deposita nas mão alheias. Trata-se de furto porque a relação que temos com o mundo que nos cerca e tais instituições não é clara e a retirada ocorre sem nosso consentimento ou percepção. Trata-se de enganação porque os termos e condições aos quais nos submetemos nos levam à conclusões equivocadas.

Permita-me agora propor uma atualização, diante de evidências mais ricas, à primeira frase do texto:

Atenção é poder.

Em uma era que se inaugura diante de nós, onde o intelecto, a capacidade de tomar decisões, de inovar e a responsabilidade do indivíduo aumentam, bem como o seu protagonismo, poderemos fazer muito mais no que diz respeito à questões como crescimento, evolução e desenvolvimento humano. Passa a existir um alinhamento fundamental entre a era que se inicia e o empoderamento individual, bem como a possibilidade, agora real, do ser humano se desenvolver pessoalmente e profissionalmente com as mesmas iniciativas e, na jornada, ajudar ao próximo e ser, de fato, feliz existencialmente.

Não entrarei no mérito da questão, mas pare por um momento e pense: vivemos em um País totalmente hostil ao empreendedorismo e, não obstante, temos mais empreendedores. Nunca se viu uma onda tão grande de treinamentos de desenvolvimento humano, pessoal, coaching e de auto conhecimento. Nunca houve uma procura tão grande por alinhar, conscientemente, a realização pessoal e profissional com a felicidade e as atividades do dia a dia que cada indivíduo ama realizar.

Você já olhou ao seu redor e se deu conta de quantas pessoas não aguentam mais seus empregos atuais tradicionais ou, colocando de uma outra forma, como a quantidade de empreendedores tem aumentado vertiginosamente nos últimos anos, mesmo diante de tantas dificuldades, como no nosso País?

A jornada requer foco. Ela requer o uso sábio do tempo e da nossa atenção, bens imateriais dos mais preciosos e que nos vem sendo furtados.

O nosso poder através do foco e da atenção é tanto que nossas escolhas determinam o sucesso ou o fracasso de produtos, serviços, empresas, governos, pessoas, políticos e tudo aquilo que compete por eles. Qual o valor que você tem dado a sua atenção?

Está na hora de fazermos algo a respeito disso. Está na hora de gerenciarmos melhor nossas escolhas, tornando-as conscientes; de gerenciar melhor quem tem acesso ao nosso foco, atenção e tempo. Está na hora de nos fazermos mais “presentes” e acordados.

Despertar é a palavra.


Recursos Adicionais:

7 comentários

  1. Atualmente, estou a viver uma situação profissional na qual o meu tempo está literalmente a ser explorado, assim como o meu próprio investimento em trabalho e energia. Trabalho, gratuitamente, 1 dia por semana. Porém, apesar disso, pelo que vou vislumbrando pelo “mundo”, acredito mesmo que “está ocorrendo um alinhamento entre benefício econômico, produtividade, realização pessoal, profissional e felicidade.”

    E espero, com fraqueza, que ela se propague… Despertar é mesmo a palavra! 🙂

    Mais uma boa reflexão, que tão bem se encaixa no nosso dia-a-dia! Grata! ^_^

    1. Querida Susana,

      Fico muito feliz que tenha gostado e que o texto lhe tenha sido útil! Acredito que pensamos (e sentimos) de forma semelhante: eu vejo pessoas na rua e desejo de forma franca que elas encontrem a evolução e esse alinhamento! Gratidão!

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