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A Origem do Famoso Gráfico de Venn do Ikigai

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Você provavelmente já deve ter visto este gráfico por aí:

Não é Ikigai

 

Ele tomou a Internet de assalto em 2014 e, desde então, virou uma febre em grupos de mensagens e nas mídias sociais… até os dias de hoje.

O diagrama tem sido a base para processos de coaching e tem ajudado milhares de pessoas ao redor do mundo a encontrar propósito em suas vidas.

O fato é que, apesar da sua origem ser diferente do que somos levados a crer e a relação com o Ikigai ser tênue, tais origens não invalidam a sua força, muito menos a sabedoria do próprio Ikigai.

Vamos às evidências.

Ao revisar um dos capítulos do meu livro que aborda propósito, fiquei incomodado por não encontrar uma relação direta entre o Ikigai e o conteúdo do gráfico e… após ler livros sobre o tema, percebi que o gráfico surge do nada.

Em 2011 um psicólogo espanhol chamado Andrés Zuzunaga criou o diagrama, que foi usado em 2012/2013 no livro “¿Qué harías si no tuvieras miedo?” de Borja Vilaseca.

Em contato com os administradores do site cosmograma.com em 20/12/2018, recebi rapidamente um email fornecendo mais detalhes como, por exemplo, esse post no Facebook de Andrés Zuzunaga, datado de 04 de junho de 2012, contendo o diagrama original.

Abaixo, você tem a aparição do diagrama (e o conceito dele) no livro de Borja Vilaseca.

Aparição original do gráfico de Venn sobre propósito, no livro de Borja Vilaseca(*)

Aparentemente, o empreendedor e palestrante Marc Winn usou a imagem e em 2014, inspirado pelo Ikigai, gerou uma versão do diagrama que nós conhecemos tão bem, explicando o conceito dele em um post no seu site. Ele inclusive conta a história da criação do gráfico em outro post.

Marc alega que usou inicialmente um gráfico sobre propósito e o conceito que Dan Buettner coloca em seu TED sobre Zonas Azuis. Entretanto, não há nenhuma menção aos elementos do gráfico no TED de Dan Buettner.

Foi, ao analisar os comentários do post original de Marc explicando a situação que cheguei ao livro de Borja Vilaseca.

Isso é uma garantia de que a origem é essa, de fato?

Dificilmente uma garantia, já que gráficos semelhantes existem e podem ter sido usados como fonte de inspiração (ou trata-se de uma grande coincidência).

Evidências: aqui

A lição é:

Se algo faz sentido, não se torna automaticamente verdade.

Agora vamos refletir um pouco sobre o tema.

Alguém teve a curiosidade de pesquisar sobre o assunto para entender as coisas mais profundamente, o contexto e as repercussões, de algo tido como certo por anos…

A notícia boa é que o conhecimento gerado a partir dessa ligação de conceitos, mesmo que não tenha sido explicitada originalmente, parece ser positivo, tornando conhecida mundialmente a concepção do Ikigai. O gráfico não só faz sentido como é útil e aplicável.

Entretanto, ele não representa o Ikigai. O conceito que Borja Vilaseca traz em seu livro é uma coisa… o Ikigai, outra.

Aí, você percebe, pesquisando no Google, que empresas, treinamentos, materiais didáticos, palestras, publicações e um sem número de iniciativas surgiram a partir daí e… ninguém teve a curiosidade de ir atrás das origens da questão.

Mais uma vez… isso invalida a utilidade desse conhecimento?

Eu entendo que não.

Entretanto, não tenho tanta certeza se podemos chamar o gráfico de Ikigai.

Devemos sim agradecer a André Zuzunaga e Borja Vilaseca pelo conceito e, quem sabe, explorá-lo mais. Devemos estudar mais o Ikigai, que é uma filosofia de vida fantástica.

Podemos até agradecer a Marc Winn pelo seu post em 2014 que lançou tanto o conceito do Ikigai quanto o de Borja Vilaseca ao estrelato (mesmo que o próprio gráfico e sua abordagem tenham surgido e sido explicados cerca de um ano antes).

Será que saber disso muda alguma coisa?

Para mim, houve uma mudança. Honrarei em meu livro o que parece ser a fonte correta da informação e do conhecimento.

O gráfico em si? Continua tão importante, mas agora temos evidências de sua origem e os argumentos por trás dele.

E você? O que aprendeu ou conclui com isso? Muda algo pra você?


Leitura recomendada:

 

Atualização em 07/03/2020 12:50 -0300GMT: achei um livro de 2005 que possui um gráfico que pode ter servido de inspiração para o diagrama. Referências aqui e aqui. Notadamente, também achei um post supostamente de 2010 que contém o diagrama. Entretanto, apesar do site colocar a postagem como sendo de 17 de agosto de 2010, não considero uma fonte confiável. O Internet Archive apenas achou a página em 2018.

Atualização 20/12/2018 19:14 -0300GMT: Os administradores do site cosmograma.com responderam à minha solicitação de maiores informações, com um post de Andrés Zuzunaga no Facebook datando de 2012 com o diagrama original.

 

(*) Eu não achei o livro físico. Entretanto, comprei-o no Kindle, de onde retiro a imagem para fins puramente didáticos e ilustrativos dos argumentos aqui presentes, de boa fé. Caso a forma como está sendo apresentado de alguma maneira infrinja direitos reservados, de cópia ou quaisquer outros, basta entrar em contato para que eu remova a imagem.

5 comentários

  1. interessante esse tema, eu mesma que conheci primeiro a filosofia IKIGAI e depois o grafico fiquei mesmo curiosa p saber onde se inicou a relacao entre o grafico e seus componentes e IKIGAI
    concordo com o autor agora que sei que praticamente não existiu originariamente essa relação o conhecimento não interfere na riqueza das reflexoes geradas

    1. Impressionante como vira e mexe o gráfico volta à tona. Recentemente surgiu no Instagram pelas mãos de uma figura famosa. Acho que em um mundo de fake news, deveria ser prática comum fazer um mínimo de esforço para validar as informações repostadas. Abraços!

  2. Muito boa explicação! Eu comprei recentemento o livro: “IKIGAI: Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz” que utiliza o Gráfico, mas que não parece ter relação nenhuma sobre a filosofia IKIGAI. Eles falam pouquíssimo sobre carreira, inclusive. A filosofia é de uma pacata comunidade do Japão…

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